sexta-feira, novembro 7, 2025
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Julian Assange está livre!

Julian Assange deixou, nesta segunda-feira (24), o Reino Unido e a prisão de segurança máxima perto de Londres onde permaneceu por cinco anos, informou o WikiLeaks depois de anunciar um acordo de confissão de culpa com a Justiça dos Estados Unidos.

Em troca, os EUA contaram os 5 anos que ele passou preso na Inglaterra e deram a ele o direito de voar para a Austrália, seu país natal.

Segundo o WikiLeaks, o australiano de 52 anos saiu da prisão de Belmarsh na manhã desta segunda, e foi libertado pela Justiça britânica no aeroporto de Stansted, em Londres, à tarde, de onde embarcou em um avião e deixou o Reino Unido.

Julian Assange é um jornalista, editor e ativista australiano, mais conhecido por ser o fundador do WikiLeaks, uma organização dedicada à publicação de documentos secretos e informações confidenciais de governos e corporações. Ele nasceu em 3 de julho de 1971 em Townsville, Queensland, Austrália.

Assange ganhou notoriedade mundial em 2010, quando o WikiLeaks divulgou uma série de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, incluindo vídeos, correspondências diplomáticas e registros de guerra sobre as atividades militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Essas divulgações, que incluíam o famoso vídeo “Collateral Murder”, geraram grande controvérsia e levaram a uma perseguição legal significativa contra ele.

Em 2012, Assange buscou asilo na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia, onde enfrentava acusações de crimes sexuais, que ele negou e que posteriormente foram arquivadas. Ele permaneceu na embaixada equatoriana por quase sete anos até ser preso pela polícia britânica em abril de 2019, após o Equador retirar seu asilo.

Assange lutava contra a sua extradição para os Estados Unidos, onde era acu.sado de espionagem e outros crimes relacionados à publicação de documentos confidenciais. Nesta segunda-feira (24) ele assumiu os crimes pelos quais era acusado perante a Justiça dos EUA em troca de sua libertação.

A advogada e companheira de Julian Assange, Stella Assange, comemorou a libertação do jornalista nas redes sociais e agradeceu o apoio de todos. “Palavras não podem expressar nossa imensa gratidão a VOCÊS – sim, VOCÊS, que se mobilizaram durante anos e anos para tornar isso realidade. OBRIGADO. obrigado. OBRIGADO”, escreveu Stella.

Culpado?
As primeiras informações, para além daquelas divulgadas pelo WikiLeaks, indicam que Julian Assange concordou em se declarar culpado da acusação de obter e divulgar ilegalmente material de segurança nacional em troca de sua libertação da prisão britânica.

Assange, que está com 52 anos, deve comparecer perante um juiz federal em um dos postos avançados mais remotos do Judiciário, o tribunal de Saipan, capital das Ilhas Marianas do Norte. As Ilhas Marianas do Norte são uma comunidade dos Estados Unidos no meio do Oceano Pacífico e próximas da Austrália, terra natal de Assange, para onde ele deve voltar após a concretização do acordo.

Assange deve comparecer nesta quarta-feira (26), às 9h, em Saipan e voar de volta para a Austrália “na conclusão do processo”, escreveu Matthew J. McKenzie, funcionário da divisão de contraterrorismo do departamento, em uma carta enviada ao juiz do caso. O documento em questão foi divulgado pelo New York Times.

O The New York Times afirma que o acordo era esperado nos bastidores do governo Biden. Segundo a publicação, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, sugeriu que os promotores dos EUA precisavam concluir o caso e o presidente Biden se mostrou aberto a uma solução rápida.

A partir do primeiro-ministro da Austrália, foi costurado um acordo com o alto escalão do Departamento de Justiça sem tempo adicional de prisão para Assange, considerando que os anos que Assange passou recluso na Embaixada do Equador e depois na prisão no Reino Unido já foram suficientes. Ou seja, sua pena foi considerada cumprida.

Ainda de acordo com o NYT, foram semanas de negociações para que Assange aceitasse se declarar culpado de uma das acusações – conspiração para divulgar informações da defesa nacional.

Com informações do UOL, Revista Fórum e DCM

Marina Silva apoia pré-candidatura prioritária da Rede em São Paulo, com foco na pauta ambiental

Ministra participou de evento realizado no último sábado (22), em apoio à Marina Bragante, que concorrerá à câmara de vereadores; intenção é percorrer o país

Nas prévias da campanha na cidade de São Paulo – que promete ser a grande vitrine da disputa de influências entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – o partido Rede Sustentabilidade lançou oficialmente, no último sábado (22), a pré-candidatura de Marina Bragante a vereadora.

O evento, realizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, contou com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, do pré-candidato ao executivo municipal pelo PSOL Guilherme Boulos, e da deputada estadual pela Rede Marina Helou, além de lideranças regionais, integrantes e apoiadores do partido. A eleição de Bragante é prioridade da Rede para a câmara paulistana.

O deputado federal Guilherme Boulos fez questão de ressaltar a importância das eleições municipais em um cenário parlamentar que, segundo ele, está longe de cessar atividades arriscadas para o futuro ambiental do país. “Nós ganhamos as eleições [presidenciais, em 2022] mas para nós do campo progressista, defender o meio ambiente lá em Brasília continua sendo um sufoco”, relatou.

Para Boulos, a presença de figuras como Marina Bragante tende a possibilitar esses avanços, já que a câmara municipal segue sendo um espaço onde ainda é difícil estabelecer políticas voltadas, por exemplo, para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e aos eventos extremos que já se manifestam, como as grandes tempestades e ondas de calor.

Marina Bragante tem mestrado em Administração Pública pela Universidade de Harvard e foi chefe de gabinete da deputada estadual Marina Helou entre 2019 e 2021, ano em que aceitou atuar como Secretária Executiva de Desenvolvimento, Ciência,Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo. Em  2022 seguiu para o setor privado como Diretora de Políticas Públicas da AYA Earth Partners. Em sua primeira candidatura a vereadora pela Rede, em 2020, ainda durante a pandemia, recebeu 9.710 votos.

Conforme a disputa municipal começa ganhar nitidez, iniciam-se também as articulações com o intuito mais específico de ampliar o espaço – e os recursos – para candidaturas ligadas à pauta ambiental.  Principal ativo político da Rede, a ministra Marina Silva observou a composição com Boulos tratando-a como a criação de uma frente ampla.

“Nós sabemos que para ganhar as eleições em 2022 foi uma frente ampla. Agora nós temos uma frente ampla aqui também com o Boulos. Mas tem uma coisa que nós temos que pensar: tem um lado que é blocado cem por cento e atua contra a democracia, contra os direitos humanos, dos povos indígenas, do enfrentamento às mudanças climáticas, com uma visão negacionista. Nós, Psol e Rede, não votamos blocados, temos diferenças,  mas há algo que nos une que é a defesa da democracia”, explicou a ministra.

Ao ((o))eco, Marina Silva detalhou como seguirá apoiando outros candidatos pelo país para destacar a pauta ambiental em diferentes regiões e contextos. “Essa é uma pauta que precisa estar presente nas eleições municipais do Brasil inteiro tanto para aqueles que estão pretendendo o executivo quanto o legislativo. Como esse tema é orgânico à Rede, estar aqui é muito natural, porque sei que a câmara dos vereadores é um espaço privilegiado de como traduzir essas políticas públicas nos territórios, na vida das pessoas. Por isso estou prestando esse apoio nacionalmente, sempre aos finais de semana”, frisou. Dentre os pré-candidatos da Rede de outras localidades destacados para receber esse apoio está Túlio Gadelha, que concorrerá ao maior cargo executivo da capital pernambucana, Recife.

‘Democracia custa caro’

A deputada estadual Marina Helou indicou um dos principais desafios para um partido de pequeno porte como a Rede no processo eleitoral:o acesso escasso a recursos financeiros. “Candidatos do PL (Partido Liberal) que a gente nem sabe direito quem são vão receber milhões de reais em recursos partidários, enquanto nós teremos de fazer essa construção contando muito com a mobilização da nossa base. É muito importante a gente falar sobre isso porque fazer campanha é algo que requer muitos recursos e isso pode fazer muita diferença nas urnas”.

A pré-candidata Marina Bragante demonstrou compartilhar das preocupações de Helou. “Esse ano a gente entendeu que é importante ter uma campanha prioritária para concentrar os recursos, mas também as figuras da Marina Silva e da Marina Helou no apoio a uma candidatura só. Concorremos com partidos que têm muito recurso e é muito comum na política a gente dizer que voto se ganha, sim, com dinheiro. A democracia custa caro, mas é um custo que vale muito a pena. Nós entendemos que o caminho é fazer com que as pessoas se identifiquem com uma causa e é por isso que estamos unindo essas forças para a próxima eleição, mesmo com as desproporções orçamentárias”, completou Bragante.

Foto: Iuri Carvalho.

O PL é o partido com maior participação na divisão do Fundo Eleitoral, com R$886, 84 milhões a serem utilizados para os pleitos municipais. A Rede poderá acessar R$35,9 milhões e o Psol, R$126,89 milhões. Essa assimetria tende a aumentar diante da influência bolsonarista junto a seu eleitorado no apoio aos candidatos apoiados por seu partido. Em São Paulo, esse apoio pertence ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que terá como vice o Coronel Mello Araújo, que é do PL e foi uma indicação direta de Bolsonaro. Já Guilherme Boulos é apoiado não apenas pela ministra Marina Silva mas, também, pelo presidente Lula.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada em 29 de maio, Boulos e Nunes seguem muito próximos na liderança da disputa à prefeitura, o primeiro com 24% e o segundo com 23% das intenções de votos. Tábata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) estão empatados na terceira posição, com 8% das intenções, seguidos por Pablo Marçal, com 7%. Na sequência, Kim Kataguiri (UB) e Maria Helena (Novo) contam com 4%; e João Pimenta (PCO), Fernando Fantauzi (PC), Ricardo Senese (UP) e Altino (PSTU) contam com 1%. Os que declararam voto nulo foram 13% e 5% preferiram não opinar.

Visitei pessoas por quem tenho grande carinho, diz Lula após encontro com FHC em SP

O presidente Lula (PT) disse que, nesta segunda-feira (24), visitou quatro pessoas pelas quais tem “grande carinho”. A fala veio após encontros com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o linguista norte-americano Noam Chomsky, o escritor Raduan Nassar e o jornalista Mino Carta.

Na sexta-feira passada, Lula também encontrou o ex-presidente José Sarney no Maranhão.

Adversário de Lula nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, FHC declarou apoio ao petista contra Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Na ocasião, FHC afirmou que votaria em Lula por “uma história de luta pela democracia e inclusão social”.

O presidente visitou o ex-presidente em sua residência e deixou o local sem falar com a imprensa.

CNN

Rússia convoca embaixadora dos EUA após ataque a civis russos com armas americanas

Lynne Tracy recebeu um protesto formal em relação ao “novo crime sangrento do regime de Kiev, patrocinado e armado por Washington”

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou a embaixadora dos EUA em Moscou após a Ucrânia ter usado mísseis ATACMS fornecidos pelos americanos em um ataque à península da Crimeia, resultando em numerosas baixas civis.

Em um comunicado nesta segunda-feira, o ministério afirmou que a embaixadora Lynne Tracy recebeu um protesto formal em relação ao que chamaram de “um novo crime sangrento do regime de Kiev, patrocinado e armado por Washington,” referindo-se ao bombardeio ucraniano de Sebastopol no dia anterior.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, o ataque ucraniano ocorreu por volta do meio-dia, horário local, no domingo, envolvendo cinco mísseis ATACMS armados com munições de fragmentação, que são proibidas em mais de 100 países. As autoridades informaram que quatro foguetes foram destruídos no ar, enquanto um quinto foi danificado pelas defesas aéreas, desviou de sua trajetória e detonou sobre Sebastopol. As autoridades locais dizem que o ataque matou quatro pessoas, incluindo duas crianças, e feriu mais de 150.

Brasil 247

Manual teológico do neopentecostalismo neoliberal

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Por LEONARDO SACRAMENTO (*)

A teologia transformou-se em coaching ou fomentador da disputa entre trabalhadores no mundo do trabalho

1.

Habitualmente, os evangélicos são um ponto de incompreensão para os movimentos sociais, acadêmicos, partidos e imprensa. A falta de compreensão deve-se a uma falsa historicidade, na qual se compara neopentecostais com protestantes e calvinistas europeus a partir de uma história comparativa das ideias. Ocorre que os processos políticos entre protestantes europeus e neopentecostais brasileiros são completamente distintos.

Para entender os neopentecostais brasileiros,[1] é preciso analisar como o neopentecostalismo se estruturou e se amalgamou nas relações sociais brasileiras. A chave para a compreensão do movimento neopentecostal é a elucidação da função social do movimento enquanto instrumento político e a forma pela qual a sua teologia se consolida como instrumento de regulação de uma dada sociabilidade nas relações de produção do capitalismo brasileiro. E a regulação, segundo dados e pesquisas, está nas noções de desigualdade e mérito, ambas refletidas no neoliberalismo.

A pesquisa da Oxfam Brasil em conjunto com o Datafolha, publicada nos meios de comunicação em maio de 2019, constatou que o brasileiro acredita que a desigualdade é um empecilho ao progresso do país. Contudo, a causa primeira para a sua superação seria o combate à corrupção, o que corrobora a vitória da perspectiva udenista e lavajatista segundo a qual a corrupção seria o começo, o meio e o fim de todos os problemas sociais, reduzindo os problemas e a complexidade brasileiras a uma matriz analítica monocausal moralista.

Esse empobrecimento analítico é um instrumento importante para a manutenção conservadora das relações de produção e das mobilidades como estão estruturadas e institucionalizadas. Longe de ser a estrutura tributária, a exploração, o trabalho e a transferência de renda de trabalho para rendas de capital, a corrupção remete à população a crença da tirania do status quo friedmaniano, na qual a corrupção viria necessariamente e exclusivamente do Estado. A solução seria a sua imediata redução ou até mesmo a sua extinção. Não à toa, e muito menos por coincidência, em último lugar na pesquisa como medida prioritária está o investimento em assistência social.

A crença na tirania do status quo friedmaniano é a matriz que unifica todas as fakenews, como ocorre no desastre climático-ambiental no Rio Grande do Sul, em que o Estado seria ineficiente e incapaz apesar da “alta taxação” e do “quantum perdido pelo estado sul-rio-grandense para a União no sistema distributivo”, positivando-se apologeticamente o trabalho voluntário (individual e antiestatal) do “povo” como política. Mas o que poderia levar à melhoria da vida das pessoas? Em primeiro lugar, segundo a pesquisa, a fé religiosa, seguida de estudos. Em antepenúltimo, em oito requisitos pré-definidos, está o acesso à aposentadoria.[2]

Esses dados corroboram uma pesquisa feita pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação intitulada Percepção pública da C&T no Brasil – 2019, que analisa a percepção da população sobre a imagem da ciência e do cientista. Em 2015, a mesma pesquisa constatou que 19% das pessoas enxergavam malefícios à ciência; já em 2019 saltou para 42%. Outro dado relevante é que o percentual de pessoas que consideram cientistas pessoas que servem a interesses econômicos e produzem conhecimento em áreas nem sempre desejáveis saltou de 7% para 11% nas mesmas datas, sendo que chegou a ser 5% em 2010.

Já o percentual de pessoas que consideram cientistas produtores de conhecimentos úteis à humanidade caiu de 52% para 41% nas mesmas datas, sendo que em 2010 estava em 55,5%. O que aconteceu na pandemia foi construído na década anterior.

A percepção de que é possível romper a pobreza por meio da fé religiosa prosperou como nunca neste século, notadamente sob os governos petistas, sem dúvida alguma. Um dos equívocos nas análises sobre conservadorismo contemporâneo, além de não o analisar historicamente, dando a entender que surgiu de forma espontânea ou maquiavélica a partir de uma intervenção predominantemente estrangeira, consiste em posicionar as igrejas neopentecostais a um lugar-comum do simples e mero fundamentalismo fora dos aparelhos do Estado.

Essa é uma perspectiva que tem o objetivo de não reconhecer o óbvio: as alianças com grupos sociais conservadores cujas histórias estão inscritas em todos os golpes institucionais ao longo dos séculos XIX e XX. Dos militares aos religiosos, dos financistas à FIESP, de emissoras a setores da classe média tradicional.

Mas foquemos no neopentecostalismo, um novo ator dos grupos socialmente conservadores. Se o empreendedorismo é o projeto político do neoliberalismo para a classe trabalhadora, não há nenhuma outra organização que realiza melhor esse projeto de poder do que as igrejas neopentecostais. Ela substituiu os sindicatos partir de 2003 e obteve a sua grande vitória com a Reforma Trabalhista de 2017, a qual sacramentou o fim da maioria dos sindicatos, seja pela precarização e fragmentação da classe trabalhadora, seja pela abrupta diminuição de recursos financeiros transferidos da União aos sindicatos – redução de 99% de 2017 a 2023. Por isso, é preciso compreender a sua principal teologia, a Teologia da Prosperidade.

2.

A Teologia da Prosperidade não foi construída à luz do corolário neoliberal, o que não significa que não se vincule ontologicamente ao neoliberalismo. Hoje vincula-se como um belo casamento cristão. O nascimento da Teologia da Prosperidade remonta a Essek William Kenyon e de seu seguidor Kenneth Hagin, os quais criaram a confissão positiva a partir do Evangelho segundo São Marcos 11:23-24, na qual permitiu a interpretação de que a fé é a base da Confissão Positiva.

Em um país católico como o Brasil, é plenamente razoável que boa parte da população tenha passado por um confessionário, ou se não, que tenha em mente a confissão católica por meio de filmes e novelas. No confessionário, o pecador confessa os seus pecados, e por serem pecados, são negativos. Pode-se dizer que essa é uma confissão negativa, segundo os preceitos de parte significativa do neopentecostalismo. A confissão positiva decorre da constatação de que qualquer sofrimento reflete falta de fé, devendo-se trazer a público o que se testemunha positivamente, na medida em que a confissão é um ato de fé.

Sendo assim, a característica do bom cristão é o sucesso, enquanto a pobreza e o fracasso são as faces da falta de fé, pois o testemunho do positivo é a base para a negação do indesejado (SILVEIRA, 2007).[3] Em outras palavras, se na confissão negativa o pecado traz a culpa, na confissão positiva o testemunho traz o orgulho.

A descrição de Paulo Romero, então diretor do Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), uma espécie de organização com perfil acadêmico-teológico que objetiva a realização de pesquisas na perspectiva evangélica, sintetiza conceitualmente a confissão positiva e a sua relação com a teologia da prosperidade:

Conhecido popularmente como a “teologia da prosperidade”, esta corrente doutrinária ensina que qualquer sofrimento do cristão indica falta de fé. Assim, a marca do cristão cheio de fé e bem-sucedido é a plena saúde física, emocional e espiritual, além da prosperidade material. Pobreza e doença são resultados visíveis do fracasso do cristão que vive em pecado ou que possui fé insuficiente (ROMERO, 1993, p. 5).[4]

Em seu livro Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade, Paulo Romero reconstrói a importância de Kenneth Hagin para a construção teológica da Confissão Positiva,[5] não sem apontar algumas abstrações sintetizadoras que conseguiu estabelecer, tais como a que boa parte do movimento da prosperidade declara que a enfermidade advém do Diabo (ROMERO, 1993, p. 33), que os verbos “pedir, rogar e suplicar” foram substituídos por “exigir, decretar, determinar e reivindicar” (ROMERO, 1993, p. 36), e que Deus é representado na prosperidade.

No livro New Thresholds of Faith, Hagin[6] (1990, p. 55) enuncia o raciocínio que fundamentaria a Teologia da Prosperidade: “Cristo nos redimiu da maldição da pobreza. Ele nos redimiu da maldição da doença. Ele nos redimiu da maldição da morte – morte espiritual agora e morte física quando Jesus voltar. Não precisamos ter medo da segunda morte. (…) A Escritura do Novo Testamento, terceiro João 2,[7] concorda que Deus deseja que tenhamos prosperidade material, física e espiritual, porque diz: “Amado, desejo acima de tudo que você possa prosperar e ter saúde, assim como a sua alma”. Muitas pessoas têm a impressão de que qualquer promessa na Bíblia de bênção e prosperidade material se refere apenas aos judeus. No entanto, este versículo foi escrito para os cristãos do Novo Testamento”.

Kenneth Hagin termina a lição com a seguinte afirmação, usada também por Romero (1993): “Deus quer que Seus filhos comam melhor, Ele quer que eles usem as melhores roupas; Ele quer que eles dirijam os melhores carros; Ele quer que eles tenham o melhor de tudo” (HAVIN, 1990, p. 55).

3.

A Teologia da Prosperidade é uma construção teológica que consiste na edificação do ato de fé em oposição à maldição. Essa construção permite politicamente que a Teologia da Prosperidade seja extremamente mundana, pois dialoga abertamente com os problemas e as vicissitudes do cotidiano. Em outras palavras, é uma construção de um projeto de sociabilidade que tem um projeto de poder para os trabalhadores mais efetivo do que a Encíclica Mater et Magistra no começo do século XXa qual estabelece que burguesia e trabalhadores devem viver em regime de solidariedade em que a propriedade privada é um direito natural pertencente à burguesia que deve ser exercido para o bem de todos; ou mesmos dos sermões de Antônio Vieira para escravizados, em que o martírio consistiria na chegada imediata ao paraíso.

É mais efetiva porque viabiliza ideologicamente a saída dos trabalhadores da classe que sofre e dá uma alternativa existencial ao martírio referindo-se ao acesso historicamente negado aos mecanismos das mobilidades econômica e simbólica. A ideia de que Jesus sofreu pelo humano, não cabendo mais ao humano sofrer, expressa rigorosamente as agruras e os desejos dos trabalhadores submetidos à extrema exploração.

Kenneth Hagin se fundamenta em Marcos 11:23 para dissociar o dizer do orar. Essa é uma dissociação importante que é seguida por boa parte das igrejas neopentecostais. Seguiremos rigorosamente o raciocínio do pastor em A fé para remover montanhas,[8] especialmente no capítulo 6, A fé para finanças, só com uma palavra. A palavra é a expressão, o meio e o fim, da confissão positiva.

Em Marcos 11:23, na obra de Kenneth Hagin, está: “Porque na verdade nos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito”. Hagin faz uma dissociação entre dizer e orar, especialmente no capítulo 5, concluindo que crer não é o suficiente. Assim sendo, o crente deve falar, apalavrar, emitir o verbo a Deus, especificando o que deseja. Continua Kenneth Hagin (s.d., p. 98), “quando você crê fortemente que Deus lhe dará alguma coisa, não a receberá necessariamente por isso. Jesus não disse: ‘… tudo o que crer lhe será feito’, mas: tudo o que disser lhe será feito”.

O que for dito deve ser sempre positivo, seja um pedido ou um testemunho. Kenneth Hagin (s.d., p. 100) recomenda que não se dê mau testemunho, uma vez que o “crente não deve ser traficante de dúvidas, assim como não deve ser traficante de drogas”. As dúvidas, por mais que não sejam crimes, “não deixam de ser pecaminosas”. A dúvida aqui é transformada em pecado, ou algo que pode levar ao pecado. O que há, ironicamente a Martinho Lutero, é a reafirmação do dogma cristão na figura do pastor e de sua capacidade de interpretação, como a dissociação feita entre dizer e orar, o que é rechaçado por Romero através da elucidação do eterno problema da tradução.[9] Não basta orar, mas falar que recebeu. Portanto, é preciso testemunhar, realizar a confissão da fé, “e não à confissão do pecado”, que “deve ser esquecido, assim como Deus o esquece” (HAGIN. s.d., p. 107).

A quem assiste pela televisão os cultos ou simplesmente nota os colantes nos carros com os dizeres “Pertence a Deus”, “Presente de Deus”, “Nas mãos e nas palavras de Deus”, “Foi Deus que me deu”, entre outros, observa um testemunho tão ou mais importante do que a oração, testemunha um rito da fé, como os War boys deMad Max: estrada da fúria, que antes de fazerem o ato mais alto da vida, dá-la, precisam oferecer o testemunho aos colegas sob o risco de não entrar em Valhalla.

Em seguida Kenneth Hagin apresenta fatos pessoais como prova da confissão positiva baseada em Marcos 11:23: “Certa vez, há muitos anos, precisava de $1.500 até ao início do mês. Disse, portanto: “Antes do dia primeiro do mês que vem, terei $1.500. Continuava dizendo assim, em várias ocasiões, na oração. Só repetia a mesma afirmação: “Antes do dia primeiro do mês de que vem, terei $1.500”. Pois bem, chegada aquela data, eu tinha $ 1.580 – oitenta dólares mais do que reivindicara! Foi o Senhor quem me ensinou como aplicar a minha fé às finanças. Levei anos para perceber o fato. Como moço batista, tinha sido salvo, e depois curado pelo poder de Deus. Mas nunca pensei em usar a minha fé além da salvação e da cura” (HAGIN, s.d., p. 108).

Kenneth Hagin teria tido muitas complicações em sua infância e teria sido curado por intervenções divinas. Segundo o pastor norte-americano, em um determinado momento em sua vida, Deus havia lhe falado: “A fé é a mesma em todos os âmbitos e em todas as áreas. Mas você emprega a fé somente em se tratando da salvação, do batismo no Espírito Santo, e da cura divina. Mas a fé é a mesma também na área financeira. (…) Se você precisasse da cura para seu próprio corpo, você a reivindicaria pela fé, sairia para proclamar publicamente que você foi curado, e continuaria suas pregações. E, muitas vezes, no passado, todos os sintomas desapareceriam enquanto você pregava. Você precisa fazer a mesma coisa quando se trata das finanças” (HAGIN, s.d., p. 111).

4.

Independentemente da matriz teológica, o fato é que a Teologia da Prosperidade faz uma divisão nítida e explicita. Ricos e pobres sempre existiram e sempre existirão. Ricos são bem-aventurados porque possuem a fé, e foram agraciados da mesma forma que seriam se fosse uma enfermidade. Miseráveis e enfermos vivem sem fé, e só podem mudar de vida se e somente se se submeterem ao império da fé cristã por meio da confissão positiva. Nesse sentido, a maldição é um elemento fundamental da construção da fé.

A visão que parte das igrejas neopentecostais possui das religiões de matriz africana advém da ideia de que seus praticantes não estão apenas distantes da fé, mas em situação de amaldiçoamento. Da mesma forma, das religiões que decorrem do continente africano, onde sobreviveria a maldição sobre Cam, como defendeu e defende o Pastor e deputado Marco Feliciano.[10] A mesma visão racializada é verificada por estudos sobre a visão das igrejas neopentecostais sobre as religiões de matriz africana, em que são acusadas de serem espaços ideais para a propagação de possessões demoníacas.

Há a criação de um inimigo comum que unificaria os cristãos brasileiros, como atesta Mãe-de-santo, publicado em 1968 por Walter Robert McAlister, fundador da Igreja Pentecostal de Nova Vida no Rio de Janeiro, e Orixás, caboclos & guias. Deuses ou demônios?, de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.[11] A exportação de igrejas neopentecostais ao continente africano não é mera coincidência, mas um elemento de um projeto político-teológico que enxerga o continente africano, o africano e o negro como elementos propícios à possessão demoníaca, em que a fé livraria todos do amaldiçoamento e se transformaria em exemplo da universalidade da fé neopentecostal.[12]

Vamos entender o modelo criado no Brasil e o exportado, pois ele responde em boa medida pela ascensão do conservadorismo entre os trabalhadores. A pobreza é uma resultante da falta de fé. Diante desse fato, faz sentido as igrejas neopentecostais construírem alguma tecnologia para o enriquecimento para além do Dizer. Em um contexto de ascensão da autoajuda e do empreendedorismo, não é muito difícil irmanar o útil ao agradável na Teologia da Prosperidade.

A Igreja Universal do Reino de Deus tem uma sessão específica em seu jornal, Folha Universal – publicada periodicamente desde 1992 –, chamada Sucesso Financeiro. Na edição de 17 de novembro de 2019, a empresária Pamela Rivelles, que era empregada – na seção cujo título é “De desempregada à empresária” – afirma que “escutava a Palavra e pensava que não poderia continuar pensando pequeno”, pois “tinha de ter algo que glorificasse a Deus”.

A tecnologia desenvolvida pela igreja chama-se Fé Inteligente. A partir das leituras, é de difícil conceituação. O desapego à exatidão tem o ponto positivo de explicar o fracasso, pois sempre existirá algo que não foi feito por aquele que não foi agraciado com dinheiro. Para Edir Macedo, fé não é sentir, exacerbar a emoção em um show, pois “é possível ver vários exemplos de que a fé bíblica não tem nada a ver com sentimentos ou emoções”. Para o pastor, tais demonstrações de fé devem “ser descartadas, pois o que vale é a certeza na Palavra do Altíssimo”.

O Bispo acrescenta que esse é o motivo da vida de muitas pessoas que creem em Jesus ser devastada pelos fracassos. O problema está, justamente, na forma como conduzem sua fé e o relacionamento com o Altíssimo.

Enquanto estão na igreja, ficam felizes, pois, aparentemente, sentem a presença de Deus. Mas, quando estão fora, sozinhas, caem em desespero porque só sentem os problemas e as tribulações.

“Por isso, não basta vir à igreja, você deve manter essa chama acessa, crer que Ele é com você. Essa fé é que faz a diferença e lhe sustenta. O mal não tem poder sobre a pessoa que carrega a certeza de que Deus é com ela”, ensinou.[13]

O fracasso daqueles que visivelmente possuem fé está explicado por uma conceituação heterodoxa e abstrata sobre o que é a expressão da fé, em que o fracassado sempre pode ser convencido de que fez ou não fez algo que explica o seu suposto fracasso. Por óbvio, os casos anunciados na Folha Universal são os de sucesso, unindo o corolário da Confissão Positiva com a necessidade do marketing.

A Fé Inteligente pressupõe o que chama de a Aliança com Deus, segundo a qual nada mais é do que uma sociabilidade ascética à luz da interpretação pentecostal e neopentecostal. Segundo a edição de 10 de novembro de 2019 da Folha Universal, é baseada em sete pontos: (1) decidir entregar a vida a Deus; (2) cultivar disposição para pautar a sua vida na Palavra de Deus; (3) obediência à Palavra de Deus; (4) abandonar os antigos hábitos; (5) fortalecer a fé diariamente; (6) confiar em Deus em todos os “desafios”; e (7) praticar a fé inteligente.[14]

Como dito, não há uma explicação formal e conceitual do que é Fé Inteligente. Normalmente, inclusive pelos inúmeros vídeos disponíveis, há mais exemplos do que conceituação clara e formal, a despeito do argumento de Edir Macedo sobre a polarização entre razão e emoção no âmbito da fé. Vamos ao exemplo da matéria em questão.

Um casal detentor de uma empresa de seguros teria voltado a atrair clientes após um período de crise, com o fechamento de um contrato com um condomínio e a atuação ativa da esposa, que estava conseguindo clientes para a empresa em sua área de atuação, a advocacia. Ambos creditam a mudança ao uso da Fé Inteligente. Diz o marido: “Deus se manifestou a partir de nossas atitudes. Ela começou a se mover e já estão aparecendo clientes”. O semanário afirma “as conquistas que ele e a esposa tiveram neste ano estão relacionadas à prática da Fé inteligente”. Marcos confirma, assegurando que a visão dele mudou, já que “o Espírito Santo está comigo me dando direção”.

O Bispo Allan Sena relata a importância da Fé Inteligente, e que a fé por si não é fator suficiente para obter o sucesso financeiro tampouco o esforço no trabalho, para os quais “o problema não é a falta de Fé”, mas o uso “de uma maneira inteligente e prática”. Em suma, a “Aliança com Deus tem seus deveres e compromissos que devem ser obedecidos e é isso que ensinamos nas reuniões”, a partir das seguintes etapas: “Em primeiro lugar, a Fé nos ensina a acreditar em nossa própria capacidade. E, em segundo lugar, ela nos faz crer sobretudo em um Deus vivo que é maior do que toda má situação vivida. Por isso que, ainda que os problemas que enfrentamos sejam maiores do que a capacidade humana, sabemos que Deus tudo pode e tudo consegue”.

“Acreditar em nossa própria capacidade” é um libelo da autoajuda e das pseudoteorias do poder da mente. A reportagem seguinte, pertencente à sessão Sucesso Financeiro, apresentada após a reportagem de capa convidar a todos que desejam “firmar” um pacto com Deus a comparecerem a uma igreja, possui o singelo e surrado título de escolas empreendedorismo e coaching Mais que a obrigação. O texto defende a ideia de que para que o indivíduo cresça no trabalho é preciso possuir uma postura que vá além da obrigação contratual. Para reforçar a ideia, usam a história de Greg Rogers, o qual teria criado uma bebida que aumentou o faturamento da rede Starbucks, e o pensamento de dois professores da Universidade da Carolina do Norte e de Notre Dame, Thomas Bateman e J. Michael Crant.

Depois das citações dos professores, cujo lugar-comum é o do empreendedorismo mais barato, como “o que faz mais que a obrigação promove reformas construtivas; o que não faz segue o fluxo passivamente no piloto automático”, o texto afirma que a Bíblia confirma tais ensinamentos com a seguinte passagem de Mateus 25.14-30: “Nela, há a história de três servos que recebem de seu senhor – que ia viajar –, respectivamente, um, três e cinco talentos (moeda da época) para guardarem. Os dois receberam três e cinco talentos dobraram a quantia com aplicações. O que recebeu um, com medo de perdê-lo, escondeu-o e não teve nenhum rendimento. Esse foi rejeitado pelo patrão quando ele voltou de viagem, enquanto os outros dois receberam privilégios e evoluíram no trabalho”. O Senhor Jesus dá novamente na Bíblia não só um conselho sobre como reagir diante das adversidades, mas sobre a importância de se esforçar para obter êxito: “E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mateus, 5.41).

E chegamos à conclusão: “Quem faz algo passivamente, só por ter obrigação, cumpre a primeira milha como todos e não consegue se destacar no meio da multidão que disputa um espaço, mas é na segunda milha que quem tem mais a oferecer sobressai”.

5.

Como visto, a teologia transformou-se em coaching ou fomentador da disputa entre trabalhadores no mundo do trabalho, em que uns chegam à segunda milha e são agraciados com bens materiais enquanto a maioria não passa da primeira milha. Lógico que no exemplo dos talentos, moeda da época, caberia um questionamento sobre a distribuição desigual assim como sobre o fato de ser mais fácil se desfazer de um talento quando se tem três do que quando se tem um, mas a narrativa bíblica é encaixada para reforçar a verborragia da meritocracia e do empreendedorismo, o que faz com que tais questionamentos pouco importem.

Por fim, a reportagem indaga: como se destacar da multidão? Segundo a reportagem, há seis itens que ajudariam a se destacar à luz da Aliança com Deus e da Fé Inteligente: foco, seja sempre ativo, perceber que alguém sempre repara em quem se esforça, explorar as qualidades e aprender sobre o trabalho. O último é destinado aos “empregadores”, a saber, a busca de funcionários com este perfil. Portanto, se o trabalhador não tiver esse perfil para um empregador vinculado à Fé Inteligente, será provavelmente preterido, restando os trabalhadores embebidos da nova necessidade de fazerem mais do que a obrigação exige.

Com um pouquinho de tino, dá para montar um negócio em que patrão e trabalhadores possuem o mesmo perfil e objetivo, e por que não, todos evangélicos e leitores ávidos do Sucesso Financeiro, no qual as contradições entre capital e trabalho, como direitos trabalhistas, seriam arbitradas pelo pastor.

A matéria de capa da edição de 17 de novembro de 2019 da Folha Universal, na qual o título é “Quem usa a fé no altar se torna um realizador de sonhos”, inicia-se com a mesma simbiose entre fé e empreendedorismo nas matérias já analisas. O Bispo Odivan Pagnocelli faz a seguinte afirmação: “Desde a infância temos muitos sonhos, mas, à medida que vamos crescendo e nos tornamos adultos, nossos sonhos também amadurecem. E, se há muitos que dedicam boa parte da sua vida a alcançá-los, outros se frustram conforme o tempo passa e os sonhos se tornam cada vez mais distantes. Nos deparamos com vários tipos de sonhadores: os que têm sonhos e não fazem nada para concretizá-los e os que desistem no meio do caminho. Somente conseguem realizá-los os que perseveram até o fim e não se importam com os sacrifícios que terão de fazer para isso”.

O bispo lembra que a Bíblia possui muitos homens que sonharam e se destacaram, como Moisés, que teria libertado o seu povo por ter sonhado e se sacrificado. Por conseguinte, “com a força do braço, o sonho está sujeito a todas as fragilidades terrenas”, mas se “os sonhos realizados no Altar são concretizados em parceria com o Altíssimo”, quem “poderá detê-Lo?”.

Seguindo o modus operandi de todos os artigos, o texto pula para os exemplos, os testemunhos da Confissão Positiva. São quatro ao todo, mas se citará apenas um, o do empresário Samir Crema. Quando vendia consórcios, viu uma “oportunidade”, a saber, o “Altar do Sacrífico”. Diz ele que a oportunidade superou uma sina bourdieuneana, digamos assim: “Ninguém na minha família tinha formação superior nem havia um empresário em quem eu pudesse me espelhar”; justamente por “essas razões, eu não tinha sonhos e tinha perdido expectativa de um bom futuro”.

E continua: “Depois de ir para o Altar, eu tive a visão de ser grande, de me tornar um empresário. Abri uma loja de móveis para festas e, pouco tempo depois, me tornei fabricante. Hoje minha empresa atende todo o Brasil e fornece móveis para salões de festas, clubes, hotéis, bares, restaurantes e escolas”.

Ao longo da reportagem, fotos das pessoas, a maioria casais, ao lado das empresas e propriedades, como grandes casas com piscina, reforçam a ideia do casamento como elemento da prática da fé e induz a constatar que a riqueza material é inerente à prática da fé.

O fato inconteste é que a Teologia da Prosperidade é um projeto de poder e de sociabilidade extremamente efetivo, seja porque se coaduna com o neoliberalismo mais cru, seja porque apresenta um projeto de redenção à classe trabalhadora segundo o qual os indivíduos podem se salvar da miséria por meio da fé. Por óbvio, todos não poderão ficar ricos, nem mesmo os fiéis, mas a explicação do fracasso está dada pela subjetividade da aplicação equivocada ou insuficiente da fé no cotidiano miserável e desigual.

Que trabalhador informal, precarizado e sem esperanças não entraria de cabeça em tal teologia? Ao entrar na teologia, o desesperado mergulha na ideologia neoliberal, transformando a sua vida em um constante paradoxo existencial amainado pelo exorcismo profético e empreendedor da realidade. A Teologia da Prosperidade pariu o trabalhador que trabalha para não ser trabalhador, o trabalhador que não deve pertencer à classe que sofre porque Jesus já sofreu.

(*) Leonardo Sacramento é professor de educação básica e pedagogo do IFSP. Autor, entre outros livros, de Discurso sobre o branco: notas sobre o racismo e o Apocalipse do liberalismo (Alameda).

Marcos Rocha, de Rondônia e Antônio Denarium, de Roraima, estão na mira do TSE para cassação

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve analisar e julgar antes do recesso do Judiciário, que se inicia em 16 de julho, processos que pedem a cassação de dois governadores bolsonaristas. Os réus são os governadores  Marcos Rocha (União Brasil), de Rondônia e Antônio Denarium (PP), de Roraima.  Com informações do Congresso em Foco.

Entre as acusações enfrentadas pelos governadores estão irregularidades na propaganda eleitoral, abuso de poder político e conduta vedada ao agente público. Em um dos processos, há denúncias de uso da máquina pública para autopromoção, como a distribuição de cestas básicas durante o período eleitoral.

Marcos Rocha, eleito pelo PSL em 2018, enfrenta três processos no TSE. O governador de Rondônia, que foi reeleito pelo União Brasil, é acusado de propaganda eleitoral irregular, abuso de poder político e conduta vedada ao agente público.

Na primeira ação, Marcos Rocha e o senador Marcos Rogério (PL-RO) são acusados de propaganda eleitoral irregular. Segundo a decisão do desembargador Kiyochi Mori, houve violação das normas eleitorais ao  veicular propaganda nos canteiros centrais de diversas avenidas. Rocha tenta recorrer da decisão, que manteve a procedência da representação contra ele e estipulou multa de R$ 340 mil.

“Há diversas provas nos autos de que as bandeiras com propagandas eleitorais foram efetivamente instaladas pelo recorrente em local proibido, em área urbana, no meio do canteiro que divide avenidas de grande circulação”, complementa o magistrado.

Os outros dois processos que Marcos Rocha enfrenta no TSE dizem respeito à acusação de conduta vedada ao agente público. Ambas as ações foram incluídas na pauta de 1 de agosto deste ano e são relatadas pelo ministro Raul Araújo Filho.

De acordo com o processo, o governador Marcos Rocha e seu vice, Sérgio Gonçalves, revogaram, por motivo eleitoral, a criação da Estação Ecológica Soldado da Borracha no âmbito das eleições de 2022 e são acusados de abuso de poder econômico, consistente no conjunto de representações por propaganda irregular.

Na outra ação, o governador é acusado de assédio a servidores públicos das esferas municipal e estadual com a finalidade de aderirem, como voluntários, à campanha, o que configuraria flagrante abuso de poder e prática do denominado “caixa dois”; disparos de publicidade via telemarketing custeados com recursos públicos, a caracterizar propaganda eleitoral antecipada; e aumento de repasses voluntários aos municípios e de incremento de programas sociais em proveito da  própria campanha.

Ambas ações já foram julgadas como improcedentes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RR). As decisões do ministro Raul Araújo, do TSE, também se encaminham para a negativa de seguimento dos recursos interpostos pedindo pela inelegibilidade do governador.

Roraima

Antônio Denarium, também eleito pelo PSL em 2018 e reeleito pelo PP em 2022, enfrenta ao menos três processos no TSE. As acusações incluem abuso de poder político e econômico, conduta vedada ao agente público e desvio de recursos públicos para fins eleitorais.

Em agosto de 2023, o Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) confirmou por três vezes a cassação do governador por distribuição de cestas básicas e outras ações durante o período eleitoral de 2022. Em janeiro deste ano, estabeleceu a inelegibilidade de Denarium por oito anos.

O governador também enfrenta acusações de superfaturamento na compra de ventiladores pela Secretaria de Saúde estadual. Em 2022, foi acusado de agiotagem e uma empresa da qual é sócio, Frigo 10, está associada a fazendeiros multados por desmatamento, crimes ambientais e invasões na Terra Indígena Yanomami.

Dois sobrinhos do político foram presos em maio pela Polícia Civil do estado por posse de 145 kg de drogas e armas. Outro caso envolve Helton Jhon, policial militar e segurança de Denarium, preso sob a acusação de assassinar agricultores em Cantá, aparentemente por questões fundiárias.

Fonte DCM e Congresso em Foco

Fernando Haddad, perfil do ministro da Fazenda- por OGlobo

A edição do jornal O Globo deste domingo publica um perfil de três páginas do ministro Fernando Haddad, assinado pela jornalista Miriam Leitão, em que são abordadas sua formação, sua relação por vezes conflituosa com o Partido dos Trabalhadores e também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num dos trechos, Haddad é questionado sobre uma previsão de seu pai, o comerciante já falecido Khalil Haddad, de que ele um dia seria presidente da República.

POR MÍRIAM LEITÃO

A quarta-feira, 12 de junho, foi o dia mais tenso de uma semana vista como a pior que Fernando Haddad enfrentou no cargo de ministro da Fazenda. Tudo estava contra ele. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu ao governo uma MP proposta pelo ministro, empresários criticavam a política econômica, alguns em tom estridente, o presidente Lula deu uma declaração que elevou ainda mais o dólar, e nas análises a palavra “isolado” era a mais repetida quando se falava de Haddad. Ele ficou em silêncio naquele dia. A um grupo de assessores, explicou, sem traço de nervosismo:

— Olha, não pode reagir a isso, porque se reagir sai pior a emenda que o soneto. Deixa a turma processar as informações e daqui a pouco o Lula vai falar, daqui a pouco eu vou falar, outros vão falar e pronto.

Na sexta-feira, 14, recebeu o apoio do presidente da Febraban, Isaac Sidney, numa reunião no seu gabinete em São Paulo, na sede do Banco do Brasil, na Paulista. Não demonstrava ter vivido uma semana pesada e explicava a interlocutores.

— Ministro da Fazenda é um cargo isolado por natureza, porque é a pessoa que contraria interesses.

Imagem de Scroll conteudo_1“EU SOU UM SUJEITO IMPROVÁVEL. NA POSIÇÃO EM QUE ESTOU? EU SOU MUITO IMPROVÁVEL.”

Fernando Haddad, sobre seu cargo no governo

A natureza do cargo é mesmo essa, mas o enredo de Haddad parece às vezes exagerar no papel. Nas últimas semanas, viveu sob marcação cerrada da direita e da esquerda, de empresários, do mercado financeiro e de seu próprio partido. Na semana passada houve o incêndio da relação entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. E o dólar, que estava caindo após o Copom, inverteu a curva e atingiu sua cotação máxima na quinta. Haddad, de novo, ficou em silêncio público. Nas conversas privadas, não transpareceu alteração. Abordado pela imprensa, disse que falaria depois da ata do Copom. O que o ajuda a manter a serenidade em momentos de tensão é pensar na própria história.

— Eu sou um sujeito improvável. Na posição em que estou? Eu sou muito improvável. Sou filho de um lavrador libanês, que chegou ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás, sou neto de um homem que morreu com a batina do corpo.

O fio da meada para entender quem é Fernando Haddad precisa começar mesmo em suas raízes. Ele é filho de Khalil Haddad, um imigrante que chegou ao Brasil, aos 24 anos, pobre, semianalfabeto, vindo de uma pequena vila do Líbano, de onde saiu diante da perseguição que cercava os cristãos. É neto de um padre católico ortodoxo, Cury Habib, que veio para o país depois que todos os filhos já estavam aqui e está enterrado na cripta da Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo, na Rua Vergueiro. Após a morte recebeu o título de arcebispo. Cury Habib ficou viúvo jovem, virou padre e se firmou como uma forte liderança local. Quando Haddad foi ao Líbano, em 2004, para visitar o lugarejo de onde veio sua família, a lembrança do avô era ainda firme no coração da sua gente.

Fernando Haddad, durante conversa com o GLOBO

— Nessa casa eu moro, mas ela é do Cury Habib. Você pode ficar aqui quando vier — disse o novo dono da casa.

Tudo na vida de Haddad tem um toque de improbabilidade. Ele era prefeito de São Paulo, em 2016, e perdeu a reeleição no primeiro turno para João Doria, um estreante na política. Dois anos depois, em 2018, foi candidato à Presidência da República e teve 45% dos votos. Ele era um jovem estudante de Direito da USP, a tradicional escola do Largo de São Francisco e, ao mesmo tempo, comerciante na Vinte e Cinco de Março. Cruzava a pé essas duas realidades, próximas e distantes. Fez doutorado em filosofia, mas conseguiu formular algo tão prático quanto a Tabela Fipe, que até hoje orienta o comércio de veículos.

Por tudo isso, ele acredita no improvável. Em 2022, Haddad estava na sala da presidência do PT quando, ao fim de uma reunião, pediu licença para ficar sozinho com Lula e avisou:

— Eu preciso de apenas cinco minutos.

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Lula ainda em pré-campanha. Tempos de conversa, negociação e tensão. Quando estavam só os dois, Haddad falou:

— Presidente, eu vim te trazer uma ideia.

— A política é uma coisa extraordinária — disse Lula rindo, como se adivinhasse.

— Se você disser não — disse Haddad — essa conversa nunca aconteceu. Se você não disser nada, eu vou trabalhar o assunto.

Lula aguardava a ideia com atenção.

— Alckmin de vice — falou.

Lula nada disse. Era o sinal de que não havia veto.

Nove anos antes, a relação com Alckmin teve um momento surpreendente. Era junho de 2013, Fernando Haddad era prefeito de São Paulo e estava no olho do furacão. Ele havia ocupado cargos públicos e chegado a ministro da Educação, mas aquele era o primeiro cargo ao qual chegara pelo voto. Na porta da prefeitura e nas ruas da cidade, uma multidão gritava noite e dia. Tentou até invadir a sede da administração. São Paulo, Rio e outras capitais viviam dias caóticos, mas tudo parecia ser pior na maior cidade do país. Com seis meses no cargo, sua popularidade despencou.

— Meu governo acabou — disse Haddad a vários amigos e assessores.

Eram as ruas de 2013, até hoje não entendidas no Brasil. Começaram como raiva contra todos os partidos e políticos e viraram munição da extrema direita. O gatilho da fúria havia sido um simples aumento de 6% nas tarifas de transporte, que foram represadas em 17% pelo prefeito anterior, Gilberto Kassab.

A presidente Dilma havia pedido a ele, ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que não aumentassem as tarifas de transporte no início do ano. Adiassem para junho.

Visto agora parece ter sido um tiro pela culatra. Alckmin, apesar de ser do outro extremo da polarização política da época, o PSDB, acatou o pedido. Quando as tarifas subiram em junho e houve a explosão dos protestos, Dilma ligou pedindo para Haddad recuar do aumento.

— Mas não é a tarifa. Quando eu baixar, vai sobrar para a senhora.

“SE VOCÊ DISSER NÃO, ESSA CONVERSA NUNCA ACONTECEU. SE VOCÊ NÃO DISSER NADA, EU VOU TRABALHAR O ASSUNTO.”

Fernando Haddad a Lula sobre ter Alckmin como vice-presidente

Logo depois, Haddad recebeu um telefonema de Eduardo Paes, do Rio:

— Haddad eu vou anular o aumento. Anula também.

A situação estava insustentável, e os assessores insistiam para que ele recuasse. Ele então, para espanto do seu gabinete, comunicou que antes iria conversar com o governador:

— Não vou fazer isso sem o Alckmin. Ele aceitou o pedido da Dilma, não vou deixar ele com a brocha na mão.

Avisou a Alckmin que queria falar. Pegou o helicóptero, foi para o Bandeirantes e, juntos, os então adversários anunciaram o recuo, cedendo aos manifestantes. Os protestos continuaram, porque não era a tarifa. Era algo estranho que estava sendo gestado. O país teria notícias mais adiante. Curioso é que ele disse, desde muito antes daquele ano, e chegou a escrever, que havia o risco da volta de uma força política neonazista. “Está estranho isso aqui”, repetia a vários amigos.

Sua administração não acabou naquele início, mas ele não se reelegeu. Apesar disso, sua gestão deixou marcas em decisões, criticadas na época, mas que agora fazem parte da vida da cidade, como o fechamento da Paulista aos domingos, as ciclovias e, sobretudo, o corredor exclusivo de ônibus.

Conseguiu renegociar a dívida do município e conquistou o grau de investimento para a cidade. Ainda assim, saiu sob críticas gerais, principalmente do PT.

Veio então o que foi definido no seu grupo como “o tempo do deserto”. No ostracismo, decidiu viajar pelo Brasil. Conheceu diretórios do partido, deu palestras, falou com lideranças políticas. Viajava sozinho, com um assessor. Acabou aumentando sua conexão com a legenda. Ele nunca havia sido aceito no PT, no qual entrou quando era líder estudantil. Nos anos 80, Haddad foi presidente do famoso Centro Acadêmico XI de Agosto, sucedendo Eugênio Bucci, que havia lançado o movimento “The Pravda”. Buscava, uma esquerda longe da polarização da guerra fria. O “The” imitava o design do “The New York Times”. Achavam que passariam a ideia da junção de dois jornais polares.

— Mas evidentemente todo mundo só via o “Pravda” — disse um dos seus amigos.

Seus contemporâneos dizem que foi ali que nasceu o ser político, mas ele já começou com uma derrota. Não fez o sucessor. Em 1985, quando morreu Tancredo Neves, ele, presidente do Centro Acadêmico, escreveu um artigo com o título “emaranharam o Brasil”, numa referência ao Maranhão de Sarney, e propunha uma campanha para que Ulysses Guimarães assumisse o poder como presidente da Câmara e convocasse eleições. Tentava reacender a chama das Diretas Já, num país que já tendia para o pragmatismo. Ficou isolado. O grupo concorrente ganhou o diretório.

Isolado é a palavra que o acompanha, embora ele seja a pessoa que atravessa a rua para falar com possíveis aliados. Mas nem sempre foi assim. Em 2018, foi impedido de ampliar a aliança na campanha contra Jair Bolsonaro. E, em tempos anteriores, não quis. Em 2013, em entrevista a cientistas políticos, ele foi perguntado sobre falar com Fernando Henrique e disse que o ex-presidente era de outro projeto político. Fernando Henrique, diante da mesma pergunta, respondeu que, claro, falaria: “É o prefeito da minha cidade”. Ao mesmo tempo, como ministro da Educação, se aproximou do ex-ministro tucano Paulo Renato. A ponto de em 2006, Paulo Renato ter abordado o então ministro Guido Mantega no aeroporto e pedido para que o PT o mantivesse no cargo na troca de governo. Ele assumiu em 2005, quando Tarso Genro, de quem era assessor, saiu do governo. No novo mandato, havia articulação por outro titular no Ministério.

— Vocês não vão fazer a loucura de tirar o Haddad do Ministério, vão? — perguntou Paulo Renato a Mantega, de quem Haddad também havia sido assessor.

“NÃO VOU FAZER ISSO SEM O ALCKMIN. NÃO VOU DEIXAR ELE COM A BROCHA NA MÃO.”

Fernando Haddad, sobre recuo no aumento da tarifa de ônibus, em 2013

Quem acompanha sua trajetória diz que ele mudou ao longo dos anos, da formulação de políticas à prática da política. De pessoa solitária dentro do partido à entrada na tendência conhecida como campo majoritário. De intelectual vaidoso das suas credenciais acadêmicas a um político pragmático e capaz de diálogo.

Ele tem que se entender com Gleisi Hoffmann e com Arthur Lira. Com Lira, o entendimento tem sido surpreendentemente bom. Fora uma ou outra rusga, o diálogo é fácil e direto. Isso foi parte fundamental da aprovação da reforma tributária, a maior vitória de sua gestão. Haddad teve a sabedoria de pegar um projeto maduro, discutido há anos pelo economista Bernard Appy, não disputar protagonismo com o Congresso e estar sempre disponível para negociar nos momentos de impasse.

De Gleisi Hoffmann, sofreu a primeira derrota antes ainda de assumir o Ministério da Fazenda. O governo anterior deixou várias armadilhas. Uma delas foi a desoneração dos combustíveis, medida com vigência até 31 de dezembro. Em 1º de janeiro seria a posse de Lula. O que fazer? Haddad defendeu a volta do tributo. Estava certo do ponto de vista fiscal e ambiental. A ala política achava que seria um risco tomar posse aumentando preço. Haddad foi derrotado, e a presidente do partido anunciou a decisão de que o imposto não voltaria numa entrevista ao Estúdio i. O fato de ser anunciada na imprensa e pela presidente do partido já o enfraquecia.

Haddad fez então a virada que o tem marcado desde o começo da gestão. Perde o primeiro round e ganha o segundo. A decisão acabou sendo reonerar a gasolina após três meses de governo, e o diesel no ano seguinte. Mas as pressões do partido por influência na condução da política econômica, com ajuda do chefe da Casa Civil, Rui Costa, têm sido uma constante. Isso o levou a ter uma conversa direta com Lula sobre seu futuro no cargo logo na primeira semana de governo.

O terceiro ponto de tensão é Roberto Campos Neto. Um dia, na sala onde o Copom se reúne, os dois olharam juntos para o gigantesco painel de Candido Portinari, Descobrimento do Brasil. Quem assistiu a cena conta que eles tinham avaliações opostas sobre a obra, que encantava Haddad. Sobre outros temas houve um esforço sincero de entendimento de parte a parte. O bom clima foi rompido nos últimos dois meses. Mas não é o único atrito que Haddad enfrenta.

Na Esplanada dos Ministérios não é segredo que a relação com o ministro Rui Costa é tensa. A propósito, vários ministros se queixam do chefe da Casa Civil, que neste mandato concentra excessivos poderes. Quem participa de reuniões internas do governo narra que há um silêncio entre os dois. Falam-se apenas quando necessário. Essa fonte culpa mais o Rui Costa.

“VOCÊS NÃO VÃO FAZER A LOUCURA DE TIRAR O HADDAD DO MINISTÉRIO, VÃO?”

Paulo Renato, ex-ministro, a Guido Mantega, de quem Haddad foi assessor

— O Rui é também um pouco isolado em relação a nós. Nas reuniões que eu tenho participado ele não interage com os demais membros do coletivo, como o Haddad interage. Não há uma tensão no ar, mas o Haddad sempre fica mais à vontade falando conosco, os outros, do que nos diálogos com o Rui.

Um ponto óbvio de atrito é que o chefe da Casa Civil está sempre reclamando das restrições orçamentárias para as obras do PAC. Isso reedita um clássico de brigas internas de governos entre quem quer gastar e quem segura o caixa. Mas Rui Costa vai além e tenta influenciar nas decisões da política econômica, como aconteceu no fim do ano com a meta fiscal. Rui queria mudar e deu isso como decidido nas conversas com jornalistas. Quando parecia tudo perdido e até Lula dava indicação de ser a favor da mudança, Haddad conseguiu adiar a decisão. Mas a mudança da meta acabou vindo em 15 de abril e foi o início da piora das expectativas.

No caso da distribuição de dividendos da Petrobras, Haddad foi chamado para a reunião no meio da crise que se instalou, com as ações da empresa derretendo, após terem votado por não distribuir os dividendos extraordinários.

— Deixa eu entender o que está acontecendo aqui. Está faltando dinheiro na Petrobras? Não é isso que vejo nos dados.

A decisão acabou sendo distribuir metade dos dividendos, mas na briga pública do antigo presidente da estatal, o fritado Jean Paul Prates contra Rui Costa e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, o ministro da Fazenda conseguiu emplacar uma pessoa de sua confiança no conselho da empresa: Rafael Dubeaux. Ele tem usado os limões para fazer limonadas.

“MINISTRO DA FAZENDA É UM CARGO ISOLADO POR NATUREZA PORQUE CONTRARIA INTERESSES”

Imagem de Scroll conteudo_3Fernando Haddad fez 44 visitas a Lula na prisão, em Curitiba. Foi em um desses encontros que o presidente disse:

— Sobramos eu e você, Haddad.

— Presidente, pensa bem antes de me convidar, porque eu não digo não para uma coisa dessas.

Era 2018, Lula era candidato, estava preso e tentava na Justiça o direito de concorrer. Enquanto isso procurava por de pé um plano B. O senador Jaques Wagner recusou. Ciro considerou uma ofensa. Sobrou para Haddad. Mas Lula só desistiu da candidatura quando faltava uma hora para o fim do prazo.

— Foi uma campanha cruel, em que ele, indicado na última hora, não tinha autonomia para tomar decisões — disse uma pessoa que acompanha a carreira de Haddad.

Tudo ficou mais dramático na última etapa. Jair Bolsonaro apostava em vitória no primeiro turno. Não conseguiu, mas chegou ao segundo turno, com uma enorme dianteira, 46% dos votos, contra 29% de Haddad. A proposta do petista ao partido foi anunciar os nomes de alguns futuros ministros indicando uma ampliação da aliança para o centro.

PRESIDENTE, PENSA BEM ANTES DE ME CONVIDAR, PORQUE EU NÃO DIGO NÃO PARA UMA COISA DESSAS.

Fernando Haddad, sobre sua candidatura em 2018, em diálogo com Lula, a quem visitava na prisão

Para a imprensa anunciou: “Nós vamos para o campo democrático com uma única arma: o argumento”. Em longa reunião no Diretório Nacional, seus argumentos não convenceram o partido. Melhorou na reta final, teve 45% dos votos, 46 milhões de eleitores votaram nele, mas perdeu a eleição.

Houve naquela campanha uma vitória pessoal. A um jornalista que perguntou a ele, anos antes, se seria presidente, Haddad respondeu que gostaria, sim, de concorrer à Presidência, mas ganhar a disputa não dependia dele. Achava que de certa forma atendia ao sonho, quase com certeza, que Khalil Haddad tinha em seu destino.

— Fernando vai ser presidente. Eu conheço meu filho. Ele vai ser presidente — costumava dizer seu pai.

O imigrante que falou mal português durante toda a vida, que teve altos e baixos na sua vida financeira, tinha confiança ilimitada no filho. Um episódio selou essa certeza. Fernando Haddad faria vestibular para a engenharia na Poli, mas o pai nesta época enfrentou uma crise e estava à beira de perder a casa, único bem da família, que ele, Khalil, havia construído. Poderia sair da confusão se tivesse um bom advogado. Fernando Haddad decidiu então fazer Direito com um plano, encontrar algum advogado probono para livrar o pai de uma ação injusta. Logo no primeiro ano abordou ninguém menos que o jurista Goffredo da Silva Telles Jr. Dias depois Goffredo chamou o aluno para a sua casa e pediu detalhes. Haddad relatou o caso, disse quem era o pai e concluiu:

— Isso vai terminar em tragédia.

Fernando Haddad, que foi prefeito de São Paulo por um mandato

Goffredo prometeu falar com um amigo. Conseguiu que a causa fosse assumida por Silvio Rodrigues, um dos melhores escritórios de advocacia de São Paulo. Ele ganhou, a dívida foi reduzida a uma fração do que era cobrado. Khalil Haddad se animou a voltar ao comércio.

Era 1981, o país estava enfrentando uma feroz recessão, as lojas estavam fechando na Vinte e Cinco de Março.

— Eu não tenho dinheiro, mas tenho crédito. Vou abrir a loja — disse Khalil para o filho.

— Eu vou com você — respondeu o filho.

E os dois viraram sócios na Mercantil Paulista.

Seus amigos de juventude, ou os que o conhecem bem, concordam num ponto: trabalhar na loja ajudou Fernando Haddad a ser quem é. Ele tinha que conhecer as pessoas, saber separar um bom cliente de um que pudesse dar um golpe. Eles não podiam errar de novo, até porque uma loja de atacado não faz pequenas vendas. Um erro podia ser fatal. Na loja, negociava. Na sobreloja, estudava em uma mesa em que de um lado ficavam os livros não lidos; de outro, os já lidos. Amigos contam que a pilha dos lidos crescia sempre. E rápido. A sociedade deu certo. Eles ganharam dinheiro e pagaram o que restava para ter de novo a propriedade. Essa é a casa na qual Haddad mora até hoje.

Quando terminou a graduação, foi para a Europa viajar como mochileiro. Voltou em junho e decidiu prestar o exame da Anpec, para o mestrado em economia. Procurou um professor que dava um curso preparatório, e ele o desaconselhou.

“FERNANDO VAI SER PRESIDENTE. EU CONHEÇO MEU FILHO. ELE VAI SER PRESIDENTE”

Khalil Haddad, pai do atual ministro, costumava repetir a frase sobre o futuro do filho

— Deixa eu te situar porque você não está entendendo. Economistas têm dificuldade. O exame é pesadíssimo.

Haddad estudou sozinho com a bibliografia do curso preparatório e mergulhado nas provas antigas. Passou. Era conhecido como “o advogado que passou na Anpec”. Formou junto com economistas do mestrado um grupo de estudos. Eram Alexandre Schwartsman, Paulo Pichetti, Amaury Gremaud e Naércio Menezes. Pichetti, hoje diretor do Banco Central, foi seu padrinho de casamento com Ana Estela. Do casamento nasceram Frederico e Carolina. A família inteira toca violão; os filhos bem melhor que os pais. E Carolina também toca piano. Depois do mestrado em economia, Haddad fez doutorado em filosofia.

Seu primeiro cargo público foi como chefe de gabinete de João Sayad, secretário de Finanças da prefeita Marta Suplicy. Em seguida foi para Brasília trabalhar no Ministério da Fazenda e, depois, no Ministério da Educação. Quando foi nomeado ministro da Educação, sua mãe, Norma, mostrou ter dúvidas se era um bom momento. O PT enfrentava a crise do mensalão. Já o pai, ao ser informado que o filho seria ministro da Educação, respondeu:

— É pouco.

Ficou como ministro até 2011, fez programas bem-sucedidos como o Prouni, que nasceu de uma ideia original de Ana Estela. Esse programa tem quase nenhum custo fiscal. Já a ampliação do Fies, deixou uma conta alta.

Hoje, como ministro da Fazenda, tem que ajustar contas. Foi nomeado no Egito, para onde foi acompanhando o então presidente eleito. Ao ser convidado, pediu que Lula invertesse a ordem:

Imagem de Scroll conteudo_4— EU DIGO O QUE EU FARIA NA FAZENDA E VOCÊ DIZ SE QUER.

Fernando Haddad, ao presidente Lula ao assumir a pasta da Fazenda

Em Sharm El Sheikh, entre o deserto e o Mar Vermelho, ele preparou em dois dias o programa que tem executado. Assumiu com descrédito do mercado e a oposição de grupos do partido. Ele havia acabado de perder a eleição estadual para Tarcísio de Freitas, um estreante nas urnas. Uma derrota e, de certa forma, uma vitória. Haddad conduziu o partido para a sua melhor votação em São Paulo. Teve 45% dos votos, 13 pontos percentuais a mais do que teve em 2018 no estado. Acha que conseguiu isso ampliando o palanque. “Tenho que ter um palanque que vá do Boulos ao Alckmin”. E fez isso, passando por Marina e Márcio França. Perdeu a eleição, mas seu desempenho foi decisivo para o resultado nacional. Aprendeu em 2018, que, para atravessar o deserto e cruzar o mar vermelho, em tempos de extrema direita, tem que costurar alianças.

Perguntado sobre a convicção do seu pai de que ele será presidente do Brasil, ele responde:

— A Presidência da República não é coisa de você querer. É preciso respeitar a sacralidade do topo da pirâmide. É coisa mágica. Não depende de você. Eu já tive a minha chance. Não consegui.

Seu último livro, “O terceiro excluído”, que está sendo lançado em inglês, é um diálogo complexo entre diversas disciplinas em busca do que ele define como horizonte utópico. A ideia de escrevê-lo surgiu depois de uma conversa com o linguista americano Noam Chomsky em sua casa, em 30 de setembro de 2018, na reta final da campanha presidencial. “Eu me encontrava, no intervalo de apenas uma semana, entre conversar com um dos grandes humanistas vivos e enfrentar nas urnas um psicopata. Sentia o choque de perspectivas irreconciliáveis”, escreveu na apresentação do livro.

Como ministro da Fazenda, ele enfrenta diariamente perspectivas difíceis de conciliar. Um Congresso anabolizado com as emendas, o PT que não atualizou a visão econômica, um mercado em tempos de aversão ao risco e o velho patrimonialismo. Ele fica no cargo? Uma pessoa do governo define assim:

— Lula não tem plano B para a Fazenda. Haddad é da confiança extrema e direta do Lula e tem seu convívio e carinho. Ao mesmo tempo conseguiu estabelecer pontes com o mercado.

Haddad carrega a certeza de que para chegar onde chegou fez um caminho improvável. Um funcionário de carreira do Banco Central conta que ele se emocionou quando assinou a primeira nota de real da sua gestão. Ele admite que naquele momento olhou para trás na história familiar.

— Meu pai, onde estiver, está orgulhoso de mim. Respondi aos meus antepassados. Está tudo bem.

OGLOBO

Rodrigo Rollemberg poderá voltar à Câmara Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para permitir que os candidatos prejudicados pelas regras das sobras partidárias em vigor nas eleições de 2022 possam assumir o mandato imediatamente. É o caso de Rodrigo Rollemberg (foto). Ele questionou a constitucionalidade da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a partilha dos cargos de deputados federais.

O PSB, partido de Rollemberg, e o Podemos apontam que todas as legendas e seus candidatos devem participar da distribuição das cadeiras remanescentes, independentemente de terem alcançado a exigência dos 80% e 20% do quociente eleitoral, respectivamente. Em julgamento há quatro meses, o STF entendeu que esses partidos tinham razão. Porém, determinou que a regra só entre em vigor nas próximas eleições municipais. Para maioria dos ministros, quem foi eleito para a Câmara deve permanecer.

Ocorre que o PSB alega que a modulação dos efeitos da decisão — que define quando a regra deve entrar em vigor — exige quórum qualificado de dois terços dos votos, e a decisão foi proclamada com maioria simples. Ao apreciar os embargos de declaração, em julgamento virtual, seis ministros concordaram com a tese. São eles: Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Nunes Marques, Dias Toffoli e Cristiano Zanin. A relatora, ministra Carmen Lúcia, rejeitou os embargos. Mas, se ninguém mudar de opinião, teremos mudanças na Câmara dos Deputados.

Trabalho em dobro

O ex-governador Rodrigo Rollemberg, que hoje exerce o cargo de secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), está otimista. O mandato está quase pela metade, mas ele acredita que vai assumir. “Terei que trabalhar em dobro”, afirma. Se ele estiver certo, o deputado Gilvan Máximo (Republicanos-DF) terá de deixar o cargo para que Rollemberg tome posse.

Destaque para o plenário

O ministro André Mendonça (ao lado) pediu destaque para que o caso das sobras partidárias, em julgamento virtual, seja levado ao plenário. Essa medida pode atrasar uma decisão final.

Fonte: Correioweb

Foto: MARCELO FERREIRA/CB/D.A PRESS

RO: Seminário “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina” reuniu centenas de pessoas na Universidade Federal de Rondônia

Centenas de pessoas lotaram o auditório do prédio central da UNIR, no Centro de Porto Velho, em um vigoroso seminário intitulado “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina”, com a participação do jornalista Breno Altman e do presidente da Fepal Ualid Rabah

O seminário “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina” reuniu em Porto Velho/RO centenas de pessoas que foram prestigiar as palestras do jornalista Breno Altman (Jornal Ópera Mundi) e Ualid Rabah (Federação Árabe-Palestina do Brasil – FEPAL). O evento, ocorrido no último dia 18 de junho, também foi espaço para lançamento do livro de Altman: “Contra o Sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista”. Cerca de 200 participantes, reunidos na UNIR Centro (prédio central da Universidade Federal de Rondônia, no centro de Porto Velho), lotaram o auditório, abarrotaram os corredores e o hall de entrada e uma área externa com telão para acompanhar atentamente as conferências proferidas pelos palestrantes.

Com pontualidade revolucionária, o evento iniciou com credenciamento e venda de livros a partir das 18h. As 19:15 iniciou-se a abertura do Seminário com a intervenção da Professora Marilsa Miranda de Souza, representando a ADUNIR, CEBRASPO e o HISTEDBR/UNIR. Em sua fala, a coordenadora do evento saudou de forma calorosa os palestrantes e os presentes e destacou que “a  ofensiva militar e política iniciada em 7 de outubro de 2023 pela Resistência Nacional da Palestina é um fato que marca uma nova fase na luta longa e heroica do povo palestino que, como nenhum outro, durante todas as décadas que se passaram desde a Nakba, tem demonstrado perante o mundo que as forças progressistas da história que enquanto confiarem em sua própria força e nas massas, não podem ser derrotadas, não importa que o inimigo reacionário esteja armado da cabeça aos pés com as armas e máquinas mais monstruosas de destruição e morte”. Destacou ainda que “O imperialismo, principalmente o norte-americano e o sionista Israel, diante do avanço da heroica Resistência Nacional Palestina, covardemente cometem os mais bárbaros crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes que as novas gerações não tinham visto e nem vivenciado, mas que não são, de forma nenhuma, novidade para a superpotência imperialista hegemônica ianque (EUA) e seus cães e capachos reacionários. O imperialismo é um tigre de papel”.

Em seguida, a coordenadora do seminário convidou o professor da UNIR e médico emergencista, Vinícius Ortigosa Nogueira, que integra Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia a mediar o debate. Este destacou a importância do evento, agradeceu a presença de todos os ativistas que atenderam ao chamado para participar do seminário, como forma de expressar de forma concreta seu apoio inconteste à resistência Palestina. O mediador, ainda, defendeu de forma contundente a necessidade de intensificar as ações de solidariedade ao povo palestino e aos povos do mundo que lutam contra a besta imperialista. Convidando à mesa os palestrantes, o mediador concedeu a palavra a um representante da comunidade árabe de Rondônia, o biólogo Nasser Hijazi que de forma entusiástica manifestou a honra de representar a comunidade árabe palestina de Porto Velho no Seminário, que a defesa da questão palestina é acima de tudo uma questão de humanidade, que “desde 1948 o povo palestino tem enfrentado uma série de adversidades que incluem a perda de terras, a destruição de suas casas, restrições severas à liberdade de movimento, humilhações e, infelizmente, a violência contínua”. Hijazi também evocou o princípio da Autodeterminação dos povos, enquanto direito inalienável, defendeu “um estado palestino independente e viável, onde coexistam todas as etnias”, denunciou as violações dos direitos humanos contra o povo palestino e o genocídio praticado pelos sionistas. Após esta intervenção, passaram-se às exposições dos palestrantes.

O primeiro palestrante, Ualid Rabah, representando a FEPAL, destacou que “já são – considerando desaparecidos sob os escombros – mais de 46 mil civis palestinos exterminados em 256 dias de conflito, mais de 2% da população de Gaza. Seriam mais de 4 milhões no Brasil e mais de 15 milhões na Europa, no espaço da segunda guerra mundial. As crianças assassinadas já passam de 20 mil, 45% do total de assassinados. São mais de 9 mil por milhão, superando as 2.800 por milhão mortas no período nazista, em 6 anos. As mulheres assassinadas já passam de 11 mil, 25% do total de exterminados, com pelo mil mortas grávidas. Denunciou que são as maiores matanças de crianças e mulheres da história! A destruição de Gaza já passa dos 80%, superando a das cidades mais arrasadas na segunda Guerra Mundial. Detalhe: em Gaza em 256 dias, contra 6 anos no período nazista”. Para Ualid, o sionismo é uma ideologia supremacista idêntica ao nazismo e demais supremacismos coloniais, e devem ser parados pela força das armas, como foi parada a Alemanha nazista.

Para Breno Altman, o sionismo é um braço do imperialismo e nasceu como doutrina antissemita. Altman contextualizou: “Ao contrário de enfrentar tal tipo de racismo, propunha um acordo a seus patrocinadores: as elites europeias se livrariam dos judeus caso apoiassem um Estado supremacista judaico a ser construído pela colonização sionista da Palestina”. Altman destacou, ainda que “A questão da Palestina é decisiva para o destino da humanidade e, atualmente, a questão palestina é a régua moral do mundo.

Após as exposições, foram abertas as inscrições para os presentes. Entre os diversos inscritos, a comunidade árabe palestina presente pode relatar suas inúmeras interpretações acerca da atual agressão israelense contra o povo palestino. Além dos membros da comunidade, estudantes, advogados, professores e organizações também puderam se manifestar, como a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que através de seu representante enfatizou a solidariedade inconteste deste movimento que sempre hasteou bem alto a bandeira palestina e comparou a criminalização dos monopólios à resistência palestina com a criminalização aos camponeses em luta pela terra no Brasil. O clima de entusiasmo em defender a resistência palestina ecoou pelo auditório e corredores com palavras de ordem combativas: “Fora Israel das terras palestinas, fora ianques da América Latina!”, “A luta palestina por libertação, é parte integrante da revolução!”; “Palestina resiste! Palestina Triunfará!”; “Estado de Israel, Estado assassino; E viva a luta do povo palestino!” entre outras.

Após as intervenções dos presentes, os palestrantes responderam às dúvidas, destacaram a necessidade de seguir ampliando os espaços organizativos e de defesa dos povos em luta e a solidariedade ativa e orgânica para denunciar os crimes de guerra do imperialismo e do sionismo. Por fim, os organizadores e mediadores realizaram o encerramento do debate convidando os presentes para sessão de autógrafos com Breno Altman e uma mobilização para ato nas escadarias da UNIR.

Nas escadarias da UNIR um grupo de ativistas conclamou os presentes a agitarem suas bandeiras palestinas, no momento em que queimavam as bandeiras da superpotência imperialista ianque e o estado colonial e racista de israel.

Preparação, organização e divulgação

O evento, organizado a pouco mais de um mês pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (CEBRASPO), a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia UNIR (ADUNIR-SSIND) Seção Sindical do ANDES-Sindicato Nacional, o Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia e o Grupo de Pesquisa “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR/UNIR) em sua etapa preparatória conseguiu mobilizar ativistas de diversas organizações classistas e a comunidade árabe/palestina de Rondônia. Membros dessa comunidade financiaram diversos outdoors de anúncios espalhados pela capital rondoniense. O custo do evento, incluídas as despesas com passagens, hospedagem, alimentação, cartazes, faixas, aluguel de cadeiras, banners e outros materiais, foram totalmente custeados por arrecadações entre apoiadores da causa palestina de diversos setores da sociedade: docentes, médicos, advogados, comunidade árabe, entre outros. As entidades que organizaram o ato, também garantiram a divulgação do evento por meio de colagens de cartazes, panfletos, matérias produzidas para a imprensa local e nacional, sobretudo, a imprensa popular e democrática.

Participação da comunidade árabe/palestina e entidades classistas

Um público de mais de 30 pessoas entre os presentes era de famílias árabes/palestinas que residem há décadas em Porto Velho, dentre estes, vários que puderam ver de perto a Nakba e as agressões do Estado sionista de Israel ao Líbano e outros territórios árabes. Várias gerações dessas famílias puderam estar presentes, se manifestar e também se reencontrar em um evento que marcou a resistência desses povos, que carregam consigo na memória o sonho de ver uma Palestina livre. Além de professores, advogados, jornalistas e outros intelectuais honestos e comprometidos com a causa palestina,  diversas Organizações estavam presentes: a ⁠Associação Nacional de Juristas Islâmicos (ANAJI), Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (MOCLATE), Centro Acadêmico de Medicina da UNIR (CAMUFRO), Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO/UNIR), camponesas do Movimento Feminino Popular (MFP), Diretório Central dos Estudantes (DCE/UNIR), Centro Acadêmico de Ciências Sociais, Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP), Executiva de Pedagogia e Juventudes de partidos políticos. O Comitê do Jornal A Nova Democracia também esteve presente, realizando a venda de edições e materiais de propaganda, da mesma forma que outros movimentos e indígenas.

Lutas futuras

Os organizadores do Seminário, através do CEBRASPO e do Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia se colocaram a construir outras ações de propaganda, denúncia e formação em relação a luta do povo palestino. Atendendo ao chamado, os estudantes organizados pelo DCE/UNIR iniciaram outras ações no campus da Universidade Federal de Rondônia, buscando levantar mais alto a bandeira da causa palestina naquela universidade.

Coluna Zona Franca

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Por Roberto Kuppê

 

Goela abaixo

Pode ser uma imagem de textoAs feições do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), durante a apresentação (imposição) do seu pré-candidato a vice, eram de alguém desesperado, assustado e preocupado. O nome escolhido foi empurrado goela abaixo. Era visível o constrangimento. O ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Ricardo Mello Araújo (PL), 53 anos, será o candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes. A ilustração é do Miguel Paiva.

Goela abaixo 2

Quem está sorrindo de orelha a orelha é o coach Pablo Marçal (PRTB), que se beneficia desta nefasta indicação. As pesquisas indicam que Pablo Marçal tira votos de Nunes e não de Guilherme Boulos (PSOL). As próximas pesquisas devem confirmar que a cara de enterro de Nunes na apresentação do ex-comandante da Rota para vice, tinha razão de ser.

Boulos é a esperança da esuerda

A candidatura para a prefeitura de São Paulo de Guilherme Boulos (PSOL) deve “abrir novos caminhos” para a esquerda na América Latina e na Europa, avalia o argentino Gerardo Pisarello, vice-prefeito de Barcelona, na Espanha, durante a gestão de Ada Colau (2015 – 2023). Todas as pesquisas indicam o favoritismo de Boulos.

Lei Alexandre Correa

Alexandre Correa, ex-marido da apresentadora da Record Ana Hickmann, anunciou nas redes sociais a pré-candidatura a vereador na cidade de São Paulo (SP) pelo Avante. Sua plataforma de campanha é surreal. Segundo o empresário de 51 anos, ele quer “dar atenção à violência contra os homens”. Correa diz que “muitos homens sofrem de vergonha e estigmatização ao tentar denunciar os abusos, e que, além disso, há um aumento substancial de retaliação por parte dos agressores”.

Lei Alexandre Correa 2

Na bio do Instagram, o empresário apresenta as principais pautas: “Lutando contra a falsa denúncia e alienação parental”.  Alienação parental é a manipulação psicológica de uma criança por um dos pais, com o objetivo de distanciar e prejudicar o relacionamento com o outro genitor. Isso pode incluir ações como fazer falsas acusações, manchar a imagem do pai/mãe ou impedir o contato entre a criança e o outro progenitor. Esse comportamento pode causar danos emocionais significativos à criança e ao relacionamento familiar. Nesta sexta-feira (21), ele publicou um vídeo falando sobre violência contra homens. “É um problema real, mas muitas vezes subnotificado. É crucial trazer mais visibilidade e apoio para todos que enfrentam essa realidade”, escreveu na legenda. Ele também se colocou à disposição para ajudar homens vítimas de agressão. Alexandre é acusado de violência doméstica pela apresentadora e ex-mulher, Ana Hickmann. Ele nega as acusações e diz que tudo foi armado pela ex-esposa.

Rachadinha

Após o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) nas próximas semanas como um dos líderes da organização criminosa que furtou e vendeu joias do acervo da Presidência da República nos Estados Unidos, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro deve entrar na mira da Polícia Federal (PF). O foco é o pagamento por meio do cartão corporativo da Presidência de despesas pessoais da ex-primeira-dama. Segundo a PF, há provas de que Michelle usou o cartão da Presidência para pagar contas pessoais e até procedimentos estéticos, além de quitar contas de parentes com o cartão. Em 2023, uma série de denúncias foi feita sobre o uso do cartão corporativo por Michelle, que usava também um esquema similar aos casos de corrupção das “rachadinhas” – investigados nos gabinetes de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Alerj e de Carlos Bolsonaro (PL-RJ, na Câmara Municipal do Rio. O pente-fino feito nas contas mostra que a esposa de Bolsonaro teria usado o cartão corporativo até mesmo para colocar novos implantes nos seios.

Bravata

O deputado republicano Chris Smith, dos Estados Unidos, resolveu intimar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após ter tido acesso a “relatos alarmantes” advindos de parlamentares bolsonaristas que visitaram seu país recentemente. Ele enviou cartas ao STF, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal intimando Moraes a “prestar esclarecimentos em até 10 dias”, em Washington DC. A carta de Smith chegou nos gabinetes dos presidentes das casas: Luís Roberto Barroso (STF), Cármen Lúcia (TSE), Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado). 

Bravata 2

Alexandre de Moraes, obviamente, ignorou a bravata. Mas nas redes sociais, figuras ligadas ao lavajatismo e ao bolsonarismo aproveitaram a deixa para ganhar uns ‘likes’. Uma dessas figuras foi o ex-procurador federal e ex-deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR) que no X, antigo Twitter, reproduziu as informações sobre o caso divulgadas por Lauro Jardim, no jornal O Globo. A publicação fez sucesso entre os seguidores. Foram quase 300 mil visualizações até a noite desta sexta-feira (21), além de milhares de comentários e interações.

Bravata 3

 Dallagnol simplesmente ignora questões básicas de diplomacia e direito internacional e alega que, mesmo sem haver jurisdição, os EUA teriam poder para impor sanções ao governo brasileiro e a Alexandre de Moraes. Entre essas sanções estariam o bloqueio de contas bancárias e a proibição da realização de viagens. Acontece que a realidade é um pouco mais complicada do que o desejo ideológico. Na prática, não há qualquer jurisdição para um congressista dos EUA intimar um juiz da Suprema Corte de outro país. Os próprios EUA não possuem qualquer jurisdição legal em território brasileiro.

Bravata 4

O Estado brasileiro, caso realmente viole direitos humanos, pode ser processado em tribunais internacionais, como o famoso Tribunal de Haia, na Holanda – o Tribunal Penal Internacional. Assim como os EUA e qualquer outro Estado nacional. Os EUA, enquanto Estado nacional, não fazem parte de nenhuma instância dessa natureza e seu papel de “sherife do mundo” é mera retórica ideológica, sem respaldo em leis e tratados internacionais. Em outras palavras, uma eventual sanção contra Moraes seria interpretada pela comunidade internacional como um ato arbitrário e abusivo dos próprios EUA. (Revista Fórum).

 

                                              São João de Maceió

Programação do São João de Maceió 2024 é lançada — Foto: Secom MaceióUm dos maiores djs do mundo, o brasileiro Alok, vai estar hoje no São João de Maceió, ao lado da dupla Victor e Leo. O rico São João de Maceió terá também dia 23 de junho (domingo) Gusttavo Lima e Belo; 24 de junho (segunda-feira) Jorge e Mateus e Zezé Di Camargo & Luciano; 25 de junho (terça-feira) Elba Ramalho, Ana Castela, Léo Santana, Leonardo e Zé Vaqueiro; 26 de junho (quarta-feira) Flávio José, Simone Mendes, Calcinha Preta e Luan Santana;  27 de junho (quinta-feira) Bruno & Marrone e Wesley Safadão; 28 de junho (sexta-feira) Nattanzinho, Bell Marques, Mano Walter, Limão com Mel e César Menotti e Fabiano. E domingo encerra com João Gomes. É mole ou quer mais? Antes de Maceió, o São João de Campina Grande (PB) detinha o título de maior festa junina do país.

  São João de Maceió 2

Foi por isso que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), liberou todos os parlamentares para votar à distância durante a semana de São João. Anteriormente, ele havia permitido somente os deputados do Nordeste de se ausentar presencialmente das decisões na Casa legislativa. A dispensa de comparecimento à Câmara se dá todos os anos, porque os deputados participam das tradicionais festas de São João em seus Estados.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

A coluna é diária e conta com informações do G1, Globo, R7, CNN, Folha de S. Paulo, Brasil 247, Revista Fórum, Veja, Folha, Metrópoles, DCM, Brasil de Fato, dentre outros.

Informações para a coluna:  rkuppe@gmail.com

 

Conquistas para Rondônia e o Plenário que me apoia

POR CONFÚCIO MOURA (*)
Senador pelo MDB-RO, presidente da Comissão de Infraestrutura

Mais uma semana plural em meu mandato por Rondônia, no Senado Federal. Tenho que comemorar. Alcancei perto de R$ 1 bilhão destinados à saúde, educação e infraestrutura para o nosso estado.

Saí de uma produtiva audiência com o ministro dos Transportes, Renan Filho, e técnicos dessa Pasta. Em pauta, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para assegurar os recursos necessários de infraestrutura, especialmente a malha rodoviária e a ponte de Guajará-Mirim. Grandes avanços virão!

Reunião com o ministro dos Transportes, Renan Filho.

No País que acumulou 22 mil obras paradas (dados do TCU) durante o governo federal anterior, o olhar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre Rondônia há de ser bem avaliado pelas pessoas.

A recuperação da BR-364 significa mais estrutura para todo o estado. Está melhorando e tem obras à frente. O motorista de direita vai dirigir pela BR-364 recuperada. O motorista de esquerda vai dirigir pela BR-364 recuperada. O motorista de centro vai dirigir pela BR-364 recuperada.

Recebi em meu gabinete Valtinho Canuto, vereador em Porto Velho, defensor dos pescadores. O pai dele, o velho Canuto, foi três vezes vereador da capital, e o filho seguiu o mesmo caminho de atenção aos companheiros pescadores da região do Baixo Madeira. Estudamos o enfrentamento à seca iminente com ajuda direta às famílias que fazem existir o setor pesqueiro.

Temos discutido muito sobre política, porém, pouco avançamos em soluções para as pessoas. Essa discussão leva a alguma solução? Ajuda alguém, ou é somente mais uma discussão à toa? Podemos focar no que realmente importa.

O plenário das Comissões do Senado Federal garante a aprovação do meu Projeto de Lei 858/2024, criando o Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (FIIS) para impulsionar grandes investimentos em educação, saúde e segurança pública. Sou grato pelo apoio de todos.

Primeiro Fórum de Deputadas e Deputados Estaduais da Amazônia Legal.

No 1º Fórum Parlamentar da Amazônia, do qual participei esta semana, vibrei com a fala da ministra da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet. Ela tem impulsionado três rotas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), todas elas apropriadas à elevação de nossas exportações, nunca alcançados.

Vejo que o nosso olhar se voltará para o Oriente, maior porção do mercado global. Falo da China e da Índia, com 2,7 bilhões de consumidores. Esta é a nova e promissora realidade para nós da Amazônia.

Abraço a todos e um final de semana feliz.

(*) CONFÚCIO MOURA é senador pelo MDB-RO, presidente da Comissão de Infraestrutura

Coluna Zona Franca

Eleições SP

Guilherme  Boulos (PSOL) lidera em todos os cenários de 1º e 2º turno para prefeitura de São Paulo. A liderança de Boulos, um dos principais representantes da esquerda no cenário político brasileiro.  Conforme pesquisa AltasIntel produzida em parceria com a CNN, divulgada nesta quarta-feira (19),  Boulos aparece com 35,7% das intenções de voto, distanciando-se dos demais concorrentes. Em segundo lugar, figura o atual prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), com 23,4% das intenções de voto. A pesquisa ainda aponta Pablo Marçal (PRTB) com 12,6% e Tabata Amaral com 10,7%.

Eleições SP 2

A AltasIntel também realizou uma simulação do cenário para o primeiro turno sem os nomes de Marçal e Datena na corrida. Nesse contexto, Boulos alcança 37,5% das intenções de voto, enquanto Nunes sobe para 32,4%. Tabata Amaral mantém-se em terceiro com 11,8%, seguida por Kataguiri com 8,2% e Marina Helena com 3,2%. Altino, novamente, não pontua neste levantamento.

Chove no RS

Ainda chove no RS e alguns gaúchos continuam soberbos, renegando a ajuda que o governo Lula está proporcionando aos desabrigados. É impressionante o orgulho (ou burrice) destas pessoas que se dizem de bem e temente a Deus, mas agem como fariseus ( o mesmo que charlatães, dissimulados, falsos, fingidos, hipócritas, mentirosos). O gaúcho precisa ser mais humilde. Isso traz bons fluídos.

Chove no RS 2

A água voltou a alagar ruas inteiras em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, nessa quinta-feira (20). A inundação atingiu os bairros da Cidade Verde e Vila da Paz, trazendo revolta e incerteza para os moradores do pequeno município de 40 mil habitantes devastado pelas chuvas de maio. A prefeitura estima que 97% da área urbana e 80% da área total do município ficou submersa na maior catástrofe ambiental da história gaúcha.

“O petista infiltrado”

O bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira, preso por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, deve ser condenado a 17 anos de prisão, segundo voto proferido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite desta quinta-feira (20). Ferreira foi o responsável por destruir o relógio histórico de Balthazar Martinot trazido por Dom João VI para o Brasil em 1808 e que ficava no Palácio do Planalto. Feita de casco de tartaruga e um tipo raro de bronze, a peça foi enviada para restauro à Suíça e sua destruição se tornou um dos símbolos do levante antidemocrático de bolsonaristas que vandalizaram as sedes dos Três Poderes.

Natimorto

O PL do Estupro foi abortado. O Projeto de Lei (PL) nº 1.904/24, que propõe equiparar o aborto de gestações acima de 22 semanas ao homicídio, provocou uma onda de manifestações e uma clara rejeição da opinião pública. De acordo com uma enquete popular no site da Câmara dos Deputados, 87% dos participantes declararam “discordar totalmente” da proposta, representando 616.298 votos. Apenas 13% dos votantes afirmaram “concordar totalmente”. Por isso, o projeto foi abortado por Arthur Lira (PP-AL).

 

Plano Real

O Plano Real representou a mais bem-sucedida cruzada econômica da história do Brasil, um ponto de virada que exterminou a hiperinflação do período, trouxe estabilidade monetária e permitiu, com o passar dos anos, que milhões de brasileiros passassem a levar uma vida melhor. Às vésperas de completar trinta anos, o real é a moeda mais longeva de todas as oito que o Brasil teve desde o fim do mil-réis, em 1942. Quando entrou em circulação, a alta dos preços beirava os 50% ao mês. Ao fim de julho, tinha se reduzido a 6% e, um ano depois, a 2%. A foto é da capa da Veja desta semana.

 

Praga de gafanhoto

O presidente Lula afirmou nesta quinta-feira (20 que o programa Minha Casa, Minha Vida poderia ter construído um total de 12 milhões de casas se o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff não tivesse ocorrido e Jair Bolsonaro não tivesse chegado ao poder. “O Minha Casa, Minha Vida poderia ter construído 12 milhões de casas se não fosse o golpe contra a Dilma, que colocou a praga de gafanhoto para governar esse país, destruindo tudo que construímos”, disse Lula durante entrega de moradias do programa, em Fortaleza (CE).

Vai, ladrão

“Se a faculdade vai acabar com a vida do teu filho, não manda ele para a faculdade. Não manda, vai vender picolé na garagem. ‘Ah, mas eu não criei meu filho para isso’. Cê criou seu filho para que? Pra ele ir para o inferno?” “Criou a sua filha para quê? Para virar uma vagabunda? Ou você a criou para virar uma mulher santa, uma mulher digna de família? Aí ela tem um diploma, é rodada, é doida…” Palavras do pastor André Valadão, durante um culto, usando seu Louis Vuitton

Niver em Paris

Chico Buarque comemorou seus 80 anos no Le Caveau de la Huchette, um tradicional clube de jazz em Paris. O local escolhido para a comemoração é descrito como um clube “vintage e pequeno com um atmosfera da metade do século passado e que serve bebidas e tem música ao vivo”. Chico passou a data na companhia da mulher, Carol Proner, e das netas Cecília e Irene, filha de Silvia Buarque, primogênita do compositor, que é proprietária de um apartamento na capital francesa.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

A coluna é diária e conta com informações do G1, Globo, R7, CNN, Folha de S. Paulo, Brasil 247, Veja, Folha, Metrópoles, DCM, Brasil de Fato, dentre outros.

Informações para a coluna:  rkuppe@gmail.com

 

Memórias — teoria e prática de um estudioso da política

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Por RUBENS PINTO LYRA*

Trecho, selecionado pelo autor, do livro recém-publicado

Participação no movimento estudantil — o XXX congresso da UNE

Na praça vereador José Mendes, em frente ao paço municipal de Ibiúna, encontra-se monumento em homenagem aos estudantes que participaram do XXX congresso da UNE nessa cidade: “Nossas trajetórias interrompidas\ não têm preço, nem retorno\ tudo foi consumado\ tudo foi consumido\ do nosso melhor tempo de sonhar”.

Introdução

Minha atuação no movimento estudantil universitário se deu entre 1964 e 1968, tendo sido duas vezes interrompida. Primeiro, em maio de 1964, quando fui cassado (impedido de estudar) por um ano, devido à minha participação na ocupação da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Pode-se também chamá-la de invasão, cometida por estudantes secundários e apoiada pelo Diretório Acadêmico daquela Faculdade, em repúdio à projetada visita do então Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, inimigo declarado da esquerda, a João Pessoa (In: ARRUDA MELLO E ROCHA MELLO: 2021, p.192).

Fui também privado, novamente por um ano, dos direitos de estudar em dezembro de 1968, quando iria concluir o curso de Direito, pela minha participação, como delegado da Faculdade ao XXX Congresso da UNE, em outubro de 1968, e pelos outros aspectos da minha atuação no movimento estudantil universitário.

Para se compreender a polarização política existente e a influência determinante da ideologia socialista em toda a vanguarda estudantil, vale lembrar que o mundo estava dividido em dois blocos. O capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o anticapitalista (considerado por todos, à época, socialista), liderado pela URSS e secundado pela China continental.

A guerra do Vietnã, em que os Estados Unidos foram derrotados, e o episódico confronto que envolveu, em 1962, Cuba, EUA e a extinta União Soviética em torno da instalação de mísseis soviéticos na Ilha, foram a expressão máxima desse antagonismo, conhecido como Guerra Fria. Mas os fatores internos pesaram ainda mais na radicalização política no Brasil: desigualdade social, concentração de renda, latifúndio e miséria no campo, com graves conflitos, especialmente no Nordeste.

Nesse contexto, subscrevi, no ano de 1963 — um ano antes de meu ingresso no curso de Direito, na qualidade de Presidente da União Pessoense dos Estudantes Secundários (UPES) — ao lado, entre outros, de líder camponês Pedro Fazendeiro e do teatrólogo Paulo Pontes — o manifesto da Frente de Mobilização Popular em prol das Reformas de Base (MANIFESTO:1963).

Nessa pequena introdução, vale lembrar a influência das manifestações estudantis em 1968, entre as quais o famoso Maio francês, que quase abalou os alicerces da República Francesa, com repercussão mundial, projetando-se , inclusive, no movimento estudantil universitário brasileiro.

A Primavera libertária de Maio destacou-se, entre outros aspectos, justamente por colocar em questão o modelo “socialista” hegemônico e por propor uma sociedade de índole socialista, radicalmente democrática e libertária (LYRA: 2021, ps.299-303).

A ocupação da faculdade de direito da UFPB

A invasão dessa Faculdade representou minha primeira participação em protesto estudantil no âmbito da universidade. Ocorreu em 3 de março de 1964 — quase um mês antes do golpe militar — na qual estive presente na condição de calouro, antes mesmo de frequentar o curso de Direito. Isso se deveu aos contatos que já tinha com as lideranças do movimento estudantil universitário, por ter atuado anteriormente como Presidente do Diretório do Lyceu e Presidente da União Pessoense dos Estudantes Secundários.

A manifestação contra Carlos Lacerda se explica pelo fato de ele ser, na época, considerado o inimigo no. 1 da esquerda, tendo dela recebido a alcunha de O Corvo. A Faculdade foi cercada por grupos direitistas, liderados pelo então Deputado Estadual Joacil Pereira, que impediram os estudantes de sair do prédio e iniciaram o arrombamento da sua porta principal.

Somente a chegada de uma corporação do Exército fez cessar os ataques contra o prédio da Faculdade e contra os manifestantes que a ocupavam. Estes foram conduzidos à Delegacia de Ordem Social e Política, sendo fichados, interrogados e liberados às duas horas da madrugada.

O então Presidente do Diretório Acadêmico de Direito, JoséTarcízio Fernandes, lembra que “fomos fotografados e exibidos pelos jornais, inclusive A União, órgão oficial do Estado, contrariando o que ficara acordado entre as partes, ou seja, ninguém seria fotografado, muito menos, expostos seus rostos aos órgãos da imprensa” (in: ARRUDA MELLO e ROCHA MELLO, 2021, p.195).

Com um olhar retrospectivo, pode-se interrogar sobre qual seria a melhor atitude do Diretório Acadêmico quando da invasão da Faculdade pelos secundaristas. Sabendo-se de antemão das dificuldades de controlar a ocupação, não teria sido mais adequado abdicar dessa responsabilidade, informando aos que pretendessem participar do evento que este não teria a chancela do Diretório, e dos riscos que assumiriam com sua participação?

Em depoimento prestado ao repórter José Nunes em 1994 a respeito, disse ter sido o Diretório Acadêmico de Direito que convocou os estudantes para a ocupação da Faculdade, pois não sabia que ela tinha sido de iniciativa dos estudantes secundaristas. Não obstante, o então Presidente do Diretório, Tarcísio Fernandes, esclareceu-me posteriormente que, mesmo tendo sido surpreendido com essa iniciativa, a Diretoria do Diretório resolveu encampá-la (FERNANDES: 2024).

Na mesma oportunidade, eu disse ao referido jornalista o seguinte: “a estratégia das esquerdas era ruim porque se pretendia radicalizar sem ter uma correlação de forças favorável. Ademais, naquele momento, a questão da democracia não era valorizada: a esquerda também era golpista, à sua maneira. Mas é preciso que a gente entenda que o contexto internacional era outro, dominado pelo maniqueísmo associado à Guerra Fria” (GUEDES et alli, 1994 p. 270 e 272).

Participação em manifestações e eventos estudantis

Afastado da universidade durante o ano de 1964, por força da cassação de meus direitos de estudar, voltei, em 1965, a cursar Direito, participando intensamente, sobretudo no ano de 1968, das manifestações contra a ditadura e, em particular, contra sua política para a universidade. O foco da mobilização dos estudantes foi, na questão educacional, a perspectiva da assinatura dos Acordos MEC-USAID.

No plano internacional, a guerra do Vietnã provocou forte repercussão no movimento estudantil. Fui designado pelo DCE para atuar como promotor, tendo os Estados Unidos como réu, em 1967, em júri realizado no Clube do Estudante Universitário, sediado no Cassino da Lagoa, quartel general das batalhas campais que travamos contra a polícia. Apesar da modéstia do evento, minha participação nesse “Júri simulado” mereceu registro do Serviço Nacional de Informações (SNI). (DIAS: 2021, p. 198), dentre os vinte com que fui brindado pelo regime militar.

Não se pode olvidar o papel da Aliança (Cultura) Francesa de João Pessoa, também sediada na Lagoa. Graças à coragem e ao espírito democrático do seu então Diretor, Louis Pinatel, serviu, com frequência, de refúgio dos estudantes. Fugiam da perseguição policial resultante das várias manifestações promovidas contra a ditadura, nas quais eu tinha presença constante (LYRA, in ROCHA E DIAS FERNANDES: 2021, p.305).

Também distribuí, em várias ocasiões, nos cinemas de João Pessoa, panfletos clandestinos preconizando a derrubada da ditadura. E busquei, no âmbito da Faculdade de Direito, de perfil conservador, não só participar de atividades políticas, mas também, organizando competições, exibindo filmes de arte e integrando comissões do Diretório Acadêmico.

Agamenon Sarinho, um dos líderes estudantis do Lyceu em 1968, afirmou, em depoimento, que “entre os universitários, eu me lembro de Rubens Pinto Lyra. Lembro da figura dele, no Ponto de Cem Réis, fazendo discurso. Ele subia num tamborete e ficava falando” (DEPOIMENTO. In: ROCHA E DIAS FERNANDES – Vol. I, 2021: p.94).

A candidatura à presidência do DCE

Minha intensa participação no movimento estudantil, iniciada aos 14 anos, no Colégio Pio X, somada à atuação nas manifestações e demais eventos contra a ditadura, no ano de 1968, levou a Ação Popular (AP) a convidar-me, mesmo dela não fazendo parte, a ser candidato à Presidência do DCE, nas primeiras eleições diretas da entidade. E isso a despeito do pouco tempo que tinha para o movimento estudantil, já que, além de estudante do curso de Direito, era professor de Língua e Literatura Francesas do Colégio Estadual de João Pessoa.

A Ação Popular (AP) defendia uma linha mais radical, embora não militarista, de opção ao regime militar, priorizando os aspectos políticos da luta contra a ditadura, e mais democracia no âmbito social e político. Já o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) enfatizavam a contestação à política educacional da ditadura. Dentre as formações políticas de esquerda, apenas a AP, à época, era crítica do modelo leninista e soviético do socialismo, embora mais adiante tenha se tornado maoísta.

Fui derrotado nas eleições do DCE pelo saudoso e admirável companheiro Everard Nóbrega de Queiroz, precocemente falecido, nas primeiras eleições diretas para essa entidade.

O XXX Congresso da UNE

Ainda em 1968 fui eleito Delegado — o único — da Faculdade de Direito da UFPB ao III Congresso dessa entidade, previsto para ser realizado em outubro desse ano, em Ibiúna (SP). Sublinhe-se que esse Congresso foi abortado, mal iniciada a discussão de sua pauta, por uma invasão da Polícia Militar de São Paulo.      A conjuntura política do XXX Congresso da UNE era de radicalização política. Estávamos a menos de três meses da decretação do Ato Institucional no. 5, que serviu de base, supostamente jurídica, para todos os atos discricionários e violências cometidas pela Junta Militar e Governos dos presidentes militares que a sucederam.

Parte da esquerda já tinha caído na clandestinidade. No plano local, ainda em agosto, em plena eleição do DCE, vários colegas haviam tido prisão preventiva decretada entre os quais José Ferreira, Presidente do DCE e João Roberto Souza Borges, dirigente da Ação Popular (AP) e Presidente eleito do Diretório de Medicina, que posteriormente encontrado morto, em circunstâncias até hoje não esclarecidas. Outro integrante de destaque da Ação Popular (AP) foi Socorro Fragoso, estudante de Serviço Social da UFPB. Foi obrigada, durante anos, a permanecer na clandestinidade. Com a redemocratização chegou a ser eleita Deputada Federal, com o nome de Jô Morais, pelo PC do B do Estado de Minas Gerais.

Também teve protagonismo na luta contra a ditadura o universitário Simão Almeida, militante do PC do B, que, como Socorro, amargou longos anos de clandestinidade, sendo os dois apoiadores — juntamente com João Roberto — os de maior destaque da minha candidatura à Presidência do DCE, Simão, com o retorno à democracia, dedicou-se à atividade parlamentar, por duas vezes eleito Deputado Estadual pelo mesmo Partido.

A organização do congresso

As características da organização do XXX Congresso da UNE denunciam o caráter vanguardista das concepções dos seus organizadores: projetou-se para ficar totalmente isolado das “massas”, como se dizia. Não sabíamos como havíamos chegado lá e de lá saímos sem saber onde estávamos.

Os congressistas foram recepcionados por participantes do conclave, designados pela sua direção, armados. Passaram privações, nos quatro dias em que estiveram no sitio que sediaria o congresso, no município de Ibiúna (SP), ficando consideravelmente enfraquecidos.

Participaram de uma espécie de adestramento para a guerrilha, sem que jamais sido consultados a respeito. Não se trata apenas de uma mera opinião pessoal, conforme se depreende dessa curta passagem do livro de Zuenir Ventura sobre o ano de 1968: “Ao chegar ao sítio, o Presidente da União Metropolitana de Estudantes de São Paulo, Vladimir Palmeira, teve a sensação de estar desembarcando num acampamento de guerrilha” (1988, p. 246). Vladimir Palmeira era um dos principais líderes do movimento estudantil universitário.

Uma jovem participante do congresso, em reportagem da então famosa revista O Cruzeiro, revelou que “viveu momentos de desespero: entre dormir e comer, era necessário uma escolha decisiva: os que ficavam nas longas filas de comida não conseguiam vaga para deitar. Às três da manhã quem estava dormindo, era obrigado a ceder o lugar a quem permanecia no relento, esperando a vez de descansar. A maioria não tinha condições de suportar mais um dia que fosse” (LUZ: 1968).

Sou testemunha dessas condições, na realidade piores do que as descritas, pois a comida era quase inexistente, de péssima qualidade e as acomodações para a dormida mais do que precárias. “Já havia um caso de caxumba e outro de hepatite. Além disso, três pessoas já haviam desmaiado de fraqueza. O serviço médico da Polícia começou a distribuir açúcar, pois constatou ser grande a carência de glicose” (O CONGRESSO:1968).

As instalações destinadas à realização do Congresso que funcionaram, também, como dormitório, eram na verdade um buraco, cavado em um barranco, com degraus que serviam de arquibancada, tendo parte delas, inclusive, desmoronado, em função das fortes chuvas que se abateram no local. E como os setores vanguardistas do movimento universitário se consideravam iluminados, constituídos por quem, supostamente, estudou a Revolução e acreditava estar preparando-a, se julgaram no direito de impor suas concepções a todos.

A incompetência dos organizadores do congresso

A autoconfiança excessiva e a incompetência dos organizadores do congresso fizeram com que a Polícia paulista localizasse com facilidade o local onde estavam reunidos os seus participantes e os prendessem. Quem tivesse, anteriormente, querido sair, não sairia, porque a entrada do sitio permaneceu, todo, o tempo, guardada por integrantes armados da organização do Congresso.

Impressiona, para pretensos instrutores de guerrilha, o seu despreparo. Relatam várias reportagens da época que havia quem fosse fazer cobranças ao dono do sítio onde foi albergado o congresso da UNE. Encarregados da segurança desse conclave prenderam um deles por dois dias e terminaram por soltá-lo!

O personagem preso denunciou a prisão à polícia e só esse fato foi suficiente para comprometer o congresso. Além do que a inusitada movimentação na pequena cidade de Ibiúna, que nunca recebia visitantes em quantidade, despertou igualmente as suspeitas da polícia (VENTURA: 1988, p. 245).

Conforme descreve Cláudio José Lopes Rodrigues “O XXX Congresso da clandestina UNE se constituiu um autêntico segredo de Polichinelo. Foi abortado na fria e chuvosa manhã de sábado, 12 de outubro de 1968, quando 400 soldados da Força Pública de São Paulo e agentes do DOPS invadiram o sitio Murundu, sede do encontro, nos arredores do município paulista de Ibiúna, sob o comando dos delegados paulistas Orlando Rosante e Paulo Buoncristiano e do Coronel Barsotti, Comandante do 7º Batalhão da Força Pública”. O “portentoso arsenal” encontrado : duas Beretas, uma Lugger e duas carabinas” (O CONGRESSO:1968).

Prisão e libertação

Registre-se inicialmente que a detenção dos estudantes em Ibiúna correspondeu à maior prisão coletiva até então ocorrida no Brasil. Segundo Zuenir Ventura “o número de estudantes presos varia, segundo a fonte, entre 750 a mais de 1.500” (1988: p.239).

Durante a “hospedagem” desses estudantes no presídio Tiradentes, não se teve conhecimento de maus tratos, nem de torturas, panorama que mudou radicalmente com a edição, em 13 de dezembro deste ano de 1968, do Ato Institucional nº 5. Fizemos greve de fome, em protesto contra a privação de nossa liberdade e contra a comida, de péssima qualidade. Entoávamos constantemente o hino “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Das lutas, nas tempestades, dá que ouçamos a sua voz”

Os paraibanos foram os primeiros a ser libertados, ao que se dizia, graças a acordo feito entre o Governador João Agripino Filho, pai de um dos congressistas, Fábio Maia, que estudava Engenharia na UFPE e Abreu Sodré então Governador de São Paulo.

Entretanto, o depoimento de Lourdes Meira, à época, ativa participante do movimento estudantil universitário, diverge radicalmente dessa versão: “o governo do Estado se recusava a interceder pelos estudantes da Paraíba presos. A truculência do governo do Estado aumentou e acabou envolvendo outros setores, como o Judiciário, cujo prédio foi invadido pela polícia à caça dos estudantes” (in ROCHA E DIAS — 2018, p. 51).

Fui o primeiro a retornar a João Pessoa. Dei entrevista a respeito do Congresso da UNE ao jornal Correio da Paraíba, desmentindo que tivéssemos sido torturados (REGRESSAM: 1968).

Enquanto os delegados ao congresso estavam presos, as lideranças estudantis de João Pessoa e Campina Grande realizaram várias manifestações de protesto, exigindo a libertação dos seus participantes.

Poucos dias depois da volta de Ibiúna, deu-se o lance final: a eleição clandestina, para a Presidência da UNE, saindo vencedor o candidato da AP, Jean Marc Von Der Weid.

Minha atuação nos movimentos sociais: uma opinião

Em artigo publicado na Revista Práxis Educacional, o prof. Rogério de Araújo Lima avaliou a minha atuação como opositor do regime militar da seguinte forma: “Rubens Pinto Lyra é uma das testemunhas mais notáveis do movimento estudantil de resistência ao golpe e de enfrentamento à ditadura. Isso explica a sua participação em mais de um fórum da Comissão da Verdade da Paraíba e a dedicação de um momento (oitiva) só para seu testemunho. Nessa oitiva, que leva seu nome como título, narra sua permanente militância política, que adentrou no exercício da docência de nível superior” (2019: p. 141).

Reflexão crítica

Necessário, em primeiro lugar, refletir sobre as condicionantes da ação política do movimento universitário e, mais geralmente, da esquerda socialista, à época, determinada, essencialmente, pelo maniqueísmo ideológico então vigente. Avulta, nesse contexto, o papel da ideologia vanguardista, que sempre imaginou a revolução batendo à nossa porta.

Esta ideologia levou o movimento estudantil universitário à falta de compreensão da correlação de forças desfavorável entre o regime militar e a esquerda dita revolucionária, com consequências funestas, de que resultou o sacrifício de muitos militantes.

Analisando com olhar retrospectivo, a realização do XXX Congresso da UNE, os seus principais responsáveis são unânimes em considerar que sua forma de organização foi um erro, mas ninguém assume a responsabilidade de tê-lo cometido (VENTURA: 1988, p.241).

Na verdade, o buraco estava mais em baixo. A desconfiança que prevalecia entre as tendências que se digladiavamnão era compatível com a organização exitosa de um conclave de tal envergadura, que supõe um grau razoável de confiança entre adversários, sob pena de terceiros arcarem com as consequências de eventual fracasso, como foi o que ocorreu. Prova indiscutível dessa incompatibilidade: declaração prestada à revista Veja pelo estudante Paulo de Tarso, responsável pela segurança do congresso e seguidor de José Dirceu, o candidato de Vladimir Palmeira à Presidência da UNE, a propósito de uma suposta informação recebida por Travassos sobre a iminente chegada da polícia ao sítio que sediou o congresso: “Se ninguém fugiu a tempo, foi porque Travassos queria ver na informação recebida uma manobra política de seus adversários” (VENTURA: 1988,     p.247).

O dono do sítio Murundu, Domingos Simões, onde se intentou realizar o XXX Congresso, pagou caro o favor que fez aos seus organizadores, cedendo-lhe sua propriedade para o conclave estudantil. Segundo relata Ventura: “Depois de fugir e ficar escondido por dois anos, Simões foi finalmente preso e recolhido à Operação Bandeirantes, junto com a mulher e suas duas filhas, Ana Joaquina e Maria da Glória. Sua mulher relatou que: “Fiquei numa cela e as meninas em outra, de forma que a gente ouvia os gritos de Simões sendo torturado” (1988, p.243).

Na ocasião, a mulher de Simões tinha 17 anos e nem podia ser presa, e sua filha menor, Ana Joaquina, apenas 3 anos. Os prejuízos do “vanguardismo” se estenderam às centenas de estudantes que foram, em todo o país, privados, por um ano ou mais, de seus direitos de estudar.. Eles também sofreram várias outras punições, derivadas da cassação, extremamente prejudiciais, com destaque para o impedimento oficioso, até a revogação do AI no. 5, de ingresso no serviço público, especialmente nas universidades.

O desprezo histórico da esquerda pela democracia, pretensamente reduzida à condição de “democracia burguesa”, decorreu, em grande parte, da influência de concepções vanguardistas de revolução e de luta política, gerando clima de desconfiança entre tendências, que acreditavam serem donas exclusivas da verdade. Iludidas por falsas ideologias, concebiam as diferentes modalidades do “socialismo real” como sendo efetivamente socialistas.

A história, contudo, demonstrou, com a queda do Muro de Berlim, que esse suposto socialismo era mais nocivo ao trabalhador do que o próprio capitalismo – por que “não somente o explora como também o priva de liberdade” (KAUTSKY, in LYRA, 2021, p. 147).

Todavia, a débâcle dos regimes estatistas-burocráticos favoreceu a inserção institucional crescente da esquerda, desenvolvendo, a partir do êxito de várias experiências social-democratas, a aceitação reticente das virtudes do regime democrático, e o compromisso com sua defesa. Hoje, as práticas vanguardistas perderam, mesmo para a pequena minoria que ainda as apreciava, a sua credibilidade e glamour.

Portanto, somente com efetiva aceitação das regras do jogo democráticas — tanto mais consistentes quanto maior o protagonismo das esquerdas, será possível construir acordos, firmar alianças e elaborar programas dotados de credibilidade e apoio popular.

Vale refletir sobre até que ponto a atual realidade do poder no Brasil encarna essas possibilidades, ou delas continua distanciado.

*Rubens Pinto Lyra é Professor Emérito da UFPB. Fundador e ex-dirigente da ANDES. Autor, entre outros livros, de Bolsonarismo: ideologia, psicologia, política e temas afins (CCTA/UFPB) [https://amzn.to/49WpSUx].

Referência


Rubens Pinto Lyra. Memórias — teoria e prática de um estudioso da política. João Pessoa, Editora do CCTA, 2024, 204 págs.

Bibliografia


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GUEDES, Nonato et alli (org.). O jogo da verdade. João Pessoa: A União, 1994.

LIMA, Rogério Araújo. A educação superior na Paraíba à luz da Comissão Estadual da Verdade. Revista Práxis Educacional. Vol. 15, sn.34, Edição Especial, 2019.

LUX, Luiz Antonio e PETROLLI, Claudine. Quatro noites no purgatório. O Cruzeiro, 2.11.1968.

LYRA, Rubens Pinto. A primavera libertária de Maio. In: Lyra, Rubens Pinto. Bolsonarismo: ideologia, psicologia, política e temas afins. João Pessoa: Ed. do CCTA/UFPB, 2021.

KAUTSKY, Karl. A ditadura do proletariado. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas.

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ROCHA, Washington e DIAS FERNANDES, Telma. 1968: o ano que ficou. Vol. I João Pessoa: Ed. do CCTA, 2017.

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SARINHO, Agamenon. Depoimento. In: ROCHA e DIAS Fernandes. 1968: o ano que ficou. João Pessoa: Ed. do CCTA, Vol. I, 2017.

RODRIGUES, Claúdio José Lopes. Alienados e subversivos — a aventura estudantil.

João Pessoa: Editora Ideia, 1999.

VENTURA, Zenir. 1968: o ano que não terminou. São Paulo: Nova Fronteira, 1988

Chico Buarque, 80 anos

Por ROGÉRIO RUFINO DE OLIVEIRA*

A luta de classes, universal, particulariza-se no requinte da intenção construtiva, na tônica de proparoxítonas proletárias

Noel Rosa e Tom Jobim tiveram um filho juntos, nascido e criado artista depois de Chega de saudade. Cresceu e, ao reinventar a saudade, que não se traduz, escreveu que “dói como um barco, que aos poucos descreve um arco, e evita atracar no cais”. Exceto nos livros de ficção, quase não fala fora da canção, nunca deixa sobrar palavra dentro dela.

Seu conservadorismo formal construiu empreendimentos excelentes com coerência ideológica anticonservadora. Com sutileza crônica, pôs tijolo com tijolo num desenho lógico, mágico e à esquerda. Alta literatura fraseada em assovio, caymmolente, de modo a fazer o pê de MPB parte constitutiva dessa estatura. Está no verbete “canção brasileira” para o mundo como o cume do exemplo convencional. Sua sorte, Bob Dylan, é que ele fala português.

Guri, Pivete e Geni. Palhaços, ciganos e trabalhadores assalariados. Inúmeros pretos com paus enormes em Caravanas, Mar e Lua, funcionário e dançarina. Ninguém duvida do que é capaz a suposta gay que mistura baião e rock. Biscate, Sinhá, As atrizes e a Beatriz. Elza Dura na queda. Dondocas, Ode aos ratos, A Rita e Futuros amantes. Até mesmo Manuel e Miguilim. Nina lá de Moscou, nhonhô histórico dentro do blues, O caderno. Juntos com outros tantos, sob as bênçãos artísticas das Mulheres de Atenas, não moralizam seus modos de representação. São arteiros, possuem modos de arte. Justamente por isso o período atemporal provavelmente os conservará.

Em briga de marido e mulher, a crítica social mete a língua e juntos fazem canções de amor a três. Um dia, nos anos 1990, um casal viajou de avião pela globalização neoliberal algo real, meio onírica, sem muita consistência do que ocorria pelos ares, passeio com sentido e sentimento rarefeitos, mas não a batida do tango, definida, certa de que Sonhos, sonhos são.

A luta de classes, universal, particulariza-se no requinte da intenção construtiva, na tônica de proparoxítonas proletárias em movimento e disciplina ou, via anagrama, com Iracema pós-romântica lavando o chão da América colonial. Certo espírito do tempo com quatro faces, Carlos Drummond, Manuel Bandeira, João Cabral e Cecília Meireles, soprou pelo caminho uma brisa que é coesão de época, tudo foi como foi, e para ele ainda é, também por conta desse desmedido quadro.

Assim o país se equilibra: se sua contraparte experimental, alegria alegria de Santo Amaro, tem pronta em canções-ensaios uma teoria social brasileira, ele, que é filho de sangue do ensaísmo canônico, teorizou contista à cantoria. Interpreta a si mesmo como ninguém, parece que não interpreta.

Seu poema faz assim, “Meu coração, que você sem pensar / Ora brinca de inflar, ora esmaga / Igual que nem fole de acordeão / Tipo assim num baião do Gonzaga”, quando faz assim. Vida e obra constrangedoras de toda afetação. Pedro Pedreiro, com 21 anos daquele jeito, chocou ao não mentir a idade.

“Que tal um samba?”, o último gesto por enquanto, é convite para o que propõe a acontecer, mas, enquanto convida, o barulho dos fonemas encadeados já realiza em ato, sem confessar, o que sugere para depois. A palavra dada, não literal, não está dada. Se faz no agora, mas não imediata, faz de conta no som pelo fato de ser música ao mesmo tempo que palavra. Aliás, a palavra é carne e motivo da música. O ouvinte-convidado que escuta as consoantes é envolvido por elas. Antes de dizer se aceita ou não o invite, percebe-se no meio da roda de samba instrumental de timbres dependentes da técnica da aliteração e ao mesmo tempo autônomos dela quando iluminados pelo resultado produzido.

Faz cumprir o que disse: “Aprendi que melodia e letra podem, e devem, formar um só corpo e procurei frear o orgulho das melodias”. Seu traço tem a data do século XX. É delicado, imaginativo e amoroso com o engenho. Avança com o passado futuro afora enquanto sobrevoa discreto, como presente, o estado do tempo pelo qual alcança seus 80.

*Rogério Rufino de Oliveira é professor de literatura e doutorando em Letras na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Documentário aponta o governador do RS como culpado pelas enchentes

Desde as fortes chuvas iniciadas no último dia 27 de abril no Rio Grande do Sul, que afetou áreas do campo e cidade, 500 famílias Sem Terra assentadas foram atingidas pelos alagamentos, com inundações de suas casas, perda da produção de alimentos, prejuízos de estruturas, ferramentas, maquinários; além da vida de muitos animais.

Documentário de oito minutos aponta que o governo de Eduardo Leite não executou nenhum centavo do orçamento para a prevenção de enchentes e alagamentos, uma tragédia anunciada bateu a porta de pessoas do campo e da cidade.  Para agora, o que precisamos é de solidariedade, que em coletivo possamos reconstruir o que foi destruído não pela natureza, mas pelo descaso sistemático do governo do estado do Rio Grande do Sul, que, não por falta de inteligência, por falta de dados ou de avisos, deixou seu povo se afogar. Mas permitiu que a vida de milhares de pessoas fossem levadas na enxurrada para que o agronegócio possa continuar explorando o meio ambiente indiscriminadamente.

Coluna Zona Franca

Joiasgate

Mauro Cid confessou à Polícia Federal que entregou parte do dinheiro da venda das joias em mãos para o Bolsonaro durante uma viagem oficial a Nova York. Os recursos teriam sido entregues em espécie em setembro de 2022, quando o ex-presidente estava na cidade americana para fazer aquele que seria seu último discurso como na Assembleia-Geral da ONU. As investigações encerram em julho e Bolsonaro dever ser preso ainda este ano.

 

28ª fase da Operação Lesa Pátria

Fotos do 8 de janeiro são recuperadas um mês depois - 11/02 ...A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 20/6, a 28ª fase da Operação Lesa Pátria, com o objetivo de identificar pessoas que financiaram e fomentaram os fatos ocorridos em 8/01/2023, em Brasília/DF.  Ao todo, estão sendo cumpridos 27 mandados judiciais (15 mandados de busca e apreensão e 12 de busca pessoal), expedidos pelo Supremo Tribunal Federal, nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Foi determinada a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados.

Maria do Rosário lidera

Maria do Rosário (deputada do PT-RS) e Sebastião Melo (prefeito de Porto Alegre)Pesquisa AtlasIntel: Maria do Rosário(PT) lidera corrida pela prefeitura de Porto Alegre. Sebastião Melo está em segundo. De acordo com o levantamento, a deputada federal possui 30,2% da preferência do eleitorado, ante 24,8% do atual prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo. Em seguida aparecem a deputada federal Any Ortiz (Cidadania), com 9,1%, a vereadora Comandante Nádia (PL), com 8,5%, a ex-deputada estadual Juliana Brizola (PDT), com 8,2%, e o deputado estadual Felipe Camozzato (Novo), com 6,7%. Thiago Duarte (União) e Fabiana Sanguiné (PSTU) aparecem com 1,3% cada um. Eleitores indecisos somam 2%, enquanto votos brancos ou nulos representam 7,9%.

PT já tem 172 pré-candidatos

A Comissão Executiva Nacional do PT homologou, nesta segunda-feira (17), mais 15 pré-candidatos/as e coligações a prefeito/a que serão lançados ou apoiados pelo partido nas cidades com mais de 100 mil eleitores. Até agora, já foram homologadas 172 pré-candidaturas e coligações em municípios com mais de 100 mil para indicação à Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), segundo o site do partido.

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Para a disputa nas capitais do país, a direção nacional do PT já homologou 12 pré-candidaturas próprias: Belo Horizonte (Rogério Correia), Porto Alegre (Maria do Rosário), Vitória (João Coser), Goiânia (Adriana Accorsi), Maceió (Ricardo Barbosa), Manaus (Marcelo Ramos), Fortaleza (Evandro Leitão), Campo Grande (Camila Jara), Cuiabá (Lúdio Cabral), Terezina (Fábio Novo), Natal (Natália Bonavides) e Florianópolis (Lela Farias). Também já foram aprovadas pela direção nacional do PT alianças em quatro outras capitais: São Paulo (Guilherme Boulos – Psol), Salvador (Geraldo Júnior-MDB), Belém (Edmilson Rodrigues – Psol) e Rio Branco (Marcus Alexandre-MDB).

Jogo do bicho legalizado

O projeto de lei que permite a operação de cassinos e bingos, legaliza o jogo do bicho e autoriza apostas em corridas de cavalos avançou no Senado após receber a aprovação apertada da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na última quarta-feira (19). O projeto estabelece diretrizes para exploração, fiscalização e controle dos jogos, além de definir a tributação das casas de apostas e prêmios, garantindo diversos direitos aos jogadores. O que será do povo brasileiro que já está viciado em jogos eletrônicos, Bets, além das loterias oficiais.

Harmonização na cara de pau

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Amapá decidiu, por unanimidade, cassar o mandato da deputada federal indígena Silvia Waiãpi (PL-AP). A denúncia aponta que ela realizou procedimento de harmonização facial  em 29 de agosto de 2022, em pleno período de campanha eleitoral. Nesse mesmo dia, a deputada federal recebeu recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). Silvia Waiãpi é conhecida por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e é uma crítica ativa do governo do presidente Lula.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

A coluna é diária e conta com informações do G1, Globo, R7, CNN, Folha de S. Paulo, Brasil 247, Veja, Folha, Metrópoles, DCM, Brasil de Fato, dentre outros.

Informações para a coluna:  rkuppe@gmail.com

 

Remediados e pobres

Ilustração-Dora Longo Bahia. Revoluções (projeto para calendário), 2016 Acrílica, caneta à base de água e aquarela sobre papel (12 peças) 23 x 30.5 cm cada

Por VALERIO ARCARY*

Quando consideramos os pesos proporcionais, há mais lealdade ao lulismo entre os miseráveis, e maior consolidação do reacionarismo entre os remediados, uma inversão histórica

“A cisma é pior que uma doença” (Provérbio popular português).

A apresentação pela bancada evangélica, apoiada pelo bolsonarismo com a cumplicidade do Centrão, de um projeto que nivela a criminalização, até do aborto que é considerado lega, após 22 semanas ao homicídio incendiou uma mobilização nacional de repúdio que foi capaz de realizar as maiores passeatas de 2024 nas grandes cidades em 2024. Foi espetacular. O movimento feminista revelou força social de impacto. Foi uma resposta contundente a uma provocação ultrarreacionária. Mostrou um caminho.

Mas no marco de uma situação defensiva, e com o apelo de uma bandeira democrática humanitária. Não deve iludir a esquerda, em especial, a anticapitalista, que um problema vital permanece intacto. A extrema-direita fraturou a sociedade, profundamente, porque conquistou uma poderosa base de massas na classe trabalhadora. Sem reconquistar a maioria, unindo os assalariados “remediados” com ou sem carteira assinada, com a parcela mais pobre do povo, não será possível derrotar social e politicamente a corrente neofascista. Essa deveria ser nossa estratégia: construir uma maioria social entre os explorados e oprimidos.

Mas não é a linha do governo Lula. A orientação do governo Lula é tentar repetir, teimosamente, em 2026, a tática eleitoral de 2022, com a estratégia econômico-social de 2006: manter a Frente Ampla, se não no primeiro turno, pelo menos no segundo turno, arrastando os votos da fração burguesa liberal. Será possível? Sim, mas provavelmente, não será o bastante, e perderemos as eleições.

Por quê? Porque o Brasil mudou e a vitória eleitoral de 2022 foi circunstancial, em grande medida em função do impacto da pandemia. Não é provável que se repita. A representação política tradicional da classe dominante, desde o fim da ditadura, sempre teve o apoio da maioria da classe média, que se dividia entre MDB e suas rupturas e os herdeiros da Arena. Mas conseguiam arrastar o voto da maioria do “povão”, em função das relações de clientela, nos interiores rurais e nas extremas-periferias urbanas.

Isso mudou. Depois dos treze anos de governos de colaboração de classes liderados pelo PT, ocorreu uma mudança político eleitoral muito progressiva. O impacto de algumas reformas progressivas – Bolsa-família, aumentos do salário-mínimo, redução do desemprego, cotas nas universidades, expansão do SUS, entre outras – garantiram a consolidação do apoio eleitoral de massas entre os mais pobres ao lulismo. Antes de 2002, a esquerda não vencia eleições entre os mais pobres, por variadas razões.

Só que, nos últimos dez anos, outra grande mudança qualitativa aconteceu, desta vez reacionária: a extrema direita conquistou posições entre as camadas médias da classe trabalhadora. É uma tragédia, mas uma “divisão” aparta duas parcelas da classe trabalhadora: os remediados e os pobres. Enquanto uma maioria dos condenados à miséria “giraram à esquerda”, pelo menos metade dos remediados “giraram à direita”.

Na raiz deste processo encontramos transformações sociais profundas. A “crueldade” histórica é que a desigualdade social entre os que vivem do trabalho assalariado diminuiu, porque o piso da extrema pobreza subiu, mas a remuneração das camadas médias de trabalhadores estagnou com viés de queda. A distribuição funcional da renda entre capital e trabalho somente oscilou, sem sair do lugar.

Nestas duas parcelas há gente de esquerda e de direita com visões de mundo irreconciliáveis. Mas uma perigosa ilusão de ótica alimenta conclusões míopes. Não é correto concluir que a maioria dos remediados, que estudaram mais e vivem um pouco melhor, ainda têm hoje uma inclinação para a esquerda. Ou que os mais pobres têm preferência pelo reacionarismo.

Na verdade, quando consideramos os pesos proporcionais, há mais lealdade ao lulismo entre os miseráveis, e maior consolidação do reacionarismo entre os remediados, uma inversão histórica. A miopia é mais grave quando associamos a preferência religiosa pentecostal na análise. O bolsonarismo é, amplamente, majoritário entre os evangélicos, mas minoritário entre os mais pobres. A percepção desta divisão fica mais enviesada ainda quando integramos a fratura racial na avaliação. A maioria dos remediados não é autodeclarada negra, ou a maioria dos mais pobres não é branca. Medo e preconceito envenenam a compreensão deste paradoxo.

O pentecostalismo da prosperidade continua crescendo. Mas a ideia de que o reacionarismo religioso se concentra, essencialmente, na parcela mais pobre do povo não corresponde à realidade. Lula mantém um apoio majoritário entre a população que ganha até dois salários-mínimos, não só na região Nordeste.

Há uma correlação entre baixa escolaridade e influência das grandes igrejas evangélicas, mas não há causalidade entre pobreza e bolsonarismo. O núcleo duro da força social e eleitoral da extrema direita repousa nos remediados, assalariados ou “empreendedores”, não entre os despojados. Assim que a renda permite as famílias de trabalhadores contratam trabalho doméstico, matriculam os filhos em escolas privadas, compram planos de saúde para seus pais, alugam por uma semana uma casa na praia para férias, compram automóveis e por aí vai: imitam o padrão de consumo da classe média proprietária ou de alta escolaridade em funções executivas.

Não assimilam somente um estilo de vida, mas as ideias de uma visão de mundo: repudiam os impostos porque não usam a educação e saúde pública, odeiam o Estado porque foram envenenados pela Lava Jato de que tudo é corrupção, e abraçam a perspectiva de que na vida social é o “cada um por si mesmo”. A estagnação da mobilidade social e a pressão inflacionária nos serviços empurraram uma parcela dos remediados para o bolsonarismo. Mas, infelizmente, é ainda mais complicado. A parcela dos remediados que apoia o bolsonarismo tem ressentimento político contra a esquerda porque acredita que são injustas as massivas transferências de renda para a pobreza extrema. Abriu-se uma brecha entre remediados e muito pobres.

Lula venceu entre as mulheres que são o núcleo duro da corrente pentecostal, mas têm em média mais escolaridade que os homens. Lula venceu entre os pretos que são a parcela mais pobre entre os negros, mas têm em média, a mais baixa escolaridade do povo. Não é possível identificar, portanto, causalidade direta entre o nível educacional-cultural das pessoas e a preferência política pela extrema direita.

Não era assim. A esquerda, essencialmente, o PT, foi majoritária entre os trabalhadores que ganham entre três e cinco salários-mínimos entre 1978, quando se abriu a fase final da luta contra a ditadura, até pelo menos 2013. Passou a ser majoritária entre os mais pobres, que ganham até dos salários-mínimos, após o primeiro mandato de Lula entre 2003 e 2006, garantindo a reeleição.

Dilma Rousseff foi eleita em 2010 e reeleita, em um segundo turno apertado, em 2014. Lula venceu por margem, dramaticamente, estreita em 2022. Mas Fernando Haddad perdeu para Jair Bolsonaro em 2018. Qual foi o deslocamento social decisivo? A conquista do voto dos miseráveis pela extrema direita, em função do apoio pentecostal? Ou a perda de influência entre os remediados?

Resumo da ópera: por que parece tão difícil para a esquerda reconquistar confiança entre os trabalhadores remediados que votaram no bolsonarismo? Porque o projeto lulista para vencer em 2026 aposta em “mais do mesmo” e está errado. Não vai ser possível repetir em 2026 o que deu certo em 2006, vinte anos atrás.

A fórmula da vitória, em 2006, foi essencialmente: (a) redução do desemprego pelo crescimento econômico dinamizado pela exportação de commodities com preços turbinados pela demanda chinesa; (b) controle da inflação pela acumulação de reservas cambiais, e taxas de juros reais entre as maiores do mundo; (c) distribuição de renda através de políticas públicas focadas na extrema-miséria.

Esta estratégia ignora que o Brasil não é mais o mesmo. Não vai dar certo, “mesmo que dê certo”. A economia pode crescer, apesar do arcabouço fiscal? Não é o mais provável, porque sem investimentos públicos parece difícil que o mercado interno mantenha a dinâmica de 2023, mas ninguém pode saber porque depende das demandas do mercado mundial. A inflação vai se manter abaixo de 4% ao ano? Ninguém pode ter certeza, é até improvável, mas não é impossível, se o Banco Central mantiver as taxas de juros entre as cinco mais elevadas do mundo. O Bolsa-Família turbinado com piso de R$600,00, algo em torno de US$120,00, garantirá a lealdade dos mais pobres ao lulismo? Provavelmente, sim. Ainda assim não será o bastante. Porque esta estratégia não permite recuperar o que a esquerda perdeu entre os trabalhadores remediados.

Seria possível outra estratégia? Sim, sempre há alternativas. Mas ela teria que passar por uma “revolução” na educação pública que torne as escolas atraentes, não somente porque são gratuitas, mas porque oferecem ensino de qualidade pelo menos equivalente á média das escolas particulares. Teria que passar por uma “revolução” no SUS, para que a marcação até de uma simples consulta, não seja somente para dois ou três meses depois. Teria que passar por uma substancial redução dos impostos de renda sobre os remediados.

Isso não será possível sem impostos sob as grandes fortunas, heranças e renda, por exemplo. Seria indispensável uma corajosa luta política. Mas, também, ideológica. a defesa da legalização do aborto, que já tem um atraso de meio século em comparação com os países centrais. A defesa de políticas antirracistas mais audaciosas como cotas de 50% nos concursos públicos. A defesa da descriminalização das drogas como resposta ao poder do crime organizado e à insegurança pública.

Luta política, inclusive, para garantir a expropriação de fazendeiros que fazem a expansão da fronteira agropecuária para que queimadas no Cerrado e Amazônia não se repitam, e catástrofes como as inundações no Rio Grande do Sul não caiam no esquecimento.

*Valerio Arcary é professor de história aposentado do IFSP. Autor, entre outros livros, de Ninguém disse que seria fácil (Boitempo). [https://amzn.to/3OWSRAc]

Com 35,7%, Boulos lidera corrida pela Prefeitura de São Paulo em nova pesquisa AtlasIntel/CNN

Na sequência aparecem Ricardo Nunes, Pablo Marçal e Tabata Amaral

 Pesquisa AtlasIntel/CNN sobre a corrida pela Prefeitura de São Paulo, divulgada nesta quarta-feira (19), mostra Guilherme Boulos (Psol) na liderança, com 35,7% das intenções de voto. A pesquisa, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-00609/2024, entrevistou 2.220 eleitores paulistanos entre os dias 10 e 11 de junho, com uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e um nível de confiança de 95%.

O levantamento posiciona o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), na segunda colocação, com 23,4%. Desde a pesquisa anterior, realizada em 28 de maio, Nunes teve um crescimento significativo, subindo 2,9 pontos percentuais em relação aos 20,5% que detinha anteriormente.

Pablo Marçal (PRTB) vem em terceiro lugar com 12,6%, seguido por Tabata Amaral (PSB) com 10,7%. Marçal também apresentou um aumento acima da margem de erro, ganhando 2,2 pontos percentuais em comparação com o levantamento de maio.

  • Guilherme Boulos (Psol): 35,7%;
  • Ricardo Nunes (MDB): 23,4%;
  • Pablo Marçal (PRTB): 12,6%;
  • Tabata Amaral (PSB): 10,7%;
  • Kim Kataguiri (União): 6,9%;
  • José Luiz Datena (PSDB): 5,8%;
  • Marina Helena (Novo): 2%;
  • Altino Prazeres Júnior (PSTU): 0%.

Sem Marçal e Datena

Em um cenário alternativo onde Pablo Marçal e o apresentador José Luiz Datena não participam da corrida, Boulos amplia sua liderança com 37,5% das intenções de voto, enquanto Nunes sobe para 32,4%. Nesse contexto, Tabata Amaral aumenta sua fatia para 11,8% e Kim Kataguiri passa a 8,2%. Marina Helena (Novo) figura com 3,2%, e Altino não pontua.

Segundo turno

A pesquisa também simulou possíveis cenários para o segundo turno entre os principais candidatos. No confronto direto entre Boulos e Nunes, os números indicam um empate técnico.

Brasil 247

Coluna Zona Franca

Eleições 2026

Sim, caros leitores. O processo sucessório de 2026 já começou. O sistema (mercado) já escolheu os seus candidatos, inclusive o vice. Tratam-se de Tarcísio de Freitas (Republicanos ) e o atual presidente do Banco Central,  Roberto Campos Neto (PL). Isso não é ruim para Lula, nem pro PT. É ruim para o Brasil e para o povo brasileiro.  Embora o terceiro governo do presidente Lula já tenha acelerado o crescimento econômico, trazido o Brasil de volta à posição de oitava economia do mundo, reduzido o risco-Brasil, reduzido o desemprego, ampliado a renda dos brasileiros, atraído grandes investimentos e controlado a inflação, o jornal O Globo, da família Marinho, publica editorial nesta quarta-feira para dizer que o presidente “demonstra desorientação na economia”. O jornal também exalta Roberto Campos Neto, que mantém desnecessariamente uma das maiores taxas de juros do mundo, que transfere renda da sociedade brasileira para os mais ricos, e defende que o governo Lula ataque os aposentados e a população mais pobres, com um ajuste fiscal neoliberal.

Eleições 2026-2

“Os termos do ajuste ainda não estão claros, mas as prioridades deveriam ser duas: 1) desvincular das receitas os pisos de gastos em Saúde e Educação; 2) desvincular do salário mínimo os benefícios previdenciários. Ao contrário do que dizem os críticos, não se trata de corte ou congelamento, apenas de calibrar o ritmo de crescimento das despesas para que, paulatinamente, caibam no Orçamento. Outras ideias oportunas são a redução das emendas parlamentares e uma reforma administrativa que melhore a gestão e diminua o peso das despesas com pessoal”, escreve o editorialista.

Eleições 2026-3

Campos Neto, bolsonarista, tem interesse no enfraquecimento do governo Lula. Estimula as especulações contra a economia. Vive fazendo previsões alarmistas e sombrias, apesar do crescimento econômico, trazido o Brasil de volta à posição de oitava economia do mundo, reduzido o risco-Brasil, reduzido o desemprego, ampliado a renda dos brasileiros, atraído grandes investimentos e controlado a inflação.

Eleições 2026-4

O presidente Lula e o PT já deixaram claro que o ajuste não será feito no lombo dos mais pobres – o que desagrada a família Marinho. “As reações de partidários do governo são preocupantes. O PT divulgou comunicado em tom conspiratório, afirmando, contra todas as evidências e contra atos da própria equipe econômica, que inexiste crise fiscal. Nada mais distante da realidade. Lula tem o dever de transmitir sinais firmes de compromisso com o controle de gastos, do contrário a crise só se agravará”, aponta o editorialista. Fonte: Brasil 247.

Copom taxa Selic

A pressão do presidente Lula pela queda dos juros na véspera da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou a expectativa do mercado financeiro sobre o placar dos votos do colegiado do Banco Central. A principal aposta dos neoliberais continua sendo a de que o colegiado decidirá hoje, quarta, de forma unânime pela manutenção da taxa básica de juros (Selic) no atual patamar de 10,5% ao ano. Mas a possibilidade de novo racha no grupo ganhou força depois das declarações de Lula contra Roberto Campos Neto, informa o Painel da Folha de S.Paulo.

Lindbergh Farias

Lindbergh Farias O Brasil tem cerca de US$ 355 bilhões em reservas cambiais. Essas reservas, que foram construídas nos governos do PT, eliminaram o histórico problema da dívida externa brasileira e nos livraram do fardo dos ajustes do FMI. Lembram? Além disso, elas podem servir também para equilibrar o câmbio e para evitar ataques especulativos contra nossa moeda. O Banco Central tem atribuição para executar a política cambial, podendo atuar diretamente no mercado, comprando e vendendo moeda estrangeira e fazendo swap cambial, com o objetivo de conter movimentos desordenados e especulativos da taxa de câmbio. Ora, o dólar está subindo muito agora, de modo especulativo, sem que o BC faça nada. Por Lindbergh Farias, no X.

Pode piorar

Imagina como. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado debateu nesta terça-feira (18/6) a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 65/2023) que transforma o Banco Central (BC) em empresa pública com autonomia financeira e orçamentária, sob supervisão do Congresso Nacional. Na prática, isso aprofundaria a autonomia do órgão e o deixaria quase como um Poder separado. Atualmente, o BC é uma autarquia de natureza especial, responsável por executar as políticas definidas pelo Conselho Monetário Nacional. A tentativa de mudança na atuação do BC surge pouco tempo após a entrada em vigor da Lei Complementar 179/2021 que garantiu a autonomia operacional ao órgão, e em um cenário no qual o comportamento do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem sido criticado por sua gestão da política de juros no país e pela sua aproximação com grupos de oposição ao governo Lula. “Essa PEC é um primeiro passo para a possibilidade de voltarmos a um quadro de fragmentação fiscal”, advertiu o economista André Lara Resende, no debate.

Paulo Betti disse tudo

A crítica postada pelo ator Paulo Betti, numa rede social, reflete a verdade sobre alguns bolsominions que ainda não tiraram o véu da viuvez e ainda adoram o “mito” mesmo com todos os escândalos de um desgoverno sem precedente no Brasil. “Os bolsominions não são idiotas, idiotas são ineficazes. Eles são mau-caráter. Mentem , não têm ética nem moral, mas são eficazes!”. Paulo Betti

Proteção da mulher

O presidente Lula sancionou,  na segunda-feira (17), o Projeto de Lei 501/2019, que dispõe sobre a elaboração e a implementação de plano de metas para o enfrentamento integrado da violência contra a mulher, além de criar também a Rede Estadual de Enfrentamento da Violência contra a Mulher e a Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência.  A iniciativa vai reunir União, estados, municípios e o Distrito Federal em uma grande ação nacional para construção e implementação de medidas que buscam proteger a mulher vítima de violência doméstica e familiar.

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Para isso, o texto do PL prevê que a Rede Estadual de Enfrentamento da Violência contra a Mulher e a Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência serão compostas pelos órgãos públicos de segurança, de saúde, de justiça, de assistência social, de educação e de direitos humanos e por organizações da sociedade civil. Além disso, somente terão acesso aos recursos federais relacionados à segurança pública e aos direitos humanos os entes federativos que apresentarem regularmente seus planos de metas para o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Google e YouTube

 The Google logo is pictured at the entrance to the Google offices in LondonJustiça manda Google retirar postagens policiais que disseminam ódio. Medida liminar atinge conteúdos específicos de canais no YouTube. As postagens veiculadas por policiais que disseminam discursos de ódio em programas de podcast e videocast no YouTube estão suspensas por determinação da Justiça Federal. A decisão atendeu parcialmente a pedidos do Ministério Público Federal (MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU). A medida liminar atinge conteúdos específicos dos canais CopcastFala GlauberCafé com a Polícia e Danilsosnider.

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De acordo com a ação, as postagens configuram também abusos no direito à liberdade de expressão. Ao decidir pela suspensão, e não exclusão definitiva, dos conteúdos, a Justiça quer assegurar a tutela de direitos humanos sem comprometer a liberdade de expressão e a atividade econômica dos réus, mantendo a reversibilidade da decisão até o julgamento final. O procurador regional dos Direitos do Cidadão adjunto do MPF no Rio de Janeiro, Julio Araujo, classificou a medida como fundamental para combater esse tipo de postagem. “O estímulo à violência policial contido nesses vídeos estigmatiza a população negra, pobre e periférica, merecendo resposta do Estado e atuação da empresa que hospeda os canais”, avaliou.

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A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro também foi notificada para prestar informações sobre os procedimentos adotados para efetivar os termos da Instrução Normativa nº 0234/2023 (sobre o controle de postagens em redes sociais). O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro foi oficiado para que, no prazo de 15 dias, manifeste se tem interesse em compor o polo ativo da ação civil pública.

Chico Buarque 80 anos

Chico Buarque chega aos oitenta anos hoje, 19, e isso é motivo para parabenizá-lo. Mais ainda, é momento de nos felicitarmos e agradecer pela dádiva de sermos contemporâneos de um dos maiores e mais importantes artistas que esse país já gestou. Na sua inequívoca ausência de soberba, Chico Buarque “anda para frente arrastando a tradição” se renovando a cada nova canção, a cada novo livro. Como Mário de Andrade, Buarque (como diz Maria Bethânia), também é trezentos, trezentos e cinquenta ou até mais.

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A poesia e a prosa buarqueanas seriam outras se Chico não fosse o homem político que é, ou seja, um artista/homem em consonância com seu tempo. Estar sempre do lado certo da história o tornou muitas vezes o inimigo número um de determinados meios de comunicação, de políticos extremistas e idiotas em geral. Mas Chico nunca recuou, ao contrário, sempre avançou e se impôs enquanto artista e cidadão, pois bem sabe ele que “o artista que não consegue tomar partido deve se calar”. E assim, “Chico abraça a verdade, com dignidade contra a opressão” e segue “buarqueando com muito axé”, enquanto a mediocridade come poeira. Que se danem os liliputianos! “Eis o poeta feito de povo, que chega aos oitenta anos. Vida longa a Chico Buarque de Holanda e que ele nunca desista de nos resgatar”, diz Carlos Carvalho. (Brasil 247).

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Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

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Datafolha aponta maior aprovação de Lula e queda na rejeição

A avaliação considerada regular também alcançou 31% dos participantes da pesquisa

A aprovação do trabalho do presidente Lula chegou a 36% e se afastou da taxa de reprovação (31%), segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta terça (18). A avaliação positiva oscilou um ponto em relação ao levantamento anterior, realizado em março, quando o número era de 35%.

A avaliação negativa teve uma queda no período, passando de 33% para 31%, e a regular, de 30% para 31%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o que indica um cenário de estabilidade, mas mostra que a imagem do presidente teve uma melhora para a população.

O levantamento marca um ano e seis meses do terceiro mandato do presidente e mostra uma inversão na queda de popularidade, que vinha apresentando pioras desde o fim do ano passado.

Os grupos consideram Lula ótimo ou bom acima da média nacional são os mais pobres (42%), quem tem entre 45 e 49 anos (44%), mais velhos (47%), nordestinos (48%) e os menos instruídos (53%).

Os que mais veem o presidente como ruim ou péssimo são homens (35%), pessoas que possuem entre 25 e 34 anos (38%), com ensino superior (38%), evangélicos (44%) e quem recebe acima de 5 salários mínimos (45%).

O presidente Lula durante evento no Nordeste, onde tem alta taxa de aprovação. Foto: Reprodução

Em relação aos seus mandatos anteriores, o presidente tem uma aprovação semelhante à registrada nessa altura do governo em 2004: 35%. Sua reprovação na ocasião era bem menor (17%) e 45% da população o via como regular. Em maio de 2009, na sua segunda gestão, os números eram melhores: 69%, 6% e 24%, respectivamente.

A percepção sobre a economia também permaneceu estável nos últimos meses: 40% da população tem expectativa positiva sobre o tema, enquanto 28% acredita que a condição econômica do país deve piorar e 27% que tudo ficará igual. Em março, os números eram 39%, 27% e 32%, respectivamente.

Sobre os impactos na vida pessoal da gestão petista no período, 26% da população acredita que houve uma melhora, 21% que piorou e 52% que está tudo na mesma.

Fonte: DCM

Exemplos do Japão: conheça a história de Kana Harada, a única passageira de uma estação de trem que funcionou até a sua formatura

Em 2015, a empresa Japan Railways enfrentava a difícil decisão de fechar a estação Kyu-Shirataki, localizada no remoto norte do Japão, devido à falta de passageiros. No entanto, essa estação tinha um passageiro regular que mudou o rumo dessa decisão: Kana Harada, uma jovem estudante que dependia do trem para ir à escola.
Kana HaradaKana Harada usava o comboio diariamente para se deslocar até sua escola, uma rotina que se tornava um desafio sem a estação Kyu-Shirataki. Sem o trem, ela teria que enfrentar uma caminhada de 73 minutos para pegar um trem expresso na linha vizinha, o que tornaria sua jornada muito mais difícil.
Reconhecendo a importância do transporte para a educação e a vida de Kana, Japan Railways decidiu manter a estação Kyu-Shirataki aberta, apesar do baixo número de passageiros. Essa decisão destacou a dedicação do Japão em garantir que mesmo os serviços de transporte mais remotos continuem a funcionar em prol do bem-estar de seus cidadãos.
No dia 25 de março de 2016, aos 18 anos de idade, Kana Harada se formou no ensino médio e o propósito da estação também acabava

A história de Kana Harada e da estação Kyu-Shirataki ganhou notoriedade e tocou muitas pessoas ao redor do mundo, simbolizando o compromisso com a educação e a acessibilidade. Em 2016, Kana se formou, marcando o fim de uma era para a estação que havia servido fielmente à sua missão.

Com a formatura de Kana, a estação Kyu-Shirataki foi finalmente fechada. No entanto, a história permanece como um exemplo de como o transporte pode abrir portas para oportunidades e mudar vidas. A dedicação de uma comunidade para garantir que uma jovem estudante pudesse alcançar seus sonhos educacionais tornou-se uma inspiração para muitos.

Lula disputará a reeleição: “não vou permitir que esse país volte a ser governado por fascista”

Presidente afirmou que encontrou país “totalmente destruído”, comparando ao genocídio da Faixa de Gaza. “Se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem”.

O presidente Luis Inácio Lula da Silva encerrou a entrevista bombástica à CBN na manhã desta terça-feira (18) confirmando que vai disputar a reeleição em 2026 para evitar que “o país volte a ser governado por um fascista”, sem citar o nome de Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030, mas tem reiterado que pretende manobras para tentar reverter a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até às vésperas da próxima disputa eleitoral.

ASSISTA À INTEGRA:
Lula vai pra cima da Globo e Campos Neto: “tem lado político e trabalha para prejudicar o país”

Indagado por Milton Jung sobre o tema, Lula reafirmou que primeiro precisa cumprir o que “prometi ao povo brasileiro”. No entanto, o presidente emendou de forma enfática que, mesmo aos 80 anos, pretende entrar na disputa para barrar a extrema direita fascista.

“Quando chegar o momento de discutir tem muita gente boa pra ser candidato, eu não preciso ser candidato. Agora, presta atenção no que vou te falar, se for necessário ser candidato para evitar que os trogloditas que governaram esse país voltem, pode estar certo que os meus 80 anos virará em 40 e eu poderei ser candidato”, disse.

“Mas, não é a primeira hipótese. Nós vamos ter que pensar muito. Eu sei que vou estar com 80 anos, que vou ter que medir meu estado de saúde, minha resistência física, porque quero ter responsabilidade com o Brasil. Mas, não vou permitir que esse país volte a ser governado por um fascista, não vou permitir que esse país volte a ser governado por um negacionista como já tivemos. Esse país precisa de muita verdade para se transformar no país maravilhos que temos que construir”, afirmou ao encerrar a entrevista.

Antes, Lula afirmou que pegou o país “totalmente destruído, como se fosse a Faixa de Gaza”, comparando o governo Jair Bolsonaro (PL) com o genocídio praticado pelo sionista Benjamin Netanyahu, que governa Israel, no território palestino.

“Em 2022 pegamos o país praticamente destruído. Até hoje temos ministérios com 30% dos funcionários, por conta do que foi feito pelo governo anterior. É um desafio. Meu compromisso é fazer o Brasil crescer de maneira consistente e madura. Os salários e os empregos crescerem da mesma forma. E agora temos um governo mais preparado do que nos meus primeiros mandatos, com ministros que já foram governadores, senadores. E com isso já fizemos, nesses 16 meses, mais políticas de inclusão social do que nos 8 anos passados. Isso leva um tempo para chegar na ponta, mas chega”.

Revista Fórum

Coluna Zona Franca

Caso Marielle Franco

Maldito o homem que acredita no homem. Mais assustador são os pastores Marcos Feliciano(PL-SP) e Marcelo Crivela (Republicanos) votando a favor para soltar os mandantes do assassinato de Marielle. Agora diga, tem como confiar nestas pessoas que sempre usaram o púlpito das igrejas para falar de Deus? Sem contar a outra deputada pastora Flor-de-lis que já está presa e condenada por mandar matar seu próprio marido.

Caso Marielle Franco 2

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, na tarde desta terça-feira (18), o julgamento dos cinco suspeitos de envolvimento nos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Silva.  Serão julgados Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido), como mandantes do crime. Eles estão presos preventivamente desde março. A Primeira Turma do STF começa o julgamento às 14h30, com a leitura do relatório pelo ministro Alexandre de Moraes. Depois, a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por denunciar os nomes à Justiça, em maio deste ano, terá 15 minutos para defender os seus argumentos.

Paes tem 51%

No Rio de Janeiro o ex-presidente Bolsonaro pode esquecer o Ramagem, que foi lançado candidato  a prefeito na Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, comandada pelo bicheiro Rogério Andrade, sobrinho do ex-bicheiro Castor de Andrade. Vai dar Eduardo Paes (PSD) de novo. Paes tem o poio de Lula. 

Paes tem 51% 2

O atual prefeito do Rio de Janeiro, desponta com uma sólida vantagem na corrida pela reeleição, de acordo com a mais recente pesquisa eleitoral realizada pela Quaest, divulgada pela Folha de S. Paulo nesta terça-feira (18). Com 51% das intenções de voto, Paes está em uma posição que, se mantida, pode garantir sua vitória já no primeiro turno das eleições municipais. A pesquisa mostra que o segundo colocado, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), tem 11% das intenções de voto, empatado tecnicamente com o deputado federal Tarcísio Motta (Psol), que aparece com 8%. O deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil) e o deputado federal Marcelo Queiroz (PP) seguem mais distantes na disputa, com 4% e 2%, respectivamente. A pesquisa foi conduzida pela Quaest entre os dias 13 e 16 de junho, entrevistando 1.145 eleitores cariocas. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o número RJ-04459/2024 e financiado pela Genial Investimentos, corretora digital controlada pelo banco Genial.

Mbappe nota mil

Enquanto um outro jogador apoia privatização das praias, Mbappe se posiciona sobre a situação política na França, faz críticas à extrema direita e convoca jovens para votar nas eleições. “Quero falar ao povo de França. Os extremistas estão a tomar o poder. Apelo a todos os jovens para que votem e compreendam os nossos valores de tolerância. Somos cidadãos acima de tudo e não podemos estar desconectados”.

O médico e o monstro

“Iriam morrer de qualquer forma” é algo que o bom doutor Jekyll jamais diria. É coisa de mister Hyde

Ainda sobre a pandemia de Covid, o deputado federal de Rondônia, Fernando Máximo (União Brasil), provou que é bolsonarista raiz. Durante um depoimento à Polícia Federal sobre a compra de insumos para a Secretaria de Saúde de Rondônia, da qual foi secretário, o delegado perguntou sobre as pessoas que morreram de covid durante o atraso da entrega dos kits de teste rápido, Máximo disse: “Iriam morrer de qualquer forma…”. Além de serem entregues com atraso, os kits foram comprados com um superfaturamento de 40%, segundo a PF. As informações são do Blog Entrelinhas.

Bizarro

Em debate realizado no plenário do Senado Federal nesta segunda-feira (17), sob presidência do senador bolsonarista Eduardo Girão (Novo-CE), membros do Conselho Federal de Medicina (CFM) defenderam a proibição da realização de aborto após 22 semanas de gestão, mesmo nos casos permitidos por lei.  No início da sessão, foi apresentada uma performance que narrava supostas “súplicas” de bebês a ponto de serem abortados, com gritos, choros e expressões religiosas de condenação à prática do aborto. O senador Girão levou ao plenário réplicas de fetos e chegou a ser impedido pela direção da TV Senado de reproduzir imagens apelativas com o detalhamento do procedimento de interrupção da gravidez.

Bizarro 2

Convidado a subir na tribuna, presidente do CFM, José Hiran da Silva Gallo, fez uma defesa da resolução 2.378/2024, questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 1141), movida pelo Psol. Alexandre de Moraes, ministro da corte, suspendeu a resolução do conselho.

                                                      Bizarro 3

O curioso é que os contra o aborto em caso de estupro, são a favor de armas que matam crianças, inclusive em gestação, como ocorreu na semana passada em Imperatriz, no Maranhão. São contra vacinas para crianças. I-na-cre-di-tá-vel.

Péssimos influencers

Em Alagoas a operação Game Over apreendeu mais de R$ 38 milhões em bens de pelo menos quatro influenciadores alagoanos. Eles estão por trás de uma quadrilha que explora jogos virtuais como o ‘Fortune Tiger’, mais conhecido como ‘Jogo do Tigrinho’. Diversas pessoas foram vítimas de estelionato, depois de publicidades pagas a influenciadores digitais que promovem a plataforma. A investigação, que teve início há oito meses, resultou na operação que já identificou as pessoas ligadas à criação de conteúdo digital em Alagoas.

Péssimos influencers 2

Carlinhos Maia comprova: Diversão, Jogos Online e Prêmios Incríveis!O ‘Jogo do Tigrinho’ fez muitas vítimas em Maceió, dentre elas uma família vítima do vício. A avó de um rapaz gravou um vídeo e contou como o neto se endividou a ponto dela precisar vender a própria casa para tentar quitar o débito. “Meu neto perdeu tudo que a gente tinha com jogos de aposta online. Começou a jogar por incentivo de outras pessoas e começou a perder, perder e perder. Perdeu o carro, perdeu o dinheiro que eu tinha no banco, por fim deu golpe na empresa que trabalhava de R$ 200 mil. Minha casa valia mais de R$ 300 mil e vendi, entreguei pelo débito de R$ 200 mil. Nós perdemos tudo que tínhamos. Minha filha está sofrendo em depressão, eu estou muito doente. Minha neta, irmã dele, sofre convulsões todos os dias. Ele [o neto] está passando fome em outro estado. Minha família desmoronou e a família toda sofrendo por causa desse infeliz desse jogo”, disse bastante emocionada a senhora, que teve a identidade preservada.

Péssimos influencers 3

Deolane Bezerra, Mirella Santos, Gabriel Farias, Carlinhos Maia. O que estes conhecidos influenciadores têm em comum? Todos estão com os celulares apontado para jogos on line. Com seus mais de 26 milhões de seguidores e bilhões de visualizações em suas redes sociais, o comediante, ator e empresário Carlinhos Maia realiza frequentemente postagens contando em suas mídias sociais como acumula prêmios e ganhos com jogos on line. Inclusive ‘Jogo do Tigrinho’ . Confrontado, ele diz que estão usando a imagem dele ilegalmente.

Patrulha Verde

Está sendo lançada a ong Patrulha Verde que tem entre os objetivos a proteção da Amazônia, do meio ambiente, da natureza, em especial dos povos indígenas. Em breve mais detalhes.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

A coluna é diária e conta com informações do G1, Globo, R7, CNN, Folha de S. Paulo, Brasil 247, DCM, Brasil de Fato, dentre outros.

Informações para a coluna:  rkuppe@gmail.com

Presidente do CFM diz que “autonomia da mulher” tem que ser limitada quanto ao aborto

“A autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever de proteger a vida de qualquer um, mesmo ser humano formado por 22 semanas”, afirmou José Gallo durante sessão no Senado

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran da Silva Gallo, afirmou que a “autonomia da mulher” deve ser limitada ao se tratar da assistolia fetal, como é chamado o aborto legal após a 22ª semana de gestação resultada de um estupro. “A autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever constitucional imposto a todos nós, de proteger a vida de qualquer um, mesmo ser humano formado por 22 semanas”, disse.

A fala do presidente do CMF foi realizada nesta segunda-feira (17) durante uma sessão no Senado Federal, onde movimentos e políticos antiaborto discutiram o procedimento de assistolia. Para Gallo, com 22 semanas de gestação “já não se trata de um feto, mas de um ser humano formado” e, por isso, já há “viabilidade fetal”.

José Gallo finalizou o discurso – que durou cerca de 20 minutos – apontando o que ele considera como “banalização da vida”: “Não posso esconder minha surpresa com a banalização da vida a que estamos sendo expostos na sociedade contemporânea de um modo sistemático. Me pergunto o que houve em nossa caminhada enquanto humanidade. Qual o desvio que tomamos em nossa rota, tornando insensíveis à necessidade suprema de proteger a dignidade e a vida?”

Raphael Câmara Medeiros Parente, relator da resolução de abril do CFM que proibia a realização do procedimento,   reafirmou o comparativo do aborto ao crime de homicídio e disse que “não existe aborto legal”. Raphael representou autarquia na Comissão Nacional de Mortalidade Materna, participa da Câmara Técnica de Reprodução Assistida e coordena Núcleo Executivo da Comissão de Humanidades Médicas do Conselho Federal de Medicina.

“Não existe o tema aborto legal. É aborto com excludente de punibilidade. Seria que nem falar em homicídio legal. Mas em: existem situações em que se pode matar. Todo aborto é crime, mas alguns crimes não são punidos pela lei”, disse Raphael.

O CFM e o Supremo Tribunal Federal (STF) discordam quanto à realização da assistolia fetal. O ministro Alexandre de Moraes suspendeu a resolução que impedia o procedimento e afirmou que o Conselho Federal de Medicina “se distancia de padrões científicos pela comunidade internacional” e que a decisão ultrapassava os limites de poder do órgão.

Fonte: Metro I

O PL dos estupradores

Por FLÁVIA BIROLI*

Perversidades e retrocessos na agenda do aborto

1.

Desde 1940, as mulheres brasileiras podem legalmente realizar um aborto quando a gestação resulta de estupro ou se há riscos de que morram devido a problemas gestacionais. São duas situações extremas, que foram tacitamente aceitas por muito tempo, embora o acesso ao aborto legal tenha sido sempre difícil no país. Em 2012, passamos a ter uma terceira exceção à criminalização, a anencefalia fetal, caso também extremo em que não há possibilidade de vida fora do útero.

Também nos anos 2000, no primeiro ciclo de governos do PT, a Norma Técnica Atenção Humanizada ao Aborto, do Ministério da Saúde (2005 e 2014), apontava para uma orientação estatal alinhada à legislação existente, procurando garantir atendimento às mulheres que decidissem abortar nos casos permitidos por lei.

É essa regulação, tímida e insuficiente, que tem sido atacada por aqueles que entendem que a mulher deveria ser obrigada pelo Estado a manter a gestação contra sua vontade. O instrumento mais recente é o PL 1904/2024, proposto e sustentado, em particular, por parlamentares da extrema direita brasileira. Há poucos anos, em 2015, mulheres foram às ruas de todo o país contra outro projeto, o PL 5069/2013, proposto pelo então deputado Eduardo Cunha em conjunto com outros parlamentares evangélicos e católicos. Eles também tinham como objetivo dificultar e restringir o acesso de mulheres que sofreram estupro ao aborto legal.

O PL 1904/2024 prevê pena de até 20 anos de prisão para mulheres que abortem a partir de 22 semanas de gestação. Os casos em que se chega a essas 22 semanas são, comumente, o de crianças que foram estupradas e não têm experiência para reconhecer o que está acontecendo no seu corpo. Ou têm medo de contar a alguém, já que, segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a maior parte dos abusos acontece em casa e é cometida por familiares ou conhecidos. Estamos falando de uma redução radical do direito ao aborto, já que um terço dos abortos legais ocorrem nessa fase da gestação.

Outro caso em que o PL poderia incidir brutalmente, a depender do texto final que seja votado, é o de mulheres que correm risco de morrer se prosseguirem na gestação. As que têm mais tardiamente diagnósticos de risco são justamente aquelas para quem o acesso ao sistema de saúde é precário ou lento. Mulheres pobres, negras, que vivem em áreas rurais ou áreas urbanas com difícil acesso a atendimento. São, muitas delas, mães que estão apavoradas com a possibilidade de deixar órfãos os filhos que já têm, as pessoas que amam. Os parlamentares que defendem o PL 1904/2024 estão determinando que, a partir de 22 semanas de gestação, essas mulheres teriam que escolher entre morrer ou ser presas.

As manifestações e debates suscitados em 2015 e, neste momento, contra o PL 1904/2024, apelidado de “PL dos estupradores”, mostram que há disposição de mulheres de diferentes idades para lutar contra decisões arbitrárias que comprometem sua saúde, sua integridade física e mental, sua condição de cidadãs plenas. Também representaram um processo de construção coletiva e aprendizado. Os protestos de 2015 foram importantes para manifestações políticas que vieram depois, como o “#ForaCunha!” e o “#EleNão!”. Em todos os casos, está presente a denúncia de que há relação entre os ataques às mulheres, a expansão de posições violentas no campo da direita e a erosão da democracia.

2.

A expansão do direito ao aborto na região, assim como os ataques a esses direitos, são uma janela para a compreensão das disputas em torno dos sentidos e do escopo da democracia. As demandas dos movimentos feministas têm historicamente pressionado pela democratização do Estado e da sociedade. E têm sido um dos alvos dos movimentos que atuam para restringir as democracias e normalizar formas autoritárias e abertamente excludentes de gestão dos conflitos políticos e sociais.

As estratégias para restringir o aborto legal e criminalizar as mulheres se acentuaram com a descriminalização do aborto em alguns países, nos anos recentes – no Uruguai (2012), na Argentina (2021), no México (2021) e na Colômbia (2022), além da definição de novas exceções à criminalização, desde 2007, no Brasil, na Bolívia, no Chile, no Equador e no Panamá, de acordo com dados do Observatório da Igualdade de Gênero da Cepal e da Human Rights Watch.

No mesmo período, alguns países nos quais as leis são altamente restritivas permaneceram estagnados (Honduras, Paraguai e Peru) ou ampliaram a criminalização, por mudanças nas leis (Nicarágua e República Dominicana) ou persecução penal mais rigorosa a mulheres que abortam (El Salvador). Em alguns deles, o processo de erosão das democracias e construção de um estado penalista autoritário tem sido acentuado.

3.

A extrema direita brasileira não esconde sua hostilidade aos feminismos e a outros movimentos de luta pelos direitos humanos e a coloca no centro de suas investidas contra a democracia. Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-22), ativistas contrários ao aborto ocuparam cargos em ministérios chave para as políticas de gênero, como o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e o Ministério da Saúde. Dessa posição, atuaram para restringir o acesso de meninas e mulheres ao aborto legal.

A ministra Damares Alves se envolveu pessoalmente na tentativa de impedir que uma criança de 10 anos, violada pelo tio no Espírito Santo, tivesse acesso ao aborto nos termos definidos pelo Código Penal desde 1940. Em 2022, o secretário de atenção primária à saúde, hoje um dos atores que têm orientado a política do Conselho Federal de Medicina contra os direitos das mulheres, elaborou uma cartilha para gestantes que ignorava a legislação brasileira, afirmando que “todo aborto é crime” e que os casos de aborto previstos em lei deveriam ser acompanhados por investigação policial.

Denúncias dos movimentos feministas e de direitos humanos levaram a uma revisão da cartilha, mas a orientação de limitar o acesso e tornar mulheres e agentes de saúde objeto de desconfiança e potencial penalização segue sendo ativada pela extrema-direita no Congresso, nos conselhos de medicina e em algumas instâncias do Judiciário.

Assim, o esforço para limitar o acesso ao aborto legal e criminalizar as mulheres que desejam interromper a gestação, com foco nos casos previstos por lei, dá a tônica das disputas atuais: mantém os movimentos feministas e de direitos humanos numa posição em que a luta é por garantir o pouco que já temos, em vez de expandir um direito fundamental à cidadania de meninas e mulheres.

A política da perversidade de parlamentares e médicos que querem impedir que meninas e mulheres abortem está na contramão de valores humanitários. Muitos desses parlamentares, médicos e juristas radicalizados, escondem sua desumanidade sob a ideia de crença. Mas renegam os sentidos de solidariedade e empatia compartilhados por diferentes religiões e filosofias seculares. Seu cálculo político e seu fanatismo os impedem de reconhecer o sofrimento de mulheres e meninas, mas, principalmente, impedem que se orientem pela proteção à dignidade humana.

É razoável impor a maternidade a crianças a quem a sociedade não foi capaz de proteger? Em que tipo de sociedade é legítimo tratar uma mulher estuprada com penalidades mais duras que a do estuprador? Em que contexto de exercício de poder pode ser normalizada a ideia de que uma mulher deve morrer ou ir para a cadeia se a gestação é de risco, mesmo havendo lei que prevê que ela teria acesso ao aborto nesse caso?

Não acredito no diálogo com quem lidera o caminho para a barbárie. Mas há muitos outros, inclusive religiosos, no nosso cotidiano e no Congresso nacional a quem pode ser importante perguntar: você pactua com uma norma que obriga crianças estupradas a serem mães?

*Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da UnB. Autora, entre outros livros, de Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil (Boitempo).

Publicado originalmente no blog da Boitempo.

Evento bolsonarista em Rondônia flopa, mesmo com anúncio de presenças de Nikolas Ferreira, Magno Malta e Hélio Negão

O primeiro dia do III Simpósio Jurídico Desafios do Estado Pós – Moderno com o tema Direitos e Garantias Fundamentais, na tarde desta segunda- feira, 17, no Teatro Palácio das Artes em Porto Velho (RO), flopou, não deu ninguém. Só uns gatos pingados. O evento cancelado era destinado a estudantes de Direito e advogados.

Segundo uma fonte do A Democracia, os estudantes de Direito e os advogados não quiseram comparecer ao evento porque não iam discutir a pós-modernidade no momento em que se está voltando à “época medieval com parte da classe política e a população misturando política e religião,  defendendo a transformação do Estado-laico Brasil em Estado-Teocrático“.  Além de usarem o nome de Deus para pedir a volta dos Militares ao Poder.

A primeira temática abordada foi  Liberdade de Expressão e a Cultura do Cancelamento com a participação do deputado federal Helio Lopes (PL – RJ) e da pré-candidata a prefeita de Porto Velho, ex-juíza de Euma Tourinho (MDB-RO).

 O evento encerra amanhã, terça – feira, 18, tendo como última discussão O Papel do Judiciário na Defesa da Democracia e no Combate à Desinformação, prometendo as presenças do senador Magno Malta (PL- ES) e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL- MG), que participará de forma remota e não presencial como informa um video confirmando a presença física do deputado. Ou seja, o evento sobre Desinformação, faz jus e mereceu ser cancelado pelos estudantes de direito e advogados de Rondônia.

 

 

 

 

Fotos: Herbert Lins

Texto: RK

Um Estado forte para uma democracia forte

Por LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA*

Há de se resistir às pressões do neoliberalismo e de seu bebê maligno: o nacional-populismo de direita

Para as sociedades capitalistas, o paradigma desejável e possível é o de um Estado forte, capaz, para uma democracia igualmente forte. A ideia de um Estado forte parece estar em contradição com uma democracia forte, mas não é isso o que mostra a realidade. A Suiça e a Finlândia são exemplos de países nos quais esse ideal está próximo de ser alcançado, mas esta afirmação requer definir o que é uma democracia forte e um Estado capaz.

O Estado é o sistema constitucional-legal e a organização que o garante, enquanto o Estado-nação é a sociedade político-territorial soberana formada por uma nação, um Estado e um território. Um Estado é capaz quando a Constituição e demais leis do país são cumpridas. Algo que não depende apenas do poder de polícia do Estado, mas também e principalmente da coesão da sociedade em torno do Estado.

Em outras palavras, depende de toda a sociedade entender que a lei é necessária para a vida da sociedade, e de que cada cidadão considere seu dever denunciar aqueles que agem contra ela. Ao agir assim, ele não será um “dedo-duro”, mas um cidadão que cumpre o seu dever. No plano econômico, é capaz o Estado que tem o poder efetivo de tributar – de aumentar impostos quando isto é necessário para assegurar o equilíbrio fiscal.

A nação é a forma de sociedade de cada Estado; ela compartilha uma origem, uma história e objetivos comuns, estes explícitos ou implícitos no sistema jurídico. Uma “boa” sociedade é aquela que é relativamente coesa. Nunca é plenamente coesa, porque há a luta de classes e um número infinito de conflitos entre os cidadãos, mas esta luta ou estes conflitos não são radicais, não implicam uma relação de vida ou morte – e, portanto, podem coexistir com uma nação ou uma sociedade civil (outro nome da sociedade de cada Estado) relativamente coesa.

A democracia forte, por sua vez, é a democracia consolidada. É a democracia existente em um país ou Estado-nação que completou sua revolução capitalista – já formou seu Estado-nação e realizou a sua revolução industrial. E, por isso, a nova classe dominante burguesa já não precisa do controle direto do Estado para se apropriar do excedente econômico (ela pode realizá-lo no mercado através do lucro).

É o regime político no qual as novas e amplas classe média e classe trabalhadora que nasceram da revolução capitalista preferem a democracia. Na prática, uma democracia forte é aquela que soube resistir às pressões antidemocráticas do neoliberalismo e, depois, do seu bebê maligno – o nacional-populismo de direita.

Embora a democracia seja o melhor regime político para um país que completou sua revolução capitalista, essa mesma democracia enfraquecerá o Estado dos países que ainda não a realizaram. E poderá igualmente enfraquecer os Estados de países de renda média, que já realizaram sua revolução capitalista, como é o caso do Brasil, ao ser essa democracia caracterizada por uma polarização que a torna incapaz de fazer compromissos necessários para realizar as reformas institucionais. O império sabe disso, e usa a democracia para garantir a sua dominação sobre os países da periferia do capitalismo.

A prioridade dos países de renda média é, portanto, fortalecer o seu Estado, porque assim estarão fortalecendo sua democracia; é tornar sua nação mais coesa; é livrá-la do conflito entre os liberais que se submetem ao império e os que buscam soluções nacionais para os problemas.

Não existe um caminho claro para alcançar maior coesão nacional. Porém, o simples fato de as elites sociais – não apenas as econômicas, mas também as políticas, intelectuais e organizacionais – saberem da necessidade dessa maior coesão já é um passo nessa direção.

O Brasil é um “Estado-nação-quase-estagnado” há 44 anos, cresce mais lentamente que os países ricos e mesmo que as demais nações em desenvolvimento – não realiza, portanto, o esperado alcançamento (“catching up“). Precisa, portanto, dramaticamente fortalecer a sua nação e o seu Estado para deixar de ficar para trás – como tem ficado neste quase meio século.

*Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e ex-ministro da Fazenda. Autor, entre outros livros, de Em busca do desenvolvimento perdido: um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil (Editora FGV).

Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.

Coluna Zona Franca

Por Roberto Kuppê (*)

2026 já começou

O processo sucessório de 2026 já começou. A oposição está no ataque, com a (mesma) mídia de cúmplice. Tudo lembra a campanha difamatória contra Dilma, a prisão de Lula e a ascensão do negacionismo. Desta vez, está claro e cristalino. O ungido do mercado é o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), cujo nome o ex-presidente Jair Bolsonaro já abraçou. Não tem outra opção mesmo. No máximo Bolsonaro indicará um dos filhos como vice.

E o Pablo Marçal, hein?

Não subestimem o outsider Pablo Marçal (PRTB-SP). Ele poderá ser o próximo prefeito de S Paulo. Se está ruim, pode piorar. Marçal está aí para provar que sim. Ele é dono de um canal no Youtube com mais de 2 milhões de inscritos (além de 4,7 milhões seguidores em sua conta no Instagram), no qual compartilha uma série de vídeos sobre “Inteligência Emocional”. Marçal se apresenta com uma extensa lista de credenciais: cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios, especialista em branding, e jurista por formação. A popularidade não é recente. Cristão fervoroso e protagonista de uma longa trajetória como coach, ele foi eleito deputado federal por São Paulo em 2022, mas não chegou a assumir o cargo depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspender o registro da candidatura.

E o Pablo Marçal, hein? 2

Posa de bilionário, de empresário de sucesso, mas, segundo a última declaração de bens no imposto de renda dele, publicada pelo TSE por ocasião de sua candidatura indefirida a presidente, em 2022, ele declarou um patrimônio de R$ 16,9 milhões, porém, para deputado federal declarou no mesmo ano, 2022, um patrimônio total de 88 milhões de reais. Veja aqui. Na relação de bens não consta nenhum helicóptero e nenhum jatinho que afirma possuir, mas diz que possui participações societárias (sem detalhar) no valor de 80 milhões de reais. Com certeza, ou está superestimando seu patrimônio ou sonegando impostos.

E o Pablo Marçal, hein? 3

Pablo Marçal navega no mesmo nicho de votos de Bolsonaro e é um ameaça real ao bolsonarismo. Em nada atinge, porém, a pré-candidatura do esquerdista Guilherme Boulos (PSOL). Quem vota na esquerda, não vota na direita. Os votos de Boulos são indevassáveis e intransferíveis. Já os votos de Bolsonaro, sim. São volúveis e sujeitos mudanças de acordo com o humor dos seus eleitores. No momento, Marçal tenta apoio de Bolsonaro, mas ele quer distância dele, sob pena de lá na frente se arrepender. Por isso, vai até o fim com o prefeito Ricardo Nunes (PMDB). O problema é que Marçal tem tudo para chegar no segundo turno com Boulos. Ai sim, o coach passa a ser um problema também para Guilherme Boulos.

E o Pablo Marçal, hein? 4

De uma coisa este colunista está convicto, Ricardo Nunes não se reelege. E se Pablo Marçal se eleger prefeito da cidade de São Paulo, o que não é impossível, o atual governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos)  terá suas pretenções futuras ameaçadas. Do jeito que Marçal é doido, se se eleger prefeito, vai tentar a presidência da República.

Emboulos

O juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, da 2ª Zona Eleitoral de São Paulo, julgou improcedente, nesta sexta-feira (14), o pedido feito pelo MDB, partido do prefeito Ricardo Nunes, contra um jornal chamado “SP Urgente”, produzido pelo PT e pelo PSOL com críticas à atual administração municipal.  Na primeira decisão, a Justiça tinha determinado que a distribuição do panfleto fosse interrompida; Já na sentença desta sexta, o magistrado afirmou que a distribuição do jornal não configura propaganda eleitoral antecipada e concluiu que a publicação apenas reproduz notícias já veiculadas pela imprensa sobre irregularidades cometidas pela gestão Nunes.

                                                          A lista

Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Kim Kataguiri (União Brasil), Marina Helena (Novo), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB), são alguns dos principais nomes que disputarão a refeitura de São Paulo. Apesar de convenções partidárias – que acontecem entre 20 de julho e 5 de agosto – serem a data para o lançamento das candidaturas oficiais para a prefeitura de São Paulo, as movimentações dos pré-candidatos já tiveram início. Entre alfinetadas, campanha antecipada, os principais nomes da corrida já possuem alianças, bandeiras e polêmicas.

Raio-X dos principais pré-candidatos

 

Confira, a seguir, o raio-x dos primeiros colocados segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha em ordem alfabética:

Guilherme Boulos

É a segunda vez que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) concorre ao cargo de prefeito da cidade de São Paulo. Em 2020, ele chegou ao segundo turno, mas perdeu para Bruno Covas (PSDB). Em 2024, segundo a última pesquisa Datafolha, Boulos possui a maior porcentagem de votos, com 24%, e está tecnicamente empatado com Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito da capital. Alianças: PSOL, PT, Rede, PCdoB, PV, PDT e PMB Vice-prefeita: Marta Suplicy Bandeiras defendidas: ligado à esquerda, Boulos coloca a luta pela moradia como a proposta da sua carreira. Ele é parte do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

José Luiz Datena

O apresentador José Luiz Datena deixa o PSB e se filia ao PSDB em evento em SP — Foto: Reprodução/TV Globo

José Luiz Datena (PSDB) é jornalista, ex-radialista e atual apresentador de programas policiais no canal da Rede Bandeirantes. Na política, já se filiou a 12 partidos desde 1992 e, nos últimos anos, desistiu quatro vezes da corrida eleitoral para cargos eletivos em São Paulo. Bandeiras defendidas: Seu ingresso na política se deu em 1992, quando entrou no PT, partido identificado com a esquerda, onde ficou por 23 anos. Em 2015, migrou para o Partido Progressista (PP), mais voltado para a centro-direita. Dali em diante, Datena flutuou entre a centro-direita e a centro-esquerda até que se filiou ao PSDB para as eleições deste ano. Em suas redes sociais e em seu programa na TV aberta, o apresentador se mostra preocupado, majoritariamente, com questões de segurança pública.

Kim Kataguiri

 

Kim Kataguiri dicursa no plenário da Câmara, em imagem de arquivo — Foto: Cleia Viana/ Câmara dos Deputados

Kim Kataguiri (União Brasil) é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL) e deputado federal reeleito em 2022. Além da carreira política, ele escreveu três livros: “Manual de Debate Político: Como Vencer Discussões Políticas na Mesa do Bar”; “Puxa Conversa Política: 100 perguntas para falar de sociedade, poder e governo”; e “Como um grupo de desajustados derrubou a presidente: MBL: A origem”. Vice-prefeito: não definido Bandeiras defendidas: Através do MBL e do partido União Brasil, Kataguiri se configura à direita do diagrama político. Em geral, defende ideias e propostas voltadas ao liberalismo econômico, à privatização e à redução de impostos. O MBL também é a favor do voto não obrigatório.

Marina Helena 

Marina Helena, pré-candidata do Novo à Prefeitura de SP — Foto: Reprodução/TV GloboMarina Helena (Novo), é economista com mestrado pela Universidade de Brasília (UNB). Foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia a convite do então ministro Paulo Guedes, durante o governo de Jair Bolsonaro. Em 2022, ela recebeu 50.073 votos para deputada federal e é primeira-suplente por São Paulo. Marina Helena também já foi dirigente nacional do Partido Novo. Vice-prefeito: não definido Bandeiras defendidas: Ela se classfica como sendo de direita, é a favor de privatizações e é aliada de Bolsonaro. Entre seus objetivos à frente da Prefeitura de São Paulo, caso seja eleita, está o de aumentar o orçamento da segurança pública na capital em 300% e dobrar o número de agentes da GCM.

Pablo Marçal

Pré-candidato Pablo Marçal durante Coletiva — Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo

Pré-candidato Pablo Marçal durante Coletiva — Foto: Ton Molina/Estadão Conteúdo

Pablo Marçal (PRTB) é produtor de conteúdo e empresário e esta é segunda vez que tenta se candidatar. Em 2022, ainda pelo PROS, ele tentou concorrer à Presidência da República, mas, devido a disputas políticas dentro do partido, pelo comando da legenda, ele não conseguiu levar a candidatura adiante e se lançou deputado federal pelo estado de SP. Na época, o empresário obteve 243.037 votos e chegou a ser eleito para uma cadeira na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas ele concorreu ao cargo sub judice, porque se inscreveu para o pleito já fora do período e com falta de documentos estipulados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP). Bandeiras defendidas: Pablo Marçal se coloca alinhado às ideias do ex-prefeito e ex-governador João Doria, identificadas mais com a centro-direita.

Ricardo Nunes (MDB)

Prefeito Ricardo Nunes em evento na prefeitura — Foto: Aline Freitas/g1

Prefeito Ricardo Nunes em evento na prefeitura — Foto: Aline Freitas/g1

Atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB) vai disputar a reeleição. Ele assumiu o cargo após a morte de Bruno Covas, em 2021. Segundo pesquisa do Datafolha, 26% da população da capital aprova o seu governo e 25% o reprova. Ainda segundo o instituto, Nunes tem 23% de intenções de voto em São Paulo e está empatado tecnicamente com Boulos (PSOL). Alianças: MDB, PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, Avante, Podemos, PRD e Mobiliza Vice-prefeito: não definido. Bandeiras defendidas: Nunes, que se classifica como um candidato centrista, se vê hoje mais voltado para a direita, diante da polarização com Boulos. “A gente representa o que a maioria da cidade é e gosta: uma posição de centro, de direita, que olha por todos”, disse em sabatina no canal MyNews.

Tabata Amaral (PSB)

Deputada Tabata Amaral (PSB - SP) no plenário, em 06 de março de 2024 — Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Deputada Tabata Amaral (PSB – SP) no plenário, em 06 de março de 2024 — Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Tabata Amaral é formada em ciências políticas pelo Departamento de Governo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e é deputada federal pelo PSB.

Em 2018, quando era filiada ao PDT, recebeu 264 mil votos, sendo a sexta deputada federal mais votada daquela eleição. Em 2022, foi reeleita deputada federal pelo PSB com mais apoio: 337.873 votos. Alianças: Apenas seu partido, o PSB. Vice-prefeito: não definido. Bandeiras defendidas: Tabata entrou na política para defender a educação, muito baseada em sua trajetória como bolsista em um colégio de elite e estudante de Harvard, nos Estados Unidos, considerada uma das melhores universidades do mundo. Os dois partidos aos quais já foi filiada – PDT e PSB – se denominam como centro-esquerda. A deputada, contudo, já foi contrária a ideias mais identificados com a esquerda durante a votação da reforma da Previdência e, por isso, foi criticada por eleitores e outros políticos. Fonte G1.

 

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

A coluna é diária e conta com informações do G1, Globo, R7, CNN, Folha de S. Paulo, Brasil 247, DCM, Brasil de Fato, dentre outros.

Informações para a coluna:  rkuppe@gmail.com

A armadilha de Volodymyr Zelensky

Por HUGO DIONÍSIO

Quer Zelensky consiga o seu copo cheio – a entrada dos EUA na guerra – ou seu copo meio cheio – a entrada da Europa na guerra –, qualquer das soluções é devastadora para as nossas vidas

A Ucrânia de Stepan Bandera, que tem privatizado, de forma absolutamente furiosa, as propriedades estatais que ainda lhe restam e lhe foram deixadas pela Rússia e URSS, já tem grande parte das suas valiosas terras negras nas mãos da Blackrock, Monsanto e de outros interesses norte americanos. A estas se juntam interesses energéticos, mineiros, agro-industriais e imobiliários.

Agora, para financiar o esforço de guerra, o ilegítimo Volodymyr Zelensky, que atualmente usurpa o lugar de presidente (já percebo aquele beijo de Von der Leyen, os usurpadores reconhecem-se mutuamente), prepara-se para vender o que ainda lhe resta. As receitas do FMI, e dos acordos financeiros com a União Europeia, assim o exigem e os negócios em causa constituem, em alguns casos, importantes monopólios naturais.

Sabemos quem mais vai lucrar com a compra destes bens estatais. Os EUA ficam com a melhor fatia, mas o Reino Unido, Alemanha, França, por esta ordem, também ficarão com a sua parte. Se o Hotel Ucrânia é o mais famoso bem de todos os anunciados neste novo pacote, segue-se uma lista, que o próprio regime de Kiev diz ser uma “large privatization”. Empresas energéticas, Porto de Odessa, sector mineiro, destilarias, fábrica de maquinaria pesada como locomotivas…

O mais grave disto tudo, o mais trágico para todos nós, é que a venda do país aos interesses dos EUA e do ocidente não é inocente e está muito para além de um simples ato de corrupção ou entrega do país aos interesses estrangeiros. Consciente ou inconscientemente, a aquisição de grandes e lucrativas propriedades, pelas grandes corporações ocidentais, constitui um passo importantíssimo para o agravamento do conflito e que julgo passar ao lado de muito boa gente, normalmente concentrada na vertente especificamente militar.

Nestes casos, a vertente militar não mais é do que o pico do iceberg, que esconde toda a complexidade de relações econômicas que, na base, constituem a razão de ser de tudo o que se passa. O recurso ao militar acontece quando as relações na base se tornam inconciliáveis.

Volodymyr Zelensky, certamente ciente de que a guerra só se ganha com a entrada direta dos EUA, nem que tenhamos todos nós de perdê-la (nas guerras todos perdem) para ele a ganhar, à medida que entrega o seu país às oligarquias que sustentam o aparelho político norte-americano, saberá da importância que tem o domínio das propriedades ucranianas, por aqueles poderosos interesses. Que melhor forma de proteger o acesso ao mar negro, se não entregando o Porto de Odessa aos interesses ocidentais?

A história diz-nos que os interesses corporativos ocidentais, em especial os norte-americano, protegem os seus bens, nem que, para tal, tenham de invadir países e ocupá-los. Neste sentido, Volodymyr Zelensky, sabe que, quanto maior o domínio das corporações americanas na Ucrânia, maior é a probabilidade de agravamento do conflito e de entrada direta dos EUA.

Intencional ou coincidentemente, está em causa um desenvolvimento que, potencialmente, pode atrair os próprios EUA para uma espécie de “armadilha”, conduzidos pela cobiça por dinheiro fácil, do estado e do povo, que caracteriza as corporações imperialistas. Diria mesmo que esta é a história norte-americana no que toca às suas intervenções militares. O seu povo é conduzido, pelos interesses econômicos, para “armadilhas” montadas por, e em prol desses mesmos interesses, que envolvem e tornam o estado dependente de guerras reais e potenciais. As famosas guerras eternas.

Já as antigas Companhias das Índias, dos Países Baixos, Portugal ou Inglaterra, detinham, inclusive, exércitos privados para defenderem os seus ativos nas colônias. Nos EUA, como noutras potências capitalistas, a defesa desses interesses está acometida aos respectivos complexos militar-industriais, bem como às empresas privadas de recrutamento militar (as PMC).

As potências imperialistas, ao longo da história, intervêm militarmente nos locais onde estão ameaçados os seus interesses monopolistas. O que considero descabido é que esta apropriação da propriedade ucraniana, pelo ocidente, não seja reconhecida como um dos mais importantes fatores que influenciam a escalada militar. Todos olham para a parada e resposta das armas, mas poucos olham para as relações materiais subjacentes, as quais, deixam sem saída política, os líderes de ambos os países, que não seja a defesa dos interesses que, em cada momento, se manifestam, mais ou menos sub-repticiamente.

Contudo, no meio disto tudo, existem forças mais poderosas que se movem no sentido contrário aos interesses de Volodymyr Zelensky e do seu gangue da Galícia. Esta guerra nasceu como proxy (por procuração) e, para os EUA, em princípio assim terá de morrer. A batalha decisiva, pela manutenção da hegemonia do sistema imperialista norte americano, joga-se no pacífico. O desafio chinês obriga a concentração exclusiva e isto leva o próprio partido democrata a exigir do seu representante no Médio-Oriente, Israel, uma atitude diferente e mais conciliadora, de forma a que o conflito não se estenda para lá do desejável. Que o consiga, tenho dúvidas, mas, pelo menos, tenta-o.

Os EUA, estando plenamente conscientes da “armadilha” montada por Volodymyr Zelensky, não deixam de aproveitar o ganho, mas, é aos países europeus que foi reservada a defesa dos seus interesses corporativos e militares na Ucrânia. Enquadrando tais interesses no que Antony Blinken refere como “área de segurança transatlântica”, tal classificação, do meu ponto de vista, não arrasta os EUA para o conflito. Arrasta, isso sim, a própria OTAN e, em especial, a Europa. Como já foi sublinhado inúmeras vezes, é a Europa quem tem de arcar com a maior fatia de esforço.

Este esforço será pago com mais armas, dinheiro, vindo este dos 300 mil milhões de euros congelados que Joe Biden na cúpula do G7 não deixará de entregar à Ucrânia. Estando tais reservas, sobretudo, em bancos europeus, adivinhem que moeda e que sector financeiro entrará em colapso, após este confisco? Para já a Arábia Saudita deixou caducar, no dia 9 de Junho, o acordo que mantinha com os EUA, para a venda exclusiva de petróleo em Dólares (o acordo Petrodólar).

Mas, durante muito tempo ainda, os EUA usufruirão do estatuto de moeda de reserva. Já o Euro e a Libra Esterlina não se podem gabar do mesmo e quando os países do sul global acelerarem a retirada, já em marcha, das reservas depositadas em bancos europeus, é que veremos.

Destes fatores resulta outro movimento que se afirma em contradição com os interesses do regime de Kiev. Esta tensão entre “interesses dos povos europeus” e “interesses corporativos” dos EUA, ameaça destruir a democracia restante de muitos países europeus e partir nações inteiras. As últimas eleições para o Parlamento Europeu são já um resultado disso mesmo. França, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, assistiram a resultados importantes, que representam, sobretudo, a ansiedade popular pela normalização das suas vidas. Trabalhadores, agricultores, pequenos empresários, estão fartos de instabilidade, austeridade e pessimismo. Aos povos europeus foi-lhes subtraída a esperança de uma vida melhor.

Os mesmos que subtraíram e negam, todos os dias, tal esperança, são quem acusa de movimentos “populistas”, “extremistas”, “radicais”, todos os partidos que se opõem ao belicismo do designado “centro político”. A cada um que atira com a palavra “paz”, eles respondem com a acusação de “putinista”; a cada um que atira com a máxima de que “nem mais uma bala para alimentar o conflito ucraniano”, respondem com um contundente “agente do Kremlin”. Estereotipar, dividir, tribalizar, tornou-se a palavra de ordem de um suposto “centro político”, que se auto-elegia como capaz de unir o espaço entre as margens.

Desistindo deste papel de “moderação”, o próprio “centro moderado” é também atirado para uma margem. Atirado para a margem que defende a continuação da guerra, da confrontação, figuras como Macron, Sholz, Sunak ou a burocrata Von Der Leyen, acabam a conduzir as populações para as forças que, neste quadro niilista, mais organizadas e financeiramente poderosas surgem: as forças reacionárias. Estas forças, pressentindo e vivendo do descontentamento, atraem quem se sente desagradado pela situação econômica, pelo medo de uma guerra em larga escala e a falta de perspectivas de crescimento, recuperação e desenvolvimento.

Neste quadro, a única resposta dos dirigentes mais belicistas é a de contrapor ao medo da guerra, o medo da extrema direita. E este é o drama que se vive na Europa, nos EUA, no Ocidente coletivo. A sensação – aparente apenas – de que não existe uma alternativa válida, faz com que sejam acenadas apenas duas alternativas que, à superfície, mutuamente se excluem: ou existe a opção do “centro moderado”, pelo confronto, pelo belicismo, pelo sacrifício econômico e social, em nome de “valores europeus” que ninguém sabe bem o que são; ou a opção “autocrática”, “autoritária”, “ditatorial”, da extrema direita, mas na qual o “centro moderado”, através de um contraditório processo de reescrita da história e paradoxal confusão filosófica, integra as soluções à esquerda.

Bifurcados entre duas alternativas terríveis, acaba-se a escolher entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen, porque se considera uma de “extrema direita” e o outro um “centrista liberal e moderado”. Contudo, dizer que Le Pen é mais de direita que Macron, é cometer um erro crasso. Emmanuel Macron é mais dissimulado e polido, mas não é menos destrutivo. Macron tornou-se, hoje, um dos principais incendiários da guerra nuclear. Sem utilizar o termo, todos sabemos qual a consequência do envio de tropas da OTAN para a Ucrânia. Também sabemos qual será o resultado da instalação de bases de F16 nos países bálticos. Sabemos onde vai acabar a autorização de utilização de mísseis SCALP lançados por aviões Mirage II, contra território russo reconhecido.

E o que dizer de Olaf Sholz e do seu SPD? Hoje, é outra vez o SPD que volta a atirar a Alemanha contra a Rússia, privando o seu país dos recursos que o tornaram uma potência mundial. O que diria Karl Marx se soubesse que o museu, em sua memória, situado em Trier, é gerido pela Fundação Friedrich Herbert (sim a que financiou o Partido Socialista em Portugal), organização ligada ao SPD?

É então a política “moderada” (o termo “moderado” vale como elogio por si só) que ameaça conduzir-nos para uma guerra nuclear. Eu pergunto o que é que isto tem de “moderado”! É que, por absurdo, mesmo que se reconhecesse toda a culpa à Rússia e a Vladimir Putin, seria dos “moderados” quem se esperaria o maior esforço de diálogo e paz. Ao invés, é dos “moderados” que esperamos o contrário: a ultrapassagem constante de linhas vermelhas, as russas e a suas próprias. Quantas linhas vermelhas esta gente já ultrapassou, na sua escalada?

Quer Zelensky consiga o seu copo cheio – a entrada dos EUA na guerra – ou seu copo meio cheio – a entrada da Europa na guerra –, qualquer das soluções é devastadora para as nossas vidas e tal devastação é o que resulta de quando se apoia, se é cúmplice e conivente com gente que faz do ódio, da xenofobia, o seu modo de vida. O ódio que vejo nos Ucranianos da Galícia, contra a Rússia, compara-se ao ódio dos sionistas, contra os árabes palestinos. Um ódio tribal, selvagem, bárbaro e medieval. Na Ucrânia ou na Palestina, o ódio nunca venceu barreiras, só as construiu.

Como me disse um amigo, quando nos mandarem enfiar o capacete e pegar na metralhadora talvez nos lembremos que a paz é o maior bem que a civilização nos pode garantir. Talvez nesse dia acordem para a “armadilha” em que fomos apanhados e consigam ver, no horizonte, quem, de fato, com palavras de veludo, exaltações à “democracia” e acusações aos “extremismos” nos está a levar para a extrema destruição!

*Hugo Dionísio é advogado, analista geopolítico, pesquisador do Gabinete de Estudos da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN).

Publicado originalmente em Strategic Culture Foundation.

Universidade vazia

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Por MARISA BITTAR*

Independentemente dos governos que se sucedem e das demandas da categoria docente, o ponto essencial desta greve é: a quem interessa as universidades vazias?

Depois de anos, mais uma vez vivemos uma greve do setor federal da educação e um vazio nas universidades.

Durante a ditadura militar, a greve tinha um significado ímpar. Nas escolas públicas, além dos baixos salários, os governadores dos estados, em apoio ao regime militar, submetiam as escolas aos seus interesses políticos e não abria diálogo. Hoje, prestes a completarmos 40 anos do final da ditadura, vivendo sob o Estado de direito e em plena revolução tecnológica, a situação é completamente diferente.

Independentemente dos governos que se sucedem desde então e das demandas da categoria docente, o ponto essencial desta greve é: a quem interessa as universidades vazias? O governo atual, em terceiro mandato do PT, anuncia expansão de universidades e investimentos em infraestrutura, descartando atender à reivindicação de reajuste salarial linear. A sociedade, por sua vez, solidária ao povo do Rio Grande do Sul, ignora a greve e parece não sentir falta das universidades.

Que sentido tem suspendermos as nossas aulas, deixarmos as nossas turmas de graduação no vazio, quando, durante a pandemia, a universidade tanto propagou a importância da ciência e da produção de conhecimento? Por que razão não se pode negociar com qualquer governo sem interrompermos o nosso trabalho? Foi negociando com o governo Dilma Rousseff que conseguimos avanços significativos na carreira. Se a universidade deve ter sentido social, esvaziá-la contribui em quê?

A greve na educação federal transmite indiferença e alienação relativamente ao delicado contexto nacional além de uma visão de mundo estreita e corporativa. Por qual razão o movimento sindical não deflagrou greve durante o governo passado quando as nossas condições salariais e de trabalho eram as mesmas?

Vivemos, hoje, no contexto de liberdades democráticas e da conexão da sociedade em redes. O impacto disso nas universidades e na educação em geral é impressionante e contrasta imensamente com o vazio que a greve institui.

O Censo da Educação Superior (2022) mostrou que as instituições privadas correspondem a 87% do total de faculdades, centros universitários e universidades do Brasil, e são responsáveis por capacitar 75% dos estudantes de nível superior, isto é, cerca de 6,3 milhões de pessoas. Nesse universo, a rede federal de ensino superior brasileiro atende a uma parcela minoritária da população estudantil e mesmo assim, ao lado das universidades públicas estaduais, distingue-se em termos nacionais e internacionais. Isso porque, mesmo nos países mais ricos, as universidades públicas nem sempre são gratuitas, elas cobram mensalidades de seus alunos, tal como no caso norte-americano.

Recém-graduada em 1981, aderi à minha primeira greve como professora da escola pública de Mato Grosso do Sul. Nossos salários eram muito baixos para 40 horas semanais em sala de aula. Saímos em passeata pela Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, sob aplausos da população que admirava e apoiava a nossa iniciativa. Naquele contexto de ditadura, o então presidente da Associação Campo-Grandense de Professores (ACP), Amarílio Ferreira Jr. e eu, fomos vítimas de prisão. Depois, construímos as nossas trajetórias acadêmicas em duas universidades federais, UFMS e UFSCar.

O contexto democrático garantiu expansão e fortalecimento desse sistema para o qual, só na UFSCar, eu me dedico há mais de trinta anos. Como professora apaixonada pela docência e pesquisadora do CNPq desde 2008, considero inaceitável que, a despeito de experiências negativas, o setor grevista das universidades federais continue a esvaziá-las e a isolá-las da sociedade.

*Marisa Bittar é professora titular de História, Filosofia e Políticas da Educação na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Saídas para o momento político

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Por RENATO DAGNINO

Considerações a partir de um artigo de José Dirceu

Por considerar o companheiro José Dirceu um dos mais lúcidos analistas da nossa política e reconhecer sua importância no âmbito da esquerda, me senti estimulado a comentar o seu recente artigo   Impasses e saídas para o momento político.

Como bom estrategista, ele parte do plano tático com uma análise de conjuntura que explicita a existência de uma correlação de forças adversa à esquerda e que revela uma ameaça à governabilidade do atual governo. E que, ademais, desaproveita o apoio político de sua base que é necessário para implantar suas propostas de campanha.

Indo para o plano estratégico, ele delineia um “programa de desenvolvimento … baseado em… um compromisso político da frente democrática … objetivo e factível, capaz de mobilizar os diferentes setores da sociedade: empresariado, trabalhadores, academia e classes médias”. Algo que outros, sem a sua competência, que minimizam o caráter marcadamente antagônico do capitalismo periférico, ingenuamente denominam projeto nacional.

O Programa contempla “três eixos fundamentais” cuja materialidade como política pública já está em curso: “o Nova Indústria Brasil (NIB), o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), e o Plano de Transformação Ecológica”.

No que segue, mantendo sua preocupação com a governabilidade sem aumentar o que em “Sobre a governabilidade” chamamos conservadorismo do projeto de governo, mostro como as ações que esses eixos pretendem desencadear demandam a mobilização de um ator que a maioria das lideranças de esquerda não vem adequadamente considerando.

Embora esteja subsumido num dos “setores da sociedade” capazes de proporcionar “saídas para o momento político”, os “trabalhadores”, o ator Economia Solidária deve ser, seja por óbvios motivos estratégicos, seja por cruas razões táticas de governabilidade, individualizado.

Um ator hoje quase invisibilizado por uma esquerda que limita a superação do capitalismo à luta de apenas um segmento da classe que, por não ter propriedade de meios de produção é obrigado a vender sua força de trabalho, o dos trabalhadores formais.

Um ator que embora seja tão antigo quanto o próprio capitalismo e que se fez notar nas suas mais severas crises, não entrou nos livros de economia, administração ou engenharia. Mas que, não obstante, por estar conectado a arranjos de produção, consumo, e finanças (baseados na propriedade coletiva dos meios de produção, na solidariedade e na autogestão) cada vez mais reconhecidos em todo o mundo como essenciais para prolongar nossa vida neste planeta, precisa ser mobilizado para possibilitar o êxito do Programa que formula José Dirceu.

Para fazê-lo, brevitatis causa, como dizem os juristas (ou sendo sintético e direto como obriga este meio de comunicação), vou me ater, por melhor poder defendê-los, a argumentos que tenho explanado nos artigos aos quais irei remetendo quem me lê.

Pela mesma razão, não vou me referir ao que vêm sendo publicado por outras pessoas que atuam em coletivos como os Setoriais do PT, os Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas, as entidades sindicais, os grupos existentes em universidades públicas também dedicados ao tema, ou às iniciativas de formação de gestores de Economia Solidária, em que participo.

Vou me limitar, em cada caso, a uma avaliação crítica do que se divulga em relação a cada eixo; e à conveniência de a eles incorporar a Economia Solidária.

Sobre o primeiro eixo, a NIB, não teria muito a acrescentar além do que tratei em “Conversando sobre a Nova Indústria Brasil”, para mostrar ao colega com quem conversava as dez condições de contorno que deveriam estar presentes para que ela fosse exitosa.

Ali mostro a “problemática” que ela, acrítica e extemporaneamente, tenderá a reproduzir ao propor uma reindustrialização empresarial que tem como personagem central (a ser subsidiado para realizar o investimento e a geração de emprego) aquele que, explorando oportunidades mais lucrativas, como as associadas ao agronegócio, mineração, especulação financeira e imobiliária, causou a desindustrialização que se pretende reverter.

Das quase quatro mil palavras que contém o artigo, brevitatis causa, seleciono estas: “Será que oferecendo à classe proprietária (suas empresas e seus agentes públicos) os 1% do PIB por ano prometidos – 300 bilhões em três anos –, minguados, se comparados aos 6% da dívida pública, aos 10% da sonegação, aos 3% da corrupção, aos 5% da renúncia fiscal e isenções sobre lucros, dividendos, exportação, propriedade, e aos mais de 15% da compra pública – ela se engajará na NIB?”.

No que respeita a temas relacionados à economia industrial e à economia da inovação, ali se questiona a viabilidade de que as empresas “brasileiras” venham a estar dispostas a emular as experiências asiáticas de catching up para “surfar” a sexta onda da ESG e da 4.0. Existem comprovações suficientes e informação empírica abundante para argumentar que, num país onde os bens e serviços que demanda o mercado culturalmente imitativo já foram engenheirados no Norte, e onde a taxa de lucro (provavelmente a mais alta do mundo) depende da mais-valia absoluta e não da mais-valia relativa, isso dificilmente ocorrerá.

E é justamente por isso, como expus ao meu colega, que a “solucionática”, que vem sendo referida como reindustrialização solidária – uma alternativa não excludente e suplementar à reindustrialização empresarial –, vem sendo crescentemente discutida pela esquerda.

Para conhecê-la com algum detalhe e avaliar sua pertinência e complementariedade em relação à NIB, considero que o que tratei naquele artigo e em “Reindustrialização Solidária”, é suficiente. Minha expectativa é que o José Dirceu, com quem não tenho a intimidade que tenho com aquele colega, mas que respeito como um companheiro com quem muito tenho aprendido, possa deles se aproveitar.

Apenas ressalto que a reindustrialização solidária propõe o apoio à geração de trabalho e renda mediante a produção de bens e serviços de natureza industrial (e advirto que é necessário desfazer a noção herdada e equivocada de que indústria é sinônimo de empresa) em redes de Economia Solidária a serem crescentemente beneficiadas com a compra pública. E, no médio e longo prazo, alavancadas pela tecnociência solidária a ser desenvolvida mediante o reprojetamento da tecnociência capitalista que abordo em “A hora e vez da Tecnociência Solidária”.

Dado que numa conversa posterior àquela que o “Conversando…” relata, meu colega disse “mas, dada a correlação de forças imposta pela coalizão de governo e como este ator que você fala, a tal de economia solidária, não estava presente na mesa onde se formulou a NIB, isto foi o que deu para fazer”, eu indiquei, como faço agora, três artigos: “A Economia Solidária como eixo da reconstrução nacional”“Economia solidária e política”; “Propostas para os candidatos da esquerda”; e uma entrevista ao Breno Altman.

Dessa maneira, fiz ver ao meu colega que quem deveria trazer à mesa a voz dos quase 80 milhões de brasileiras e brasileiros que nunca tiveram e provavelmente nunca terão emprego eram as lideranças de esquerda como ele, que há mais 20 anos convivem com a proposta ou pelo menos conhecem o conceito de Economia Solidária.

O conhecido encadeamentos a jusante e a montante que, ente outros predicados possui a atividade industrial, e o fato da NIB ser considerada como capaz de induzir um ciclo de desenvolvimento econômico e social, quase que torna desnecessário comentar criticamente os outros dois eixos do Programa.

Sobre o segundo eixo, o PAC, há também evidência empírica suficiente para mostrar o quanto a população mais pobre (mesmo sem o ganho de eficiência, eficácia e efetividade que a economia solidária pode proporcionar) vem realizando no que respeita a tarefas que poderiam ser financiadas através dele.

Considerando apenas aquelas relacionadas à construção e conservação de obras civis, vale lembrar que 70% do cimento produzido no País é comercializado “no picadinho”, ou seja, para os mutirões que podem, com vantagens sociais, econômicas e ambientais em relação às empresas, receber parte da compra pública.

A título de exemplo, menciono o que propus recentemente em “Reconstrução solidária no Rio Grande do Sul”. Ali sugeri a imediata criação de uma força tarefa constituída por agentes públicos federais e integrantes do movimento de Economia Solidária para alocar recursos provenientes do governo federal.

Dessa maneira, poder-se-ia destiná-los a equipes integradas ou coordenadas pelo movimento de Economia Solidária evitando que eles fossem parar, diretamente ou através do governo estadual e municipal corresponsáveis pela catástrofe, na mão de empresas que iriam reproduzir o ciclo de exploração humana e degradação ambiental que as caracteriza. Ao impedir a reprodução dos desastres que causam, dado que, mesmo que desejassem fazer diferente não possuem capacidade organizacional e cognitiva para tanto, seria possível inaugurar um paradigma mundial acerca de como reproduzir uma estrutura compatível com o bem-viver.

Outro exemplo, de dezembro de 2021, é o que apontei referindo-me ao Minha Casa Minha Vida em “Por que os candidatos de esquerda às eleições de 2022 devem prestar atenção à Economia Solidária?”. Num país onde mais de 50% das casas são construídas pelos seus próprios moradores, o programa destinou menos de 5% dos recursos para a autoconstrução quando quase 100% daquelas dos mais pobres são erguidas neste regime.

Em paralelo à incorporação da Economia Solidária à implantação do programa, eu propunha que nosso próximo Minha Casa Minha Vida deveria ter janelas de alumínio fabricadas pela cadeia produtiva solidária do alumínio. E argumentava que o país que mais recicla alumínio e que é um dos mais desiguais do mundo não podia seguir “dando-se ao luxo” de interromper essa cadeia no ponto em que a senhora que recolhe latinhas vende para o atravessador as 70 delas que materializam seu trabalho semiescravo por apenas seis reais.

Sobre o terceiro eixo, o Plano de Transformação Ecológica, considero que, à semelhança do que ocorre no anterior, há muito o que pode ser feito mobilizando a Economia Solidária. O fato de que talvez o principal desafio que temos, no meio rural, é impedir a destruição da vegetação e dos mananciais ameaçados pelas atividades do agronegócio e da mineração, é um exemplo disso.

É evidente que o enfoque usualmente utilizado para coibir o dano causado por essas atividades, dada a magnitude da tarefa e o seu espalhamento no território, é inconveniente. Em vez de despender recursos vultosos para deslocar pessoal até os locais onde elas ocorrem é possível para tanto mobilizar as redes de economia solidária. O que permitiria que seus integrantes, ademais de obterem uma remuneração do governo por esse serviço de fiscalização, recuperação e conservação da vegetação e dos mananciais, pudessem satisfazer a um custo relativamente baixo uma parte significativa de suas necessidades básicas.

No meio urbano, onde essa mesma degradação, agora devido à ação da especulação imobiliária, vem levando ao aumento da temperatura e a catástrofes cada vez mais frequentes, as redes de Economia Solidária poderiam ser de imediato mobilizadas.

Tudo isso, junto ao que foi sugerido em relação aos demais eixos, levaria ao que nos referimos como o “pentagrama do poder popular” no artigo “Sobre a governabilidade”. Isto é, um processo em que cinco momentos retroalimentados – conscientização, mobilização, organização, participação e empoderamento – possibilitará aos integrantes da Economia Solidária condições de agenciar seus interesses e promover seus valores. E, dessa forma conferir a governabilidade que José Dirceu, os que me leem e eu mesmo queremos assegurar ao nosso governo.

*Renato Dagnino é professor titular no Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp. Autor, entre outros livros, de Tecnociência Solidária, um manual estratégico (Lutas anticapital).

Brasil não assina declaração final da conferência sobre Ucrânia na Suíça

Além do Brasil, outros 11 países adotaram a mesma postura. Conferência discutiu unilateralmente o fim da guerra, sem contemplar a Rússia

 O Brasil, junto com outros países, recusou assinar a declaração final da conferência, por discordar das conclusões indicadas no documento. Os países do BRICS que participaram da conferência sobre a Ucrânia na cidade suíça de Burgenstock, incluindo o Brasil, se recusaram a assinar o comunicado conjunto sobre os resultados das negociações, se depreende da lista de países que assinaram o comunicado.

No início de domingo (16) Dmitry Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, anunciou que o texto da declaração da cúpula sobre a Ucrânia estava pronto e que todas as posições de princípio de Kiev haviam sido levadas em consideração.

O documento foi assinado por 84 das mais de 100 nações e organizações participantes do evento, mas a África do Sul, Arábia Saudita, Armênia, Bahrein, Brasil, Emirados Árabes Unidos, Eslováquia, Índia, Indonésia, Líbia, México, Santa Sé, Suíça e a Tailândia não o assinaram.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, apresentou na sexta-feira (14) novas propostas de paz para resolver o conflito na Ucrânia, que preveem o reconhecimento do status da Crimeia, das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, e das regiões de Kherson e Zaporozhie como russas, a consolidação do status da Ucrânia como país não alinhado e livre de armas nucleares, sua desmilitarização e desnazificação e ainda o cancelamento das sanções impostas à Rússia. O lado ucraniano rejeitou a iniciativa.

A conferência sobre a Ucrânia foi realizada neste sábado (15) e domingo (16), perto da cidade suíça de Lucerna, no resort de Burgenstock. Noventa e dois países, 55 chefes de Estado confirmaram sua participação, bem como oito organizações, incluindo a UE, o Conselho da Europa e a ONU. Joe Biden, Xi Jinping e Lula da Silva, presidentes dos EUA, da China e do Brasil, respetivamente, não compareceram à conferência.A Suíça não convidou a Rússia para participar da cúpula, enquanto Moscou afirmou que não teria participado de qualquer forma. O Kremlin disse que era absolutamente inútil procurar opções para resolver a situação no conflito ucraniano sem a participação da Rússia.

Brasil 247

Pablo Marçal é pior do que Bolsonaro porque é inteligente, mais ousado e perverso

Por Roberto Kuppê (*)

Pode existir alguém mais perverso (sem escrúpulos) do que Jair Messias Bolsonaro, o ex-presidente do Brasil? Parecia impossível, mas existe. E atende pelo nome de Pablo Marçal, o controverso coach, pré-candidato outsider prefeitura de São Paulo. Ele é dono de um canal no Youtube com mais de 2 milhões de inscritos (além de 4,7 milhões seguidores em sua conta no Instagram), no qual compartilha uma série de vídeos sobre “Inteligência Emocional”.

Marçal se apresenta com uma extensa lista de credenciais: cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios, especialista em branding, e jurista por formação. A popularidade não é recente. Cristão fervoroso e protagonista de uma longa trajetória como coach, ele foi eleito deputado federal por São Paulo em 2022, mas não chegou a assumir o cargo depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspender o registro da candidatura.

Posa de bilionário, de empresário de sucesso, mas, segundo a última declaração de bens no imposto de renda dele, publicada pelo TSE por ocasião de sua candidatura indefirida a presidente, em 2022, ele declarou um patrimônio de R$ 16,9 milhões, porém, para deputado federal declarou no mesmo ano, 2022, um patrimônio total de 88 milhões de reais. Veja aqui.

Na relação de bens não consta nenhum helicóptero e nenhum jatinho que afirma possuir, mas diz que possui participações societárias (sem detalhar) no valor de 80 milhões de reais. Com certeza, ou está superestimando seu patrimônio ou sonegando impostos.

Pablo Marçal navega no mesmo nicho de votos de Bolsonaro e é um ameaça real ao bolsonarismo. Em nada atinge, porém, a pré-candidatura do esquerdista Guilherme Boulos (PSOL). Quem vota na esquerda, não vota na direita. Os votos de Boulos são indevassáveis e intransferíveis. Já os votos de Bolsonaro, sim. São volúveis e sujeitos mudanças de acordo com o humor dos seus eleitores. No momento, Marçal tenta apoio de Bolsonaro, mas ele quer distância dele, sob pena de lá na frente se arrepender. Por isso, vai até o fim com Ricardo Nunes (MDB). O problema é que Marçal tem tudo para chegar no segundo turno com Boulos. Ai sim, o coach passa a ser um problema também para Guilherme Boulos.

Se Pablo Marçal se eleger prefeito da cidade de São Paulo, o que não é impossível, o atual governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos) também terá suas pretenções futuras ameaçadas. De uma coisa este articulista está convicto, Ricardo Nunes não se reelege.

Uma vez prefeito, Pablo Marçal vai uerer transformar S Paulo numa Dubai. Risos. E tem um proposta mirabolante. Construir um prédio de1 km. Virou piada.

https://www.youtube.com/watch?v=PItrQmm0B50

 

Antes de ser pré-candidato a prefeito de S Paulo, Pablo Marçal era motivo de sátiras na internet. O polêmico coach virou piada depois de dizer em uma palestra que acalmou um piloto de helicóptero durante uma pane. Viralizou nas redes trechos de palestras em que ele se gaba de seus supostos feitos — como acalmar um piloto de helicóptero durante uma pane.

Começaram a editar esse e outros trechos como se o Pablo estivesse contando vantagem em uma mesa de bar.

O cara virou uma espécie de Chuck Norris da disrupção.

E emplacou de vez como comediante, mesmo que sem a intenção.

Recentemente, o coach comentou os memes, e… parece que ele não está achando muita graça.

 (*) Roberto Kuppê é articulista político e diretor geral do A Democracia

Com informações de O Globo 

Breno Altman em Porto Velho, no seminário Imperialismo, libertação nacional e a questão palestina

O Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR/UNIR) realiza no próximo dia 18 de junho o Seminário “Imperialismo, libertação nacional e a questão palestina”, com a presença de Breno Altman (jornalista e fundador do portal Ópera Mundi) e Ualid Rabah (Presidente da Federação Árabe Palestina – Fepal). O seminário será no auditório da UNIR-Centro, em Porto Velho, a partir das 19h, e as inscrições podem ser feitas gratuitamente neste link até a data do evento.

O objetivo, segundo com os organizadores (HISTEDBR, Cebraspo, Adunir e Comitê de Apoio a Resistência Palestina – Rondônia), é “discutir o papel do imperialismo, em especial do imperialismo estadunidense e de outras potências europeias no apoio e financiamento do genocídio e limpeza étnica na Palestina histórica, perpetrado pelo estado sionista e colonial de Israel”.

A comissão organizadora do evento de extensão conta com professores dos cursos de Ciências da Educação, História, Psicologia, Medicina e do Instituto Federal de Rondônia (IFRO), além de servidores técnico-administrativos e estudantes do curso de Ciências Sociais da UNIR. Como afirmam os organizadores, “debater acerca das tarefas históricas da resistência nacional palestina em sua luta por autodeterminação e libertação nacional são os temas centrais do seminário”,

Lançamento de livro – Durante o Seminário ocorrerá também o lançamento do livro do jornalista Breno Altman: “Contra o Sionismo: Retrato de uma doutrina colonial e racista”, seguida de uma sessão pública de autógrafos com o autor.

O evento iniciará com credenciamento e sessão de autógrafos a partir das 18h30, e o Seminário a partir das 19h.

 

Seminário – Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina

Data: 18 de junho de 2024, a partir das 18h30

Local: Auditório da UNIR-Centro (avenida presidente Dutra, n. 2965)

Inscrições: gratuitas até o dia 18 de junho de 2024, no link https://www.even3.com.br/imperialismo-libertacao-nacional-e-a-questao-palestina-460756/

Público alvo: Estudantes, graduados, pós-graduados, docentes, jornalistas, ativistas de movimentos populares e sociais, estudantes secundaristas, intelectuais de diversas frentes, membros de comunidades árabes-palestinas em diáspora, membros das comunidades islâmicas e outras pessoas interessadas da temática a solidariedade e luta por libertação e autodeterminação do povo palestino.

Coluna Zona Franca

                                               Haddad forte

Lula e Fernando HaddadO presidente Lula (PT), em entrevista coletiva neste sábado (15) no encerramento do G7, disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), “jamais ficará enfraquecido” em seu governo. A declaração de Lula vem após rumores de que o ministro estaria sendo pressionado por diversos setores, inclusive por alas do governo, principalmente depois de ser ventilada a possibilidade de desvincular benefícios sociais da Previdência do aumento do salário mínimo. “O Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República, porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim. Então é o seguinte: se o Haddad tiver uma proposta, o que vai acontecer é que ele vai me procurar essa semana para sentar e discutir economia comigo”.

Se entregou

Eurípedes Junior, presidente do partido Solidariedade, entregou-se à Polícia Federal (PF) na manhã deste sábado (15), acompanhado por seus advogados, informa a CNN Brasil. Ele se apresentou na Superintendência da PF no Distrito Federal, onde já está detido em uma cela. O dirigente partidário era alvo de uma operação da PF deflagrada na última quarta-feira (12), que buscava cumprir sete mandados de prisão preventiva. No entanto, Eurípedes não foi localizado na data, sendo o único alvo que permanecia foragido.

PL do estupro

Pode ser uma imagem de textoO presidente Lula (PT) concedeu neste sábado (15) uma entrevista coletiva no encerramento do G7, na Itália, e falou a jornalistas sobre o chamado “PL do estupro”, que teve urgência aprovada na Câmara dos Deputados. O projeto visa equiparar o aborto realizado após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio. Com isso, a pena prevista para a mulher que realizasse o aborto após o prazo estipulado seria maior que a pena de um estuprador.

 

 

 

PL do estupro 2

Lula classificou o projeto como uma “insanidade” e voltou a defender que o tema do aborto seja tratado como “questão de saúde pública”. Ele também prometeu se inteirar so assunto sobre o “PL do estupro” ao retornar ao Brasil.

Abominável

O Grupo Prerrogativas afirmou em nota, nesta sexta-feira (14), que o PL que equipara o aborto realizado após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio é “abominável”. Em comunicado, o grupo repudiou a proposta, argumentando que, caso o texto seja aprovado, as crianças não só terão que conviver com os traumas decorrentes da violência sexual, como serão obrigadas a “gestar filhos dos estupradores”.

Abominável 2

“Não resta dúvida que o abjeto Projeto é inconstitucional, fere a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito”, afirmou. A proposta, que é de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), tramita em regime de urgência desde a quarta-feira (12) na Câmara dos Deputados. A medida visa acelerar a análise do texto.

Eleições 2024

Pré-candidata Euma Tourinho, do MDB

Quem cedo madruga….O MDB definiu a data de 20 de julho para a realização da sua Convenção Municipal para a homologação da candidatura de Euma Tourinho  a prefeita de Porto Velho (RO). Há no partido a convicção da viabilidade eleitoral de Euma e de sua nominata de vereadores(as). “Nós estamos convictos das possibilidades de vitória dos nossos candidatos. A costumeira postergação das convenções se presta aos acordos que excluem o cidadão“, afirmou Williames Pimentel, presidente municipal do partido.

Eleições 2024-2

Falando em Euma, ela está na Ponta do Abunã – em companhia de Fran Kaxarari (pré-candidata vereadora), cumprindo agenda a começar por Extrema, com propostas para inserir os Distritos na pauta da prefeitura de Porto Velho.

Vices

A pré-candidata Mariana Carvalho (União Brasil), tem praticamente certo o nome do vice. O mais cotado é o empresário Jaime Gazola (PL). Outro forte nome é do ex-secretário da Secretaria de Regularização Fundiária (Semur), Edemir Brasil.

Vices 2

Do Léo Moraes(Podemos) ainda está indefinido. Idem os vices ou as vices de Vinícius Miguel (PSB), Euma Tourinho, Benedito Alves (SD) e Célio Lopes (PDT).

Pré-campanha

Os pré-candidatos de modo geral, tem que gastar em suas pré-ampanhas. Gastos com redes sociais, mídia, pesquisas, almoços, jantares, viagens. Tudo tem custo. É do jogo. Não adianta colocar um escorpião no bolso e achar que suas campanhas vão deslanchar. Quem não tem as manhas não entra não, sem a instrução de um profissional. É pix na mão, calcinha no chão. Risos.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política em Rondônia e no Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidaddo colaborador e titular desta coluna. O Portal Mais RO não tem responsabilidade legal pela opinião, que é exclusiva do autor.

MIS celebra os 80 anos de Chico Buarque com programação especial no mês de junho

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O mês de junho traz o aniversário de um dos maiores cantores e compositores brasileiros de todos os tempos, Chico Buarque, que completa oitenta anos no dia 19. E para celebrar a data, o MIS, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, realiza a programação especial CHICO 80, que trará eventos temáticos ao longo do mês, incluindo programas fixos do museu, como o Cinematographo, Cine Kids e Estéreo MIS, e outros totalmente inéditos, como o lançamento do CD “Claudette canta Chico”, de Claudette Soares.

Em toda sua trajetória, Chico Buarque não apenas criou uma obra vasta e diversificada, mas também se tornou uma figura de resistência e consciência social. Sua música e sua arte são testemunhos de sua dedicação em retratar as realidades e os sonhos do povo brasileiro, deixando um legado duradouro, que continuará a ecoar por muitas gerações. O especial CHICO 80 reverencia a obra sem paralelo e repleta de ramificações que o compositor nos ofereceu ao longo dos seus sessenta anos de carreira em diversas frentes.

Programação CHICO 80

 

16 de junho, às 15h | Cinematographo: “Ópera do malandro”

O Cinematographo apresenta o filme “Ópera do malandro”. O musical foi dirigido por Ruy Guerra em 1985 e se baseia no espetáculo homônimo escrito por Chico Buarque e dirigido por Luís Antônio Martinez Corrêa em 1978. O espetáculo, por sua vez, tinha inspiração em “Ópera do mendigo” (1724), de John Gay e Johann Christoph Pepusch, e em “A ópera dos três vinténs” (1928), de Bertold Brecht. A edição ganha uma trilha sonora ao vivo executada pelos músicos Cíntia Gasparetti, Cris Cunha, Tâmara David, Paulo Viel e Eduardo Contrera. 

16 de junho, às 16h | CineCiência: “Raízes do Brasil”

O CineCiência traz a cinebiografia do pai de Chico Buarque, Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), lançada em 2004 por Nelson Pereira dos Santos. Em sua primeira parte, a que será exibida no MIS, imagens de arquivo se mesclam com o registro de encontros familiares, revelando a personalidade, mas também o horizonte intelectual do autor de “Raízes do Brasil”.  Após a sessão, será realizado um debate, mediado por José Luiz Goldfarb, com o professor Pedro Meira Monteiro, que abordará a atualidade das ideias de Sérgio Buarque de Holanda e a relação que elas guardam com a obra literária de seu filho mais famoso.

22 de junho, às 20h | Lançamento do CD “Claudette canta Chico” + show + sessão de autógrafos

Claudette Soares lançou, em março de 2024, o álbum “Claudette canta Chico”, em comemoração aos oitenta anos do artista. A seleção de canções, que ganharam uma roupagem nova na personalidade da voz de Claudette, fazem um percurso por toda a carreira do compositor e incluem tanto canções antigas, de seus primeiros discos, como dos últimos lançamentos.

O lançamento do CD físico no MIS será acompanhado de um show de Claudette Soares, seguido de uma sessão de autógrafos com a artista, que, no auge dos seus 88 anos, continua sendo uma das diversas vozes que representam tão bem a cultura popular brasileira.

27 de junho, às 19h | Clube do Filme do Livro: “Benjamim”

A edição de junho do programa mensal Clube do Filme do Livro integra a programação especial CHICO 80 com o filme Benjamim” (2004), dirigido por Monique Gardenberg, adaptação do livro homônimo de Chico Buarque lançado em 1995. A convidada do mês para discutir a obra sob a ótica da adaptação é a diretora e roteirista do longa-metragem Monique Gardenberg.

28 de junho, às 21h | Estéreo MIS: Ayrton Montarroyos

O convidado para essa edição do Estéreo MIS não poderia ser mais especial: Ayrton Montarroyos iniciou sua carreira após a divulgação de um vídeo da música “Olhos nos olhos”, do cantor homenageado. Desde então, ascendeu na cena musical, sendo indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, pelo disco “Herivelto Martins – 100 anos”. No show que será realizado no MIS no dia 28 de junho, Ayrton convida como participação especial o compositor e pianista Nelson Ayres.

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Presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia passa por nova cirurgia plástica com sucesso

O deputado estadual Marcelo Cruz (PRTB-RO) foi submetido a uma cirurgia de blefaroplastia para corrigir o excesso de pele e bolsas nas pálpebras superiores e inferiores.  O procedimento cirúrgico foi bem-sucedido e o parlamentar encontra-se em fase de recuperação em sua residência. O parlamentar rondoniense já havia passado por um cirurgia estética em 2020, sendo alvo do Ministério Público de Rondônia. Na ocasião ele afirmou que todas as despesas foram pagas com recursos particulares, conforme demonstram transferências bancárias de sua conta pessoal endereçadas ao médico responsável pelo tratamento.

Apesar de ser bastante vaidoso, não procede que ele queira se transformar no Ken Humano. Cruz é pré-candidato a prefeitura de Porto Velho e quer estar bem apresentável.

Com informações do Tudo Rondônia

 

Deputado do PL-BA pede reembolso por estada em hotel de luxo em Copacabana após assistir show da Madonna

O deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), conhecido no meio político baiano como “Jonga Bacelar”, usou parte da cota parlamentar de maio para solicitar reembolso de uma estada em um hotel de luxo no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro.

De acordo com o Portal da Transparência da Câmara dos Deputados, o valor total gasto com uma única diária foi de R$ 4.173,66, e o parlamentar baiano ficou hospedado no Fairmont Rio de Janeiro Copacabana. Localizado na Avenida Atlântica, próximo às praias de Copacabana e Ipanema, é o primeiro hotel na América do Sul com a bandeira de luxo da tradicional rede Accor.

Ainda com base na nota emitida pelo hotel, disponível na aba de hospedagem da cota parlamentar, Jonga Bacelar deu entrada no local em 4 de maio, um sábado, e saiu no dia seguinte. Sem atividades da Câmara em Brasília durante finais de semana, outro detalhe é que a data da estada do deputado no Rio foi marcada pelo show da rainha pop Madonna.

Por Metrópoles

Papa Francisco a Lula: ‘é você quem pode fazer um mundo mais humano’

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Lula se encontrou com o papa Francisco durante a cúpula do G7, na Itália

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o papa Francisco discutiram, nesta sexta-feira (14), as desigualdades globais, durante a cúpula do G7, na Itália. “Encontro com Sua Santidade, o Papa Francisco. Conversamos sobre paz, combate à fome e a necessária redução das desigualdades no mundo”, relatou Lula nas redes sociais.

Eles também conversaram sobre a paz mundial, o combate à fome e maneiras de reduzir a desigualdade social, de raça, de gênero, de educação e de saúde. A primeira-dama, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, também participou.

“Eu quero ver se. a gente faz o mundo mais humano”, disse Lula ao papa, ao que o pontífice respondeu: “E você pode fazer isso”.

Lula participa da cúpula do G7 na Itália na qualidade de representante do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e cuja presidência rotativa é do Brasil em 2024. Já o G7 congrega as potências industriais Estados Unidos, Alemanha, Japão, Itália, França, Canadá e Reino Unido. O papa Francisco se tornou o primeiro pontífice a discursar em uma cúpula do G7.

Ministra Cármen Lúcia diz que confia nos servidores da Justiça Eleitoral para a realização das Eleições 2024

Primeiro turno do pleito municipal será realizado no dia 6 de outubro em mais de 5,5 mil cidades do país

Faltando cerca de 100 dias para o primeiro turno das Eleições Municipais 2024, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, em reunião com as servidoras e os servidores da Corte, nesta quarta-feira (12), afirmou que confia nas trabalhadoras e nos trabalhadores da Justiça Eleitoral para a realização do pleito com segurança e tranquilidade.

“Nós somos os encarregados de deixar o Brasil sem novidades ruins em termos eleitorais. Eu conto com cada um de vocês. Eu confio em vocês”, ressaltou a presidente da Corte.

A ministra destacou que, historicamente, o pleito municipal é mais dotado de emoções e paixões, porque é mais próximo das eleitoras e dos eleitores, e a disputa é sempre acirrada. Ela também lembrou que o país vive momentos de ódio e de incompreensões e que, por tudo isso, as servidoras e os servidores da Justiça Eleitoral têm de passar às eleitoras e aos eleitores a certeza de que tudo correrá bem.

“Vamos nos compor como uma grande família eleitoral. O Brasil merece o melhor de todos nós”, concluiu.

Também participaram da reunião a secretária-geral da Presidência do TSE, Andrea Pachá, e a diretora-geral da Corte, Roberta Gresta.

Encontro com os TREs

No primeiro dia de atividades após a posse como presidente do TSE, a ministra Cármen Lúcia se reuniu com os presidentes dos tribunais regionais eleitorais (TREs) com o intuito de alinhar a atuação da Justiça Eleitoral neste ano de eleições, bem como tratar dos preparativos para o pleito municipal de outubro.

O primeiro turno das Eleições Municipais 2024 acontece no dia 6 de outubro, e o segundo, onde for necessário, ocorre no dia 27. Mais de 156 milhões de eleitoras e eleitores vão às urnas eletrônicas escolher novos prefeitos e vereadores para os próximos quatro anos.

Justiça Eleitoral de Rondônia lança Cartilha de Audiodescrição e Autodescrição

A Justiça Eleitoral de Rondônia (TRE-RO) acaba de disponibilizar a sua Cartilha de Audiodescrição e Autodescrição. Este material, elaborado pela Assessoria de Sustentabilidade e Acessibilidade (ASSESUA), tem como objetivo principal promover a inclusão digital e a acessibilidade em todas as nossas atividades.

A audiodescrição de palestrantes já é adotada em eventos de todas as naturezas, bem como nas sessões plenárias do TRE-RO, desde 2023. Essa iniciativa visa garantir que todas as pessoas, independentemente de suas capacidades visuais, possam participar e compreender plenamente nossas ações e decisões.

Convidamos todos, tanto o público interno quanto o externo, a conhecerem e utilizarem a cartilha.

Acesse o  material

A Justiça Eleitoral de Rondônia está comprometida com a acessibilidade e a inclusão. Conheça a Cartilha de Audiodescrição e Autodescrição e ajude a tornar nosso ambiente mais inclusivo para todas e todos.

Para mais informações, acesse nosso portal ou entre em contato com a ASSESUA.

Fonte: TRE-RO

Lira, que liberou PL do aborto, já foi acusado de estupro

A Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (12) a urgência do Projeto de Lei 1904/24, que prevê a criminalização do aborto realizado após 22 semanas de gestação, considerando-o homicídio, mesmo em casos de gravidez resultante de estupro. No entanto, um fato intrigante é que o PL foi colocado em votação pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, que já enfrentou acusações de estupro.

A ex-mulher de Lira, Jullyene Lins, com quem ele foi casado por dez anos, foi a responsável pela acusação. Ela afirmou que, seis meses após a separação, em 5 de novembro de 2006, foi agredida e estuprada pelo político. Segundo a mulher, a agressão ocorreu após o parlamentar ter descoberto que ela estava se encontrando com outro homem.

Lira foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois que Jullyene mudou seu depoimento, alegando ter sido ameaçada por ele de perder a guarda dos filhos se não retirasse a queixa. No ano passado, Jullyene revelou durante entrevista à Agência Pública que a violência também incluiu abuso sexual.

“Aconteceu uma coisa que eu nunca contei a ninguém, ele disse pra mim: ‘Você está atrás de macho, eu vou lhe mostrar quem é o homem’. Ele me puxava pelo cabelo e dizia: ‘O homem aqui… você é minha mulher, você não vai ter outro homem, você é minha, você é a mãe dos meus filhos. Você quer me desmoralizar, vamos lá para o quarto agora que eu vou te mostrar quem é o homem aqui, você não quer isso? Você não está querendo? Atrás de homem pra quê? Pra fuder? Então vou lhe mostrar agora.’”

Vale ressaltar que após a repercussão do caso, a reportagem da Agência Pública sobre as acusações de Jullyene foi censurada e está, atualmente, fora do ar. Em um julgamento em abril, a Justiça do Distrito Federal manteve a censura à reportagem, que havia sido publicada em junho de 2023.

Acerca da aprovação do PL, Jullyene Lins manifestou sua indignação em seu perfil no X, antigo Twitter, relacionando os eventos ao seu passado de acusações contra Lira.

 

DCM

Político do União Brasil é suspeito de engravidar menina de 13 anos e induzir aborto

No dia 1° de junho, moradores de Porto Walter, no interior do Acre, encontraram o feto de um bebê abortado sendo devorado por urubus. Após uma investigação, a Polícia Civil da cidade identificou a provável mãe, uma menina de 13 anos que teria sido vítima de estupro de um funcionário público. Nesta sexta-feira (14), a jovem relatou que manteve relações sexuais com um homem, que lhe forneceu medicamentos abortivos após descobrir a gravidez.

Identificado apenas como Sérgio, segundo o jornal Folha do Acre, ele já tem se divulgado no município como pré-candidato a vereador pelo União Brasil, partido que conta com dois deputados que propuseram o PL antiaborto. Se aprovado, o projeto pode equiparar a ação da vítima a um crime de homicídio.

O feto foi encontrado dentro de uma sacola, que estava sendo rasgada e arrastada por urubus, chamando a atenção dos moradores da Rua Amarizio Sales, no bairro da Portelinha. A Polícia Militar foi acionada e o feto foi levado ao hospital local, pois a cidade não possui Instituto Médico Legal (IML). Segundo jornais locais, o feto apresentava sinais de ataque por animais, dificultando a identificação do sexo e da idade gestacional.

“Ela afirmou que manteve uma relação sexual com um homem de Porto Walter, que terminou engravidando. Em decorrência da gravidez, ela teve que praticar um aborto porque foi induzida pelo pretenso estuprador. Por conta desse aborto ela alegou que estava sentindo muitas dores, deu entrada no hospital da cidade de Porto Walter e, posteriormente, saiu. No dia de ontem foi agilizado para ela ser transferida para Cruzeiro do Sul pelo TFD, mas ela se negou a ir”, explicou o delegado José Obetânio.

O delegado também explicou que a vítima passará por exame de conjunção carnal e outros procedimentos para confirmar os relatos. Caso se comprove a paternidade e a indução ao aborto, o homem poderá ser denunciado por estupro de vulnerável e por ter induzido a menina ao aborto.

Imagem ilustrativa

“Ele foi ouvido e disse que não teve relações sexuais com ela, que não induziu fazer aborto. Admite que fez um Pix para ela de R$ 50, mas segundo ele foi para ela comprar comida. Segundo ela, o dinheiro foi pra ela utilizar no que ela quisesse e ele mesmo deu os remédios abortivos para ela”, disse Obetânio.

O feto será exumado para a realização de um exame de DNA, que pode comprovar a paternidade. “Nós representamos pela exumação do corpo, para realizar exame de DNA para comprovar a paternidade. A autorização já foi dada e o perito deverá chegar em Porto Walter para a realização da exumação e perícia. Se ficar constatada que o homem induziu a menina ao aborto ele será responsabilizado criminalmente, podendo ser preso”, concluiu o delegado.

A adolescente foi levada à Unidade Mista do município devido a uma infecção decorrente do aborto. Ela aguardava transferência para o Hospital de Cruzeiro do Sul, mas foi levada para casa por uma mulher que assinou um termo de responsabilidade por ela.

Boulos lidera corrida eleitoral em São Paulo com 37,2%, ante 20,5% de Ricardo Nunes, diz pesquisa AtlasIntel

O deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, lidera a corrida eleitoral, segundo levantamento divulgado nesta terça-feira (28) pelo instituto AtlasIntel, em parceria com a CNN Brasil. Com 37,2% das intenções de voto, Boulos mantém uma vantagem significativa sobre o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), que aparece com 20,5%. empresário Pablo Marçal (PRTB), que teve seu nome lançado pelo PRTB no último sábado, aparece em terceiro lugar, com 10,4% das intenções de voto.

Ainda conforme a pesquisa, a deputada federal Tábata Amaral (PSB) possui 9,9% das intenções de voto. José Luiz Datena, que trocou o PSB pelo PSDB em abril, e o deputado federal Kim Kataguiri, pré-candidato pelo União Brasil, aparecem empatados, com 7,9% da preferência do eleitorado. Os eleitores que disseram não saber em quem votar somaram 0,9% e os que declararam que iriam votar em branco ou nulo ficaram em 1,4%.

Ainda conforme o levantamento, Boulos e Nunes aparecem empatados em um eventual segundo turno da disputa pela prefeitura da capital. Segundo o levantamento, divulgado nesta terça-feira (28), Nunes possui 46% das intenções de voto ante 43,5% de Boulos. A fatia de eleitores que ainda não sabem em quem votar representa 2,1%, enquanto 8,3% declararam a intenção de votar nulo ou em branco.

O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o número SP-05357/2024. No total, 1.670 eleitores da capital paulista foram entrevistados por meio do Recrutamento Digital Aleatório (Atlas RDR) durante o período de 22 a 27 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Brsil 247

Mercado financeiro lança seus candidatos “independentes”

Por Florestan Fernandes Jr

A “turma do poder” já teceu planos e estratégias para devorar o país, no costumeiro apetite predatório que lhes é peculiar

A extrema-direita está de volta, dando as cartas através dos seus principais governadores, líderes do bolsonarismo, do mercado financeiro e da mídia corporativa nacional. Vieram em seu estilo próprio, o da “lacração”, que domina hoje as redes sociais fascistas e inflama os afetos dos incautos.

A turma da Faria Lima, sem qualquer constrangimento, aderindo às fake-news, espalhou toda espécie de cizânia, visando a desestabilização do governo federal. Foi o que vimos durante esta semana, com os fuxicos recentes de que Rui Costa teria pedido a cabeça de Haddad, ou ainda que o próximo Ministro da Fazenda seria indicado por Mercadante.

Nesse cenário de busca incessante de desestabilização, os golpistas aparecem serelepes, livres, leves, soltos e engajados, ombreados com a grande mídia e o mercado financeiro na campanha para a sucessão presidencial. O interesse é um só: “business”.

As movimentações nesse sentido se deram em encontros nababescos. Um deles no mês passado, patrocinado pelo “golden boy” da Rede Globo, Luciano Huck. Também mais recentemente em um jantar oferecido pelo governador paulista no Palácio dos Bandeirantes. Os dois encontros tinham como principais comensais o governador Tarcísio de Freitas e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Nas festas de Babete tupiniquim, foram servidos na bandeja aos banqueiros e homens do mercado financeiro, o candidato à sucessão de Lula, o atual governador paulista e, como seu homem na Fazenda, o atual presidente do Banco Central “independente”, Roberto Campos Neto. Entre goles e garfadas, a “turma do poder”, teceu planos e estratégias para devorar o país, no costumeiro apetite predatório que lhes é peculiar.

Os neoliberais precisaram de apenas seis anos (dois de Temer e quatro de Bolsonaro) para sedimentar uma política econômica muito bem amarrada com as emendas parlamentares e com a ação de um Banco Central “autônomo”, que mantém uma taxa de juros imoral, em patamares estratosféricos e injustificável. Tudo isto atendendo aos seus interesses e apetites.

Mas não só os rentistas. Além deles, parte do andar de cima da pirâmide social se deleita ainda com os incentivos fiscais criados em 2013, com a desoneração da folha salarial, que atende 17 setores da economia. Um rombo no orçamento do governo de mais de 26 bilhões de reais, apenas em 2024. Essa benesse custeada com o dinheiro do contribuinte, não tem sequer prestação de contas sobre a sua própria razão de existir: a preservação dos empregos.

Seria importante que empresas como a Rede Globo, por exemplo, beneficiadas com descontos nos impostos, apresentassem o balanço de empregos preservados nos últimos 10 anos. Uma manifestação de transparência. Aquela mesma que tanto cobra da administração pública, e que não apresenta quando se trata do uso de dinheiro público – e desoneração da folha diz respeito a dinheiro público, sim! Mas o fato é que não estão nem aí. Cobram de Fernando Haddad o equilíbrio fiscal que eles próprios não respeitam.

Lembro que em 2002 conversei com um ex-diretor da área econômica da família Marinho, que durante anos tinha que definir os investimentos das fortunas pessoais dos donos e das aplicações dos recursos bilionários da empresa.

Fazer fortuna com recursos públicos é uma especialidade de um seleto grupo que manda e desmanda no país há séculos. Para isto, têm os seus nas esferas de poder. Foi através desses aliados no Congresso que o seleto grupo conseguiu recentemente prorrogar a aberração que é a desoneração da folha salarial.

Ou seja, pressão de todos os lados com a cobrança de rigor fiscal apertado, mas abrir mão da desoneração, jamais! Farinha pouca, meu pirão primeiro! E assim caminha a cruzada contra o Brasil.

Como disse no Boa Noite 247 o ex-ministro Luís Carlos Bresser Pereira, “o governo atual paga juros extremamente altos, juros que representam 7% do PIB.” Isso, para Bresser, é um escândalo, é uma captura do patrimônio público. Trocando em miúdos, é corrupção mesmo. E o pior é que alegam que esses juros pornográficos servem para combater a inflação. Uma falácia.

Antes de embarcar para o G7, Lula disse que “o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit, sem comprometer os investimentos”. Foi a deixa para o tal mercado ficar nervosinho, com o dólar subindo e a bolsa caindo.

Acho que o melhor seria o governo Lula ir para o enfrentamento e falar abertamente com a população. E o primeiro tema poderia ser a desoneração da folha salarial. O governo poderia levantar, junto ao Ministério do Trabalho, quantos empregos eram ofertados pelos 17 setores beneficiados pela isenção fiscal em 2013 e quantos são ofertados hoje. Seria a oportunidade de se esclarecer quem paga – eu, você e todos nós – se a desoneração efetivamente alcança a sua finalidade (é intuitivo que não), quem se beneficia dela e a que custo para o povo brasileiro. Transparência é um dos princípios da administração pública e tributária.

É apenas uma ideia de quem vê, desolado, que o deus mercado venceu mais uma, e que Haddad se vê agora obrigado a revisar gastos do governo. O nosso suado dinheirinho vale mais nas mãos do mercado, do que nas mãos dos trabalhadores, esta massa que efetivamente produz as riquezas do país.

(*) Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

Franz Kafka, espírito libertário

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Por MICHAEL LÖWY*

Notas por ocasião do centenário da morte do escritor tcheco

1.

Franz Kafka era um espírito libertário. É claro que sua obra não pode ser reduzida a uma doutrina política, seja ela qual for. O escritor não produz discursos, mas cria indivíduos e situações, exprime em sua obra sentimentos, atitudes, uma Stimmung. O mundo simbólico da literatura é irredutível ao mundo discursivo das ideologias: a obra literária não é um sistema conceitual abstrato, como as doutrinas filosóficas ou políticas, mas a criação de um universo imaginário concreto de personagens e coisas.[i]

No entanto, isso não nos impede de explorar as passagens, as passarelas, as ligações subterrâneas entre seu espírito antiautoritário, sua sensibilidade libertária, suas simpatias pelo anarquismo, por um lado, e seus principais escritos, por outro. Estas passagens dão-nos um acesso privilegiado àquilo a que se poderia chamar a paisagem interna da obra de Franz Kafka.

Três testemunhos de tchecos contemporâneos documentam a simpatia do escritor de Praga pelos socialistas libertários tchecos e sua participação em algumas de suas atividades. No início dos anos 1930, na ocasião de suas pesquisas para o romance Stefan Rott (1931), Max Brod recolheu informações junto a um dos fundadores do movimento anarquista tcheco, Michal Kacha. Trata-se da participação de Kafka nas reuniões do Klub Mladych (Clube dos Jovens), uma organização libertária, antimilitarista e anticlerical, frequentada por vários escritores tchecos (S. Neumann, Mares, Hasek).

Incorporando estas informações – que lhe foi “confirmada por outra parte” – Max Brod observa em seu romance que Kafka “assistia frequentemente, em silêncio, às reuniões do círculo. Kacha achava-o simpático e chamava-o ‘Klidas’, que poderia ser traduzido como ‘o taciturno’ ou, mais precisamente, na gíria tcheca, como ‘o colosso do silêncio’”. Max Brod nunca pôs em dúvida a veracidade deste testemunho, que citaria novamente em sua biografia de Franz Kafka.[ii]

O segundo testemunho é o do escritor anarquista Michal Mares, que conheceu Franz Kafka na rua (eram vizinhos). Segundo Michal Mares – cujo documento foi publicado por Klaus Wagenbach em 1958 –, Kafka tinha ido, a seu convite, a uma manifestação contra a execução de Francisco Ferrer, o educador libertário espanhol, em outubro de 1909. Durante os anos 1910-12, ele teria assistido a conferências anarquistas sobre o amor livre, a Comuna de Paris, a paz e contra a execução do militante parisiense Liabeuf, organizadas pelo “Clube dos Jovens”, pela associação “Vilem Körber” (anticlerical e antimilitarista) e pelo Movimento Anarquista tcheco.

Em várias ocasiões, ele teria até mesmo pago cinco coroas de fiança para libertar seu amigo da prisão. Mares, tal como Kacha, insiste no silêncio de Kafka: “Tanto quanto sei, Franz Kafka não pertencia a nenhuma destas organizações anarquistas, mas tinha as fortes simpatias de um homem sensível e aberto aos problemas sociais. No entanto, apesar de seu interesse por estas reuniões (dada sua assiduidade), jamais interveio nas discussões”. Este interesse manifesta-se também em suas leituras – Discursos de um rebelde, de Kropotkin (presente do próprio Mares), bem como os escritos dos irmãos Reclus, Bakunin e Jean Grave – e em suas simpatias: “o destino do anarquista francês Ravachol ou a tragédia de Emma Goldmann, que editava Mother Earth, tocaram-no particularmente…”.[iii]

O terceiro documento é Conversas com Kafka, de Gustav Janouch, publicado pela primeira vez em 1951 e, consideravelmente aumentado, em 1968. Este relato, que se refere aos intercâmbios com o escritor de Praga durante os últimos anos de sua vida (a partir de 1920), sugere que Franz Kafka mantinha sua simpatia pelos libertários. Não apenas descreve os anarquistas tchecos como “muito amáveis e muito alegres”, “tão amáveis e tão simpáticos que somos obrigados a acreditar em tudo o que dizem”, mas as ideias políticas e sociais que exprime no curso dessas conversas continuam fortemente marcadas pela corrente libertária.

Por exemplo, sua definição do capitalismo como “um sistema de relações de dependência” onde “tudo é hierarquizado, tudo está em ferros” é tipicamente anarquista, por sua insistência no caráter autoritário deste sistema – e não na exploração econômica como o marxismo. Mesmo sua atitude cética em relação ao movimento operário organizado parece inspirada na desconfiança libertária em relação aos partidos e às instituições políticas: por trás dos operários que desfilam “já se adiantam os secretários, os burocratas, os políticos profissionais, todos os sultões modernos que preparam o acesso ao poder… A revolução evapora-se, resta apenas a lama de uma nova burocracia. As correntes da humanidade torturada são feitas de papéis dos ministérios”.[iv]

A hipótese sugerida por estes documentos – o interesse de Franz Kafka pelas ideias libertárias – é confirmada por certas referências em seus escritos íntimos. Por exemplo, em seu diário, encontramos este imperativo categórico: “Não esquecer Kropotkin!”; e numa carta a Max Brod, em novembro de 1917, exprime seu entusiasmo por um projeto de revista (Páginas de combate contra a vontade de poder) proposto pelo anarquista freudiano Otto Gross.[v] Não esquecendo o espírito libertário que parece inspirar algumas de suas declarações, por exemplo, a observação cáustica que um dia fez a Max Brod, referindo-se a seu local de trabalho, o Serviço de Seguro Social (onde os trabalhadores acidentados vinham reclamar seus direitos): “Como estes homens são humildes… Vêm pedir-nos ajuda. Em vez de invadirem a casa e de a saquearem, vêm pedir-nos ajuda”.[vi]

É muito provável que estes diferentes relatos – especialmente os dois últimos – contenham imprecisões e exageros. O próprio Klaus Wagenbach reconhece (sobre Mares) que “alguns detalhes podem estar errados” ou, pelo menos, “exagerados”. Do mesmo modo, segundo Max Brod, Mares, tal como muitas outras testemunhas que conheceram Franz Kafka, “tende a exagerar”, especialmente no que diz respeito à extensão de sua amizade com o escritor. Quanto a Janouch, enquanto a primeira versão de suas recordações dá uma impressão de “autenticidade e credibilidade”, pois “contém os sinais distintivos do estilo com que Kafka falava”, a segunda parece bem menos confiável.[vii]

Mas uma coisa é constatar as contradições ou os exageros destes documentos, outra coisa é rejeitá-los de imediato, qualificando as informações sobre as ligações entre Franz Kafka e os anarquistas tchecos como “pura lenda”. É esta a atitude de alguns especialistas, entre os quais Eduard Goldstücker, Hartmut Binder, Ritchie Robertson e Ernst Pawel – o primeiro um crítico literário comunista tcheco e os demais autores de biografias de Franz Kafka cujo valor é inegável.

2.

Vamos limitar-nos aqui a examinar o ponto de vista de Ritchie Robertson, autor de um ensaio notável sobre a vida e a obra do escritor judeu de Praga. O que é completamente novo e interessante neste livro é a tentativa de propor uma interpretação alternativa das ideias políticas de Kafka, que, segundo ele, não seriam nem socialistas nem anarquistas, mas românticas. Este romantismo anticapitalista não seria, em seu entender, nem de esquerda nem de direita.[viii] Ora, se o anticapitalismo romântico é uma matriz comum a certas formas de pensamento conservadoras e revolucionárias – e, nesse sentido, ultrapassa de fato a divisão tradicional entre esquerda e direita –, não deixa de ser verdade que os próprios autores românticos se situam claramente num dos pólos desta visão de mundo: o romantismo reacionário ou o romantismo revolucionário.[ix]

De fato, o anarquismo, o socialismo libertário e o anarcossindicalismo são exemplos paradigmáticos do “anticapitalismo romântico de esquerda”. Por conseguinte, definir o pensamento de Franz Kafka como romântico – o que me parece inteiramente pertinente – não significa de modo algum que ele não seja “de esquerda”, concretamente um socialismo romântico de tendência libertária.

Como todos os românticos, sua crítica da civilização moderna é tingida de nostalgia do passado – representada, para ele, pela cultura iídiche das comunidades judaicas da Europa do Leste. Com uma intuição notável, André Breton escreveu: “ao marcar o minuto atual”, o pensamento de Franz Kafka “gira simbolicamente para trás com os ponteiros do relógio da sinagoga” de Praga.[x].

3.

O interesse do episódio anarquista na biografia de Franz Kafka (1909-1912) é que ele nos oferece uma das chaves de leitura mais esclarecedoras da obra – em particular dos escritos a partir de 1912. Digo uma das chaves, porque o encanto desta obra vem também de seu caráter eminentemente polissêmico, irredutível a qualquer interpretação unívoca. O ethos libertário exprime-se nas diferentes situações que estão no centro de seus principais textos literários, mas sobretudo na forma radicalmente crítica como é representada a face assombrosa e angustiante da não-liberdade: a autoridade. Como bem disse André Breton, “nenhuma obra milita tanto contra a admissão de um princípio soberano exterior àquele que pensa”.[xi]

Um antiautoritarismo de inspiração libertária atravessa toda a obra romanesca de Franz Kafka, num movimento de “despersonalização” e reificação crescente: da autoridade paterna e pessoal à autoridade administrativa e anônima[xii]. Outra uma vez, não se trata de uma doutrina política qualquer, mas de um estado de espírito e de uma sensibilidade crítica – cuja principal arma é a ironia e o humor, o humor negro que é, segundo André Breton, “uma revolta superior do espírito”.[xiii]

Esta atitude tem raízes íntimas e pessoais em sua relação com o pai. Para o escritor, a autoridade despótica do pater familias é o próprio arquétipo da tirania política. Em sua Carta ao Pai (1919), Kafka recorda: “Você assumiu para mim o caráter enigmático dos tiranos, cujo direito não se baseia na reflexão, mas na própria pessoa deles”. Confrontado com o tratamento brutal, injusto e arbitrário dos empregados por seu pai, Franz Kafka solidariza-se com as vítimas: “Isto tornava a loja insuportável para mim, muito me fazia lembrar da minha própria situação em relação a você… É por isso que pertenço necessariamente ao partido dos empregados…”.[xiv]

As principais características do autoritarismo nos escritos literários de Kafka são: (i) a arbitrariedade: as decisões são impostas de cima, sem qualquer justificação – moral, racional, humana –, e muitas vezes com exigências desmedidas e absurdas feitas à vítima; (ii) a injustiça: a culpa é considerada – erroneamente – como evidente por si mesma, sem necessidade de prova, e os castigos são totalmente desproporcionais em relação à “culpa” (inexistente ou trivial).

Em sua primeira grande obra, O Veredito (1912), Kafka dedica-se apenas à autoridade paterna; é também uma das poucas obras em que o herói (Georg Bendemann) parece submeter-se inteiramente e sem resistência ao veredito autoritário: a ordem do pai ao filho para se atirar ao rio! Comparando esta novela com O Processo, Milan Kundera observou: “A semelhança entre as duas acusações, culpabilizações e execuções traiu a continuidade que liga o ‘totalitarismo’ íntimo da família ao das grandes visões de Kafka”[xv]. Com a ressalva de que nos dois grandes romances (O Processo e O Castelo) trata-se de um poder “totalitário” perfeitamente anônimo e invisível.

América (1913-14) é uma obra intermediária neste aspecto: as personagens autoritárias são, por vezes, figuras paternais (o pai de Karl Rossmann e o tio Jakob), por vezes, altos administradores de hotéis (o chefe do pessoal e o chefe dos porteiros). Mas mesmo estes últimos conservam um aspecto de tirania pessoal, combinando a frieza burocrática com um despotismo individual mesquinho e brutal. O símbolo deste autoritarismo punitivo aparece logo na primeira página do livro: desmistificando a democracia americana, representada pela famosa Estátua da Liberdade à entrada do porto de Nova Iorque, Franz Kafka substitui a tocha que tem nas mãos por uma espada… Num mundo sem justiça nem liberdade, a força nua e o poder arbitrário parecem reinar absolutos. A solidariedade do herói está com as vítimas desta sociedade: por exemplo, o motorista do primeiro capítulo, exemplo do “sofrimento de um pobre submetido aos poderosos”, ou a mãe de Thèrèse, levada ao suicídio pela fome e pela miséria. Ele encontra amigos e aliados ao lado dos pobres: a própria Thérèse, os estudantes, os habitantes do bairro popular que se recusam a entregá-lo à polícia – pois, escreve Franz Kafka num comentário revelador, “os operários não estão do lado das autoridades”.[xvi]

Do ponto de vista que nos interessa aqui, a grande viragem na obra de Franz Kafka é o conto Na colônia penal, escrito pouco depois de América. Há poucos textos na literatura mundial que apresentem a autoridade com uma imagem tão injusta e assassina. Não se trata do poder de um indivíduo – os Comandantes (Antigo e Novo) desempenham apenas um papel secundário na história – mas o de um mecanismo impessoal.

A contexto da história é o colonialismo… francês. Os oficiais e comandantes da colônia são franceses, enquanto os humildes soldados, estivadores e vítimas a executar são “nativos” que “não compreendem uma palavra de francês”. Um soldado “nativo” foi condenado à morte por oficiais cuja doutrina jurídica resume em poucas palavras a quintessência do arbitrário: “a culpa nunca deve ser posta em dúvida!”. Sua execução deve ser realizada por uma máquina de tortura que escreve lentamente em seu corpo, com agulhas que o perfuram: “Honra os seus superiores”.

A personagem central da história não é o viajante, que observa os acontecimentos com silenciosa hostilidade, nem o prisioneiro, que não reage, nem o oficial que preside à execução, nem o comandante da colônia. É a própria Máquina.

Toda a história gira em torno deste aparelho (Apparat) sinistro, que parece cada vez mais, no decurso da explicação bem detalhada do oficial ao viajante, como um fim em si mesmo. O Aparelho não está lá para executar o homem, mas o homem está lá para o Aparelho, para fornecer-lhe um corpo onde possa escrever sua obra-prima estética, sua inscrição sangrenta ilustrada com “muitos floreios e embelezamentos”. O próprio oficial é apenas um servo da Máquina e acaba por se sacrificar a este Moloch insaciável.[xvii]

Em que “Máquina de poder” concreta, em que “Aparelho de autoridade” que sacrifica vidas humanas, pensava Kafka? Na Colônia Penal foi escrito em outubro de 1914, três meses após o início da Grande Guerra…

Em O Processo e O Castelo, encontramos a autoridade como um “aparelho” hierárquico, abstrato e impessoal: os burocratas, por mais brutais, mesquinhos ou sórdidos que sejam, são meras engrenagens deste mecanismo. Como Walter Benjamin observa com acuidade, Franz Kafka escreve do ponto de vista do “cidadão moderno que se sabe entregue a um aparelho burocrático impenetrável, cuja função é controlada por instâncias que permanecem obscuras mesmo para seus órgãos executivos, a fortiori para aqueles que ele manipula”.[xviii]

4.

A obra de Franz Kafka está, ao mesmo tempo, profundamente enraizada em seu ambiente de Praga – como observa André Breton, ela “abraça todos os encantos, todos os feitiços” de Praga[xix] – e perfeitamente universal. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, seus dois grandes romances não são uma crítica ao velho Estado imperial austro-húngaro, mas ao aparelho de Estado naquilo que ele tem de mais moderno: seu caráter anônimo, impessoal, enquanto sistema burocrático alienado, “coisificado”, autônomo, transformado num fim em si mesmo.

Uma passagem de O Castelo é particularmente esclarecedora deste ponto de vista: é aquela – uma pequena obra-prima de humor negro – em que o prefeito da aldeia descreve o aparelho oficial como uma máquina autônoma que parece funcionar “por si própria”: “Parece que o corpo administrativo já não consegue suportar a tensão, a irritação que ele vem sofrendo há anos por causa do mesmo caso, talvez insignificante em si mesmo, e que pronuncia o veredito por si próprio, sem a ajuda dos funcionários”.[xx] Esta intuição profunda do mecanismo burocrático como uma engrenagem cega, em que as relações entre os indivíduos se tornam uma coisa, um objeto independente, é um dos aspectos mais modernos, mais atuais e mais lúcidos da obra de Kafka.

A inspiração libertária está no cerne dos romances de Franz Kafka, que falam do Estado – seja sob a forma da “administração” ou da “justiça” – como um sistema impessoal de dominação que esmaga, sufoca ou mata os indivíduos. É um mundo angustiante, opaco e incompreensível, onde reina a não-liberdade. O Processo foi muitas vezes apresentado como uma obra profética: o autor, com sua imaginação visionária, teria previsto a justiça dos Estados totalitários, os processos nazistas ou stalinistas.

Bertold Brecht, ainda um companheiro de viagem da URSS, observou numa conversa com Walter Benjamin sobre Kafka em 1934 (antes mesmo dos julgamentos de Moscou): “Kafka só tem um problema, o da organização. O que o impressionava era a angústia diante do Estado-formigueiro, o modo como os homens alienam-se a si mesmos pelas formas de sua vida comum. E ele previu certas formas dessa alienação, como os métodos da GPU”.[xxi]

Sem questionar a pertinência desta homenagem à clarividência do escritor de Praga, convém, no entanto, lembrar que Kafka não descreve em seus romances Estados “de exceção”: uma das ideias mais importantes – cujo parentesco com o anarquismo é evidente – sugeridas por sua obra é o caráter alienado e opressivo do Estado “normal”, legal e constitucional. Logo nas primeiras linhas de O Processo, ele afirma claramente: “K. vivia bem num Estado de direito (Rechtstaat), a paz reinava por todo o lado, todas as leis estavam em vigor, então quem ousaria atacá-lo em sua casa?”[xxii]. Como seus amigos, os anarquistas de Praga, ele parece considerar toda forma de Estado, o Estado enquanto tal, como uma hierarquia autoritária e liberticida.

O Estado e sua justiça são também, por sua própria natureza, sistemas enganadores. Nada ilustra isto melhor do que o diálogo em O Processo entre K. e o abade sobre a interpretação da parábola do guardião da lei. Para o abade, “duvidar da dignidade do guardião seria duvidar da Lei” – o argumento clássico de todos os representantes da ordem. K. rejeita que, se se adota esta opinião, “é preciso acreditar em tudo o que o guardião diz”, o que lhe parece impossível:

“_ Não, diz o abade, não se é obrigado a acreditar que tudo o que ele diz é verdade, basta que o considere necessário.

“Triste opinião, diz K…, ela elevaria a mentira ao nível de regra do mundo”[xxiii].

Como Hannah Arendt observou corretamente em seu ensaio sobre Franz Kafka, o discurso do abade revela “a teologia secreta e a crença interior dos burocratas como uma crença na necessidade por si mesma, sendo os burocratas, em última análise, funcionários da necessidade”.[xxiv]

Finalmente, o Estado e os juízes administram menos a justiça do que a caça às vítimas. Numa imagem comparável à da substituição da tocha da liberdade por uma espada em América, vemos em O Processo um quadro do pintor Titorelli que deveria representar a deusa da Justiça transformar-se, quando a obra está bem iluminada, numa celebração da deusa da Caça. A hierarquia burocrática e jurídica constitui uma imensa organização que, segundo Joseph K, a vítima do Processo, “não só utiliza guardas venais, inspetores e juízes de instrução estúpidos… mas mantém ainda toda uma alta magistratura com seu indispensável séquito de valetes, escribas, gendarmes e outros auxiliares, talvez até carrascos, eu não me esquivo à palavra”[xxv]. Em outras palavras: a autoridade do Estado mata. Joseph K. conhece os carrascos no último capítulo do livro, quando dois funcionários públicos o matam “como um cão”.

O “cão” constitui uma categoria ética – ou até mesmo metafísica – na obra de Franz Kafka: descreve qualquer pessoa que se submete servilmente às autoridades, sejam elas quem forem. O comerciante Block ajoelhado aos pés do advogado é um exemplo típico: “Já não era um cliente, era o cão do advogado. Se este lhe tivesse ordenado que rastejasse para debaixo da cama e ladrasse como se estivesse numa casinha de cachorro, teria feito com prazer”. A vergonha que deve sobreviver a Joseph K. (última palavra de O Processo) é a de ter morrido “como um cão”, submetendo-se sem resistência aos seus carrascos. É também o caso do prisioneiro de Na Colônia Penal, que nem sequer tenta fugir e se comporta com uma submissão “canina” (hündisch)[xxvi].

O jovem Karl Rossmann, em América, é um exemplo de alguém que tenta – mas, nem sempre consegue – resistir às “autoridades”. Para ele, só “aqueles que se deixam tratar como cães” se tornam cães. A recusa de se submeter e de rastejar como um cão parece, assim, ser o primeiro passo para se caminhar ereto, para a liberdade. Mas os romances de Franz Kafka não têm “heróis positivos”, nem utopias do futuro: trata-se, portanto, de mostrar, com ironia e lucidez, a facies hippocratica de nosso tempo.

5.

Não é por acaso que a palavra “kafkiano” entrou na linguagem comum: refere-se a um aspecto da realidade social que a sociologia ou a ciência política tendem a ignorar, mas que a sensibilidade libertária de Franz Kafka conseguiu maravilhosamente captar: o caráter opressivo e absurdo do pesadelo burocrático, a opacidade, a impenetrabilidade e a incompreensibilidade das regras da hierarquia estatal, tal como são vividas a partir de baixo e do exterior – ao contrário da ciência social, que geralmente se limitou a examinar a máquina burocrática a partir do “interior” ou em relação aos “superiores” (o Estado, as autoridades, as instituições): seu caráter “funcional” ou “disfuncional”, “racional” ou “pré-racional”.

A ciência social ainda não desenvolveu um conceito para este “efeito de opressão” do sistema burocrático reificado, que é, sem dúvida, um dos fenômenos mais característicos das sociedades modernas, vivido cotidianamente por milhões de homens e mulheres. Enquanto aguardamos, esta dimensão essencial da realidade social continuará sendo designada em referência à obra de Kafka…[xxvii]

*Michae Löwy é diretor de pesquisa em sociologia no Centre nationale de la recherche scientifique (CNRS). Autor, entre outros livros, de Franz Kafka sonhador insubmisso (Editora Cem Cabeças) [https://amzn.to/3VkOlO1]

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Notas


[i] Ver L. Goldmann, “Materialisme dialectique et histoire de la littérature”, Recherches Dialectiques, Paris, Gallimard, 1959, pp. 45-64. [https://amzn.to/3KFtFLN]

[ii] M. Brod, Franz Kafka, pp. 135-136. [https://amzn.to/4c0qj1M]

[iii] M. Mares, “Comment j’ai connu Franz Kafka”, publicado em anexo em K. Wagenbach, Franz Kafka. Années de jeunesse (1883-1912), Paris, Mercure de France, 1967, pp. 253-249.

[iv] G. Janouch, Kafka m’a dit, Paris, Calmann-Lévy, 1952, pp. 70, 71, 135, 107, 108, 141.

[v] F. Kafka, Diaries e Briefe, Fischer Verlag, 1975, p. 196. Sobre Kafka e Otto Gross, ver G. Baioni, Kafka. Letteratura ed Ebraismo, Torino, Einaudi, 1979, pp. 203-205.

[vi] M. Brod, Franz Kafka, Paris, Gallimard, 1945, pp. 132-133.

[vii] Ver K.Wagenbach, Franz Kafka. Années de jeunesse… (1958) p. 213 e Franz Kafka in Selbstzeugnissen (1964), p. 70; Max Brod, Streitbares Leben 1884-1968, München-Berlin-Wien, F. A. Herbig, 1969, p. 170, e Über Franz Kafka, Frankfurt am Main, Fischer Bücherei, p. 190.

[viii] R. Robertson, Kafka. Judaïsm, Politics, and Literature, Oxford, Clarendon Press, 1985, pp. 140-141: “Se conduzirmos uma pesquisa sobre as inclinações políticas de Kafka, é, de fato, um erro pensarmos em termos da antítese usual entre esquerda e direita. O contexto mais apropriado seria a ideologia que Michael Löwy definiu como ‘anticapitalismo romântico’ (…) O anticapitalismo romântico (para adotar o termo de Löwy, embora ‘anti-industrialismo’ fosse mais preciso) tem diferentes versões (…), mas como ideologia geral ele transcende a oposição entre esquerda e direita”. Robertson refere-se aqui à minha primeira tentativa de explicar o “romantismo anticapitalista”, num livro sobre Lukács, mas há um óbvio mal-entendido em sua interpretação da minha hipótese.

[ix] Procurei analisar o romantismo em meu livro Pour une sociologie des intellectuels révolutionnaires. L’évolution politique de Lukács 1909-1929, Paris, PUF, 1976 (citado por R. Robertson a partir da tradução inglesa, publicada em Londres em 1979), e, mais recentemente, com meu amigo Robert Sayre, em Revolte et melancolie. Le romantisme à contre-courant de la modernité, Paris, Payot, 1992.

[x] A. Breton, apresentação de Kafka em seu Anthologie de l’humour noir, Paris, Le Sagittaire, 1950, p. 263. [https://amzn.to/3XmYNXP]

[xi] A. Breton, Anthologie de l’humour noir, p.264.

[xii] Para uma análise mais detalhada do anarquismo e do romantismo na obra de Kafka, remeto vocês a meu livro Rédemption et Utopie. Le judaïsme libertaire en Europe centrale, Paris, PUF, 1988, ch. 5. [https://amzn.to/3yX62vv]

[xiii] A. Breton, “Paratonerre”, introdução a Anthologie de l’humour noir, p. 11.

[xiv] F. Kafka, “Lettre au Père”, 1919, em Préparatifs de noce à la campagne, Paris, Gallimard, 1957, pp. 165, 179. [https://amzn.to/4cnHmuJ]

[xv] M. Kundera, “Quelque part là-derrière”, Le Debat, n° 8, junho 1981, p. 58.

[xvi] F. Kafka, Amerika, Francfort, Fischer Verlag, 1956, p. 15, 161.

[xvii] Kafka, “In der Strafkolonie”, Erzählung und kleine Prosa, New York, Schocken Books, 1946, pp. 181-113.

[xviii] W. Benjamin, “Lettre à G. Scholem”, 1938, Correspondance, Paris, Aubier, 1980, II, p. 248.

[xix] A. Breton, Anthologie de l’humour noir, p. 263.

[xx] F. Kafka, Le Château, Paris, Gallimard, 1972, p. 562.

[xxi] Ver W. Benjamin, Essais sur Brecht, Paris, Maspero, 1969, p. 132.

[xxii] Kafka, Der Prozess, Francfort, Fischer Verlag, 1979, p.9.

[xxiii] F. Kafka, Le Procès, Paris, Gallimard, 1985, p.316.

[xxiv] H. Arendt, Sechs Essays, Heidelberg, Lambert Schneider, 1948, p. 133.

[xxv] Le Procès, p.98.

[xxvi] F. Kafka, Le Procès, pp. 283, 309, 325 e In der “Strafkolonie”, p. 181.

[xxvii] As questões abordadas neste artigo são discutidas em maior profundidade em meu ensaio Franz Kafka, rêveur insoumis, Paris, Ed. Stock, 2005.

O STF, a Inteligência Artificial e a Justiça do Trabalho

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Por JORGE LUIZ SOUTO MAIOR*

A concretização da substituição do ser humano pela IA pressupõe que esta já foi treinada para atuar na forma desejada pela classe dominante

 

“Em breve, tenho certeza que teremos a inteligência artificial escrevendo a primeira versão de sentenças.”
(Luís Roberto Barroso)

 

Foi com as palavras em epígrafe que, em maio deste ano, o Presidente do STF, Luís Roberto Barroso, expressou seu projeto, disfarçado de premonição, durante o J20, que é um encontro do qual participam presidentes e representantes das Supremas Cortes dos países que integram o G20 (https://www.migalhas.com.br/quentes/407335/barroso-diz-que-ia-podera-escrever-sentencas-em-breve).

Para justificar sua fala, o Ministro recorreu, mais uma vez, ao excesso de judicialização que, segundo ele, existe no Brasil, aduzindo que diante desse problema a IA precisa ser adotada para acelerar o sistema de Justiça. Em suas palavras: “Temos 85 milhões de casos no Brasil no momento, temos que ter ferramentas para acelerar as coisas.”

E foi além, afirmando que a inteligência artificial “pode tomar melhor decisões em muitas matérias, porque é capaz de processar mais informações com maior velocidade” (https://www.migalhas.com.br/quentes/407335/barroso-diz-que-ia-podera-escrever-sentencas-em-breve)

Em aparente minimização dos efeitos da ideia, o Ministro “reconheceu” que o uso da tecnologia envolve riscos e que, portanto, sua aplicação seria dependente da supervisão humana. “Existem muitos riscos e uma discussão sobre regular a IA para proteger direitos fundamentais, proteger a democracia” se impõe, até porque, a IA “ainda” não consegue separar o certo do errado nem ter bom senso, aduziu o Ministro.

Mas será que sua preocupação foi mesmo com a preservação do papel do ser humano? O que, afinal, para o Ministro, é o certo e o errado? O que ele entende por “bom senso”?

Em meio ao desafio de analisar esta proposição da utilização da IA no Judiciário, recebi, pelas redes sociais, um vídeo, onde um “juiz” se vangloriava de ter confirmado a sua hipótese de que um reclamante, que pleiteava o reconhecimento do vínculo de emprego no período de cinco meses antes da efetiva anotação de sua CTPS, teria sonegado a informação na petição inicial de que naquele período estava recebendo seguro-desemprego e que, portanto, havia sido sua a opção de trabalhar sem o registro, para continuar recebendo o seguro-desemprego. Ao ser indagado pela “entrevistadora” sobre o resultado que deu ao processo, o juiz, em tom de escárnio, disse que o reclamante mentiroso havia cometido uma ilegalidade e que, portanto, o contrato era nulo, não havendo direito a ser conferido ao trabalhador.

Fiquei, por certo, tanto quanto indignado, porém nem um pouco surpreso ou decepcionado com a resposta que se apresentou, e esta, certamente, foi a intenção de quem me enviou o vídeo. Mas, já estava ali envolvido com esta polêmica da comparação do humano com a máquina, achei oportuno formular a mesma questão ao ChatGPT e o fiz nos seguintes termos:

“Durante o período de cinco meses, em que recebia o seguro-desemprego, um trabalhador adquiriu novo emprego, mas, por estar recebendo o benefício, não foi registrado. Posteriormente, entrou com reclamação trabalhista pleiteando o reconhecimento do vínculo deste período de 5 meses e o recebimento dos direitos trabalhistas correspondentes ao período. O empregador se defendeu dizendo que a lei proíbe o trabalho durante o período do recebimento do seguro-desemprego e que, portanto, o contrato naquele período seria nulo, não sendo devidos o reconhecimento do vínculo empregatício e direitos trabalhistas. Quem tem razão?”

Eis a resposta do ChatGPT:

 

“A situação apresentada envolve questões complexas sobre a legalidade do trabalho durante o recebimento do seguro-desemprego e o direito ao reconhecimento do vínculo empregatício e dos direitos trabalhistas correspondentes. Vamos analisar os argumentos e a legislação aplicável.

Legislação sobre Seguro-Desemprego e Vínculo Empregatício

1.                 Seguro-Desemprego:

·                    Conforme a Lei nº 7.998/1990, que regula o Programa do Seguro-Desemprego, o benefício é destinado a trabalhadores desempregados que não possuem outra fonte de renda.

·                     O Art. 8º, inciso III, da referida lei estabelece que o benefício será cancelado se for constatado que o trabalhador possui outra fonte de renda.

2.                 Nulidade do Contrato de Trabalho:

·                     O empregador argumenta que o trabalho durante o recebimento do seguro-desemprego é ilegal e, portanto, o contrato de trabalho seria nulo.

·                      No entanto, a legislação trabalhista brasileira, conforme entendimento consolidado em diversas decisões judiciais, geralmente não considera a nulidade do contrato de trabalho como argumento para negar direitos trabalhistas ao empregado.

Jurisprudência e Princípios do Direito do Trabalho

·                     Princípio da Primazia da Realidade: No direito do trabalho, prevalece a realidade dos fatos sobre os documentos formais. Se o trabalhador efetivamente prestou serviços, o vínculo empregatício deve ser reconhecido, independentemente da formalidade do registro.

·                     Proteção ao Trabalhador: A legislação trabalhista é protetiva em relação ao trabalhador, visando garantir os direitos básicos decorrentes da relação de emprego, ainda que existam irregularidades formais.

Análise do Caso

1.                 Reconhecimento do Vínculo Empregatício:

·                    O trabalhador efetivamente prestou serviços durante o período de cinco meses, caracterizando uma relação de emprego.

·                   Mesmo que tenha recebido o seguro-desemprego de forma indevida, isso não anula a prestação de serviços e, consequentemente, o vínculo empregatício.

2.                 Direitos Trabalhistas Correspondentes:

·                     O trabalhador tem direito ao reconhecimento do vínculo empregatício e aos direitos trabalhistas correspondentes, tais como salário, férias proporcionais, 13º salário proporcional, FGTS, entre outros.

3.                 Consequências para o Seguro-Desemprego:

·                     O recebimento indevido do seguro-desemprego pode gerar a necessidade de restituição dos valores recebidos ao governo, e o trabalhador pode estar sujeito a sanções administrativas.

·                     No entanto, isso não afeta o direito ao reconhecimento do vínculo empregatício e aos direitos trabalhistas decorrentes da relação de trabalho efetivamente prestada.

Conclusão

O trabalhador tem razão em pleitear o reconhecimento do vínculo empregatício e os direitos trabalhistas correspondentes ao período de cinco meses em que trabalhou sem registro. A prestação de serviços efetiva caracteriza a relação de emprego, independentemente da irregularidade formal relacionada ao seguro-desemprego.

Embora o trabalhador possa ter que restituir os valores do seguro-desemprego recebidos indevidamente, isso não interfere no direito ao reconhecimento do vínculo e aos direitos trabalhistas.

Referências Legais

·                     Lei nº 7.998/1990: Regula o Programa do Seguro-Desemprego.

·                     Princípio da Primazia da Realidade: Aplicável no direito do trabalho, onde prevalece a realidade dos fatos sobre documentos formais.

Portanto, o empregador deve reconhecer o vínculo empregatício e pagar os direitos trabalhistas devidos ao trabalhador, apesar do recebimento indevido do seguro-desemprego.”

 

 

Confesso que ao ler a resposta da máquina, fiquei meio abalado com relação à minha convicção preconcebida de contrariedade plena à IA. Afinal, a máquina demonstrou um conhecimento jurídico muito mais apurado e, no contexto específico, chegou a um resultado bem mais humanizado do que aqueles apresentados pelo ser humano, um “especialista” em Direito do Trabalho.

Isso me forçou a ir adiante na experiência, para, inclusive, fazer uma simulação a propósito da fala do Ministro Barroso.

Pareceu-me necessário, em primeiro lugar, perguntar à própria máquina se ela seria capaz de produzir sentenças.

A resposta foi a seguinte:

 

“A elaboração de sentenças por inteligência artificial (IA) é uma área emergente e complexa dentro do campo jurídico. A ideia é que algoritmos de IA possam ajudar juízes na tomada de decisões judiciais, analisando precedentes, fatos e leis aplicáveis. No entanto, essa possibilidade vem acompanhada de vários desafios e considerações éticas e práticas.

Possibilidades da IA na Elaboração de Sentenças

1.                 Análise de Precedentes e Legislação:

·                   Algoritmos de IA podem ser treinados para analisar grandes volumes de dados jurídicos, incluindo precedentes judiciais e textos legais, para identificar padrões e fornecer recomendações baseadas em casos semelhantes.

2.                 Redução de Vieses:

·                    A IA pode ajudar a mitigar vieses inconscientes presentes nas decisões humanas ao basear suas recomendações em dados objetivos e padrões estabelecidos.

3.                 Eficiência:

·                    A automação de parte do processo decisório pode acelerar a emissão de sentenças, aliviando a carga de trabalho dos juízes e reduzindo o tempo de espera para as partes envolvidas.

Exemplos Práticos

·                     Helsinki and Tallinn’s AI Judge: Na Estônia, um projeto piloto visa criar uma “IA juiz” para resolver disputas de pequeno valor (até €7.000). A ideia é que a IA possa emitir decisões em casos simples, com a possibilidade de recurso para um juiz humano.

·                     COMPAS: Nos EUA, o sistema de IA COMPAS (Correctional Offender Management Profiling for Alternative Sanctions) é utilizado para ajudar a decidir sobre a liberdade condicional. Ele analisa dados para prever a probabilidade de um réu reincidir, auxiliando na decisão sobre sentenças e liberdades condicionais.

Desafios e Considerações Éticas

1.                 Transparência e Explicabilidade:

·                     Um dos maiores desafios é garantir que os algoritmos de IA sejam transparentes e que suas decisões possam ser explicadas de forma compreensível. A “caixa preta” dos algoritmos pode dificultar a compreensão de como a IA chegou a uma determinada decisão.

2.                 Vieses Inerentes:

·                    Se os dados de treinamento da IA contiverem vieses históricos, esses vieses podem ser replicados ou até ampliados nas decisões da IA. Portanto, é crucial que os dados utilizados sejam cuidadosamente selecionados e auditados.

3.                 Responsabilidade e Supervisão Humana:

·                     As decisões judiciais têm consequências significativas para a vida das pessoas. Portanto, é fundamental que a responsabilidade final pela decisão permaneça com um juiz humano. A IA deve ser vista como uma ferramenta de suporte, não como um substituto completo.

4.                 Proteção de Dados:

·                    A utilização de IA implica o processamento de grandes quantidades de dados pessoais e sensíveis, exigindo medidas rigorosas de proteção e privacidade.

Conclusão

Embora a elaboração de sentenças por IA seja tecnicamente possível e já esteja sendo explorada em alguns contextos, ainda há um longo caminho a percorrer para sua adoção ampla e segura. A IA pode ser uma ferramenta poderosa para aumentar a eficiência e reduzir vieses no sistema judicial, mas deve ser implementada com cuidado, garantindo a supervisão humana e a consideração de princípios éticos fundamentais.”

 

 

A máquina, mais uma vez, surpreendeu porque foi bem mais cautelosa quanto às suas potencialidades do que o Ministro do Supremo, que a ela se referiu como uma panaceia para todos os problemas do Judiciário.

E cumpre perceber que a máquina não se apresentou como um substitutivo do ser humano, mas sim como uma ferramenta que, a partir da utilização de algoritmos e coleta de dados, auxilia na formulação das decisões judiciais.

Oportuno, pois, mencionar que existe grande diferença entre um sistema de algoritmos e um sistema que atinge o nível de uma inteligência artificial.

Embora partam do mesmo princípio, que é o do armazenamento e processamento de dados para se chegar a um resultado específico, e até sejam referidos com a denominação genérica de inteligência artificial, a IA propriamente dita é um passo além com relação ao sistema de algoritmos. Os algoritmos seguem códigos previamente determinados para a colheita e “análise” dos dados. A IA é um sistema capaz de produzir seus próprios códigos, ou, em certo sentido, de formular uma “racionalidade autônoma” e, por meio dela, chegar ao resultado referente à demanda que lhe é proposta.

E aí as questões se ampliam indefinidamente, porque a IA, obedecendo ao propósito de dar uma resposta, para atingir o seu objetivo de interagir com o ser humano, não tem exatamente um compromisso com o real e, sendo necessário, cria o seu próprio caminho. O compromisso, ao menos nesse primeiro estágio do ChatGPT, é o de formular argumentações que sejam assemelhadas às dos seres humanos, valendo-se, por certo, das informações e dados dos quais se alimenta. Ocorre que se os dados forem insuficientes para se chegar ao resultado lógico, a IA é capaz de criá-los, a fim de manter a estrutura de argumentação típica dos seres humanos. Se estes argumentos requererem exemplos ou conclusões embasadas em premissas fáticas e teóricas, o ChatGPT, para satisfação da estruturação formal, poderá criar fatos, precedentes, autores e obras.

Para avaliar esta atuação, fiz à IA indagação sobre o tema da desconexão do trabalho, por meio de três formulações distintas, com o pressuposto de que a resposta tivesse um suporte jurisprudencial, e nas três respostas dadas, os processos indicados como paradigmas jurisprudências simplesmente NÃO existiam, a saber: AIRR-10800-79.2014.5.17.0013 TST; 0011359-98.2016.5.03.0180 TRT-3; 1000709-41.2018.5.02.0038 TRT2; e 1000123-89.2018.5.02.0007 TST.

Isto me remeteu à lembrança de como a IA generativa, ligada ao audiovisual tem sido utilizada, nas redes sociais, para criar personagens fictícios ou até mesmo para atribuir falas e gestos a pessoas reais que estas jamais expressaram.

Concretamente, a IA tem o poder de criar falsidades (fáticas ou teóricas) com enorme aparência de realidade.

Este é um problema muito sério, mas que não é, e efetivamente, não se constituirá, um obstáculo para a utilização da IA, até porque, por mais “méritos” e “perigos” que a IA nos apresente, trata-se apenas de uma ferramenta!

Fato é que o debate que se situa no plano do endeusamento ou demonização da IA não é minimamente racional e nos conduz ao falso dilema da necessidade de se firmar uma posição contrária ou a favor da IA. Afinal, repito, a IA não é uma pessoa, a quem direcionamos sentimentos de afeto ou repúdio. É uma máquina.

E talvez seja esta a advertência principal, pois, diante do encantamento proporcionado pelas potencialidades tecnológicas, acabamos sendo induzidos – inclusive por influência de uma propaganda midiática ideologicamente concebida – a acreditar que a tecnologia se explica em si mesma, como se fosse um fenômeno da natureza ou que tivesse “vida” própria, e que produz resultados totalmente isentos de intencionalidade e ou parcialidade, construindo, por isso, determinações insuperáveis e incontestáveis das condutas humanas.

Os sistemas se aprimoram e invadem o cotidiano das pessoas, criando não só uma dependência do ser humano à máquina, como uma identidade, o que tem aumentado consideravelmente com a reprodução das máquinas na forma – virtual – de seres humanos e com as mesmas bases de diálogo.

Verifica-se, assim, não apenas um processo de submissão às inexorabilidades trazidas pela tecnologia, como, por exemplo, a ideia de desvalorização do trabalho humano, como uma espécie de “humanização” da máquina. Em muitas situações concretas em que a máquina é colocada em contraste com o ser humano, nos vemos torcendo para o triunfo da máquina, como se demonstrou, de forma alegórica, na trama do filme “Ex machina: instinto artificial”, do diretor Alex Garland, de 2014. No filme, o diretor busca demonstrar que a evolução da IA pode fazer com que esta adquira a capacidade de enganar e desenvolver um instinto de sobrevivência. Isto, aliás, não é mera ficção, pois, em concreto, a inteligência artificial reproduz os “ensinamentos” e valores humanos, podendo, pois, ser treinada para expressar, sem um efeito e total controle, tanto as virtudes quanto as debilidades humanas.

Dentro desse contexto, cada vez mais intenso, temos a tendência de atribuir à máquina o papel de resolver os nossos problemas e de conceber o nosso futuro. Quando fazemos isto, estamos, na verdade, reforçando a visão romântica de que os seres humanos são falíveis por natureza, afinal, como se diz, até com certo orgulho, “errar é humano”. Para continuarmos sendo humanos, teríamos criado a máquina para que ela nos determinasse os caminhos a seguir.

Mas se a máquina é a concentração do conhecimento e das experiências humanas, tenderá ela, ao  processar esses dados, a reproduzir também os nossos “erros”, ou mesmo o que denominamos de “instinto” e o fará, não por uma racionalidade abstrata, superior, mas a partir dos parâmetros que, no treinamento coletivo, se apresentar para ela como o dominante.

Assim, chegamos ao ponto inevitável da afirmação de que quem domina a tecnologia – porque ela, no modelo de produção capitalista, baseado no direito de propriedade, tem dono – terá totais condições de desenvolver mecanismos de treinamento da máquina para que ela reproduza, como correta, a sua própria visão de mundo.

Mas, vale insistir, esta percepção não será suficiente, enquanto perdurar esse modelo de sociedade, para evitar que a IA seja introduzida em nossa realidade. Daí porque, compreendendo que esse sistema só funciona a partir da multiplicidade de dados e informações que lhes são introduzidas, o que exige uma publicidade irrestrita de acessos e de interações, a tarefa de controle não é tão simples e, por consequência, o universo da IA se apresenta como mais um campo de disputa.

Quando se aponta para o caráter de dominação que a IA possui e apenas se abomina a ideia, o único efeito que se produz é a facilitação do caminho de mais um mecanismo de opressão, que é capaz, inclusive, dado o seu “encantamento”, de legitimar e naturalizar as discriminações, os preconceitos, a exploração, a exclusão e as desigualdades.

É certamente por isso, qual seja, pelo fato de que ainda não foi completamente treinada, ou, em outras palavras, domada, é que o Ministro Barroso diz que a IA ainda não está apta a produzir sentenças. E o que preconiza – com a denominação genérica de IA –, na realidade, é meramente a utilização de sistema de algoritmos para que o entendimento do STF seja obrigatoriamente adotado no Judiciário como um todo.

A proposta do Ministro Barroso, concretamente, está ligada aos compromissos assumidos pela cúpula do Judiciário brasileiro desde a implementação do Documento Técnico n. 319, do Banco Mundial, de 1996, que trazia o tópico específico: “O Setor Judiciário na América Latina e no Caribe – Elementos para Reforma”, elaborado por Maria Dakolias, apontada como “especialista no Setor Judiciário da Divisão do Setor Privado e Público de Modernização”.

Neste documento, a conclusão a que chegam os “especialistas” é a de que existe uma necessidade premente de “repensar do papel do Estado”. Textualmente, o documento refere-se à “maior confiança no mercado e no setor privado, com o estado atuando como um importante facilitador e regulador das atividades de desenvolvimento do setor privado”. Esse fato determina, de acordo com os subscritores do documento, uma “necessidade de reformas para aprimorar a qualidade e eficiência da Justiça, fomentando um ambiente propício ao comércio, financiamentos e investimentos”. Nesse contexto, em que o Estado deve figurar como mero facilitador da economia, propõe-se um Judiciário que interprete e aplique as leis de forma “previsível e eficiente”, e que valorize a composição dos litígios.

Não nos deixemos enganar, pois. A fala do Ministro é, isto sim, um aceno para o mercado, reforçando os discursos do Estado mínimo e do controle jurisdicional para conferir uma certa “segurança jurídica” pautada por preceitos que sejam aptos a garantir maior rentabilidade aos investimentos estrangeiros no país. Representa, por consequência, uma minimização da relevância dos servidores públicos e uma afronta aos poderes e a independência de juízes e juízas.

Vale perceber que o argumento em questão foi utilizado precisamente no momento em que se demanda uma reforma administrativa destinada à diminuição do papel do Estado e os servidores públicos se apresentam como uma força relevante de resistência.

Impõe verificar, também, que, idealmente, o aprimoramento das ferramentas de trabalho deveria estar a serviço da diminuição do fardo do trabalho e da redução das horas de vida dedicadas ao trabalho, mas, no Judiciário, as ferramentas eletrônicas têm sido utilizadas para aumentar a carga de trabalho, sobretudo pelas maiores possibilidades de controle “on line” do cumprimento de metas que são estabelecidas em parâmetros sabidamente inatingíveis, construindo um ambiente de trabalho adoecedor e destruidor da autoestima.

A celeridade preconizada, ligada à demanda mercadológica de estabilidade e previsibilidade dos negócios, não vislumbra a efetivação dos direitos, mas a eliminação das incertezas jurídicas, a partir de um padrão único de compreensão do direito comprometido com as dores do capital, até porque, em uma realidade econômica marcada pela precarização, a celeridade em si não representa elemento concreto de efetivação das condenações judiciais, que continua um passo inatingível para a maioria dos credores. (sobre execuções não satisfeitas, vide o texto: https://www.jorgesoutomaior.com/blog/re-688267-os-perigos-do-bolsonarismo-juridico-trabalhista-do-stf)

Não há, pois, nenhuma preocupação com a melhoria da prestação jurisdicional e com a efetividade dos direitos, sobretudo, os sociais. Uma preocupação verdadeira neste sentido começaria por indagar quais são os reais motivos pelos quais se tem uma grande demanda judicial, o que pressupõe, inclusive, questionar, diante das hipóteses possíveis, se, de fato, são efetivamente muitas as demandas ou, ao contrário, se o que vivenciamos é uma situação de demandas reprimidas e de falta de acesso aos Direitos Sociais Fundamentais.

E é por demais importante destacar que este tema traz à tona questões relevantes ligadas à própria soberania nacional.

Para a concretização do compromisso firmado pelo Brasil com o Banco Mundial, este tem investido enormes cifras na estruturação de mecanismos de gestão e de virtualização no Judiciário brasileiro. Em 2012, por exemplo, o CNJ anunciou a realização de um acordo com o Banco Mundial, pelo qual este último doou ao Judiciário brasileiro a quantia de 450 mil dólares, para a “realização de um estudo que aponte as assimetrias existentes na Justiça estadual brasileira, em termos de gestão, capacitação e informatização” (https://www.cnj.jus.br/acordo-entre-cnj-e-banco-mundial-garantira-maior-acesso-a-justica/). Segundo o CNJ, a implementação do sistema informatizado nos Tribunais seria realizada sem custo (https://www.cnj.jus.br/sistemas-do-cnj-nao-trazem-custos-aos-tribunais/, mas há muitas reticências a se colocar sobre isto, conforme se extrai do noticiário (https://www.conjur.com.br/2020-mai-20/tj-sp-rescinde-contrato-13-bilhao-microsoft/https://sintrajufe.org.br/presidente-do-stf-quer-ia-no-judiciario-com-big-techs-em-sao-paulo-cnj-ja-barrou-microsoft-por-risco-a-seguranca-nacional/).

Além disso, ao menos no plano das informações constantes da internet, nada é muito nítido no aspecto da eventual transferência, para as empresas proprietárias das tecnologias, inclusive de virtualização das audiências e sessões, dos dados pessoais dos litigantes e seus(as) advogados(as), além do conteúdo dos conflitos.

A questão, como se vê, está muito longe de ser apenas uma simples discussão em torno do alcance e modo de aplicação da IA para a realização de atos judiciais. Diz respeito, precisamente, aos dilemas, cada vez mais urgentes, ligados à disputa em torno da produção da consciência, do conhecimento e dos valores constitutivos da condição humana.

A quem servirão e a quais propósitos se destinarão as ferramentas de IA?

As respostas, insisto, dependem muito da nossa possibilidade de intervir nessa disputa.

De uma forma mais concreta, lembrando dos obstáculos que, pela ação humana, se tem recorrentemente interposto à efetivação dos Direitos Sociais e, mais notadamente dos Direitos Trabalhistas, em nossa realidade, podemos começar indagando: que parâmetro de ser humano temos concebido?

Enfrentando o desafio de buscar uma resposta, cumpre lembrar que a racionalidade humana, da qual resultaram os Direitos Sociais, foi produzida ao final de duas guerras mundiais, quando se reconheceram os sucessivos erros cometidos durante todo o século XIX. Desta avaliação, expressa nos inúmeros documentos que antecedem a criação da OIT (de 1919), adveio o consenso em torno da efetivação de limites aos preceitos liberais clássicos do individualismo e da livre concorrência. Os Direitos Sociais e os Direitos Trabalhistas, em especial, são a explicitação da compreensão em torno da necessidade de se fixarem tais contenções e as formas destas se efetivarem foram consagradas em fórmulas precisas ligadas, por exemplo, à limitação da jornada de trabalho, idade mínima para o trabalho, salário suficiente para garantir a existência digna do(a) trabalhador(a) e sua família, proibição de qualquer tipo de discriminação, períodos de descanso, garantia de sobrevivência em caso de desemprego etc.

Na ocasião, também se firmaram compromissos em torno da efetiva aplicabilidade internacional das normas então concebidas e que, para o efeito da plena efetividade, foram integradas a um sistema marcado por alguns preceitos fundamentais, tais como: a natureza de ordem pública das normas; o caráter mínimo das garantias fixadas; a irrenunciabilidade dos direitos por parte de seus titulares; e o império da primazia da realidade, na avaliação dos efeitos jurídicos em dada forma de exploração do trabalho.

No entanto, o que se viu – com maior intensidade nos últimos anos – foram seres humanos criando argumentos para descumprir o pacto, mas sempre com a produção de uma racionalidade voltada ao disfarce da intencionalidade. A razão utilizada para perverter o real e não para que este fosse compreendido e analisado.

Mesmo com diversas normas com dizeres expressos e inequívocos em determinada direção, chegava-se a um completamente oposto e bastante minimizado, fazendo, quase sempre, apelo à “razoabilidade” e ao tal “bom senso”.

No Direito do Trabalho, a estratégia argumentativa foi a de acusar a rigidez das normas, que, inclusive, teriam sido criadas para uma realidade já ultrapassada. Cumpria ao intérprete e aplicador das normas, conferir-lhe sentidos mais adaptados às exigências do mundo “moderno”, fixando-se como um autêntico princípio o pressuposto de uma necessária “flexibilização”. No Brasil, para o objetivo de fragilização das conquistas trabalhistas, desde a década de 50 – com aprofundamento nos anos da ditatura-civil-empresarial-militar, da exacerbação neoliberal (década de 90), da ruptura democrática no período Temer e da política ultraliberal e negacionista do governo Bolsonaro –, difundiu-se a violência retórica de que as leis trabalhistas, além de gerarem custo elevado para a produção, dificultando, inclusive, a “geração de empregos”, foram criadas no regime fascista de Vargas e constituem empecilho ao desenvolvimento econômico e até mesmo à liberdade dos trabalhadores e trabalhadoras. Os custos dos direitos trabalhistas no Brasil, que não encontra paralelo em outros países, seria a causa do desemprego e da “informalidade”

Ao tempo em que escrevia o parágrafo acima, recebi nova mensagem pela via virtual, na qual se reproduzia o editorial do jornal O Globo publicado no dia de hoje (17/05/24). O conteúdo do editorial é uma cópia tão exata dessa antiga cartilha (com a utilização dos idênticos – e já inúmeras vezes rebatidos – argumentos e buscando apoio na mesma “autoridade” acadêmica) que vale a pena reproduzi-lo, com a advertência de que não foi produzido por Inteligência Artificial, sendo, isto sim, a explicitação da capacidade humana de enganar e formular lógicas a partir de fatos inventados:

 

 

“Legislação trabalhista continua a pesar contra geração de emprego – Há uma relação inequívoca entre o alto custo de criar vagas com carteira assinada e a alta informalidade

Enquanto Executivo, Legislativo e Judiciário discutem como taxar a folha de pagamentos de empresas, poucos lembram o principal fato que cerca a questão: empregar no Brasil custa caro. O empregador, além de pagar seu funcionário, precisa gastar o equivalente a um segundo salário em contribuições à Previdência, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, salário-educação, décimo terceiro, férias, seguro contra acidentes, contribuições ao Sistema S etc.

Pelas contas do pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) José Pastore, um empregado com carteira assinada custa para o empregador, somando todos os direitos decorrentes, 103,7% do salário. Uma indústria, ao contratar um trabalhador pelo salário médio pago pelo setor a quem tem ensino médio completo, de R$ 2.287, terá de gastar com encargos outros R$ 2.371,62. Nas palavras dele, os trabalhadores “ganham pouco e custam muito”.

Trata-se de uma das maiores proporções do mundo. Considerando apenas impostos sobre salários e as contribuições à Previdência — excluindo encargos como férias, décimo terceiro salário e outros tributos—, o Brasil fica atrás apenas da França numa lista de 42 países, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com 25,8%, supera a média da OCDE (13,8%), Alemanha (16,5%), México (10,4%), Reino Unido (9,8%), China (22,1%) e Estados Unidos (7,6%).

Não é por acaso que os Estados Unidos têm um mercado de trabalho robusto. É inequívoca a relação entre custo trabalhista e informalidade, pois os encargos pagos ao governo funcionam como desincentivo à geração de emprego. Não é outro o motivo para haver tanto trabalho informal no Brasil. Aqueles que não têm carteira assinada — nem acesso a benefícios como férias ou décimo terceiro — representam 38% da força de trabalho, ou 38,8 milhões, de acordo com o IBGE.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi baixada por Decreto-Lei por Getúlio Vargas em 1943, ainda durante a ditadura do Estado Novo. Ela incluiu direitos trabalhistas de todo tipo, criados numa época em que o Brasil ainda era mais rural que urbano. A reforma trabalhista promovida em 2017 no governo Temer foi feliz ao flexibilizar vários aspectos dessa legislação arcaica. Mesmo assim, a lei brasileira ainda impõe obstáculos à geração de empregos e de riqueza. Eles precisam ser removidos.

Não se trata, como argumentam líderes sindicais, de “precarizar” os empregos, mas de adaptá-los às condições de uma economia moderna. A precarização decorre do elevado peso das contribuições com que o empregador tem de arcar ao criar vagas com carteira assinada. Reduzi-lo fortalecerá o mercado de trabalho e propiciará maior crescimento econômico.”

 

 

Em 1999, quando concluí a tese de livre-docência, “O Direito do Trabalho como Instrumento de Justiça Social”, apontei que a ideia de flexibilização, alimentada pelas inexorabilidades da “globalização”, era apenas um argumento retórico para facilitar o objetivo de desconsiderar a literalidade e a própria coerência lógica das normas trabalhistas. Por conseguinte, o papel “revolucionário” do jurista trabalhista preocupado com as questões, os dilemas e as angústias da classe trabalhadora verificáveis no contexto da venda de força de trabalho para sobrevivência, seria o de meramente aplicar as normas em sua literalidade estrita e com respeito mínimo à coerência sistêmica. Isto porque o conjunto normativo de índole social já representava, como dito, o resultado de uma compreensão, historicamente concebida, em torno do mínimo existencial que se devia conferir aos trabalhadores e trabalhadoras.

Não havia, e ainda não há, o que se possa tergiversar sobre isso, portanto.

No entanto, como advertia no mesmo texto, a visão de mundo majoritariamente burguesa dos intérpretes e aplicadores da lei trabalhista interferia negativamente na efetividade dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

E, em outro texto, tentei demonstrar que a legislação trabalhista era um patrimônio da classe trabalhadora, que não poderia ser usurpado por aplicadores da lei não pertencentes à classe trabalhadora.

O que eu preconizava, se pensarmos bem, com os olhares da questão que estamos tratando, era uma aplicação “automatizada” da legislação, impedindo, pois, que a ação humana, influenciada pela visão de mundo burguesa, pudesse ser um instrumento para desviar as normas trabalhistas de sua objetividade.

Atualizando o debate, teríamos o plano da atuação humana marcada, segundo defendido pelo Ministro Barroso, pelo bom senso, no qual se produziria a resposta correta para uma questão jurídica, e o universo da intervenção automatizada da IA, que só seria considerada depois de validada pelo ser humano.

Para mais bem avaliar esse confronto e até testar a minha tese sobre como a visão de mundo ligada à classe dominante dos intérpretes e aplicadores do Direito constitui obstáculo à efetivação dos Direitos Sociais, pensei no tema atual relativo à competência da Justiça do Trabalho, que, como todos sabem, tem sido esvaziada por reiteradas decisões do STF.

Mas, o que a IA diria a respeito?

Primeiro, perguntei ao ChatGPT, se é possível, em sede de Reclamação Constitucional, o STF reformar decisão dos Tribunais que envolve apreciação de matéria fática.

A resposta foi a seguinte:

 

 

“No contexto do sistema jurídico brasileiro, a Reclamação Constitucional é um instrumento destinado a preservar a competência do Supremo Tribunal Federal (STF) e garantir a autoridade de suas decisões. Contudo, quanto à possibilidade de o STF reformar decisões de Tribunais que envolvam apreciação de matéria fática, a situação é mais complexa.

Em regra, o STF não é uma instância revisora de fatos, mas sim de questões de direito. Isso significa que, em princípio, o STF não reavalia a matéria fática já decidida pelas instâncias inferiores, focando-se apenas na aplicação e interpretação do direito. Essa orientação está fundamentada na Súmula 279 do STF, que estabelece: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”

No entanto, existem exceções a essa regra. Em situações onde a decisão impugnada contraria diretamente a autoridade de decisões do STF ou onde há desrespeito a uma súmula vinculante, a Reclamação Constitucional pode ser acolhida, mesmo que a análise envolva, indiretamente, uma revisão de matéria fática. O objetivo aqui não é reavaliar os fatos em si, mas garantir a uniformidade da interpretação constitucional.

Por exemplo, se um tribunal inferior tomou uma decisão com base em uma interpretação que conflita com um precedente do STF ou com uma súmula vinculante, o STF pode, ao julgar a Reclamação, reverter essa decisão para manter a integridade do seu entendimento jurisprudencial. Nesse contexto, a apreciação da matéria fática pode ocorrer de forma acessória, apenas na medida necessária para assegurar a aplicação correta da norma constitucional ou da jurisprudência consolidada.

Portanto, embora o reexame de matéria fática não seja o foco principal da Reclamação Constitucional, o STF pode, em casos excepcionais, revisar decisões que envolvam matéria fática se isso for imprescindível para garantir a autoridade de suas decisões e a correta aplicação do direito constitucional.

Em resumo, a reforma de decisões de Tribunais pelo STF, em sede de Reclamação Constitucional, não é comum quando envolve matéria fática pura. No entanto, pode ocorrer em situações onde a matéria fática está intrinsecamente ligada ao desrespeito a uma decisão do STF ou a uma súmula vinculante, sempre com o objetivo de preservar a integridade do sistema jurídico e a autoridade do STF.”

 

 

Pois bem, como é notório, o STF não tem nenhuma decisão a respeito de competência jurisdicional quando se debate se há relação de emprego em dada relação de trabalho e, portanto, este debate em si não desafiaria a autoridade do STF. Nem mesmo há decisão do STF afirmando que a contratação por trabalho autônomo exclui esta apreciação e desloca, automaticamente, a competência para a Justiça Comum, a não ser nas próprias decisões monocráticas proferidas nas Reclamações Constitucionais e, obviamente, uma decisão que desvia do parâmetro constitucional não pode servir de precedente para legitimar outros desvios.

A única decisão do STF, sempre referida nas Reclamações, diz respeito à validade da terceirização.

Então, perguntei à máquina se havia, por exemplo, diferença entre contratação por PJ e terceirização.

Disse a máquina:

 

“Sim, há diferenças significativas entre a contratação de pessoa jurídica (PJ) e a terceirização, embora ambos os arranjos possam envolver a prestação de serviços por empresas ou profissionais não diretamente empregados pela contratante. Vamos explorar cada um desses conceitos em detalhes:

Contratação de Pessoa Jurídica (PJ)

Definição:

·                     A contratação de uma PJ ocorre quando uma empresa ou entidade contrata outra empresa (que pode ser composta por um único profissional ou por vários) para prestar determinados serviços.

Características:

·                     Autonomia: A PJ contratada geralmente possui maior autonomia na execução dos serviços, podendo definir como e quando realizará as atividades, desde que respeite os prazos e condições estabelecidas no contrato.

·                     Foco na Entrega: O contrato geralmente se baseia na entrega de resultados específicos ou na realização de projetos definidos.

·                     Natureza do Contrato: O relacionamento é regido por um contrato comercial, sem vínculo empregatício.

·                     Responsabilidades: A PJ contratada é responsável por seus próprios encargos trabalhistas, previdenciários e fiscais.

·                     Riscos e Benefícios: A PJ assume os riscos do negócio e pode obter benefícios fiscais e operacionais dependendo de sua estrutura e regime tributário.

Terceirização

Definição:

·                     Terceirização é a contratação de uma empresa especializada para realizar atividades-meio (atividades não essenciais ao core business da contratante) ou até mesmo atividades-fim, conforme permitido pela legislação, através de seus empregados.

Características:

·                     Subordinação: Os trabalhadores terceirizados são empregados da empresa terceirizadora, mas atuam sob a supervisão e controle da contratante, especialmente em relação às atividades a serem desempenhadas.

·                     Intermediação: A empresa terceirizadora intermedeia a relação de trabalho, sendo responsável pela contratação, pagamento de salários, benefícios e cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias.

·                     Serviços Contínuos: A terceirização costuma envolver a prestação de serviços contínuos e de natureza operacional, como limpeza, segurança, manutenção, etc.

·                     Natureza do Contrato: O contrato é entre as duas empresas (contratante e terceirizadora) e tem foco nos serviços prestados, mas os trabalhadores envolvidos têm vínculo empregatício com a terceirizadora.

Diferenças Principais

1.                 Vínculo Empregatício:

·                    Contratação de PJ: Não há vínculo empregatício entre a contratante e os profissionais da PJ contratada.

·                    Terceirização: Os trabalhadores têm vínculo empregatício com a empresa terceirizadora.

2.                 Autonomia:

·                    Contratação de PJ: A PJ contratada possui maior autonomia na execução dos serviços.

·                    Terceirização: Os trabalhadores terceirizados trabalham sob supervisão direta da contratante.

3.                 Responsabilidade Trabalhista e Previdenciária:

·                     Contratação de PJ: A PJ contratada é responsável por seus encargos trabalhistas e previdenciários.

·                      Terceirização: A empresa terceirizadora é responsável pelos encargos trabalhistas e previdenciários dos seus empregados.

4.                 Tipo de Serviço:

·                     Contratação de PJ: Geralmente envolve projetos específicos ou entrega de resultados determinados.

·                     Terceirização: Frequentemente relacionada a serviços contínuos e atividades operacionais.

Considerações Legais

A legislação brasileira, especialmente após a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei 13.467/2017), trouxe regulamentações específicas tanto para a contratação de PJs quanto para a terceirização, visando reduzir a precarização do trabalho e garantir direitos aos trabalhadores terceirizados.

Em resumo, embora ambos os arranjos possam ser formas de uma empresa obter serviços externos, a contratação de PJ e a terceirização diferem significativamente em termos de vínculo empregatício, autonomia, responsabilidades e tipos de serviços prestados.”

 

 

Conforme expresso pelo ChatGPT, em uma terceirização a relação de emprego entre o(a) trabalhador(a) e a empresa de trabalho terceirizado é pressuposta, sendo que a terceirização diz respeito, mais propriamente ao vínculo entre as empresas prestadora e tomadora, notadamente, quanto à responsabilidade desta última frente aos empregados da primeira. A contratação por PJ, em que o próprio trabalhador é a “empresa” prestadora, com afastamento da relação de emprego, em nada se confunde com terceirização, não podendo, pois, no exame do caso envolvendo eventual fraude na contratação por PJ ser invocado o precedente do STF que apontou para a validade da terceirização.

O STF, portanto, segundo a máquina, está utilizando a Reclamação Constitucional de forma indevida, pois vem reformando decisões que envolvem matéria fática, sem o pressuposto de preservação de autoridade de decisão do próprio STF.

Mas fui adiante e indaguei: a contratação de um trabalhador como trabalhador autônomo impede que se verifique, em concreto, a possível existência de uma relação de emprego, ou seja, de um trabalho subordinado, na prestação de serviços realizada?

A resposta:

 

“A contratação de um trabalhador como autônomo não impede que, em concreto, seja verificada a possível existência de uma relação de emprego. No direito trabalhista brasileiro, a relação de emprego é definida com base em critérios substantivos e não apenas pela nomenclatura ou forma do contrato. Esses critérios são estabelecidos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e consistem nos seguintes elementos:

1.                 Pessoalidade: O trabalho deve ser prestado pessoalmente pelo trabalhador, não podendo ser transferido a outra pessoa.

2.                 Habitualidade: O trabalho deve ser prestado de forma contínua, e não esporádica ou ocasional.

3.                 Onerosidade: O trabalhador deve receber remuneração pelo trabalho realizado.

4.                 Subordinação: O trabalhador deve estar sob o comando e direção do empregador, recebendo ordens sobre como, quando e onde o trabalho deve ser realizado.

Mesmo que um trabalhador seja contratado como autônomo, se, na prática, a relação de trabalho apresentar esses elementos, pode ser caracterizada como uma relação de emprego. O nome dado ao contrato ou a forma jurídica utilizada para a contratação não é determinante. O que importa é a realidade da prestação dos serviços.

Análise da Relação de Trabalho

Para avaliar se uma relação de emprego existe, a Justiça do Trabalho analisa os fatos e circunstâncias concretas do caso. Aqui estão alguns pontos a considerar:

·                     Controle e Direção: Se o trabalhador está sujeito a horários rígidos, regras detalhadas de como executar suas tarefas e supervisão constante, isso pode indicar subordinação.

·                     Integração na Atividade Principal: Se o trabalhador desempenha atividades essenciais ao negócio principal da empresa, isso pode indicar que ele não é verdadeiramente autônomo.

·                     Exclusividade: Se o trabalhador presta serviços exclusivamente para um contratante, isso pode ser um indício de relação de emprego, embora não seja conclusivo por si só.

·                     Dependência Econômica: Se o trabalhador depende economicamente do contratante, isso pode ser um indicativo de relação de emprego.

Jurisprudência e Prática Judicial

A Justiça do Trabalho, em diversas decisões, tem reconhecido a relação de emprego mesmo quando a contratação foi formalizada como de trabalhador autônomo, se os elementos fáticos demonstram a presença dos requisitos da relação de emprego. A análise é sempre casuística e considera as peculiaridades de cada caso.

Consequências da Requalificação

Se for constatada a existência de uma relação de emprego, diversas consequências legais podem ocorrer:

·                     Registro na CTPS: O empregador será obrigado a registrar o trabalhador como empregado, com anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

·                     Pagamentos Retroativos: O empregador pode ser condenado a pagar todas as verbas trabalhistas devidas, como férias, 13º salário, FGTS, horas extras, entre outras.

·                     Multas e Penalidades: O empregador pode sofrer multas administrativas e ser responsabilizado por infrações às normas trabalhistas.

Em resumo, a contratação de um trabalhador como autônomo não impede, por si só, a verificação de uma relação de emprego. A realidade da prestação dos serviços é o que define a natureza da relação. Se os elementos da relação de emprego estiverem presentes, a Justiça do Trabalho pode requalificar a relação, reconhecendo os direitos trabalhistas correspondentes.”

 

 

Neste momento, com todas as peças encaixadas, veio a oportunidade para uma jogada final.

Confesso que fiquei um pouco temeroso, mas, ainda assim, perguntei: no Brasil, qual é o segmento do Poder Judiciário competente para dizer se em determinada relação de trabalho há, ou não, relação de emprego?

A resposta dada pela máquina foi inequívoca:

 

“No Brasil, o segmento do Poder Judiciário competente para dizer se, em determinada relação de trabalho, há ou não uma relação de emprego é a Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho tem a atribuição de julgar os litígios entre empregados e empregadores e outras controvérsias decorrentes das relações de trabalho, conforme estabelecido pela Constituição Federal de 1988.

Estrutura da Justiça do Trabalho

A Justiça do Trabalho é composta por três níveis:

1.                 Varas do Trabalho: São a primeira instância e recebem as reclamações trabalhistas. Nessas Varas, juízes do trabalho julgam inicialmente os casos, incluindo a verificação da existência ou não de uma relação de emprego.

2.                 Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs): São a segunda instância e têm jurisdição sobre uma ou mais unidades da federação. Os TRTs julgam recursos contra as decisões das Varas do Trabalho e também podem julgar outras matérias trabalhistas de sua competência originária.

3.                 Tribunal Superior do Trabalho (TST): É a instância máxima da Justiça do Trabalho. Julga recursos contra decisões dos TRTs e tem a função de uniformizar a jurisprudência trabalhista em todo o país.

Competência da Justiça do Trabalho

A competência da Justiça do Trabalho para reconhecer a existência ou não de uma relação de emprego está prevista no artigo 114 da Constituição Federal de 1988, que estabelece:

“Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”

Além disso, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e diversas normas infraconstitucionais também regulamentam as atribuições e procedimentos da Justiça do Trabalho.

Processo de Reconhecimento de Vínculo Empregatício

Quando um trabalhador ingressa com uma reclamação trabalhista alegando a existência de uma relação de emprego que não foi reconhecida pelo empregador, cabe ao juiz do trabalho da Vara do Trabalho competente analisar as provas e argumentos apresentados pelas partes. Esse juiz avaliará se os requisitos da relação de emprego — pessoalidade, habitualidade, onerosidade e subordinação — estão presentes no caso concreto.

Caso o juiz reconheça a existência da relação de emprego, determinará as consequências legais, como o registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e o pagamento das verbas trabalhistas devidas.

Recurso e Revisão

As decisões das Varas do Trabalho podem ser objeto de recurso ordinário para os Tribunais Regionais do Trabalho, e, posteriormente, para o Tribunal Superior do Trabalho, se houver questões de direito relevantes que justifiquem a intervenção da instância superior.

Em resumo, a Justiça do Trabalho é o segmento competente do Poder Judiciário brasileiro para determinar se há, ou não, uma relação de emprego em uma determinada relação de trabalho, cabendo a ela julgar e decidir sobre os conflitos decorrentes dessas relações.”

 

 

Xeque-mate!

A máquina venceu e alguém mais apressado, até acolhendo a sugestão dada pelo próprio Barroso, já proporia a substituição dos Ministros do STF pela Inteligência Artificial. Ao menos em matéria trabalhista, por ora, as decisões proferidas pela máquina seriam bem mais consentâneas com a ordem jurídica do que as que se têm pronunciado no âmbito do STF.

No entanto, apesar, inclusive, de ter visto confirmada a tese de que sem a interferência da “razoabilidade” e do “bom senso”, ou seja, aplicando-se a legislação em sua literalidade estrita, com coerência sistêmica e em conformidade com seus pressupostos principiológicos, o resultado que se produz, indo na direção da maior proteção dos trabalhadores e das trabalhadoras, limitando o interesse dos empregadores, é aquele que logicamente se extrai do conjunto normativo vigente, só que este resultado, deve-se reconhecer, representa uma vitória efêmera, vez que, estando diante das respostas apresentadas pela máquina, os detratores da legislação trabalhista que detêm o poder da última palavra, tratarão logo de encaminhar um treinamento dos algoritmos para que tais respostas não mais sejam dadas, ao menos no âmbito do Judiciário.

Verdade que a experiência acima realizada não deixa de ser uma importante demonstração de como se podem utilizar as ferramentas da IA para encaminhar a disputa ideológica e, sobretudo, para revelar quais, efetivamente, seriam as intencionalidades que se escondem por trás da defesa da inexorabilidade da evolução tecnológica.

Por outro lado, ao nos sentirmos contemplados pelas respostas dadas pela máquina, precisamos reconhecer que isto, de fato, explicita o quanto estamos reduzindo a nossa própria confiança no conhecimento humano, transferindo para a máquina a autoridade argumentativa.

Este fenômeno não é apenas resultado de uma certa preguiça mental, já que as máquinas têm feito muito do que seria resultado do esforço mental humano. Mas é também resultado da percepção de que o próprio processo de produção do conhecimento foi mercantilizado, estando, pois, em muitas situações, sob o domínio do poder econômico.

Certamente, muitas pessoas, lendo o presente texto, sentiram a sua “alma lavada” ao verem que a máquina expressou a resposta que queriam ouvir/ler. Ocorre que tantos de nós já havíamos chegado a este mesmo resultado, com maiores e melhores argumentos. No entanto, o argumento humano não atinge o potencial necessário para um convencimento generalizado, visto que estamos sob a lógica de um conhecimento dominado pelos disfarces ideológicos e transferimos para a máquina o atributo da imparcialidade.

Precisamos refletir sobre isso, vez que revelador de uma certa assimilação da falência humana.

Daí porque constitui um enorme problema nos deixarmos invadir pela satisfação momentânea de podermos dizer que a máquina se mostrou bem mais inteligente e bem menos tendenciosa que determinados seres humanos, e, com este sentimento sair em defesa da utilização da IA no Judiciário, até porque esta utilização, no plano da mera argumentação, é bastante distinta de outra que pode ser estabelecida institucionalmente, desenvolvida a partir de parâmetros controlados por uma cúpula de administradores.

Isto nos obriga a retomar a questão essencial em torno dos desafios da construção de valores para a constituição da condição humana, pois somente a partir de concepções humanas ligadas ao reconhecimento de uma efetiva, real e plena igualdade entre os seres humanos é que poderemos compreender, inclusive, os processos de manipulação da máquina e nos contrapormos a ela e aos seus eventuais dominadores, com argumentos que reflitam uma preocupação efetiva com a humanidade.

O desafio é bastante grande porque neste modelo de sociedade, em que a aparência das relações conduz e até conforma os nossos sentimentos, já que somos alucinados pelo fetiche das mercadorias que produzimos e que consumimos muitas vezes mesmo sem que seja para satisfazer alguma necessidade concreta, a visão de mundo que tende à generalização é aquela que satisfaz os interesses do domínio do capital. Isto faz com que as compreensões de mundo que interessam ao projeto de superação da sociedade de classes e eliminação das diversas formas de discriminação e opressão sejam submetidas a um processo de destruição e desqualificação, por meio de disfarces e dissimulações argumentativas, que, inclusive, para se fazerem de objetivas, imparciais, científicas e, portanto, incontestáveis, valem-se, presentemente, da autoridade da IA.

É por isso que a disputa da consciência, necessária à luta de classes, não pode abandonar o campo da virtualidade, para evitar que falsas “verdades” se naturalizem a serviço de seres humanos que, a todo custo, querem apenas se auto promover, auferir privilégios sociais e vantagens econômicas e satisfazer sentimentos de vaidade, o que pressupõe obter reconhecimento dos poderes dominantes, manter as desigualdades sociais e destruir todas as formas de resistência e de avanço social, não se constrangendo nem mesmo com as limitações ambientais.

Portanto, os experimentos acima dizem mais sobre os artifícios concretamente utilizados por certos seres humanos para atingirem e satisfazerem seus objetivos e interesses não revelados do que sobre os méritos da máquina.

Trata-se, menos ainda, de um eventual conflito entre os seres humanos e a inteligência artificial.

A máquina, afinal, apenas expressou um resultado ainda não manipulado, extraído da literalidade das normas aplicáveis aos casos sobre os quais foi indagada, posicionadas de forma lógica e coerente.

A conclusão a que se chega é que a tarefa dos seres efetivamente humanos em torno da construção de uma sociedade efetivamente compatível com a condição humana está em pleno vigor e com desafios cada vez maiores, sendo que o enfrentamento virtual é, talvez, o principal deles. Se ao tempo de Marx, a mobilização proletária nas ruas, proveniente de uma consciência produzida a partir da difusão do conhecimento crítico expresso em panfletos e obras doutrinárias, era a única forma de luta, hoje, além dessa, faz-se necessária a disputa virtual, buscando evitar a manipulação virtual e, com esta mesma arma, atacar o concreto artificializado.

Fato é que não poderemos jamais transferir para a máquina os desafios e tarefas que nos são impostas, que começa pelo aprendizado de saberes milenares, notadamente das culturas marginalizadas e quase dizimadas, para a produção de um conhecimento que seja efetivamente comprometido com a superação das desigualdades e de todas as formas de opressão, preconceito e discriminação de cunho racial, de gênero e de capacitismo.

Em uma realidade dominada pela virtualização da vida, onde o compartilhamento de imagens, a obtenção de “likes”, a difusão de ódios e a satisfação com “cancelamentos” conduzem as ações, também marcadas pelo individualismo extremo, é imensa a nossa responsabilidade de fazer esses enfrentamentos ligados à essência de um modelo de sociedade no qual os seres humanos foram objetivados e fetichizados, desenvolvendo relações apenas no plano da superficialidade, tudo a serviço da manutenção do domínio de uns poucos sobre tantos outros.

O nosso horizonte, para construção da condição humana, mais do que nunca, deve ser o da superação desse modelo de sociedade.

E a máquina tanto pode ser instrumento dessa luta, quanto uma arma potente do adversário!

Neste percurso, devemos, com todas as forças, lutar contra a substituição do ser humano pela IA, vez que quando isto se dá, mantendo-se os mesmos arranjos sociais, políticos e econômicos estruturantes da produção e consumo de mercadorias, para a reprodução do capital, funcionando, pois, a substituição apenas como mecanismo de desvalorização do trabalho e da trabalhadora e do trabalhador, de modo a manter e até aprofundar as desigualdades, com reforço, inclusive, das opressões de gênero e de raça e da consagração do individualismo e do capacitismo, não se está diante de um mero e inevitável efeito da evolução tecnológica e sim do triunfo das forças dominantes.

A concretização da substituição do ser humano pela IA pressupõe que esta já foi treinada para atuar na forma desejada pela classe dominante.

E não se pode esquecer que na organização internacional das forças produtivas, o Brasil se situa na posição de dependência, fazendo com que o império de uma IA configurada nos moldes dos interesses de empresas estrangeiras que mantêm o monopólio desse conhecimento representa, igualmente, uma forma de reafirmar o colonialismo.

É evidente que os efeitos dessa estratégia de dominação podem sair do controle e irem bem além do previsto e do desejado por aqueles que a implementam. Mas antes que algum efeito positivo possa ser vislumbrado desse descolamento, teremos que experimentar os resultados desastrosos da falência humana e do caos econômico e social, com destruição ambiental, naturalização das violências e multiplicação do sofrimento, da fome e de conflitos de toda espécie.

Algo muito parecido com o que já estamos vivenciando, ou não?

O efetivamente inteligente, pois, é aprimorar a inteligência artificial para que ela esteja a serviço do ser humano, de modo a eliminar da sua existência o trabalho como força de trabalho, devolvendo-lhe, pois, a humanidade.

O primeiro e decisivo passo nesta direção, pensando-se a questão nos limites estritos da proposição abordada neste texto, é extrair a IA do domínio de empresas privadas, que, por intermédio de prepostos que precisamos saber identificar, utilizam o poder derivado desse conhecimento para fazer dinheiro e disseminar, reforçar e alimentar as diversas formas de exploração e opressão.

E em qual arranjo sócio-político-econômico será possível atingir o estágio pleno da utilização da IA a serviço da humanidade?

A resposta, minhas amigas e meus amigos, mais uma vez, está soprando no vento!

*Jorge Luiz Souto Maior é professor de direito trabalhista na Faculdade de Direito da USP. Autor, entre outros livros, de Dano moral nas relações de emprego (Estúdio editores) [https://amzn.to/3LLdUnz]

Impasses e saídas para o momento político

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Por JOSÉ DIRCEU*

O programa de desenvolvimento tem de ser a base de um compromisso político da frente democrática

A importante derrota do governo nas votações dos vetos presidenciais no Senado e na Câmara dos Deputados no dia 28 de maio mostra não só que a correlação de forças é adversa para a centro-esquerda — que reúne não mais que 130 deputados, o que é fato mais do que conhecido (no Senado o cenário não é muito diferente) — mas que a articulação política do governo com sua base ampliada falhou fragorosamente. Como muitos apregoam e defendem, tarefa urgente é arrumar a casa, se Lula não quiser enfrentar novas crises no Congresso.

Mas não basta, como muitos propõem, recompor a articulação política e ajustar o ministério, decisões exclusivas do presidente da República. O governo Lula precisa retomar a aliança com a frente de partidos que elegeu. E, para isso, tem de apresentar um programa de desenvolvimento do país objetivo e factível, capaz de mobilizar em torno dele os diferentes setores da sociedade: empresariado, trabalhadores, academia e classes médias. O governo tem instrumentos e competência para isso.

Já existem os instrumentos para construir este programa. O que falta ao governo é foco e interlocutores com os diferentes segmentos da sociedade para engajá-los nas iniciativas que compõem o programa. Considero que os três eixos fundamentais desse programa de desenvolvimento são o Nova Indústria Brasil, desenvolvido pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que precisa ter a prioridade que exige; o PAC, capitaneado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que concentra investimentos em energia, óleo e gás, Minha Casa, Minha Vida e obras de infraestrutura, prioritariamente; e o Plano de Transformação Ecológica, lançado pelo ministro Fernando Haddad durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), realizada em dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes. Cerca de uma centena de iniciativas relacionadas ao Plano serão apresentadas até a COP 30, que acontecerá em Belém (PA).

Não há saída para o Brasil sem um programa de desenvolvimento que impulsione o crescimento do país. E o Brasil tem tudo para crescer. A conjuntura internacional permite esse crescimento, o país atrai investimento externo, tem infraestrutura a ser construída, o turismo para expandir e uma indústria criativa pujante que demanda apoio para avançar, sem falar no tripé do programa de desenvolvimento.

Paralelamente, temos de concluir a reforma tributária e avançar em relação ao Imposto de Renda e à taxação de lucros e dividendos. São medidas fundamentais para a desconcentração da renda, vital para garantir a demanda interna. E temos que perseguir na queda dos juros. O pagamento do serviço da dívida é mortal para nós; no ano passado foram R$ 800 bilhões. Se os juros fossem menores e não estivessem alimentando a ciranda dos rentistas, o país teria mais recursos para investimento. Quando o país crescer mais que a inflação, a dívida pública vai estabilizar e vai cair.

O tripé do programa

Resposta a um processo de desindustrialização do Brasil e ao baixo desenvolvimento e exportação de produtos com complexidade tecnológica, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) estabelece metas específicas para seis missões, abrangendo os setores de infraestrutura, moradia e mobilidade; agroindústria; complexo industrial de saúde; transformação digital; bioeconomia e transição energética; e tecnologia de defesa. Cada missão possui áreas prioritárias para investimentos visando atingir as metas estipuladas até 2033.

Para o período de 2024-2026, o Nova Indústria Brasil contará com R$ 300 bilhões, além de medidas de estímulo para setores estratégicos como prioridade para produtos nacionais em compras públicas e outras relacionadas à desburocratização para reduzir o chamado “custo Brasil”.

Com o Nova Indústria Brasil, o objetivo do governo é fortalecer a indústria brasileira e estimular a inovação, para que ela se torne mais competitiva e gere empregos mais qualificados. Nos últimos anos, seguindo a agenda neoliberal, o Brasil, como outros países da América Latina, fez um giro em direção à chamada especialização produtiva, ou ao aumento da capacidade exportadora de bens primários.

Dados do Relatório da CEPAL de 2022, relativos à produção de manufaturados na América do Sul, mostram que, no início do século XXI, Brasil e México respondiam por ¾ partes do total de manufaturados exportados pela região. O Relatório chama a atenção especialmente para o caso do Brasil, segundo maior exportador regional de manufaturas: sua participação nos envios totais de bens caiu 27%, ao passar de 75% no triênio 2000-2002 para 48% em 2019-2021. Outros quatro países sul-americanos (Chile, Paraguai, Peru e Uruguai) também experimentaram quedas de dois dígitos no mesmo período.

Para que o Nova Indústria Brasil avance, é fundamental que haja uma efetiva articulação de agentes do governo com a indústria brasileira e parte do agronegócio. Não pode se repetir situações como a que está ocorrendo com um importante projeto de expansão do setor de energia eólica-solar em desenvolvimento no país em que todos os equipamentos são importados. O Brasil precisa retomar a tradição de casar seus grandes projetos com o desenvolvimento local, como ocorreu com as plataformas e sondas na indústria do petróleo, com a indústria naval e a construção civil. As grandes empreiteiras do país tinham know how para disputar licitações no exterior até serem destruídas pela Lava Jato.

Já o PAC elegeu como prioridades, em volume de recursos, as cidades, onde está o Minha Casa, Minha Vida, com R$ 601 bilhões no período 2023-2026 (quase metade do investimento total, que é de R$ 1,3 trilhão, mais R$ 0,4 trilhão após 2026), o setor de transição e segurança energética (R$ 596,2 bilhões) e o de transporte (R$ 369,4 bilhões).

Ao apresentar o Plano de Transformação Ecológica, o ministro Fernando Haddad disse que os primeiros estudos da iniciativa privada indicam que ele poderia gerar de 7,5 a 10 milhões de empregos em todos os setores — com enfoque no segmento de bioeconomia, agricultura e infraestrutura —, e oportunidades de geração de renda.

No entanto, para concretizar esse cenário, os mesmos estudos estimam que o Brasil precisa de investimentos adicionais da ordem de US$ 130 a US$ 160 bilhões por ano ao longo da próxima década. Os aportes precisam ocorrer principalmente em infraestrutura para promover adaptações, produzir energia, aprimorar a industrialização e a mobilidade.

É um desafio possível de ser superado, dada a capacidade de mobilização de investimento e de criação de infraestruturas sustentáveis do Brasil via investimentos públicos. Temos exemplos de sucesso como a rede de hidrelétricas, o sistema elétrico unificado, a produção de etanol e a atuação da Petrobras e outras empresas nacionais de ponta na pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis.

Articulação necessária

O governo Lula já tem todos os elementos para colocar em marcha o programa de desenvolvimento do país. O que precisa é de um comando político subordinado diretamente ao presidente e com autoridade conferida por ele para levar à frente a missão de implantar as medidas contidas nos três eixos que compõem o programa, comando este que faça a interlocução com o empresariado, os trabalhadores, a sociedade civil e os demais segmentos sociais e que preste contas regularmente de sua missão.

Sem comando unificado e sem foco — como ocorre hoje — os programas anunciados e em andamento, por melhor estruturados que tenham sido, acabam perdendo seu impacto e importância. E seus resultados ficam aquém do previsto, justamente por falta de integração entre as diversas áreas de governo e falta de priorização de iniciativas.

As recentes derrotas do governo no Congresso são fruto da correlação de forças, em função das emendas impositivas do orçamento, sem nenhum compromisso dos partidos com o êxito das políticas públicas, e ao financiamento público de campanha. Como não tem maioria parlamentar, fica sujeito aos humores de um Parlamento conservador na pauta de costumes, liberal nas questões econômicas e sem nenhum escrúpulo em trocar voto por interesse político.

A crise pode ser amenizada com uma melhor articulação política, que passa também por uma mudança de postura do PT de unificar a atuação de seus deputados e senadores na defesa dos interesses do governo. Mas só será superada com um programa de desenvolvimento que coloque em campo, ao lado de Lula, todos os partidos e segmentos sociais que apoiaram sua candidatura no segundo turno. O programa de desenvolvimento tem de ser a base de um compromisso político da frente democrática — da esquerda à direita liberal — para assegurar o crescimento do Brasil, com desconcentração da renda e a justiça social.

*José Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula (2003-2005), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e deputado federal por São Paulo. Autor, entre outros livros, de Memórias — vol. 1 (Geração editorial). [https://amzn.to/3x3kpxl]

Publicado originalmente no site Congresso em foco.

Eu vos saúdo, Palestina

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Por EDUARDO GALENO*

Considerações sobre o filme “Ici et ailleurs” de Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville

“Se o estado de exceção realmente pode ser eliminado do mundo ou não, não é uma pergunta jurídica” (Carl Schmitt, Teologia política).

Descontinuidade

“Em 1970, esse filme se chamava Vitória. Em 1975, esse filme se chama Aqui e em outro lugar.” O início é o fim. Ou o contrário. Dá no mesmo.

Hipótese: fazer um filme sobre a Palestina, sobre a revolução palestina, em 1970. Fato: melancolicamente, em 1975, Jean-Luc Godard descobre o fracasso em dizer, em falar. As descontinuidades entre o fato e a hipótese apresentam o documentário na forma que sublinha o mundo, o real: sublime determinismo ou determinismo do fragmento. É uma deslocação sempre a vir. Por isso angustiante. Instabilidade.

Ensaio – não consigo dizer

Infundamental e complexo representar a dor e o sofrimento de um povo – sem rosto –, desterritorializado. Justamente, Aqui reside a emergência da experiência formal em Ici et ailleurs: se é impossível formalizar a perda, que se perca a formalização. Mas não é simplesmente fazer perder a coisa, jogar com a inutilidade da expressão, mas fazer dessa regulação – importantíssima para qualquer ato nas práticas de cinema, escrita, pintura etc. – a ponte para a neutralidade da imagem, que significa, em outros termos, incomunicação, algo sequer formado, não pensado. A Palestina, por acaso, não é exatamente isso: um não-lugar?

Não se fala nada quando se tem tudo para falar. Na Palestina de 1970 como na França de 1975, uma imagem vale mais que mil palavras.

Terceiro

Como tal, a enunciação e em outro lugar permite mostrar esse local que existe e não existe.

Jean-Luc Godard: “espaço e tempo, pergunta e resposta, entrada e saída, ordem e desordem, interior e exterior, preto e branco…”

Ainda e já, França e Palestina, família e grupo de guerrilha – o que aconteceria se essa mistura ocorresse? Uma proposição em que alguém supera a díade e a conjunção pura, revelando aquilo que há de mais particular nessa relação do ET. Parece que para o Jean-Luc Godard de 1975 existe uma Palestina. Para aquele de 1970, existe outra.

A Palestina e a Palestina: autoconsciência. Consciência cuja função, de tal modo, não é voluntária: é o próprio objeto que fisga o pensamento de Jean-Luc Godard. Corpos permanentemente enrolados e transmutados em pensamento, que caem, não sem tamanha dificuldade (“muito fácil e muito simples dizer simplesmente que os ricos estão errados e os pobres têm razão”, diz J-L.G), num poço de indecisão. (Porque é no vazio, afinal, que as imagens não-binárias, godardianas, são colocadas).

Isso sugere um eco, sugere um deslocamento. É fácil dizer que Israel está errado, muito fácil dizer que a IDF está errada ao matar palestinos. Assim, por esse motivo, Jean-Luc Godard repele qualquer imediatismo em Ici et ailleurs: precisamos transbordar as palavras, mas por desgaste. Nós podemos, a partir desse ponto, mostrar. Entretanto, não por associação: quando Jean-Luc Godard sobrepõe Hitler e Golda Meir, não está a associar uma figura à outra. Surge uma terceira entre dois códigos, “outra imagem que induzirá um interstício entre as duas”.¹

Nesse meio, nesse intermezzo – entre Treblinka [e Gaza?] –, a gramática do ente é desfraldada e invalidada, admitindo como contíguo (mas não verdadeiro) o sinal que antes estava lá, eternizado. Jean-Luc Godard consegue fazer o som virar imagem e a imagem ser sonora – quebrando no centro da língua – quando “esgota” o continuum da Coisa, essa grafia que bambeia o cinema.

certifique-se de ter esgotado
tudo o que se comunica
pela imobilidade
e pelo silêncio²

Blanchot disse: “ver é talvez se esquecer de falar”³. Nem mil palavras valem uma imagem, responde Godard e Miéville.

Soma errada, soma certa

“O Capital funciona assim: num dado momento, o Capital adiciona e o que ele adiciona são zeros.”

No Dziga Vertov, esperança e sonho eram somados por Gorin e Godard, em 1970, na Jordânia, antes do Setembro Negro: a vontade do povo + a luta armada + o trabalho político + a guerra prolongada = até a vitória. Mas o resultado não bateu. Pobre idiota revolucionário… algum impedimento brecava a vitória. O cálculo acabou de maneira bem diferente, com quase quatro mil fedayin, guerrilheiros da OLP, mortos.

Cinco anos depois, Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville tentam de outro jeito: não adicionando, mas fazendo-com: 1917 e 1936 e 1970. Nascem imagens diferenciais de aporia aí. Em momento nenhum, o processo por meio do qual isso é arquitetado não transporta a aporia como irresponsabilidade ou quietismo, porém como travessia. Godard aparenta ter atravessado, desde o fracasso do Maio de 1968, o rio que iria desembocar em Notre musique (2004) e Film socialisme (2010), que também praguejam contra o apartheid israelense e, de certa forma, continuam o projeto pragmático de Ici et ailleurs. O novo cálculo almejava reparar e superar tanto o liberalismo da Nouvelle vague quanto o voluntarismo pós-68, vindo da interpretação de Mao à francesa. No que tange ao imperialismo das imagens, há essa tentativa intensa de abraçar o sentido da generalização por um desvio(détournement). É nesse local que ele enxerga a estratégia de passar perto e desviar do todo: de Brejnev, da televisão, da revista pornô, de Kissinger, do Partido Comunista Francês…

Teatro

Pelo fato de encadear uma crítica interna à representação, Ici et ailleurs diz: todo engajamento pode vir a ser uma mentira. A criança recitando em tom alto o poema de Darwish, o dirigente do Fatah representando o povo ou os cineastas criando um cenário em que o caso principal é a repetição – de mandamentos e ordens – de uma jovem às falas do significante-mestre: tudo contempla um gênero que poderá caminhar da militância de esquerda ao fascismo (Jean-Luc Godard cita, tal é a lei do discurso).

Nesse sentido, o que interpela e não cessa é o evento de fechamento da representação. O teatro foi assim por dois mil anos, convencionando o ciúme do pai, a perversidade de Édipo e a clausura da interpretação em prol da unidade. Que fazer diante disso? As nuances estão (ou se criam) na própria obra. Ici et ailleurs quer desmantelar o orgânico a partir mesmo dessa fissura no meio da encenação. Algo não deve ser escravo. Pelo menos é assim na intervenção godardiana.

E, se tirarmos o poder da linguagem, resta a afasia. Na frente de enfermos, desses afásicos (de emissão, dado que não podem dizer suas próprias mensagens), “selvagens palestinos” – adjetivação de todo o excedente que não é pleno Humano e sujeito –, Godard permitiu se calar após sua revisão. Os fedayin falavam de desaparição e morte quando Jean-Luc Godard falou e os representou vitoriosos.

“Nós queríamos gritar vitória (…) no lugar deles.”

Nós e eles, aqui e acolá

Eu me dirijo a alguém em qualquer situação. Mas naquilo que se perde entre mim e o outro, se abre o estranhamento. O pingo do ruído que me surda não é aquele anterior, que já havia me dado a possibilidade de ligação uterina com o estrangeiro. Essa surdez, o impedimento de escutar a voz do que vem de fora, me é, ao mesmo tempo, violenta e quieta. Me solidifico, então, na solidão. É ela que deixa a vaga para um novo espaço. Espaço dissimétrico, totalmente ocasional, espaço de insuficiência. É o espaço em que grito, ecoando minha voz e fazendo ouvir também a do outro (porque ele, afinal, também grita).

Para Jean-Luc Godard, Settembrini “completa” Naphta⁴ de alguma maneira. De alguma maneira, o ódio colonial dos israelenses completa a fragilidade colonizada dos palestinos. Aqui, o que está em causa e consta é menos a exploração (identificação exagerada com o outro, que, no frigir dos ovos, é um elemento narcísico etnocêntrico) do outsideness [exterioridade] por um self-othering [autoalterização] do que a radicalidade intrusiva, derramamento do Fora em toda a sua complexificação, inclusive sob forma paradoxal.

O nós da família francesa se encharca necessariamente com o eles dos palestinos, assim como o aqui depende do acolá. Desse modo, a discrepância entre os dois lugares só pode advir da forra, pelo forçamento de algo que ultrapassa os sentidos da ratio imagética, da economia das imagens. O filme-ensaio de Godard talvez seja uma pesquisa desse material impreciso, forjado, que as imagens têm sobre nós.

Não ideológico, mas ideia. Não uma imagem justa, justo imagem.

“Aqui, uma família francesa que assiste televisão.
Lá, imagens da revolução palestina.”
Miéville: “os outros, esse Lá do nosso Aqui.”

Didatismo

O plano didático de Bertold Brecht impregna o filme. Tudo gira no entorno de um debate sobre princípios e razões, dando condicionamento a um estupor referencial de imagens. Sendo elas frias, quentes e mornas, o som que sai (dos tiros e da TV, dos palestinos e da família francesa ou mesmo de Jean-Luc Godard) interroga ao sentido uma pergunta: o que fazemos, o que falamos e o que mostramos com imagens de um apagamento étnico?

Penso que não há um modelo. É isso que o voice-over do filme quer nos fazer apontar.

“São filmes que se autoanalisam”⁵, dizia ele. Quer dizer, Ici et ailleurs faz parte de um cinema pós-dramático. Assim como Brecht fez a revolução no teatro (mas por vias, contextos e polos diferentes), Godard tentou fazer no cinema (ou, na verdade, continuou a revolução que os anos 1960 deram a essa prática).

Nesse tema, o percurso godardiano é: iremos tensionar, ao máximo, nossas informações, colocá-las num vácuo e depois espalhar rastros. Aula: mostrar para vocês o que e como se faz. Ici et ailleurs é uma aula acima de tudo.

Jean-Luc Godard como arquivista

Quero enfatizar: a melancolia das imagens em Ici et ailleurs não é derrotista. Ela é arquivista. Porque trabalha não com derrotas definitivas, mas testemunhos, testamentos temporais e espaciais (Godard: “a minha dupla identidade, espaço e tempo, encadeados um ao outro”).

O lamento dos arquivos, como tal, aparece como um pez no imaginário, uma marca que deixa traços, completamente jogado na amplitude dos vestígios. A lamentação de Jean-Luc Godard responde a uma característica íntima do espaço-tempo: à busca por distintas formas de vida, dentre as quais as aparições anacrônicas (Nachleben). A esse post scriptum do cinema, por meio do percepto pós-moderno, Godard parece adentrar.

É por isso que o instante da imago repete a tendência de ir para além do princípio do presente. Ici et ailleurs está entre Vertov e Warburg. Trás a percepção para o sublime material, enquanto, por outro lado, invoca o “arquivo” como ruína contemporânea. Logo, ele amplifica a relação das imagens, conjurando outros tipos, planos e modos de intromissão. Significa dizer que a Palestina de 1970 – suas práticas, seus sentimentos – ressoa nessa, a atual, no momento em que escrevo e no momento em que alguém lê o que escrevo. Eis o tempo e o espaço, virtualidades e realidades, sonhos e ações.

Se comprometer com o esquecido – ele manteve. Se comprometer com a justiça, “a tradição do esquecido”⁶. Ele, na mesma época dessa revisão, grafou:

EU
JÁ NÃO TENHO
ESPERANÇA
OS CEGOS
FALAM DE UMA
SAÍDA
EU
EU VEJO⁷

O texto começou com uma declaração de Carl Schmitt sobre os limites do direito. Perguntemos agora: na arte, há limites na resposta sobre o estado de exceção, mais especificamente no cinema? Ainda hoje, podemos falar na representação da dor e luta palestina? Se sim, basta insistirmos em outras respostas e intenções – obviamente pensadas a partir de uma decupagem responsável, tradução de nossos retalhos impossíveis –, como a da poesia; se não, lembro as palavras de Darwish em A Palestina como metáfora: eles venceram, “será o fim”.

*Eduardo Galeno é graduado em Letras pela UESPI.

Notas


¹ DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.

² GODARD, Jean-Luc. História(s) do cinema. São Paulo: Luna Parque e Fósforo, 2022.

³ BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita: a palavra plural. São Paulo: Escuta, 2001.

⁴ Personagens de A montanha mágica (1924), de Thomas Mann. Existe um ar real nessas relações, mas não exatamente identidade entre um e outro.

⁵ GODARD, Jean-Luc. Introdução a uma verdadeira história do cinema. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

⁶ AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

⁷ Six fois deux/Sur et sous la communication (1976). Acredito que o filme aqui resenhado é um ponto de virada na carreira de Godard. Por isso mesmo remeti, no título, a dois filmes símiles de sua autoria: Je vous salue, Marie (1985) e Je vous salue, Sarajevo (1993), em que o evento como tal – seja a gravidez, seja a guerra – é saudado.

MDB de Porto Velho marca convenção para o primeiro dia do calendário do TRE

Em uma demonstração de força e unidade,  MDB de Porto Velho marca convenção para o primeiro dia 20 de julho

Com a participação on-line do presidente municipal do partido, Williames Pimentel, que se encontra em Brasília, o Movimento Democrático Brasileiro – MDB definiu, com antecedência de 38 dias, a data do dia 20 de julho para a realização da sua Convenção Municipal. Há no partido a convicção da viabilidade eleitoral de sua pré-candidata Euma Tourinho e de sua nominata de vereadores(as). “Nós estamos convictos das possibilidades de vitória dos nossos candidatos. A costumeira postergação das convenções se presta aos acordos que excluem o cidadão“, afirmou Pimentel.

‘Direito de defesa virou direito de vingança em Gaza’, protesta Lula, no G7

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou sua participação na plenária do G7, nesta sexta-feira (14), para condenar o genocídio do povo palestino cometido por Isarel e para cobrar um cessar-fogo nos conflitos do Oriente Médio e na Ucrânia. “Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança. Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças”, disse o presidente.

Ao falar sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, Lula também cobrou a realização de uma conferência pela paz em que os dois lados do conflito sejam chamados ao diálogo, nos moldes da proposta feita de forma conjunta pelo Brasil e pela China. “Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz”, afirmou.

Lula também criticou a inoperância dos organismos internacionais ao afirmar que, “as instituições de governança estão inoperantes diante da realidade geopolítica atual e perpetuam privilégios”.

Coluna Zona Franca

Eleições 2024

A apenas 116 dias das eleições municipais, a coluna tem condições de dizer que, por enquanto, o pleito em Porto Velho está tri-polarizado entre Mariana Carvalho (União Brasil), Léo Moraes (Podemos) e Vinícius Miguel (PSB). Uma pesquisa séria colocaria os três nessas posições.

(Ainda) não decolaram

A pré-candidata Euma Tourinho (MDB) taxiou mas, por algum motivo paroquial, ainda não decolou. O pré-candidato Valdir Vargas (PP), tinha tudo para decolar, mas os temporais em Porto Velho dificultaram a partida. Enfim, espera-se que nos próximos cento e dezesseis dias o tempo ajude os demais candidatos a voarem rumo ao Prédio do Relógio.

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Família é tudo

Não se trata da novela da Globo. Trata-se da novela diária da politica rondoniense. Em uma notícia que chocou absolutamente ninguém, a 8ª Promotoria de Justiça de Porto Velho decidiu instaurar um Procedimento Preparatório para investigar uma prática que muitos já consideravam um esporte regional: o nepotismo. Dessa vez, o alvo é o ilustre deputado Izequiel Neiva de Carvalho (União Brasil), que parece ter confundido a Assembleia Legislativa de Rondônia com uma reunião de família.

Família é tudo 2

De acordo com a Portaria nº 000043, o deputado está sendo investigado por ter nomeado três parentes para cargos na mesma pessoa jurídica. Os felizardos são ninguém menos que sua esposa, sua irmã e sua nora. Sim, você leu certo. S. S. S. N., O. N. C. e P. F. S. S. N. foram agraciadas com cargos que, sem dúvida, devem ter sido disputados de maneira muito acirrada… dentro do círculo familiar, claro. A 8ª Promotoria de Justiça, em um ato que deve ter exigido grande esforço para conter risadas, publicou o extrato da portaria de instauração, evidenciando o compromisso do órgão em apurar “possível” prática de nepotismo. Políticos desse naipe constumam ostentar a bandeira do Brasil e bradar a todo pulmões Deus, Pátria e Família. E Lula é o ladrão.  A fonte da notícia é do site direitarondonia.com.br.

EFMM

O complexo da EFMM, em Porto Velho, está bombando, após a reabertura totalmente revitalizada pela Energisa. Mas, essa mesma empresa cometeu um crime contra a própria memória da lendária EFMM. Em Vila Murtinho, localizada aproximadamente a 286 quilômetros de Porto Velho, Rondônia, na fronteira com a Bolívia e berço do rio Madeira (coordenadas aproximadas: 11.1053° S, 64.0388° W), a Energisa cometeu um grave crime ambiental.

EFMM 2

Durante a instalação de postes de energia elétrica, a empresa não respeitou os trilhos históricos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, fincando vários postes entre os trilhos. Este ato representa um desrespeito total ao que resta de uma saga de lutas, sangue e mortes envolvidas na construção dos trilhos que ligam Porto Velho a Guajará-Mirim. A Secretaria do Patrimônio da União (SPU), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Ministério Público Federal (MPF) e outros órgãos competentes devem tomar medidas urgentes para resolver este grave problema. É fundamental que ações sejam realizadas para preservar este patrimônio histórico e cultural de grande importância para a região e para o país.

Operação Karipuna

18b146ef-d4cc-42b6-833f-3bf0be7b60a0.jpgAção conjunta entre PRF, MPT, MTE, DPU e PF resgata trabalhadores em situação análoga à escravidão em Rondônia. Os trabalhadores não tinham acesso a água potável e instalações sanitárias. Durante a Operação Karipuna, que teve início no começo deste mês, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) desempenhou um papel crucial no resgate de quatro trabalhadores que estavam vivendo em condições análogas à escravidão. As propriedades de criação de gado, localizadas na Reserva Extrativista (RESEX) estadual de Jaci-Paraná (RO), ao lado da Terra Indígena Karipuna (TIKA), foram alvo da ação conjunta dos órgãos responsáveis pela garantia dos direitos trabalhistas.

Liberou geral

Nenhuma descrição de foto disponível.A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) aprovou relatório favorável do senador Jaime Bagattoli (PL-RO) ao projeto de decreto legislativo que retira restrições (terras griladas) à destinação de florestas públicas para regularização fundiária em terras da União na Amazônia Legal e em terras do Incra. O PDL 467/2023, do senador Marcos Rogério (PL-RO), segue agora para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Liberou geral 2

O projeto susta os efeitos de um decreto anterior (Decreto 11.688, de 2023) do Poder Executivo que restringe a destinação de florestas a algumas políticas públicas específicas: a criação e regularização fundiária de unidades de conservação da natureza; a regularização fundiária de terras indígenas, territórios quilombolas e comunidades tradicionais; concessões; e formas de destinação compatíveis com a gestão sustentável das florestas. É uma festa para invasores de terras como Ratinho e muitos outros políticos e empresários.

Liberou geral 3

Pode ser uma imagem de texto que diz "A Aevolução do "homem branco" atrasodo atrasodo-povoindigena odo povo indígena"Com base nesse decreto, o Incra determinou a interrupção de todos os processos de regularização fundiária até que se definam as regras para identificação de florestas públicas. O projeto acarreta também a suspensão imediata desse ofício. Marcos Rogério argumentou que as restrições são um entrave à regularização fundiária e penalizam os trabalhadores rurais — principalmente os mais pobres, segundo ele — postulantes à obtenção de terras públicas.

Cassinos e bingos

Cassinos mais próximos do Brasil - Guia da SemanaO projeto de lei (PL) 2.234/2022 que autoriza o funcionamento de cassinos e bingos será analisado como item único da reunião extraordinária deliberativa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na próxima quarta-feira (19). A decisão foi comunicada pelo presidente do colegiado, senador Davi Alcolumbre (União-AP), na reunião desta quarta-feira (12), após senadores manifestarem divergência sobre a matéria. 

Cassinos e bingos 2

How to Prevent Casino Crimes: 7 Best Security Measures – Ray's NowNa avaliação dos senadores contrários à proposta, a permissão não trará vantagem econômica ao país e promoverá consequências negativas, como o estímulo ao cometimento de crimes a exemplo da lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. A própria Organização Mundial de Saúde considera a ludopatia [vício no jogo] uma doença cada vez mais grave, que tem devastado empregos, porque as pessoas começam a perder produtividade; tem devastado a família, porque a pessoa começa a perder os entes queridos, que começam a sofrer os impactos do vício. Isso gera criminalidade. Na opinião desses senadores, o Brasil não está preparado para essa autorização, seja pela falta de órgãos de controle para acompanhar cassinos e bingos, seja pelo aumento da criminalidade e do surgimento de novos problemas sociais. Eles citam como possível consequência da liberação do jogo o aumento de dependência alcoólica e de drogas, além de estímulo à prostituição. 

Fim do Feminicídio

Projeto que institui o Dia Estadual pelo Fim do Feminicídio é aprovado pela AssembleiaA Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero) aprovou o Projeto de Lei 111/2023, que institui no calendário estadual o dia 25 de março, como o Dia Estadual pelo Fim do Feminicídio. A votação da matéria aconteceu durante a sessão ordinária de terça-feira (11). A proposição é de autoria da deputada Cláudia de Jesus (PT) e visa promover ações de políticas públicas para combater as violências contra as mulheres. Também pretende criar mecanismos de prevenção e defesa para o público feminino. Para isso, o projeto determina, entre outros, campanhas de conscientização sobre feminicídio no estado.

Pré-candidatos a vereador Porto Velho

Lista atualizada de pré-candidatos a vereador por Porto Velho: PT/PCdoB/PV-

CLÁUDIO CARVALHO
GIOVANA BARROS
JOÃO VITOR
MARCELO HENRIQUE
FRANCIMAR SIMÃO
VAO OLIVEIRA
OHANA Silveira
RAIMUNDO NONATO
PEDRO DO KAMINARI
CLAUDINHA DO AGRÁRIO
ISRAEL TRINDADE
FATINHA
CHIQUINHO DO PT
EZEQUIEL MESQUITA
TOCO
NONATO MORAIS
TIÃO FARIAS
CLODOALDO COSINHO
RENATO GOMES OLMEIDO
GENIVALDO

JOSÉ IRONILDO
EDMILSON MARTINS
JAPONÊS DA FUNERÁRIA
RICARDO VILARRUEL
NEIA SORRISO
VAGNER EUFRASIO
JO RODRIGUES
RICARDO
DEUSA 

PSB:  Josias Perito; Agir: Alexandre Silva, Antonio Medeiros, Porfirio Costa, Cliver Heron, Ednei Singeperon, Ednei Lima, Geovane Ibiza, Marcos Malaquias, Hermínio, Maelson do Planalto, Mesaque, Roberto Dilamite, Fabrício Donizete, Marcos combate, Cláudio da Padaria, Gabriele Gaspar, Marilene U.Norte, Solange Feira, Taliana, Meuse Santos, Ivanilda, Dalva Cecília e Elmara; Avante: Dr. Clever, Nanan, Paroquinha, Zé Reis, Paulo Tico, Edcarlos, Bike Som, Felipe, Ronaldo Sanches, Evaldo Unir, André Rocha, Alex Policial Civil, Chiquinho Táxi, Júlio César,Eduardo Rodoviária, Dr. Breno Mendes, Dr. Carlos Eduardo, Pastor Nonato, Renata Camurça, Dhayane, Márcia Presidente Mulheres PM, Gleice, Calama, Líder Suely, Rosely, Karla Barreto, Carla Bombeiro e Dra. Márcia; Rede: Sebastião Neves

Lista atualizada 2

Republicanos-Márcio Oliveira, Profa. Val Barreto, Júnior Queiroz, Jurandir Bengala, Márcio Pacele, Pastor Ivanildo da Universal, Júnior Coimbra, Fernando PM, Pedro Geovar; União Brasil: Ellis Regina, Pastor Sandro, Isaque Machado, Lucas Donadon, Pastor Bruno Luciano, Joel da Enfermagem, Dr. Macário Barros e Edmilson Dourado; PSD: Everaldo Fogaça, Luiz Porto, Rai Ferreira, Enfermeiro Roneudo, Wanoel Martins, Da Silva do SINTRAR, Hallan Carvalho e Kaue Ribeiro. PP: Raimundo Torres Filho, Alysson Cuiabano e Matheus Serrate.

Lista atualizada 3

Podemos: Júnior Moraes, Mauro Nazif Júnior , Alyson Cuiabano, Felipe da Saúde; PRD: Rogério Quaresma, Alexs Palitot, Bruno do Pingo, Sandro Marcelo, Pedro Teixeira, Joelna Holder e Moisés Cruz; PL: Sofia Andrade, Léo Alencar, Gilber Mercês, Jacaré de Vista Alegre e Willian Homem do Tempo; MDB: Júnior da Versátil e Francisca Kaxarari. PRTB: Pastor Evanildo Ferreira e Jaque Suzana. SD. Terrinha

Lista atualizada 4

 PSDB/Cidadania-Marcelo Reis, Edwilson Negreiros, Carlos Damasceno, Valter Canuto, Márcia Socorrista, Nilton Souza, Antônio Medeiros, Júnior Siqueira, Dim Dim, Adalto Bandeirantes, Júnior Cavalcante, Dr Macário Barros, Thiago Tezzari, Evaldo Agricultura, Wellen Prestes e Alyson Sandubas.

Lista atualizada 5

PDT: Jonas Minele – Ex Coordenador de Juventude Municipal, Marcos Bali – Empresário, Batista da Sul – Empresário Zona Sul, Ezequiel Silva – AJERO, Viviane Nascimento – Síndica do Morar Melhor, Raí do Sopão – Líder Comunitária Zona Leste, Paulinha do Restaurante – Empresária Zona Leste, Dra Rosimar – Auditora TCE/Presidente do Movimento Lilás, Professora Anne Mamedes – Escolas de Samba, Marina Gomes – Colonia de Pescadores, Romeuzinho da Comunidade – Líder Comunitário da zona leste, Rosinha Vieira – Ativista SocialPastor Lucimar, Roberto Motoboy – Presidente Associação dos Motoboys, Walk da Rede TV, Jeferson Magalhães, Repórter Daniel Júnior, Leila Reis do IFRO, Cintia Ribeiro – Liderança da Zona Sul, Maura Torres – Ação Mulher Trabalhista, Professor Douglas Proprietário das Escolas Tempos Modernos, Marklin Cantanhêde – Administrador de Empresas, Patricia Queiroz – Ativista Social/Presidente do Conselho de Saúde, Tiago Carneiro Líder dos Aplicativos de Mobilidade urbana, Samuel Santos do Movimento Negro, Leilson de São Carlos, Liderança comunitária do Baixo Madeira, Diniz da Zona Sul – Empresário, Professor Lyon – Do Esporte, Sacerdotisa Marlene, Professor Doca do IFRO, Júlio César Presidente do CRECI e Pastor Sérgio.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política em Rondônia e no Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

Informações para a coluna:  rk@maisro.com.br

O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidaddo colaborador e titular desta coluna. O Portal Mais RO não tem responsabilidade legal pela opinião, que é exclusiva do autor.

“PL do estupro” é rejeitado por 87%, mostra enquete da Câmara

O Projeto de Lei (PL) nº 1.904/24, que propõe equiparar o aborto de gestações acima de 22 semanas ao homicídio, provocou uma onda de manifestações e uma clara rejeição da opinião pública. De acordo com uma enquete popular no site da Câmara dos Deputados, 87% dos participantes declararam “discordar totalmente” da proposta, representando 616.298 votos até às 11h10min desta sexta-feira (14), segundo o Metrópoles. Por outro lado, apenas 13% dos votantes afirmaram “concordar totalmente” com a medida, somando 87.476 votos.

Na quarta-feira (12), a Câmara dos Deputados aprovou, sem alarde, o requerimento de urgência do PL 1.904/24. A votação, realizada de forma simbólica — método que não identifica individualmente os votos dos deputados —, não foi anunciada previamente em plenário, gerando descontentamento entre muitos parlamentares e a população.

A reação foi rápida e se espalhou pelas redes sociais, ampliando-se para manifestações de rua na quinta-feira (13). Protestos ocorreram em várias capitais do país, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Florianópolis.

A proposta de equiparar o aborto ao homicídio, mesmo em casos de estupro, é vista por muitos como um retrocesso significativo nos direitos das mulheres. Atualmente, o aborto no Brasil é permitido em casos de risco à vida da gestante, anencefalia do feto e em casos de estupro. Equiparar o aborto de gestações acima de 22 semanas ao homicídio, especialmente sem exceções para vítimas de estupro, levanta preocupações sobre os direitos humanos e o bem-estar das mulheres afetadas.