sexta-feira, setembro 5, 2025
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Quem são os pré-candidatos a prefeito das capitais a 100 dias das eleições

Por CNN Brasil

Primeiro turno dos pleitos municipais será realizado em 6 de outubro

Faltam 100 dias para que eleitores brasileiros possam escolher os próximos representantes das 26 capitais brasileiras.

Por enquanto, os políticos serão apresentados como pré-candidatos. Eles só serão considerados candidatos de fato após as convenções partidárias, quando as siglas oficializam as candidaturas de cada partido.

Porto Velho

  • Euma Tourinho (MDB)
  • Fátima Cleide (PT)
  • Léo Moraes (Podemos)
  • Marcelo Cruz (PRTB)
  • Mariana Carvalho (União Barsil)
  • Valdir Vargas (PP)
  • Vinícius Miguel (PSB)
  • Samuel Costa (Rede-PSOL)
  • Ricardo Frota (Novo)
  • Célio Lopes (PDT)
  • Gazola (PL)
  • Benedito Alves (SD)

São Paulo

 

Pré-candidatos a prefeito de São Paulo:

  • Ricardo Nunes (MDB)
  • Guilherme Boulos (PSOL)
  • Pablo Marçal (PRTB)
  • José Luiz Datena (PSDB)
  • Tabata Amaral (PSB)
  • Marina Helena (Novo)
  • Kim Kataguiri (União)
  • Fernando Fantauzzi (DC)
  • João Pimenta (PCO)
  • Altino Prazeres (PSTU)
  • Ricardo Senese (UP)

Rio de Janeiro

Pré-candidatos a prefeito do Rio de Janeiro:

  • Alexandre Ramagem (PL)
  • Eduardo Paes (PSD)
  • Tarcísio Motta (PSOL)
  • Marcelo Queiroz (PP)
  • Otoni de Paula (MDB)
  • Rodrigo Amorim (União)
  • Henrique Simonard (PCO)
  • Carol Sponza (Novo)
  • Cyro Garcia (PSTU)
  • Dani Balbi (PCdoB)
  • Juliete Pantoja (UP)

 

Porto Alegre

Pré-candidatos a prefeito de Porto Alegre:

  • Sebastião Melo (MDB)
  • Maria do Rosário (PT)
  • Felipe Camozzato (Novo)
  • Fabiana Sanguiné (PSTU)

 

Salvador

Pré-candidatos a prefeito de Salvador:

  • Bruno Reis (União)
  • Eslane Paixão (UP)
  • Geraldo Júnior (MDB)
  • Kleber Rosa (PSOL)

Belo Horizonte

 

Pré-candidatos a prefeito de Belo Horizonte:

  • Ana Paula Siqueira (Rede)
  • Bruno Engler (PL)
  • Carlos Viana (Podemos)
  • Duda Salabert (PDT)
  • Fuad Noman (PSD)
  • Gabriel Azevedo (MDB)
  • Indira Xavier (UP)
  • João Leite (PSDB)
  • Luísa Barreto (Novo)
  • Mauro Tramonte (Republicanos)
  • Paulo Brant (PSB)
  • Rogério Correia (PT)
  • Wanderson Rocha (PSTU)

 

Fortaleza

 

Pré-candidatos a prefeito de Fortaleza:

  • André Fernandes (PL)
  • Capitão Wagner (União)
  • Célio Studart (PSD)
  • Eduardo Girão (Novo)
  • Evandro Leitão (PT)
  • José Sarto (PDT)

 

Florianópolis

 

Pré-candidatos a prefeito de Florianópolis:

  • Dario Berger (PSDB)
  • Lela Farias (PT)
  • Marquito (PSOL)
  • Pedrão Silvestre (PP)
  • Topázio Neto (PSD)

 

Recife

Pré-candidatos a prefeito de Recife:

  • Daniel Coelho (PSD)
  • Dani Portela (PSOL)
  • Gilson Machado (PL)
  • João Campos (PSB)
  • Simone Fontana (PSTU)
  • Tecio Teles (Novo)

 

Manaus

 

Pré-candidatos a prefeito de Manaus:

  • Amom Mandel (Cidadania)
  • Capitão Alberto Neto (PL)
  • David Almeida (Avante)
  • Eron Bezerra (PCdoB)
  • Marcelo Ramos (PT)
  • Natália Demes (PSOL)
  • Professora Maria do Carmo (Novo)
  • Roberto Cidade (União Brasil)
  • Wilker Barreto (Mobiliza)

Goiânia

Pré-candidatos a prefeito de Goiânia:

  • Adriana Accorsi (PT)
  • Fred Rodrigues (PL)
  • Delegado Humberto Teófilo (DC)
  • Leonardo Rizzo (Novo)
  • Matheus Ribeiro (PSDB)
  • Professor Pantaleão (UP)
  • Rogério Cruz (Republicanos)
  • Sandro Mabel (União Brasil)
  • Vanderlan Cardoso (PSD)

 

Curitiba

 

Pré-candidatos a prefeito de Curitiba:

  • Andrea Caldas (PSOL)
  • Beto Richa (PSDB)
  • Eduardo Pimentel (PSD)
  • Luciano Ducci (PSB)
  • Luizão Goulart (Solidariedade)
  • Maria Victoria (PP)
  • Ney Leprevost (União)
  • Roberto Requião (Mobiliza)
  • Samuel de Mattos (PSTU)

 

Vitória

 

Pré-candidatos a prefeito de Vitória:

  • Camila Valadão (PSOL)
  • Capitã Estéfane (Podemos)
  • Capitão Assumção (PL)
  • Eduardo Ramlow (Avante)
  • João Coser (PT)
  • Lorenzo Pazolini (Republicanos)
  • Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB)

 

Maceió

 

Pré-candidatos a prefeito de Maceió:

  • João Henrique Caldas (PL)
  • Lenilda Luna (Unidade Popular)
  • Lobão (Solidariedade)
  • Rafael Brito (MDB)
  • Ricardo Barbosa (PT)

Natal

 

Pré-candidatos a prefeito de Natal:

  • Natália Bonavides (PT)
  • Nando Poeta (PSTU)
  • Paulinho Freire (União Brasil)
  • Rafael Motta (Avante)

 

Cuiabá

Pré-candidatos a prefeito de Cuiabá:

  • Abilio Brunini (PL)
  • Carlos Avallone (PSDB)
  • Lúdio Cabral (PT)
  • Reginaldo Teixeira (Novo)
  • Eduardo Botelho (União Brasil)

São Luís

Pré-candidatos a prefeito de São Luís:

  • Duarte Jr. (PSB)
  • Eduardo Braide (PSD)
  • Fábio Câmara (PDT)
  • Flávia Alves (Solidariedade)
  • Saulo Arcangeli (PSTU)
  • Wellington do Curso (NOVO)
  • Yglésio Moyses (PRTB)

Campo Grande

Pré-candidatos a prefeito de Campo Grande:

  • André Puccinelli (MDB)
  • Beto Pereira (PSDB)
  • Beto Figueiró (Novo)
  • Camila Jara (PT)
  • Rose Modesto (PRD)
  • Ubirajara Martins (DC)

 

Belém

Pré-candidatos a prefeito de Belém:

  • Edmilson Rodrigues (PSOL)
  • Igor Normando (MDB)
  • Ítalo Bati (Novo)
  • Jefferson Lima (Podemos)
  • Thiago Araújo (Republicanos)
  • Wellingta Macêdo (PSTU)

 

Teresina

Pré-candidatos a prefeito de Teresina:

  • Dr. Pessoa (PRD)
  • Fábio Novo (PT)
  • Geraldo Carvalho (PSTU)
  • Francinaldo Leão (PSOL)
  • João Vicente Claudino (PSDB)
  • Santiago Belizário (UP)
  • Silvio Mendes (União Brasil)
  • Tonny Kerlley (Novo)

 

Palmas

Pré-candidatos a prefeito de Palmas:

  • Carlos Amastha (PSB)
  • Charleide Matos (PSOL)
  • Eduardo Siqueira Campos (Podemos)
  • Janad Valcari (PL)
  • Júnior Geo (PSDB)

 

Rio Branco

Pré-candidatos a prefeito de Rio Branco:

  • Emerson Jarude (Novo)
  • Marcus Alexandre (MDB)
  • Tião Bocalom (PL)

 

Boa Vista

Pré-candidatos a prefeito de Boa Vista:

  • Arthur Henrique (MDB)
  • Frutuoso Lins (PL)
  • Nicoletti (União Brasil)
  • Rudson Leite (PV)

 

João Pessoa

Pré-candidatos a prefeito de João Pessoa:

  • Celso Batista (PSOL)
  • Cícero Lucena (PP)
  • Luciano Cartaxo (PT)
  • Marcelo Queiroga (PL)
  • Ruy Carneiro (Podemos)
  • Yuri Ezequiel (UP)

 

Macapá

Pré-candidatos a prefeito de Macapá:

  • Aline Gurgel (Republicanos)
  • Dr. Furlan (MDB)
  • Gianfranco Gusmão (PSTU)
  • Jesus Pontes (PDT)
  • Patrícia Ferraz (PSDB)
  • Paulo Lemos (PSOL)

Aracaju

Pré-candidatos a prefeito de Aracaju:

  • Emília Corrêa (PL)
  • Danielle Garcia (MDB)
  • Fabiano Oliveira (PP)
  • José Paulo Leão Veloso Silva (Novo)
  • Luiz Roberto (PDT)
  • Niully Campos (PSOL)
  • Yandra Moura (União Brasil)
  • Candisse Carvalho (PT)

 

Escritor provoca reflexão sobre hipocrisia

No livro “O cidadão de bem”, o escritor finalista do Prêmio Jabuti Mauricio Gomyde faz o leitor se perguntar em quais áreas da vida tem sido hipócrita. É por meio das histórias de Roberto e Rafael que o autor provoca a reflexão de que ninguém pode ser “bom” ou “mau” o tempo todo.

Rafael, por exemplo, a mesma medida em que no presente se desdobra para ser um pai mais dedicado e deixar um mundo melhor às filhas, cometeu erros com a família que o levaram ao divórcio. Já Roberto é um excelente profissional, respeitado na medicina, porém, faz das redes sociais uma arma para disseminar o ódio.

Um retrato literário sobre a hipocrisia

Neste drama contemporâneo, publicado pela Qualis Editora, Maurício Gomyde narra uma história que perpassa a dualidade do bem e do mal

Sem perder a essência de instigar o leitor a desvendar um mistério no decorrer das páginas, em O Cidadão de Bem o escritor Maurício Gomyde evidencia a polarização por meio de dois personagens principais, que, embora amigos, têm posições antagônicas e divergem em quase tudo.

Para o mundo, Dr. Roberto é um profissional sério e respeitado, mas em casa e nas redes sociais se manifesta como um defensor fervoroso do armamento civil, que não esconde o preconceito contra negros e homossexuais, além das atitudes elitistas. Resistindo a cidadãos como ele, o leitor conhece Rafael, um jornalista que sonha se tornar escritor e que, mesmo tendo falhado com a família no passado, luta por um mundo mais pacífico e tolerante, não apenas para ele, mas principalmente para as filhas e as gerações futuras.

‘Você é louco, rapaz. Totalmente desconectado.
A hipocrisia reina por aqui. Papinho Poliana de gentileza.’
O sono foi embora de vez com aquela profusão de frases
que começaram a se repetir em sua mente.
Louco por achar que o mundo ainda tinha salvação?
Por sonhar que os discursos de amor um dia poderiam ser mais fácil
e rapidamente compreendidos do que os de ódio? Por imaginar pessoas
e países derrubando barreiras e usando a solidariedade como arma?
Por pregar a paz acima de tudo e o respeito acima de todos?
Gastou o resto da madrugada nessas perguntas.
Tolas, certamente, aos ouvidos de cada vez mais gente no mundo.
(O Cidadão de Bem, p. 155)

A incógnita da narrativa é revelada pelo autor em doses homeopáticas. Cada abertura de capítulo é composta por um trecho do relatório de um inquérito policial, que detalha as informações de um crime envolvendo arma de fogo. Quem levou o tiro? Quem disparou a arma? E, como o incidente ocorreu? Essas e outras perguntas são respondidas ao fim da obra, quando o leitor junta todos os fragmentos da investigação criminal.

Com protagonistas intensos e complexos, Gomyde entrelaça as vidas dos personagens, suas esposas, filhos e amigos. Nesta publicação pela Qualis Editora, o autor propõe a refletir sobre o bom e o mau indivíduo em uma sociedade cada vez menos preocupada com o coletivo.

“Há temas que não cabem por inteiro nas frases frias dos analistas. Um deles é esta polarização carregada de ódios que divide famílias, amigos e a sociedade brasileira. Maurício Gomyde, exímio contador de histórias, penetra no íntimo dessa vida nervosa para examinar seus meandros afetivos e buscar os cidadãos de bem” – Sérgio Abranches (Cientista político e jornalista).

FICHA TÉCNICA
Título:
 O cidadão de bem
Autor: Maurício Gomyde
Editora: Qualis Editora
ISBN: 978-6587383286
Dimensões: 22.6 x 15.8 x 1.4 cm
Páginas: 278
Preço: R$ 41,50, R$ 44,00
Onde comprar: AmazonQualis Editora

Sobre o autor: Maurício Gomyde é músico, roteirista de cinema e autor de oito livros publicados em seis países. Foi finalista do prêmio Jabuti 2016 com o livro Surpreendente!, título publicado também em Portugal, Espanha, Itália e Lituânia.

Redes sociais do autor:

Sobre a editora: Há mais de 15 anos, a Qualis se destaca no cenário literário como uma editora tradicional, reconhecida por seu comprometimento com a promoção e o investimento em talentos nacionais.  Criada em 2008 com a missão de disseminar o conhecimento científico produzido no âmbito acadêmico, a editora se reinventou, e ampliou seu alcance com o selo de literatura. Todo esse processo sem jamais se desviar de um objetivo essencial: contribuir para uma sociedade mais justa e sem preconceitos. Sustentada por uma visão inclusiva e diversificada, a Qualis tem como norte o princípio de que todas as vozes merecem ser ouvidas e todas as histórias, contadas.

Redes sociais:

Primeiro voto: data celebra participação nas eleições e busca conscientizar jovens sobre o futuro do país

Há quase dez anos, 26 de junho é instituído como o Dia Nacional da Consciência do 1º Voto

Nesta quarta-feira (26), o país comemora o Dia Nacional da Consciência do 1º Voto. A celebração incentiva a reflexão sobre a importância da participação no processo eleitoral, sobretudo dos jovens, já que é a partir do primeiro voto que eles passam a assumir responsabilidade sobre o futuro do país. A data foi estabelecida pela Lei nº 13.130, de 7 de maio de 2015, em memória à Passeata dos Cem Mil, que levou milhares de pessoas às ruas em defesa da democracia.

A manifestação ocorreu na Cinelândia, no Rio de Janeiro, em 1968. Na ocasião, a multidão, formada principalmente por jovens, clamava por acesso a mais direitos. Brasileiras e brasileiros de 16 e 17 anos ainda não podiam votar na época. Somente duas décadas depois, em 1988, o texto que concedia o direito a essa parcela da população foi incluído na Constituição Federal. O impacto disso é observado até hoje: o número de jovens nessa faixa etária que obtêm o primeiro título eleitoral e se tornam aptos a votar é crescente.

Jovem Eleitor

Para o pleito de 2024, dados levantados até maio projetam que mais de 2,25 milhões de jovens de 16 e 17 anos estejam aptos a votar. Nas Eleições Gerais de 2022, pouco mais de 2,1 milhões de eleitoras e eleitores com essas idades puderam votar. À época, o alcance foi considerado uma marca histórica para a Justiça Eleitoral, que incentiva essa participação por meio de campanhas sistemáticas de estímulo e esclarecimento.

Conscientização na prática

No dia 8 de abril deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estreou o documentário Jovem – A Voz de Quem Faz História. O material mostra a experiência de jovens que participaram das eleições pela primeira vez, mesmo antes de atingirem a idade para a qual é obrigatório o voto. O vídeo destaca também quem preferiu esperar a maioridade para ir às urnas exercer a cidadania.

Já durante a Semana do Jovem Eleitor 2024, que ocorreu de 18 a 22 de março, foram emitidos mais de 83 mil títulos eleitorais para jovens com 15, 16 e 17 anos. O número triplicou em comparação com o ano de 2020, quando foram registrados 20.770 alistamentos nessa faixa etária. A iniciativa é uma ação continuada, realizada pelo TSE e por todos os 27 tribunais regionais eleitorais (TREs), que busca alcançar o público de 15 a 18 anos de idade. A ideia central é aumentar, cada vez mais, o número de brasileiras e de brasileiros que contribuem para a escolha dos representantes políticos do país.

Semana do jovem eleitor

Em anos anteriores, outras ações também marcaram esses esforços pela conscientização sobre o primeiro voto. Em 2022, o TSE organizou um “tuitaço” para incentivar a participação dos jovens. A ação movimentou a internet e alcançou mais de 88 milhões de pessoas. A mobilização #RolêDasEleições fez parte da Semana do Jovem Eleitor, de 14 a 18 de março em todo o Brasil, com o objetivo de estimular a juventude a tirar o título de eleitor, a exercer o direito de voto e a participar ativamente do processo político do país. A iniciativa contou com a participação dos perfis no Twitter (atual X) do TSE, dos TREs e de diversos influenciadores.

O êxito das ações foi constatado nos números que apontaram aumento significativo da participação dos jovens nas últimas eleições gerais. Em média, 1,7 milhão de eleitoras e eleitores de 16 e 17 anos foram às urnas em 2022.

A crise climática e o colapso da civilização

Por LISZT VIEIRA*

Por mais importante que seja, a transição energética, por si só, não será suficiente para enfrentar a crise climática e suas desastrosas consequências

A tragédia climática, prevista pelos cientistas, já chegou, não é mais coisa do futuro.  A Organização Meteorológica Mundial (OMM) ligada à ONU, alertou para a continuidade do aumento da temperatura global. “No final de maio, mais de 1,5 bilhão de pessoas — quase um quinto da população do planeta — suportaram pelo menos um dia em que o índice de calor superou 103 graus Fahrenheit, ou 39,4 graus Celsius, o limite que o Serviço Nacional de Meteorologia considera fatal”, informou o Washington Post.

Muitos pesquisadores preveem que o mundo atingirá 3ºC até o final do século. Não há nenhum sinal de que realmente vamos ficar abaixo de 1,5ºC, a meta estabelecida pela Conferência de Paris de 2015, a COP 21. Centenas de especialistas do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), entrevistados pelo jornal britânico The Guardian, afirmaram que a temperatura chegará em + 2,5ºC ou + 3ºC e apenas 6% acreditam que a meta de 1,5ºC do Acordo de Paris será cumprida. 75% dos especialistas citam falta de vontade política e 60% culparam interesses econômicos como os da indústria de combustíveis fósseis.

Alguns esforços importantes estão sendo feitos em alguns países, mas claramente insuficientes. Na França, por exemplo, o Conselho Superior para o Clima, órgão consultivo do governo francês, estima que o país poderá atingir as suas metas de redução das emissões de gases de efeito de estufa em 50% até 2030, desde que mantenha o ritmo atual. Mas serão necessários esforços ainda maiores, pois o Conselho considera que as políticas atuais, apesar dos “progressos significativos”, são “insuficientes” para alcançar a neutralidade de carbono em 2050 (Le Monde, 20/6/2024).

O climatologista brasileiro Carlos Nobre advertiu que, de acordo com o relatório da OMM, em 2023 a temperatura média global próxima da superfície ficou 1,45 °C acima da linha de base pré-industrial de 1850-1900. Dados do Copernicus (Serviço Europeu sobre Alterações Climáticas) apontam que maio de 2024 foi 1,58 °C mais quente do que a linha de base pré-industrial. Entre 1998 e 2017, as inundações afetaram mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Elas podem causar devastação generalizada, resultando na perda de vidas e em danos a bens pessoais e infraestruturas críticas de saúde pública, e, segundo a OMM, as inundações causam mais de US$ 40 bilhões em danos todos os anos em todo o mundo.

No Brasil, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), 93% dos municípios brasileiros foram atingidos por algum desastre climático, especialmente por tempestades, inundações, enxurradas ou alagamentos nos últimos 10 anos. As perdas causadas pelas chuvas no Brasil já geraram prejuízos de R$ 55,5 bilhões entre 1º de outubro de 2017 e 17 de janeiro de 2022, segundo estudo da CNM.

No período de 2013 a 2022, mais de 2,2 milhões de moradias foram danificadas em todo o país por causa desses eventos, afetando diretamente mais de 4,2 milhões de pessoas, que tiveram de deixar suas casas em 2.640 cidades do país. Segundo levantamento realizado pela Agência Pública (2023), das 27 capitais brasileiras, 17 não possuem plano de enfrentamento às mudanças climáticas.

No primeiro semestre de 2024, o Pantanal e o Cerrado bateram recordes e registraram a maior quantidade de focos de incêndio desde 1988, quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a monitorar queimadas no país. Na Amazônia, foram detectados 12.696 focos de queimadas entre 1º de janeiro e 23 de junho. A alta foi de 76% em comparação ao mesmo período no ano passado, depois de dois anos seguidos de baixas, em 2022 e 2023 (UOL, 24/6/2024).

Um relatório recente do Serviço Geológico do Brasil mostra que secas e cheias mais que dobraram de 2014 a 2023 em relação aos dez anos anteriores. O ano de 2023 foi o mais quente da história no Brasil e no mundo e parece que 2024 vai na mesma direção. Em maio de 2024 chuvas intensas afetaram a maior parte do Rio Grande do Sul e deflagraram o maior desastre climático na história do Brasil, com 172 mortos e bilhões de reais em perdas econômicas.

Em 24 de junho de 2024, foi lançada a Carta da Comunidade Científica Brasileira sobre a Necessidade de Ação Permanente do Poder Público diante da Crise Climática. De 1991 a 2023, houve mais de 5 mil mortes, 9 milhões de desabrigados e desalojados, e 1 milhão entre feridos e enfermos. De 1990 a 2022, as emissões por mudanças de uso da terra e queima de resíduos florestais somadas ao setor agropecuário totalizam mais de 74% das emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil, ou seja, 1.737 milhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono.  Mesmo assim, os setores econômicos continuam apostando no avanço e abertura de novas fronteiras agrícolas. E no Congresso tramitam vários Projetos que enfraquecem ou anulam a legislação de proteção ambiental.

A Carta mostra ainda que as mais vulnerabilizadas pelos eventos climáticos extremos são as populações negras, periféricas, pessoas em situação de rua, mulheres chefes de família, crianças, adolescentes, povos indígenas e comunidades tradicionais, por falta de acesso a direitos constitucionais básicos, como infraestrutura, saneamento, moradia, renda, saúde e educação. No mês de junho de 2024, o Brasil aparece repartido entre o Centro -Oeste queimando na seca e um Sul sob o impacto de tempestades violentas. Até meados do mês, o Pantanal acumulou 2.019 focos de incêndio, segundo a plataforma BDQueimadas, do INPE. Em igual período de 2023 foram 133 focos.

Em 2023, ondas de calor afetaram Canadá, Índia, Europa e Japão com temperaturas recordes. O planeta aquecerá em 1,5 °C em todos os cenários de projeções: mesmo atingindo a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris de reduzir em quase 50% as emissões de GEE até 2030, alcançaremos 1,5 °C permanentemente por volta deste ano. O mundo está ficando para trás em metas de meio ambiente, saúde e fome, e está longe de atingir a maioria das metas de desenvolvimento sustentável fixadas em 2015, como o combate à pobreza e à fome, disse um relatório da ONU que cita, entre as causas, a falta de financiamento, as tensões geopolíticas e a pandemia da Covid-19.

O Relatório da ONU analisa o desempenho de seus 193 Estados-membros na implementação de 17 objetivos de desenvolvimento sustentável abrangentes, que também incluem a melhoria do acesso à educação e à saúde, o fornecimento de energia limpa e a proteção da biodiversidade. O relatório constatou que nenhum dos 17 objetivos está em vias de ser cumprido até 2030, com a maioria das metas mostrando progresso limitado ou uma reversão do progresso.

O relatório identificou o combate à fome, a criação de cidades sustentáveis e a proteção da biodiversidade na terra e na água como áreas específicas de fraqueza. Segundo o IPCC, moradores de periferias morrem 15 vezes mais por eventos climáticos extremos e o número de pessoas expostas a secas e enchentes em cidades deve dobrar até 2030. Pessoas negras e mulheres de baixa renda, com até um salário mínimo e chefes de família, são as mais afetadas, aponta pesquisa recente do Instituto Pólis.

O Governo Brasileiro já anunciou a intenção de se tornar um país com liderança mundial no que diz respeito à crise climática. Mas, ao que tudo indica, vai chegar com dificuldades na Conferência Internacional do Clima COP 30 que vai sediar em Belém em 2025. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) não tem poder para enfrentar o Ministério da Agricultura que apoia o desmatamento para expandir o agronegócio, e o Ministério de Minas e Energia, que apoia a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Amazonas.

Nos últimos 10 anos, a receita da União dobrou, enquanto a verba para a área ambiental foi reduzida pela metade. Um orçamento tão baixo, menos que 0,1%, do orçamento total, mostra o desprezo dos diversos governos pela proteção do meio ambiente e de nossas riquezas naturais. Com a verba estrangulada, o MMA não pode atender às justas reivindicações dos servidores do Ibama e do ICMBio, em greve que já dura mais de cinco meses.

O Brasil já sofre a violência de eventos climáticos extremos. Seca na Amazônia e Centro Oeste, incêndios no Pantanal, inundações catastróficas no Sul, ondas de calor, desmoronamentos e enchentes nas periferias das metrópoles, mortos e desalojados engrossando a onda de refugiados do clima que vem aumentando a cada ano. Apesar disso, os interesses econômicos e políticos ligados ao agronegócio predador – agricultura, pecuária, mineração, garimpo etc. – e à exploração de combustíveis fósseis continua prevalecendo sobre a política de proteção ambiental.

O mundo vai enfrentar desastres cada vez maiores com a temperatura ultrapassando 1,5º C, como está próximo de ocorrer. A política de transição energética, mais cedo ou mais tarde, vai predominar nas próximas décadas, sob pena de a vida, humana e animal, ficar ameaçada no planeta. Será preciso um esforço gigantesco para promover uma transição civilizatória, para longe dos combustíveis fósseis. Para isso, será necessário que a população se torne consciente sobre riscos climáticos e disposta a pressionar pela tomada de ações eficazes, o que vai exigir coragem por parte dos tomadores de decisão, no setor público e privado.

A maior pesquisa de opinião pública independente sobre a mudança climática, People Climate Vote (Voto Popular pelo Clima) 2024, revela que 80% das pessoas (ou quatro de cinco pessoas) em todo o mundo querem que seus governos tomem medidas mais enérgicas para fazer frente à crise climática. Mais ainda, 86% quer que seus países deixem de lado as diferenças geopolíticas e trabalhem juntos face à mudança climática.

Mais de 73 mil pessoas de 77 países e que falam 87 línguas diferentes foram entrevistadas com 15 perguntas sobre mudanças climáticas para o estudo de opinião promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pela GeoPoll. Os 77 países pesquisados representam 87% da população mundial. Além do amplo apelo a uma ação climática mais ousada, a pesquisa mostra o apoio de uma maioria de 72% em todo o mundo a favor de uma rápida transição para o abandono dos combustíveis fósseis (PNUD, 20/6/2024).

Por mais importante que seja, a transição energética, por si só, não será suficiente para enfrentar a crise climática e suas desastrosas consequências. A sobrevivência da humanidade vai exigir um novo modo de vida e de produção que garanta a sustentabilidade da vida humana em nosso planeta. A alternativa é a possível destruição da vida no planeta, que já conheceu diversas extinções de espécies. Estamos caminhando para mais uma. Os indícios do colapso da nossa civilização já são visíveis no horizonte. E se houver, como pensam alguns, uma nova guerra mundial, desta vez com armas nucleares, esse processo vai ser acelerado.

*Liszt Vieira é professor de sociologia aposentado da PUC-Rio. Foi deputado (PT-RJ) e coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92. Autor, entre outros livros, de A democracia reage (Garamond). [https://amzn.to/3sQ7Qn3]

Libertação de Assange é uma vitória do direito de informar e de ser informado

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a público saudar a libertação de Julian Assange, em 24 de junho, após 1.901 dias preso. A retirada de 17 das 18 acusações contra o fundador do WikiLeaks é uma vitória dos jornalistas em todo o mundo, do direito de informar e ser informado e representa importante impulso à liberdade de imprensa.

A decisão que garantiu liberdade a Assange é resultado do trabalho de entidades e organizações de jornalistas em todos os continentes, especialmente da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), das entidades sindicais e dos profissionais de jornalismo.

A FENAJ, entidade que representa os 31 sindicatos de jornalistas do Brasil, enfatiza que a libertação de Assange contribui para evitar a criminalização das práticas jornalísticas e encoraja as fontes a partilharem confidencialmente provas de irregularidades, criminalidade e outras informações de interesse público.

A FENAJ, juntamente com a FIJ e outras entidades e organizações de jornalistas, participou de campanas pela libertação de Assange – acusado de espionagem e obtenção e divulgação de informações sobre a defesa nacional – desde a publicação das acusações dos EUA contra ele em 2019.

Embora mais de 500 jornalistas continuem na prisão em todo o mundo, segundo levantamento da FIJ, o acordo judicial que colocou Assange em liberdade elimina parte das ameaças que recaem sobre a jornalistas nas coberturas de questões de segurança nacional, operações militares, criminalidade de agentes públicos e corrupção em todas as esferas de poder.

O fim da violência e dos ataques contra jornalistas, do cerco ao trabalho dos profissionais de imprensa, além das garantias do direito de exercício profissional são fundamentais para o acesso da população a informações e à democracia.

Brasília, 25 de junho de 2024

Federação Nacional dos Jornalistas

Romance aquileano com fake dating de ex-namorados valoriza cenários nordestinos

Felipe Mateus traz vivências LGBTQIAPN+ para o centro de uma narrativa com segunda chance em comédia romântica que se passa durante reality show

Natural de União dos Palmares, município do interior de Alagoas, o escritor Felipe Mateus utiliza cenários reais da região Nordeste como pano de fundo de sua primeira comédia romântica, Amor em Jogo. Na obra, publicada pela Qualis Editora, o autor valoriza a força, a influência e a cultura regionalista ao destacar pontos turísticos como as águas cristalinas da Praia de Ponta Verde, em Maceió, e a paradisíaca Ilha do Amor, em Camocim, no Ceará.

É neste clima tropical que os leitores são apresentados a Henrique Valente, típico jovem do interior alagoano, que se muda para a capital em busca de um emprego melhor. No entanto, aos 25 anos, frustrado com a carreira e cheio de dívidas, a única alternativa que encontra para alcançar os objetivos profissionais é se inscrever com o ex-namorado, Apolo Brandão, no primeiro reality show de casais LGBTQIAPN+, para concorrer ao prêmio de R$ 2 milhões.

Em uma mistura de Big Brother Brasil, Power Couple e De férias com o ex, os dois protagonistas terão que convencer o país inteiro de que estão namorando, competir com outros casais e ainda sobreviver dividindo a mesma cama. Será que conseguirão manter a atuação até o fim do programa? Ou será que antigas emoções e novos sentimentos vão deixar essa situação ainda mais complicada?

Com um enredo repleto de risos, tensão, romance, intrigas e reviravoltas, Felipe Mateus, vencedor do Prêmio Ecos de Literatura 2022 na categoria Conto Digital, provoca reflexões sobre LGBTfobia, demissexualidade e heterossexualidade compulsória. Amor em Jogo transita entre amor e ódio e é o primeiro romance aquileano lançado pela Qualis Editora.

Ficha técnica:
Título: Amor em Jogo
Autor: Felipe Mateus
Editora: Qualis Editora
ISBN: 978-85-7027-103-7
Preço: R$ 59,99
Onde encontrarQualis Editora

Sobre o autor: Felipe Mateus é natural de União dos Palmares, Alagoas, além de um orgulhoso nordestino. Graduado em Publicidade e Propaganda, iniciou a trajetória como escritor em 2018, com textos originais nas redes sociais. Escreve histórias com representatividade LGBTQIAPN+, ambientadas no Nordeste do Brasil, celebrando a cultura de diferentes regiões. Em 2022, ganhou o Prêmio Ecos de Literatura, na categoria “Melhor conto digital”. Em 2023, recebeu o selo “all star” da Amazon, um bônus para reconhecer e premiar e-books que se destacaram e encantaram os leitores. Com seis obras já publicadas, o autor lança o primeiro romance aquileano pela Qualis Editora.

Redes sociais:

Sobre a editora: Há mais de 15 anos, a Qualis se destaca no cenário literário como uma editora tradicional, reconhecida por seu comprometimento com a promoção e o investimento em talentos nacionais. Criada em 2008 com a missão de disseminar o conhecimento científico produzido no âmbito acadêmico, a editora se reinventou e ampliou seu alcance com o selo de literatura. Todo esse processo sem jamais se desviar de um objetivo essencial: contribuir para uma sociedade mais justa e sem preconceitos. Sustentada por uma visão inclusiva e diversificada, a Qualis tem como norte o princípio de que todas as vozes merecem ser ouvidas e, todas as histórias, contadas.

Redes sociais:

Julian Assange está livre!

Julian Assange deixou, nesta segunda-feira (24), o Reino Unido e a prisão de segurança máxima perto de Londres onde permaneceu por cinco anos, informou o WikiLeaks depois de anunciar um acordo de confissão de culpa com a Justiça dos Estados Unidos.

Em troca, os EUA contaram os 5 anos que ele passou preso na Inglaterra e deram a ele o direito de voar para a Austrália, seu país natal.

Segundo o WikiLeaks, o australiano de 52 anos saiu da prisão de Belmarsh na manhã desta segunda, e foi libertado pela Justiça britânica no aeroporto de Stansted, em Londres, à tarde, de onde embarcou em um avião e deixou o Reino Unido.

Julian Assange é um jornalista, editor e ativista australiano, mais conhecido por ser o fundador do WikiLeaks, uma organização dedicada à publicação de documentos secretos e informações confidenciais de governos e corporações. Ele nasceu em 3 de julho de 1971 em Townsville, Queensland, Austrália.

Assange ganhou notoriedade mundial em 2010, quando o WikiLeaks divulgou uma série de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, incluindo vídeos, correspondências diplomáticas e registros de guerra sobre as atividades militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Essas divulgações, que incluíam o famoso vídeo “Collateral Murder”, geraram grande controvérsia e levaram a uma perseguição legal significativa contra ele.

Em 2012, Assange buscou asilo na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia, onde enfrentava acusações de crimes sexuais, que ele negou e que posteriormente foram arquivadas. Ele permaneceu na embaixada equatoriana por quase sete anos até ser preso pela polícia britânica em abril de 2019, após o Equador retirar seu asilo.

Assange lutava contra a sua extradição para os Estados Unidos, onde era acu.sado de espionagem e outros crimes relacionados à publicação de documentos confidenciais. Nesta segunda-feira (24) ele assumiu os crimes pelos quais era acusado perante a Justiça dos EUA em troca de sua libertação.

A advogada e companheira de Julian Assange, Stella Assange, comemorou a libertação do jornalista nas redes sociais e agradeceu o apoio de todos. “Palavras não podem expressar nossa imensa gratidão a VOCÊS – sim, VOCÊS, que se mobilizaram durante anos e anos para tornar isso realidade. OBRIGADO. obrigado. OBRIGADO”, escreveu Stella.

Culpado?
As primeiras informações, para além daquelas divulgadas pelo WikiLeaks, indicam que Julian Assange concordou em se declarar culpado da acusação de obter e divulgar ilegalmente material de segurança nacional em troca de sua libertação da prisão britânica.

Assange, que está com 52 anos, deve comparecer perante um juiz federal em um dos postos avançados mais remotos do Judiciário, o tribunal de Saipan, capital das Ilhas Marianas do Norte. As Ilhas Marianas do Norte são uma comunidade dos Estados Unidos no meio do Oceano Pacífico e próximas da Austrália, terra natal de Assange, para onde ele deve voltar após a concretização do acordo.

Assange deve comparecer nesta quarta-feira (26), às 9h, em Saipan e voar de volta para a Austrália “na conclusão do processo”, escreveu Matthew J. McKenzie, funcionário da divisão de contraterrorismo do departamento, em uma carta enviada ao juiz do caso. O documento em questão foi divulgado pelo New York Times.

O The New York Times afirma que o acordo era esperado nos bastidores do governo Biden. Segundo a publicação, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, sugeriu que os promotores dos EUA precisavam concluir o caso e o presidente Biden se mostrou aberto a uma solução rápida.

A partir do primeiro-ministro da Austrália, foi costurado um acordo com o alto escalão do Departamento de Justiça sem tempo adicional de prisão para Assange, considerando que os anos que Assange passou recluso na Embaixada do Equador e depois na prisão no Reino Unido já foram suficientes. Ou seja, sua pena foi considerada cumprida.

Ainda de acordo com o NYT, foram semanas de negociações para que Assange aceitasse se declarar culpado de uma das acusações – conspiração para divulgar informações da defesa nacional.

Com informações do UOL, Revista Fórum e DCM

Marina Silva apoia pré-candidatura prioritária da Rede em São Paulo, com foco na pauta ambiental

Ministra participou de evento realizado no último sábado (22), em apoio à Marina Bragante, que concorrerá à câmara de vereadores; intenção é percorrer o país

Nas prévias da campanha na cidade de São Paulo – que promete ser a grande vitrine da disputa de influências entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – o partido Rede Sustentabilidade lançou oficialmente, no último sábado (22), a pré-candidatura de Marina Bragante a vereadora.

O evento, realizado no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, contou com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, do pré-candidato ao executivo municipal pelo PSOL Guilherme Boulos, e da deputada estadual pela Rede Marina Helou, além de lideranças regionais, integrantes e apoiadores do partido. A eleição de Bragante é prioridade da Rede para a câmara paulistana.

O deputado federal Guilherme Boulos fez questão de ressaltar a importância das eleições municipais em um cenário parlamentar que, segundo ele, está longe de cessar atividades arriscadas para o futuro ambiental do país. “Nós ganhamos as eleições [presidenciais, em 2022] mas para nós do campo progressista, defender o meio ambiente lá em Brasília continua sendo um sufoco”, relatou.

Para Boulos, a presença de figuras como Marina Bragante tende a possibilitar esses avanços, já que a câmara municipal segue sendo um espaço onde ainda é difícil estabelecer políticas voltadas, por exemplo, para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e aos eventos extremos que já se manifestam, como as grandes tempestades e ondas de calor.

Marina Bragante tem mestrado em Administração Pública pela Universidade de Harvard e foi chefe de gabinete da deputada estadual Marina Helou entre 2019 e 2021, ano em que aceitou atuar como Secretária Executiva de Desenvolvimento, Ciência,Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo. Em  2022 seguiu para o setor privado como Diretora de Políticas Públicas da AYA Earth Partners. Em sua primeira candidatura a vereadora pela Rede, em 2020, ainda durante a pandemia, recebeu 9.710 votos.

Conforme a disputa municipal começa ganhar nitidez, iniciam-se também as articulações com o intuito mais específico de ampliar o espaço – e os recursos – para candidaturas ligadas à pauta ambiental.  Principal ativo político da Rede, a ministra Marina Silva observou a composição com Boulos tratando-a como a criação de uma frente ampla.

“Nós sabemos que para ganhar as eleições em 2022 foi uma frente ampla. Agora nós temos uma frente ampla aqui também com o Boulos. Mas tem uma coisa que nós temos que pensar: tem um lado que é blocado cem por cento e atua contra a democracia, contra os direitos humanos, dos povos indígenas, do enfrentamento às mudanças climáticas, com uma visão negacionista. Nós, Psol e Rede, não votamos blocados, temos diferenças,  mas há algo que nos une que é a defesa da democracia”, explicou a ministra.

Ao ((o))eco, Marina Silva detalhou como seguirá apoiando outros candidatos pelo país para destacar a pauta ambiental em diferentes regiões e contextos. “Essa é uma pauta que precisa estar presente nas eleições municipais do Brasil inteiro tanto para aqueles que estão pretendendo o executivo quanto o legislativo. Como esse tema é orgânico à Rede, estar aqui é muito natural, porque sei que a câmara dos vereadores é um espaço privilegiado de como traduzir essas políticas públicas nos territórios, na vida das pessoas. Por isso estou prestando esse apoio nacionalmente, sempre aos finais de semana”, frisou. Dentre os pré-candidatos da Rede de outras localidades destacados para receber esse apoio está Túlio Gadelha, que concorrerá ao maior cargo executivo da capital pernambucana, Recife.

‘Democracia custa caro’

A deputada estadual Marina Helou indicou um dos principais desafios para um partido de pequeno porte como a Rede no processo eleitoral:o acesso escasso a recursos financeiros. “Candidatos do PL (Partido Liberal) que a gente nem sabe direito quem são vão receber milhões de reais em recursos partidários, enquanto nós teremos de fazer essa construção contando muito com a mobilização da nossa base. É muito importante a gente falar sobre isso porque fazer campanha é algo que requer muitos recursos e isso pode fazer muita diferença nas urnas”.

A pré-candidata Marina Bragante demonstrou compartilhar das preocupações de Helou. “Esse ano a gente entendeu que é importante ter uma campanha prioritária para concentrar os recursos, mas também as figuras da Marina Silva e da Marina Helou no apoio a uma candidatura só. Concorremos com partidos que têm muito recurso e é muito comum na política a gente dizer que voto se ganha, sim, com dinheiro. A democracia custa caro, mas é um custo que vale muito a pena. Nós entendemos que o caminho é fazer com que as pessoas se identifiquem com uma causa e é por isso que estamos unindo essas forças para a próxima eleição, mesmo com as desproporções orçamentárias”, completou Bragante.

Foto: Iuri Carvalho.

O PL é o partido com maior participação na divisão do Fundo Eleitoral, com R$886, 84 milhões a serem utilizados para os pleitos municipais. A Rede poderá acessar R$35,9 milhões e o Psol, R$126,89 milhões. Essa assimetria tende a aumentar diante da influência bolsonarista junto a seu eleitorado no apoio aos candidatos apoiados por seu partido. Em São Paulo, esse apoio pertence ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que terá como vice o Coronel Mello Araújo, que é do PL e foi uma indicação direta de Bolsonaro. Já Guilherme Boulos é apoiado não apenas pela ministra Marina Silva mas, também, pelo presidente Lula.

De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada em 29 de maio, Boulos e Nunes seguem muito próximos na liderança da disputa à prefeitura, o primeiro com 24% e o segundo com 23% das intenções de votos. Tábata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) estão empatados na terceira posição, com 8% das intenções, seguidos por Pablo Marçal, com 7%. Na sequência, Kim Kataguiri (UB) e Maria Helena (Novo) contam com 4%; e João Pimenta (PCO), Fernando Fantauzi (PC), Ricardo Senese (UP) e Altino (PSTU) contam com 1%. Os que declararam voto nulo foram 13% e 5% preferiram não opinar.

Visitei pessoas por quem tenho grande carinho, diz Lula após encontro com FHC em SP

O presidente Lula (PT) disse que, nesta segunda-feira (24), visitou quatro pessoas pelas quais tem “grande carinho”. A fala veio após encontros com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o linguista norte-americano Noam Chomsky, o escritor Raduan Nassar e o jornalista Mino Carta.

Na sexta-feira passada, Lula também encontrou o ex-presidente José Sarney no Maranhão.

Adversário de Lula nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, FHC declarou apoio ao petista contra Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Na ocasião, FHC afirmou que votaria em Lula por “uma história de luta pela democracia e inclusão social”.

O presidente visitou o ex-presidente em sua residência e deixou o local sem falar com a imprensa.

CNN

Rússia convoca embaixadora dos EUA após ataque a civis russos com armas americanas

Lynne Tracy recebeu um protesto formal em relação ao “novo crime sangrento do regime de Kiev, patrocinado e armado por Washington”

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou a embaixadora dos EUA em Moscou após a Ucrânia ter usado mísseis ATACMS fornecidos pelos americanos em um ataque à península da Crimeia, resultando em numerosas baixas civis.

Em um comunicado nesta segunda-feira, o ministério afirmou que a embaixadora Lynne Tracy recebeu um protesto formal em relação ao que chamaram de “um novo crime sangrento do regime de Kiev, patrocinado e armado por Washington,” referindo-se ao bombardeio ucraniano de Sebastopol no dia anterior.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, o ataque ucraniano ocorreu por volta do meio-dia, horário local, no domingo, envolvendo cinco mísseis ATACMS armados com munições de fragmentação, que são proibidas em mais de 100 países. As autoridades informaram que quatro foguetes foram destruídos no ar, enquanto um quinto foi danificado pelas defesas aéreas, desviou de sua trajetória e detonou sobre Sebastopol. As autoridades locais dizem que o ataque matou quatro pessoas, incluindo duas crianças, e feriu mais de 150.

Brasil 247

Manual teológico do neopentecostalismo neoliberal

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Por LEONARDO SACRAMENTO (*)

A teologia transformou-se em coaching ou fomentador da disputa entre trabalhadores no mundo do trabalho

1.

Habitualmente, os evangélicos são um ponto de incompreensão para os movimentos sociais, acadêmicos, partidos e imprensa. A falta de compreensão deve-se a uma falsa historicidade, na qual se compara neopentecostais com protestantes e calvinistas europeus a partir de uma história comparativa das ideias. Ocorre que os processos políticos entre protestantes europeus e neopentecostais brasileiros são completamente distintos.

Para entender os neopentecostais brasileiros,[1] é preciso analisar como o neopentecostalismo se estruturou e se amalgamou nas relações sociais brasileiras. A chave para a compreensão do movimento neopentecostal é a elucidação da função social do movimento enquanto instrumento político e a forma pela qual a sua teologia se consolida como instrumento de regulação de uma dada sociabilidade nas relações de produção do capitalismo brasileiro. E a regulação, segundo dados e pesquisas, está nas noções de desigualdade e mérito, ambas refletidas no neoliberalismo.

A pesquisa da Oxfam Brasil em conjunto com o Datafolha, publicada nos meios de comunicação em maio de 2019, constatou que o brasileiro acredita que a desigualdade é um empecilho ao progresso do país. Contudo, a causa primeira para a sua superação seria o combate à corrupção, o que corrobora a vitória da perspectiva udenista e lavajatista segundo a qual a corrupção seria o começo, o meio e o fim de todos os problemas sociais, reduzindo os problemas e a complexidade brasileiras a uma matriz analítica monocausal moralista.

Esse empobrecimento analítico é um instrumento importante para a manutenção conservadora das relações de produção e das mobilidades como estão estruturadas e institucionalizadas. Longe de ser a estrutura tributária, a exploração, o trabalho e a transferência de renda de trabalho para rendas de capital, a corrupção remete à população a crença da tirania do status quo friedmaniano, na qual a corrupção viria necessariamente e exclusivamente do Estado. A solução seria a sua imediata redução ou até mesmo a sua extinção. Não à toa, e muito menos por coincidência, em último lugar na pesquisa como medida prioritária está o investimento em assistência social.

A crença na tirania do status quo friedmaniano é a matriz que unifica todas as fakenews, como ocorre no desastre climático-ambiental no Rio Grande do Sul, em que o Estado seria ineficiente e incapaz apesar da “alta taxação” e do “quantum perdido pelo estado sul-rio-grandense para a União no sistema distributivo”, positivando-se apologeticamente o trabalho voluntário (individual e antiestatal) do “povo” como política. Mas o que poderia levar à melhoria da vida das pessoas? Em primeiro lugar, segundo a pesquisa, a fé religiosa, seguida de estudos. Em antepenúltimo, em oito requisitos pré-definidos, está o acesso à aposentadoria.[2]

Esses dados corroboram uma pesquisa feita pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação intitulada Percepção pública da C&T no Brasil – 2019, que analisa a percepção da população sobre a imagem da ciência e do cientista. Em 2015, a mesma pesquisa constatou que 19% das pessoas enxergavam malefícios à ciência; já em 2019 saltou para 42%. Outro dado relevante é que o percentual de pessoas que consideram cientistas pessoas que servem a interesses econômicos e produzem conhecimento em áreas nem sempre desejáveis saltou de 7% para 11% nas mesmas datas, sendo que chegou a ser 5% em 2010.

Já o percentual de pessoas que consideram cientistas produtores de conhecimentos úteis à humanidade caiu de 52% para 41% nas mesmas datas, sendo que em 2010 estava em 55,5%. O que aconteceu na pandemia foi construído na década anterior.

A percepção de que é possível romper a pobreza por meio da fé religiosa prosperou como nunca neste século, notadamente sob os governos petistas, sem dúvida alguma. Um dos equívocos nas análises sobre conservadorismo contemporâneo, além de não o analisar historicamente, dando a entender que surgiu de forma espontânea ou maquiavélica a partir de uma intervenção predominantemente estrangeira, consiste em posicionar as igrejas neopentecostais a um lugar-comum do simples e mero fundamentalismo fora dos aparelhos do Estado.

Essa é uma perspectiva que tem o objetivo de não reconhecer o óbvio: as alianças com grupos sociais conservadores cujas histórias estão inscritas em todos os golpes institucionais ao longo dos séculos XIX e XX. Dos militares aos religiosos, dos financistas à FIESP, de emissoras a setores da classe média tradicional.

Mas foquemos no neopentecostalismo, um novo ator dos grupos socialmente conservadores. Se o empreendedorismo é o projeto político do neoliberalismo para a classe trabalhadora, não há nenhuma outra organização que realiza melhor esse projeto de poder do que as igrejas neopentecostais. Ela substituiu os sindicatos partir de 2003 e obteve a sua grande vitória com a Reforma Trabalhista de 2017, a qual sacramentou o fim da maioria dos sindicatos, seja pela precarização e fragmentação da classe trabalhadora, seja pela abrupta diminuição de recursos financeiros transferidos da União aos sindicatos – redução de 99% de 2017 a 2023. Por isso, é preciso compreender a sua principal teologia, a Teologia da Prosperidade.

2.

A Teologia da Prosperidade não foi construída à luz do corolário neoliberal, o que não significa que não se vincule ontologicamente ao neoliberalismo. Hoje vincula-se como um belo casamento cristão. O nascimento da Teologia da Prosperidade remonta a Essek William Kenyon e de seu seguidor Kenneth Hagin, os quais criaram a confissão positiva a partir do Evangelho segundo São Marcos 11:23-24, na qual permitiu a interpretação de que a fé é a base da Confissão Positiva.

Em um país católico como o Brasil, é plenamente razoável que boa parte da população tenha passado por um confessionário, ou se não, que tenha em mente a confissão católica por meio de filmes e novelas. No confessionário, o pecador confessa os seus pecados, e por serem pecados, são negativos. Pode-se dizer que essa é uma confissão negativa, segundo os preceitos de parte significativa do neopentecostalismo. A confissão positiva decorre da constatação de que qualquer sofrimento reflete falta de fé, devendo-se trazer a público o que se testemunha positivamente, na medida em que a confissão é um ato de fé.

Sendo assim, a característica do bom cristão é o sucesso, enquanto a pobreza e o fracasso são as faces da falta de fé, pois o testemunho do positivo é a base para a negação do indesejado (SILVEIRA, 2007).[3] Em outras palavras, se na confissão negativa o pecado traz a culpa, na confissão positiva o testemunho traz o orgulho.

A descrição de Paulo Romero, então diretor do Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), uma espécie de organização com perfil acadêmico-teológico que objetiva a realização de pesquisas na perspectiva evangélica, sintetiza conceitualmente a confissão positiva e a sua relação com a teologia da prosperidade:

Conhecido popularmente como a “teologia da prosperidade”, esta corrente doutrinária ensina que qualquer sofrimento do cristão indica falta de fé. Assim, a marca do cristão cheio de fé e bem-sucedido é a plena saúde física, emocional e espiritual, além da prosperidade material. Pobreza e doença são resultados visíveis do fracasso do cristão que vive em pecado ou que possui fé insuficiente (ROMERO, 1993, p. 5).[4]

Em seu livro Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade, Paulo Romero reconstrói a importância de Kenneth Hagin para a construção teológica da Confissão Positiva,[5] não sem apontar algumas abstrações sintetizadoras que conseguiu estabelecer, tais como a que boa parte do movimento da prosperidade declara que a enfermidade advém do Diabo (ROMERO, 1993, p. 33), que os verbos “pedir, rogar e suplicar” foram substituídos por “exigir, decretar, determinar e reivindicar” (ROMERO, 1993, p. 36), e que Deus é representado na prosperidade.

No livro New Thresholds of Faith, Hagin[6] (1990, p. 55) enuncia o raciocínio que fundamentaria a Teologia da Prosperidade: “Cristo nos redimiu da maldição da pobreza. Ele nos redimiu da maldição da doença. Ele nos redimiu da maldição da morte – morte espiritual agora e morte física quando Jesus voltar. Não precisamos ter medo da segunda morte. (…) A Escritura do Novo Testamento, terceiro João 2,[7] concorda que Deus deseja que tenhamos prosperidade material, física e espiritual, porque diz: “Amado, desejo acima de tudo que você possa prosperar e ter saúde, assim como a sua alma”. Muitas pessoas têm a impressão de que qualquer promessa na Bíblia de bênção e prosperidade material se refere apenas aos judeus. No entanto, este versículo foi escrito para os cristãos do Novo Testamento”.

Kenneth Hagin termina a lição com a seguinte afirmação, usada também por Romero (1993): “Deus quer que Seus filhos comam melhor, Ele quer que eles usem as melhores roupas; Ele quer que eles dirijam os melhores carros; Ele quer que eles tenham o melhor de tudo” (HAVIN, 1990, p. 55).

3.

A Teologia da Prosperidade é uma construção teológica que consiste na edificação do ato de fé em oposição à maldição. Essa construção permite politicamente que a Teologia da Prosperidade seja extremamente mundana, pois dialoga abertamente com os problemas e as vicissitudes do cotidiano. Em outras palavras, é uma construção de um projeto de sociabilidade que tem um projeto de poder para os trabalhadores mais efetivo do que a Encíclica Mater et Magistra no começo do século XXa qual estabelece que burguesia e trabalhadores devem viver em regime de solidariedade em que a propriedade privada é um direito natural pertencente à burguesia que deve ser exercido para o bem de todos; ou mesmos dos sermões de Antônio Vieira para escravizados, em que o martírio consistiria na chegada imediata ao paraíso.

É mais efetiva porque viabiliza ideologicamente a saída dos trabalhadores da classe que sofre e dá uma alternativa existencial ao martírio referindo-se ao acesso historicamente negado aos mecanismos das mobilidades econômica e simbólica. A ideia de que Jesus sofreu pelo humano, não cabendo mais ao humano sofrer, expressa rigorosamente as agruras e os desejos dos trabalhadores submetidos à extrema exploração.

Kenneth Hagin se fundamenta em Marcos 11:23 para dissociar o dizer do orar. Essa é uma dissociação importante que é seguida por boa parte das igrejas neopentecostais. Seguiremos rigorosamente o raciocínio do pastor em A fé para remover montanhas,[8] especialmente no capítulo 6, A fé para finanças, só com uma palavra. A palavra é a expressão, o meio e o fim, da confissão positiva.

Em Marcos 11:23, na obra de Kenneth Hagin, está: “Porque na verdade nos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito”. Hagin faz uma dissociação entre dizer e orar, especialmente no capítulo 5, concluindo que crer não é o suficiente. Assim sendo, o crente deve falar, apalavrar, emitir o verbo a Deus, especificando o que deseja. Continua Kenneth Hagin (s.d., p. 98), “quando você crê fortemente que Deus lhe dará alguma coisa, não a receberá necessariamente por isso. Jesus não disse: ‘… tudo o que crer lhe será feito’, mas: tudo o que disser lhe será feito”.

O que for dito deve ser sempre positivo, seja um pedido ou um testemunho. Kenneth Hagin (s.d., p. 100) recomenda que não se dê mau testemunho, uma vez que o “crente não deve ser traficante de dúvidas, assim como não deve ser traficante de drogas”. As dúvidas, por mais que não sejam crimes, “não deixam de ser pecaminosas”. A dúvida aqui é transformada em pecado, ou algo que pode levar ao pecado. O que há, ironicamente a Martinho Lutero, é a reafirmação do dogma cristão na figura do pastor e de sua capacidade de interpretação, como a dissociação feita entre dizer e orar, o que é rechaçado por Romero através da elucidação do eterno problema da tradução.[9] Não basta orar, mas falar que recebeu. Portanto, é preciso testemunhar, realizar a confissão da fé, “e não à confissão do pecado”, que “deve ser esquecido, assim como Deus o esquece” (HAGIN. s.d., p. 107).

A quem assiste pela televisão os cultos ou simplesmente nota os colantes nos carros com os dizeres “Pertence a Deus”, “Presente de Deus”, “Nas mãos e nas palavras de Deus”, “Foi Deus que me deu”, entre outros, observa um testemunho tão ou mais importante do que a oração, testemunha um rito da fé, como os War boys deMad Max: estrada da fúria, que antes de fazerem o ato mais alto da vida, dá-la, precisam oferecer o testemunho aos colegas sob o risco de não entrar em Valhalla.

Em seguida Kenneth Hagin apresenta fatos pessoais como prova da confissão positiva baseada em Marcos 11:23: “Certa vez, há muitos anos, precisava de $1.500 até ao início do mês. Disse, portanto: “Antes do dia primeiro do mês que vem, terei $1.500. Continuava dizendo assim, em várias ocasiões, na oração. Só repetia a mesma afirmação: “Antes do dia primeiro do mês de que vem, terei $1.500”. Pois bem, chegada aquela data, eu tinha $ 1.580 – oitenta dólares mais do que reivindicara! Foi o Senhor quem me ensinou como aplicar a minha fé às finanças. Levei anos para perceber o fato. Como moço batista, tinha sido salvo, e depois curado pelo poder de Deus. Mas nunca pensei em usar a minha fé além da salvação e da cura” (HAGIN, s.d., p. 108).

Kenneth Hagin teria tido muitas complicações em sua infância e teria sido curado por intervenções divinas. Segundo o pastor norte-americano, em um determinado momento em sua vida, Deus havia lhe falado: “A fé é a mesma em todos os âmbitos e em todas as áreas. Mas você emprega a fé somente em se tratando da salvação, do batismo no Espírito Santo, e da cura divina. Mas a fé é a mesma também na área financeira. (…) Se você precisasse da cura para seu próprio corpo, você a reivindicaria pela fé, sairia para proclamar publicamente que você foi curado, e continuaria suas pregações. E, muitas vezes, no passado, todos os sintomas desapareceriam enquanto você pregava. Você precisa fazer a mesma coisa quando se trata das finanças” (HAGIN, s.d., p. 111).

4.

Independentemente da matriz teológica, o fato é que a Teologia da Prosperidade faz uma divisão nítida e explicita. Ricos e pobres sempre existiram e sempre existirão. Ricos são bem-aventurados porque possuem a fé, e foram agraciados da mesma forma que seriam se fosse uma enfermidade. Miseráveis e enfermos vivem sem fé, e só podem mudar de vida se e somente se se submeterem ao império da fé cristã por meio da confissão positiva. Nesse sentido, a maldição é um elemento fundamental da construção da fé.

A visão que parte das igrejas neopentecostais possui das religiões de matriz africana advém da ideia de que seus praticantes não estão apenas distantes da fé, mas em situação de amaldiçoamento. Da mesma forma, das religiões que decorrem do continente africano, onde sobreviveria a maldição sobre Cam, como defendeu e defende o Pastor e deputado Marco Feliciano.[10] A mesma visão racializada é verificada por estudos sobre a visão das igrejas neopentecostais sobre as religiões de matriz africana, em que são acusadas de serem espaços ideais para a propagação de possessões demoníacas.

Há a criação de um inimigo comum que unificaria os cristãos brasileiros, como atesta Mãe-de-santo, publicado em 1968 por Walter Robert McAlister, fundador da Igreja Pentecostal de Nova Vida no Rio de Janeiro, e Orixás, caboclos & guias. Deuses ou demônios?, de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.[11] A exportação de igrejas neopentecostais ao continente africano não é mera coincidência, mas um elemento de um projeto político-teológico que enxerga o continente africano, o africano e o negro como elementos propícios à possessão demoníaca, em que a fé livraria todos do amaldiçoamento e se transformaria em exemplo da universalidade da fé neopentecostal.[12]

Vamos entender o modelo criado no Brasil e o exportado, pois ele responde em boa medida pela ascensão do conservadorismo entre os trabalhadores. A pobreza é uma resultante da falta de fé. Diante desse fato, faz sentido as igrejas neopentecostais construírem alguma tecnologia para o enriquecimento para além do Dizer. Em um contexto de ascensão da autoajuda e do empreendedorismo, não é muito difícil irmanar o útil ao agradável na Teologia da Prosperidade.

A Igreja Universal do Reino de Deus tem uma sessão específica em seu jornal, Folha Universal – publicada periodicamente desde 1992 –, chamada Sucesso Financeiro. Na edição de 17 de novembro de 2019, a empresária Pamela Rivelles, que era empregada – na seção cujo título é “De desempregada à empresária” – afirma que “escutava a Palavra e pensava que não poderia continuar pensando pequeno”, pois “tinha de ter algo que glorificasse a Deus”.

A tecnologia desenvolvida pela igreja chama-se Fé Inteligente. A partir das leituras, é de difícil conceituação. O desapego à exatidão tem o ponto positivo de explicar o fracasso, pois sempre existirá algo que não foi feito por aquele que não foi agraciado com dinheiro. Para Edir Macedo, fé não é sentir, exacerbar a emoção em um show, pois “é possível ver vários exemplos de que a fé bíblica não tem nada a ver com sentimentos ou emoções”. Para o pastor, tais demonstrações de fé devem “ser descartadas, pois o que vale é a certeza na Palavra do Altíssimo”.

O Bispo acrescenta que esse é o motivo da vida de muitas pessoas que creem em Jesus ser devastada pelos fracassos. O problema está, justamente, na forma como conduzem sua fé e o relacionamento com o Altíssimo.

Enquanto estão na igreja, ficam felizes, pois, aparentemente, sentem a presença de Deus. Mas, quando estão fora, sozinhas, caem em desespero porque só sentem os problemas e as tribulações.

“Por isso, não basta vir à igreja, você deve manter essa chama acessa, crer que Ele é com você. Essa fé é que faz a diferença e lhe sustenta. O mal não tem poder sobre a pessoa que carrega a certeza de que Deus é com ela”, ensinou.[13]

O fracasso daqueles que visivelmente possuem fé está explicado por uma conceituação heterodoxa e abstrata sobre o que é a expressão da fé, em que o fracassado sempre pode ser convencido de que fez ou não fez algo que explica o seu suposto fracasso. Por óbvio, os casos anunciados na Folha Universal são os de sucesso, unindo o corolário da Confissão Positiva com a necessidade do marketing.

A Fé Inteligente pressupõe o que chama de a Aliança com Deus, segundo a qual nada mais é do que uma sociabilidade ascética à luz da interpretação pentecostal e neopentecostal. Segundo a edição de 10 de novembro de 2019 da Folha Universal, é baseada em sete pontos: (1) decidir entregar a vida a Deus; (2) cultivar disposição para pautar a sua vida na Palavra de Deus; (3) obediência à Palavra de Deus; (4) abandonar os antigos hábitos; (5) fortalecer a fé diariamente; (6) confiar em Deus em todos os “desafios”; e (7) praticar a fé inteligente.[14]

Como dito, não há uma explicação formal e conceitual do que é Fé Inteligente. Normalmente, inclusive pelos inúmeros vídeos disponíveis, há mais exemplos do que conceituação clara e formal, a despeito do argumento de Edir Macedo sobre a polarização entre razão e emoção no âmbito da fé. Vamos ao exemplo da matéria em questão.

Um casal detentor de uma empresa de seguros teria voltado a atrair clientes após um período de crise, com o fechamento de um contrato com um condomínio e a atuação ativa da esposa, que estava conseguindo clientes para a empresa em sua área de atuação, a advocacia. Ambos creditam a mudança ao uso da Fé Inteligente. Diz o marido: “Deus se manifestou a partir de nossas atitudes. Ela começou a se mover e já estão aparecendo clientes”. O semanário afirma “as conquistas que ele e a esposa tiveram neste ano estão relacionadas à prática da Fé inteligente”. Marcos confirma, assegurando que a visão dele mudou, já que “o Espírito Santo está comigo me dando direção”.

O Bispo Allan Sena relata a importância da Fé Inteligente, e que a fé por si não é fator suficiente para obter o sucesso financeiro tampouco o esforço no trabalho, para os quais “o problema não é a falta de Fé”, mas o uso “de uma maneira inteligente e prática”. Em suma, a “Aliança com Deus tem seus deveres e compromissos que devem ser obedecidos e é isso que ensinamos nas reuniões”, a partir das seguintes etapas: “Em primeiro lugar, a Fé nos ensina a acreditar em nossa própria capacidade. E, em segundo lugar, ela nos faz crer sobretudo em um Deus vivo que é maior do que toda má situação vivida. Por isso que, ainda que os problemas que enfrentamos sejam maiores do que a capacidade humana, sabemos que Deus tudo pode e tudo consegue”.

“Acreditar em nossa própria capacidade” é um libelo da autoajuda e das pseudoteorias do poder da mente. A reportagem seguinte, pertencente à sessão Sucesso Financeiro, apresentada após a reportagem de capa convidar a todos que desejam “firmar” um pacto com Deus a comparecerem a uma igreja, possui o singelo e surrado título de escolas empreendedorismo e coaching Mais que a obrigação. O texto defende a ideia de que para que o indivíduo cresça no trabalho é preciso possuir uma postura que vá além da obrigação contratual. Para reforçar a ideia, usam a história de Greg Rogers, o qual teria criado uma bebida que aumentou o faturamento da rede Starbucks, e o pensamento de dois professores da Universidade da Carolina do Norte e de Notre Dame, Thomas Bateman e J. Michael Crant.

Depois das citações dos professores, cujo lugar-comum é o do empreendedorismo mais barato, como “o que faz mais que a obrigação promove reformas construtivas; o que não faz segue o fluxo passivamente no piloto automático”, o texto afirma que a Bíblia confirma tais ensinamentos com a seguinte passagem de Mateus 25.14-30: “Nela, há a história de três servos que recebem de seu senhor – que ia viajar –, respectivamente, um, três e cinco talentos (moeda da época) para guardarem. Os dois receberam três e cinco talentos dobraram a quantia com aplicações. O que recebeu um, com medo de perdê-lo, escondeu-o e não teve nenhum rendimento. Esse foi rejeitado pelo patrão quando ele voltou de viagem, enquanto os outros dois receberam privilégios e evoluíram no trabalho”. O Senhor Jesus dá novamente na Bíblia não só um conselho sobre como reagir diante das adversidades, mas sobre a importância de se esforçar para obter êxito: “E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mateus, 5.41).

E chegamos à conclusão: “Quem faz algo passivamente, só por ter obrigação, cumpre a primeira milha como todos e não consegue se destacar no meio da multidão que disputa um espaço, mas é na segunda milha que quem tem mais a oferecer sobressai”.

5.

Como visto, a teologia transformou-se em coaching ou fomentador da disputa entre trabalhadores no mundo do trabalho, em que uns chegam à segunda milha e são agraciados com bens materiais enquanto a maioria não passa da primeira milha. Lógico que no exemplo dos talentos, moeda da época, caberia um questionamento sobre a distribuição desigual assim como sobre o fato de ser mais fácil se desfazer de um talento quando se tem três do que quando se tem um, mas a narrativa bíblica é encaixada para reforçar a verborragia da meritocracia e do empreendedorismo, o que faz com que tais questionamentos pouco importem.

Por fim, a reportagem indaga: como se destacar da multidão? Segundo a reportagem, há seis itens que ajudariam a se destacar à luz da Aliança com Deus e da Fé Inteligente: foco, seja sempre ativo, perceber que alguém sempre repara em quem se esforça, explorar as qualidades e aprender sobre o trabalho. O último é destinado aos “empregadores”, a saber, a busca de funcionários com este perfil. Portanto, se o trabalhador não tiver esse perfil para um empregador vinculado à Fé Inteligente, será provavelmente preterido, restando os trabalhadores embebidos da nova necessidade de fazerem mais do que a obrigação exige.

Com um pouquinho de tino, dá para montar um negócio em que patrão e trabalhadores possuem o mesmo perfil e objetivo, e por que não, todos evangélicos e leitores ávidos do Sucesso Financeiro, no qual as contradições entre capital e trabalho, como direitos trabalhistas, seriam arbitradas pelo pastor.

A matéria de capa da edição de 17 de novembro de 2019 da Folha Universal, na qual o título é “Quem usa a fé no altar se torna um realizador de sonhos”, inicia-se com a mesma simbiose entre fé e empreendedorismo nas matérias já analisas. O Bispo Odivan Pagnocelli faz a seguinte afirmação: “Desde a infância temos muitos sonhos, mas, à medida que vamos crescendo e nos tornamos adultos, nossos sonhos também amadurecem. E, se há muitos que dedicam boa parte da sua vida a alcançá-los, outros se frustram conforme o tempo passa e os sonhos se tornam cada vez mais distantes. Nos deparamos com vários tipos de sonhadores: os que têm sonhos e não fazem nada para concretizá-los e os que desistem no meio do caminho. Somente conseguem realizá-los os que perseveram até o fim e não se importam com os sacrifícios que terão de fazer para isso”.

O bispo lembra que a Bíblia possui muitos homens que sonharam e se destacaram, como Moisés, que teria libertado o seu povo por ter sonhado e se sacrificado. Por conseguinte, “com a força do braço, o sonho está sujeito a todas as fragilidades terrenas”, mas se “os sonhos realizados no Altar são concretizados em parceria com o Altíssimo”, quem “poderá detê-Lo?”.

Seguindo o modus operandi de todos os artigos, o texto pula para os exemplos, os testemunhos da Confissão Positiva. São quatro ao todo, mas se citará apenas um, o do empresário Samir Crema. Quando vendia consórcios, viu uma “oportunidade”, a saber, o “Altar do Sacrífico”. Diz ele que a oportunidade superou uma sina bourdieuneana, digamos assim: “Ninguém na minha família tinha formação superior nem havia um empresário em quem eu pudesse me espelhar”; justamente por “essas razões, eu não tinha sonhos e tinha perdido expectativa de um bom futuro”.

E continua: “Depois de ir para o Altar, eu tive a visão de ser grande, de me tornar um empresário. Abri uma loja de móveis para festas e, pouco tempo depois, me tornei fabricante. Hoje minha empresa atende todo o Brasil e fornece móveis para salões de festas, clubes, hotéis, bares, restaurantes e escolas”.

Ao longo da reportagem, fotos das pessoas, a maioria casais, ao lado das empresas e propriedades, como grandes casas com piscina, reforçam a ideia do casamento como elemento da prática da fé e induz a constatar que a riqueza material é inerente à prática da fé.

O fato inconteste é que a Teologia da Prosperidade é um projeto de poder e de sociabilidade extremamente efetivo, seja porque se coaduna com o neoliberalismo mais cru, seja porque apresenta um projeto de redenção à classe trabalhadora segundo o qual os indivíduos podem se salvar da miséria por meio da fé. Por óbvio, todos não poderão ficar ricos, nem mesmo os fiéis, mas a explicação do fracasso está dada pela subjetividade da aplicação equivocada ou insuficiente da fé no cotidiano miserável e desigual.

Que trabalhador informal, precarizado e sem esperanças não entraria de cabeça em tal teologia? Ao entrar na teologia, o desesperado mergulha na ideologia neoliberal, transformando a sua vida em um constante paradoxo existencial amainado pelo exorcismo profético e empreendedor da realidade. A Teologia da Prosperidade pariu o trabalhador que trabalha para não ser trabalhador, o trabalhador que não deve pertencer à classe que sofre porque Jesus já sofreu.

(*) Leonardo Sacramento é professor de educação básica e pedagogo do IFSP. Autor, entre outros livros, de Discurso sobre o branco: notas sobre o racismo e o Apocalipse do liberalismo (Alameda).

Marcos Rocha, de Rondônia e Antônio Denarium, de Roraima, estão na mira do TSE para cassação

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve analisar e julgar antes do recesso do Judiciário, que se inicia em 16 de julho, processos que pedem a cassação de dois governadores bolsonaristas. Os réus são os governadores  Marcos Rocha (União Brasil), de Rondônia e Antônio Denarium (PP), de Roraima.  Com informações do Congresso em Foco.

Entre as acusações enfrentadas pelos governadores estão irregularidades na propaganda eleitoral, abuso de poder político e conduta vedada ao agente público. Em um dos processos, há denúncias de uso da máquina pública para autopromoção, como a distribuição de cestas básicas durante o período eleitoral.

Marcos Rocha, eleito pelo PSL em 2018, enfrenta três processos no TSE. O governador de Rondônia, que foi reeleito pelo União Brasil, é acusado de propaganda eleitoral irregular, abuso de poder político e conduta vedada ao agente público.

Na primeira ação, Marcos Rocha e o senador Marcos Rogério (PL-RO) são acusados de propaganda eleitoral irregular. Segundo a decisão do desembargador Kiyochi Mori, houve violação das normas eleitorais ao  veicular propaganda nos canteiros centrais de diversas avenidas. Rocha tenta recorrer da decisão, que manteve a procedência da representação contra ele e estipulou multa de R$ 340 mil.

“Há diversas provas nos autos de que as bandeiras com propagandas eleitorais foram efetivamente instaladas pelo recorrente em local proibido, em área urbana, no meio do canteiro que divide avenidas de grande circulação”, complementa o magistrado.

Os outros dois processos que Marcos Rocha enfrenta no TSE dizem respeito à acusação de conduta vedada ao agente público. Ambas as ações foram incluídas na pauta de 1 de agosto deste ano e são relatadas pelo ministro Raul Araújo Filho.

De acordo com o processo, o governador Marcos Rocha e seu vice, Sérgio Gonçalves, revogaram, por motivo eleitoral, a criação da Estação Ecológica Soldado da Borracha no âmbito das eleições de 2022 e são acusados de abuso de poder econômico, consistente no conjunto de representações por propaganda irregular.

Na outra ação, o governador é acusado de assédio a servidores públicos das esferas municipal e estadual com a finalidade de aderirem, como voluntários, à campanha, o que configuraria flagrante abuso de poder e prática do denominado “caixa dois”; disparos de publicidade via telemarketing custeados com recursos públicos, a caracterizar propaganda eleitoral antecipada; e aumento de repasses voluntários aos municípios e de incremento de programas sociais em proveito da  própria campanha.

Ambas ações já foram julgadas como improcedentes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RR). As decisões do ministro Raul Araújo, do TSE, também se encaminham para a negativa de seguimento dos recursos interpostos pedindo pela inelegibilidade do governador.

Roraima

Antônio Denarium, também eleito pelo PSL em 2018 e reeleito pelo PP em 2022, enfrenta ao menos três processos no TSE. As acusações incluem abuso de poder político e econômico, conduta vedada ao agente público e desvio de recursos públicos para fins eleitorais.

Em agosto de 2023, o Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) confirmou por três vezes a cassação do governador por distribuição de cestas básicas e outras ações durante o período eleitoral de 2022. Em janeiro deste ano, estabeleceu a inelegibilidade de Denarium por oito anos.

O governador também enfrenta acusações de superfaturamento na compra de ventiladores pela Secretaria de Saúde estadual. Em 2022, foi acusado de agiotagem e uma empresa da qual é sócio, Frigo 10, está associada a fazendeiros multados por desmatamento, crimes ambientais e invasões na Terra Indígena Yanomami.

Dois sobrinhos do político foram presos em maio pela Polícia Civil do estado por posse de 145 kg de drogas e armas. Outro caso envolve Helton Jhon, policial militar e segurança de Denarium, preso sob a acusação de assassinar agricultores em Cantá, aparentemente por questões fundiárias.

Fonte DCM e Congresso em Foco

Fernando Haddad, perfil do ministro da Fazenda- por OGlobo

A edição do jornal O Globo deste domingo publica um perfil de três páginas do ministro Fernando Haddad, assinado pela jornalista Miriam Leitão, em que são abordadas sua formação, sua relação por vezes conflituosa com o Partido dos Trabalhadores e também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Num dos trechos, Haddad é questionado sobre uma previsão de seu pai, o comerciante já falecido Khalil Haddad, de que ele um dia seria presidente da República.

POR MÍRIAM LEITÃO

A quarta-feira, 12 de junho, foi o dia mais tenso de uma semana vista como a pior que Fernando Haddad enfrentou no cargo de ministro da Fazenda. Tudo estava contra ele. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu ao governo uma MP proposta pelo ministro, empresários criticavam a política econômica, alguns em tom estridente, o presidente Lula deu uma declaração que elevou ainda mais o dólar, e nas análises a palavra “isolado” era a mais repetida quando se falava de Haddad. Ele ficou em silêncio naquele dia. A um grupo de assessores, explicou, sem traço de nervosismo:

— Olha, não pode reagir a isso, porque se reagir sai pior a emenda que o soneto. Deixa a turma processar as informações e daqui a pouco o Lula vai falar, daqui a pouco eu vou falar, outros vão falar e pronto.

Na sexta-feira, 14, recebeu o apoio do presidente da Febraban, Isaac Sidney, numa reunião no seu gabinete em São Paulo, na sede do Banco do Brasil, na Paulista. Não demonstrava ter vivido uma semana pesada e explicava a interlocutores.

— Ministro da Fazenda é um cargo isolado por natureza, porque é a pessoa que contraria interesses.

Imagem de Scroll conteudo_1“EU SOU UM SUJEITO IMPROVÁVEL. NA POSIÇÃO EM QUE ESTOU? EU SOU MUITO IMPROVÁVEL.”

Fernando Haddad, sobre seu cargo no governo

A natureza do cargo é mesmo essa, mas o enredo de Haddad parece às vezes exagerar no papel. Nas últimas semanas, viveu sob marcação cerrada da direita e da esquerda, de empresários, do mercado financeiro e de seu próprio partido. Na semana passada houve o incêndio da relação entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. E o dólar, que estava caindo após o Copom, inverteu a curva e atingiu sua cotação máxima na quinta. Haddad, de novo, ficou em silêncio público. Nas conversas privadas, não transpareceu alteração. Abordado pela imprensa, disse que falaria depois da ata do Copom. O que o ajuda a manter a serenidade em momentos de tensão é pensar na própria história.

— Eu sou um sujeito improvável. Na posição em que estou? Eu sou muito improvável. Sou filho de um lavrador libanês, que chegou ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás, sou neto de um homem que morreu com a batina do corpo.

O fio da meada para entender quem é Fernando Haddad precisa começar mesmo em suas raízes. Ele é filho de Khalil Haddad, um imigrante que chegou ao Brasil, aos 24 anos, pobre, semianalfabeto, vindo de uma pequena vila do Líbano, de onde saiu diante da perseguição que cercava os cristãos. É neto de um padre católico ortodoxo, Cury Habib, que veio para o país depois que todos os filhos já estavam aqui e está enterrado na cripta da Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo, na Rua Vergueiro. Após a morte recebeu o título de arcebispo. Cury Habib ficou viúvo jovem, virou padre e se firmou como uma forte liderança local. Quando Haddad foi ao Líbano, em 2004, para visitar o lugarejo de onde veio sua família, a lembrança do avô era ainda firme no coração da sua gente.

Fernando Haddad, durante conversa com o GLOBO

— Nessa casa eu moro, mas ela é do Cury Habib. Você pode ficar aqui quando vier — disse o novo dono da casa.

Tudo na vida de Haddad tem um toque de improbabilidade. Ele era prefeito de São Paulo, em 2016, e perdeu a reeleição no primeiro turno para João Doria, um estreante na política. Dois anos depois, em 2018, foi candidato à Presidência da República e teve 45% dos votos. Ele era um jovem estudante de Direito da USP, a tradicional escola do Largo de São Francisco e, ao mesmo tempo, comerciante na Vinte e Cinco de Março. Cruzava a pé essas duas realidades, próximas e distantes. Fez doutorado em filosofia, mas conseguiu formular algo tão prático quanto a Tabela Fipe, que até hoje orienta o comércio de veículos.

Por tudo isso, ele acredita no improvável. Em 2022, Haddad estava na sala da presidência do PT quando, ao fim de uma reunião, pediu licença para ficar sozinho com Lula e avisou:

— Eu preciso de apenas cinco minutos.

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Lula ainda em pré-campanha. Tempos de conversa, negociação e tensão. Quando estavam só os dois, Haddad falou:

— Presidente, eu vim te trazer uma ideia.

— A política é uma coisa extraordinária — disse Lula rindo, como se adivinhasse.

— Se você disser não — disse Haddad — essa conversa nunca aconteceu. Se você não disser nada, eu vou trabalhar o assunto.

Lula aguardava a ideia com atenção.

— Alckmin de vice — falou.

Lula nada disse. Era o sinal de que não havia veto.

Nove anos antes, a relação com Alckmin teve um momento surpreendente. Era junho de 2013, Fernando Haddad era prefeito de São Paulo e estava no olho do furacão. Ele havia ocupado cargos públicos e chegado a ministro da Educação, mas aquele era o primeiro cargo ao qual chegara pelo voto. Na porta da prefeitura e nas ruas da cidade, uma multidão gritava noite e dia. Tentou até invadir a sede da administração. São Paulo, Rio e outras capitais viviam dias caóticos, mas tudo parecia ser pior na maior cidade do país. Com seis meses no cargo, sua popularidade despencou.

— Meu governo acabou — disse Haddad a vários amigos e assessores.

Eram as ruas de 2013, até hoje não entendidas no Brasil. Começaram como raiva contra todos os partidos e políticos e viraram munição da extrema direita. O gatilho da fúria havia sido um simples aumento de 6% nas tarifas de transporte, que foram represadas em 17% pelo prefeito anterior, Gilberto Kassab.

A presidente Dilma havia pedido a ele, ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que não aumentassem as tarifas de transporte no início do ano. Adiassem para junho.

Visto agora parece ter sido um tiro pela culatra. Alckmin, apesar de ser do outro extremo da polarização política da época, o PSDB, acatou o pedido. Quando as tarifas subiram em junho e houve a explosão dos protestos, Dilma ligou pedindo para Haddad recuar do aumento.

— Mas não é a tarifa. Quando eu baixar, vai sobrar para a senhora.

“SE VOCÊ DISSER NÃO, ESSA CONVERSA NUNCA ACONTECEU. SE VOCÊ NÃO DISSER NADA, EU VOU TRABALHAR O ASSUNTO.”

Fernando Haddad a Lula sobre ter Alckmin como vice-presidente

Logo depois, Haddad recebeu um telefonema de Eduardo Paes, do Rio:

— Haddad eu vou anular o aumento. Anula também.

A situação estava insustentável, e os assessores insistiam para que ele recuasse. Ele então, para espanto do seu gabinete, comunicou que antes iria conversar com o governador:

— Não vou fazer isso sem o Alckmin. Ele aceitou o pedido da Dilma, não vou deixar ele com a brocha na mão.

Avisou a Alckmin que queria falar. Pegou o helicóptero, foi para o Bandeirantes e, juntos, os então adversários anunciaram o recuo, cedendo aos manifestantes. Os protestos continuaram, porque não era a tarifa. Era algo estranho que estava sendo gestado. O país teria notícias mais adiante. Curioso é que ele disse, desde muito antes daquele ano, e chegou a escrever, que havia o risco da volta de uma força política neonazista. “Está estranho isso aqui”, repetia a vários amigos.

Sua administração não acabou naquele início, mas ele não se reelegeu. Apesar disso, sua gestão deixou marcas em decisões, criticadas na época, mas que agora fazem parte da vida da cidade, como o fechamento da Paulista aos domingos, as ciclovias e, sobretudo, o corredor exclusivo de ônibus.

Conseguiu renegociar a dívida do município e conquistou o grau de investimento para a cidade. Ainda assim, saiu sob críticas gerais, principalmente do PT.

Veio então o que foi definido no seu grupo como “o tempo do deserto”. No ostracismo, decidiu viajar pelo Brasil. Conheceu diretórios do partido, deu palestras, falou com lideranças políticas. Viajava sozinho, com um assessor. Acabou aumentando sua conexão com a legenda. Ele nunca havia sido aceito no PT, no qual entrou quando era líder estudantil. Nos anos 80, Haddad foi presidente do famoso Centro Acadêmico XI de Agosto, sucedendo Eugênio Bucci, que havia lançado o movimento “The Pravda”. Buscava, uma esquerda longe da polarização da guerra fria. O “The” imitava o design do “The New York Times”. Achavam que passariam a ideia da junção de dois jornais polares.

— Mas evidentemente todo mundo só via o “Pravda” — disse um dos seus amigos.

Seus contemporâneos dizem que foi ali que nasceu o ser político, mas ele já começou com uma derrota. Não fez o sucessor. Em 1985, quando morreu Tancredo Neves, ele, presidente do Centro Acadêmico, escreveu um artigo com o título “emaranharam o Brasil”, numa referência ao Maranhão de Sarney, e propunha uma campanha para que Ulysses Guimarães assumisse o poder como presidente da Câmara e convocasse eleições. Tentava reacender a chama das Diretas Já, num país que já tendia para o pragmatismo. Ficou isolado. O grupo concorrente ganhou o diretório.

Isolado é a palavra que o acompanha, embora ele seja a pessoa que atravessa a rua para falar com possíveis aliados. Mas nem sempre foi assim. Em 2018, foi impedido de ampliar a aliança na campanha contra Jair Bolsonaro. E, em tempos anteriores, não quis. Em 2013, em entrevista a cientistas políticos, ele foi perguntado sobre falar com Fernando Henrique e disse que o ex-presidente era de outro projeto político. Fernando Henrique, diante da mesma pergunta, respondeu que, claro, falaria: “É o prefeito da minha cidade”. Ao mesmo tempo, como ministro da Educação, se aproximou do ex-ministro tucano Paulo Renato. A ponto de em 2006, Paulo Renato ter abordado o então ministro Guido Mantega no aeroporto e pedido para que o PT o mantivesse no cargo na troca de governo. Ele assumiu em 2005, quando Tarso Genro, de quem era assessor, saiu do governo. No novo mandato, havia articulação por outro titular no Ministério.

— Vocês não vão fazer a loucura de tirar o Haddad do Ministério, vão? — perguntou Paulo Renato a Mantega, de quem Haddad também havia sido assessor.

“NÃO VOU FAZER ISSO SEM O ALCKMIN. NÃO VOU DEIXAR ELE COM A BROCHA NA MÃO.”

Fernando Haddad, sobre recuo no aumento da tarifa de ônibus, em 2013

Quem acompanha sua trajetória diz que ele mudou ao longo dos anos, da formulação de políticas à prática da política. De pessoa solitária dentro do partido à entrada na tendência conhecida como campo majoritário. De intelectual vaidoso das suas credenciais acadêmicas a um político pragmático e capaz de diálogo.

Ele tem que se entender com Gleisi Hoffmann e com Arthur Lira. Com Lira, o entendimento tem sido surpreendentemente bom. Fora uma ou outra rusga, o diálogo é fácil e direto. Isso foi parte fundamental da aprovação da reforma tributária, a maior vitória de sua gestão. Haddad teve a sabedoria de pegar um projeto maduro, discutido há anos pelo economista Bernard Appy, não disputar protagonismo com o Congresso e estar sempre disponível para negociar nos momentos de impasse.

De Gleisi Hoffmann, sofreu a primeira derrota antes ainda de assumir o Ministério da Fazenda. O governo anterior deixou várias armadilhas. Uma delas foi a desoneração dos combustíveis, medida com vigência até 31 de dezembro. Em 1º de janeiro seria a posse de Lula. O que fazer? Haddad defendeu a volta do tributo. Estava certo do ponto de vista fiscal e ambiental. A ala política achava que seria um risco tomar posse aumentando preço. Haddad foi derrotado, e a presidente do partido anunciou a decisão de que o imposto não voltaria numa entrevista ao Estúdio i. O fato de ser anunciada na imprensa e pela presidente do partido já o enfraquecia.

Haddad fez então a virada que o tem marcado desde o começo da gestão. Perde o primeiro round e ganha o segundo. A decisão acabou sendo reonerar a gasolina após três meses de governo, e o diesel no ano seguinte. Mas as pressões do partido por influência na condução da política econômica, com ajuda do chefe da Casa Civil, Rui Costa, têm sido uma constante. Isso o levou a ter uma conversa direta com Lula sobre seu futuro no cargo logo na primeira semana de governo.

O terceiro ponto de tensão é Roberto Campos Neto. Um dia, na sala onde o Copom se reúne, os dois olharam juntos para o gigantesco painel de Candido Portinari, Descobrimento do Brasil. Quem assistiu a cena conta que eles tinham avaliações opostas sobre a obra, que encantava Haddad. Sobre outros temas houve um esforço sincero de entendimento de parte a parte. O bom clima foi rompido nos últimos dois meses. Mas não é o único atrito que Haddad enfrenta.

Na Esplanada dos Ministérios não é segredo que a relação com o ministro Rui Costa é tensa. A propósito, vários ministros se queixam do chefe da Casa Civil, que neste mandato concentra excessivos poderes. Quem participa de reuniões internas do governo narra que há um silêncio entre os dois. Falam-se apenas quando necessário. Essa fonte culpa mais o Rui Costa.

“VOCÊS NÃO VÃO FAZER A LOUCURA DE TIRAR O HADDAD DO MINISTÉRIO, VÃO?”

Paulo Renato, ex-ministro, a Guido Mantega, de quem Haddad foi assessor

— O Rui é também um pouco isolado em relação a nós. Nas reuniões que eu tenho participado ele não interage com os demais membros do coletivo, como o Haddad interage. Não há uma tensão no ar, mas o Haddad sempre fica mais à vontade falando conosco, os outros, do que nos diálogos com o Rui.

Um ponto óbvio de atrito é que o chefe da Casa Civil está sempre reclamando das restrições orçamentárias para as obras do PAC. Isso reedita um clássico de brigas internas de governos entre quem quer gastar e quem segura o caixa. Mas Rui Costa vai além e tenta influenciar nas decisões da política econômica, como aconteceu no fim do ano com a meta fiscal. Rui queria mudar e deu isso como decidido nas conversas com jornalistas. Quando parecia tudo perdido e até Lula dava indicação de ser a favor da mudança, Haddad conseguiu adiar a decisão. Mas a mudança da meta acabou vindo em 15 de abril e foi o início da piora das expectativas.

No caso da distribuição de dividendos da Petrobras, Haddad foi chamado para a reunião no meio da crise que se instalou, com as ações da empresa derretendo, após terem votado por não distribuir os dividendos extraordinários.

— Deixa eu entender o que está acontecendo aqui. Está faltando dinheiro na Petrobras? Não é isso que vejo nos dados.

A decisão acabou sendo distribuir metade dos dividendos, mas na briga pública do antigo presidente da estatal, o fritado Jean Paul Prates contra Rui Costa e o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, o ministro da Fazenda conseguiu emplacar uma pessoa de sua confiança no conselho da empresa: Rafael Dubeaux. Ele tem usado os limões para fazer limonadas.

“MINISTRO DA FAZENDA É UM CARGO ISOLADO POR NATUREZA PORQUE CONTRARIA INTERESSES”

Imagem de Scroll conteudo_3Fernando Haddad fez 44 visitas a Lula na prisão, em Curitiba. Foi em um desses encontros que o presidente disse:

— Sobramos eu e você, Haddad.

— Presidente, pensa bem antes de me convidar, porque eu não digo não para uma coisa dessas.

Era 2018, Lula era candidato, estava preso e tentava na Justiça o direito de concorrer. Enquanto isso procurava por de pé um plano B. O senador Jaques Wagner recusou. Ciro considerou uma ofensa. Sobrou para Haddad. Mas Lula só desistiu da candidatura quando faltava uma hora para o fim do prazo.

— Foi uma campanha cruel, em que ele, indicado na última hora, não tinha autonomia para tomar decisões — disse uma pessoa que acompanha a carreira de Haddad.

Tudo ficou mais dramático na última etapa. Jair Bolsonaro apostava em vitória no primeiro turno. Não conseguiu, mas chegou ao segundo turno, com uma enorme dianteira, 46% dos votos, contra 29% de Haddad. A proposta do petista ao partido foi anunciar os nomes de alguns futuros ministros indicando uma ampliação da aliança para o centro.

PRESIDENTE, PENSA BEM ANTES DE ME CONVIDAR, PORQUE EU NÃO DIGO NÃO PARA UMA COISA DESSAS.

Fernando Haddad, sobre sua candidatura em 2018, em diálogo com Lula, a quem visitava na prisão

Para a imprensa anunciou: “Nós vamos para o campo democrático com uma única arma: o argumento”. Em longa reunião no Diretório Nacional, seus argumentos não convenceram o partido. Melhorou na reta final, teve 45% dos votos, 46 milhões de eleitores votaram nele, mas perdeu a eleição.

Houve naquela campanha uma vitória pessoal. A um jornalista que perguntou a ele, anos antes, se seria presidente, Haddad respondeu que gostaria, sim, de concorrer à Presidência, mas ganhar a disputa não dependia dele. Achava que de certa forma atendia ao sonho, quase com certeza, que Khalil Haddad tinha em seu destino.

— Fernando vai ser presidente. Eu conheço meu filho. Ele vai ser presidente — costumava dizer seu pai.

O imigrante que falou mal português durante toda a vida, que teve altos e baixos na sua vida financeira, tinha confiança ilimitada no filho. Um episódio selou essa certeza. Fernando Haddad faria vestibular para a engenharia na Poli, mas o pai nesta época enfrentou uma crise e estava à beira de perder a casa, único bem da família, que ele, Khalil, havia construído. Poderia sair da confusão se tivesse um bom advogado. Fernando Haddad decidiu então fazer Direito com um plano, encontrar algum advogado probono para livrar o pai de uma ação injusta. Logo no primeiro ano abordou ninguém menos que o jurista Goffredo da Silva Telles Jr. Dias depois Goffredo chamou o aluno para a sua casa e pediu detalhes. Haddad relatou o caso, disse quem era o pai e concluiu:

— Isso vai terminar em tragédia.

Fernando Haddad, que foi prefeito de São Paulo por um mandato

Goffredo prometeu falar com um amigo. Conseguiu que a causa fosse assumida por Silvio Rodrigues, um dos melhores escritórios de advocacia de São Paulo. Ele ganhou, a dívida foi reduzida a uma fração do que era cobrado. Khalil Haddad se animou a voltar ao comércio.

Era 1981, o país estava enfrentando uma feroz recessão, as lojas estavam fechando na Vinte e Cinco de Março.

— Eu não tenho dinheiro, mas tenho crédito. Vou abrir a loja — disse Khalil para o filho.

— Eu vou com você — respondeu o filho.

E os dois viraram sócios na Mercantil Paulista.

Seus amigos de juventude, ou os que o conhecem bem, concordam num ponto: trabalhar na loja ajudou Fernando Haddad a ser quem é. Ele tinha que conhecer as pessoas, saber separar um bom cliente de um que pudesse dar um golpe. Eles não podiam errar de novo, até porque uma loja de atacado não faz pequenas vendas. Um erro podia ser fatal. Na loja, negociava. Na sobreloja, estudava em uma mesa em que de um lado ficavam os livros não lidos; de outro, os já lidos. Amigos contam que a pilha dos lidos crescia sempre. E rápido. A sociedade deu certo. Eles ganharam dinheiro e pagaram o que restava para ter de novo a propriedade. Essa é a casa na qual Haddad mora até hoje.

Quando terminou a graduação, foi para a Europa viajar como mochileiro. Voltou em junho e decidiu prestar o exame da Anpec, para o mestrado em economia. Procurou um professor que dava um curso preparatório, e ele o desaconselhou.

“FERNANDO VAI SER PRESIDENTE. EU CONHEÇO MEU FILHO. ELE VAI SER PRESIDENTE”

Khalil Haddad, pai do atual ministro, costumava repetir a frase sobre o futuro do filho

— Deixa eu te situar porque você não está entendendo. Economistas têm dificuldade. O exame é pesadíssimo.

Haddad estudou sozinho com a bibliografia do curso preparatório e mergulhado nas provas antigas. Passou. Era conhecido como “o advogado que passou na Anpec”. Formou junto com economistas do mestrado um grupo de estudos. Eram Alexandre Schwartsman, Paulo Pichetti, Amaury Gremaud e Naércio Menezes. Pichetti, hoje diretor do Banco Central, foi seu padrinho de casamento com Ana Estela. Do casamento nasceram Frederico e Carolina. A família inteira toca violão; os filhos bem melhor que os pais. E Carolina também toca piano. Depois do mestrado em economia, Haddad fez doutorado em filosofia.

Seu primeiro cargo público foi como chefe de gabinete de João Sayad, secretário de Finanças da prefeita Marta Suplicy. Em seguida foi para Brasília trabalhar no Ministério da Fazenda e, depois, no Ministério da Educação. Quando foi nomeado ministro da Educação, sua mãe, Norma, mostrou ter dúvidas se era um bom momento. O PT enfrentava a crise do mensalão. Já o pai, ao ser informado que o filho seria ministro da Educação, respondeu:

— É pouco.

Ficou como ministro até 2011, fez programas bem-sucedidos como o Prouni, que nasceu de uma ideia original de Ana Estela. Esse programa tem quase nenhum custo fiscal. Já a ampliação do Fies, deixou uma conta alta.

Hoje, como ministro da Fazenda, tem que ajustar contas. Foi nomeado no Egito, para onde foi acompanhando o então presidente eleito. Ao ser convidado, pediu que Lula invertesse a ordem:

Imagem de Scroll conteudo_4— EU DIGO O QUE EU FARIA NA FAZENDA E VOCÊ DIZ SE QUER.

Fernando Haddad, ao presidente Lula ao assumir a pasta da Fazenda

Em Sharm El Sheikh, entre o deserto e o Mar Vermelho, ele preparou em dois dias o programa que tem executado. Assumiu com descrédito do mercado e a oposição de grupos do partido. Ele havia acabado de perder a eleição estadual para Tarcísio de Freitas, um estreante nas urnas. Uma derrota e, de certa forma, uma vitória. Haddad conduziu o partido para a sua melhor votação em São Paulo. Teve 45% dos votos, 13 pontos percentuais a mais do que teve em 2018 no estado. Acha que conseguiu isso ampliando o palanque. “Tenho que ter um palanque que vá do Boulos ao Alckmin”. E fez isso, passando por Marina e Márcio França. Perdeu a eleição, mas seu desempenho foi decisivo para o resultado nacional. Aprendeu em 2018, que, para atravessar o deserto e cruzar o mar vermelho, em tempos de extrema direita, tem que costurar alianças.

Perguntado sobre a convicção do seu pai de que ele será presidente do Brasil, ele responde:

— A Presidência da República não é coisa de você querer. É preciso respeitar a sacralidade do topo da pirâmide. É coisa mágica. Não depende de você. Eu já tive a minha chance. Não consegui.

Seu último livro, “O terceiro excluído”, que está sendo lançado em inglês, é um diálogo complexo entre diversas disciplinas em busca do que ele define como horizonte utópico. A ideia de escrevê-lo surgiu depois de uma conversa com o linguista americano Noam Chomsky em sua casa, em 30 de setembro de 2018, na reta final da campanha presidencial. “Eu me encontrava, no intervalo de apenas uma semana, entre conversar com um dos grandes humanistas vivos e enfrentar nas urnas um psicopata. Sentia o choque de perspectivas irreconciliáveis”, escreveu na apresentação do livro.

Como ministro da Fazenda, ele enfrenta diariamente perspectivas difíceis de conciliar. Um Congresso anabolizado com as emendas, o PT que não atualizou a visão econômica, um mercado em tempos de aversão ao risco e o velho patrimonialismo. Ele fica no cargo? Uma pessoa do governo define assim:

— Lula não tem plano B para a Fazenda. Haddad é da confiança extrema e direta do Lula e tem seu convívio e carinho. Ao mesmo tempo conseguiu estabelecer pontes com o mercado.

Haddad carrega a certeza de que para chegar onde chegou fez um caminho improvável. Um funcionário de carreira do Banco Central conta que ele se emocionou quando assinou a primeira nota de real da sua gestão. Ele admite que naquele momento olhou para trás na história familiar.

— Meu pai, onde estiver, está orgulhoso de mim. Respondi aos meus antepassados. Está tudo bem.

OGLOBO

Rodrigo Rollemberg poderá voltar à Câmara Federal

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para permitir que os candidatos prejudicados pelas regras das sobras partidárias em vigor nas eleições de 2022 possam assumir o mandato imediatamente. É o caso de Rodrigo Rollemberg (foto). Ele questionou a constitucionalidade da resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a partilha dos cargos de deputados federais.

O PSB, partido de Rollemberg, e o Podemos apontam que todas as legendas e seus candidatos devem participar da distribuição das cadeiras remanescentes, independentemente de terem alcançado a exigência dos 80% e 20% do quociente eleitoral, respectivamente. Em julgamento há quatro meses, o STF entendeu que esses partidos tinham razão. Porém, determinou que a regra só entre em vigor nas próximas eleições municipais. Para maioria dos ministros, quem foi eleito para a Câmara deve permanecer.

Ocorre que o PSB alega que a modulação dos efeitos da decisão — que define quando a regra deve entrar em vigor — exige quórum qualificado de dois terços dos votos, e a decisão foi proclamada com maioria simples. Ao apreciar os embargos de declaração, em julgamento virtual, seis ministros concordaram com a tese. São eles: Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Nunes Marques, Dias Toffoli e Cristiano Zanin. A relatora, ministra Carmen Lúcia, rejeitou os embargos. Mas, se ninguém mudar de opinião, teremos mudanças na Câmara dos Deputados.

Trabalho em dobro

O ex-governador Rodrigo Rollemberg, que hoje exerce o cargo de secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), está otimista. O mandato está quase pela metade, mas ele acredita que vai assumir. “Terei que trabalhar em dobro”, afirma. Se ele estiver certo, o deputado Gilvan Máximo (Republicanos-DF) terá de deixar o cargo para que Rollemberg tome posse.

Destaque para o plenário

O ministro André Mendonça (ao lado) pediu destaque para que o caso das sobras partidárias, em julgamento virtual, seja levado ao plenário. Essa medida pode atrasar uma decisão final.

Fonte: Correioweb

Foto: MARCELO FERREIRA/CB/D.A PRESS

RO: Seminário “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina” reuniu centenas de pessoas na Universidade Federal de Rondônia

Centenas de pessoas lotaram o auditório do prédio central da UNIR, no Centro de Porto Velho, em um vigoroso seminário intitulado “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina”, com a participação do jornalista Breno Altman e do presidente da Fepal Ualid Rabah

O seminário “Imperialismo, libertação nacional e a questão Palestina” reuniu em Porto Velho/RO centenas de pessoas que foram prestigiar as palestras do jornalista Breno Altman (Jornal Ópera Mundi) e Ualid Rabah (Federação Árabe-Palestina do Brasil – FEPAL). O evento, ocorrido no último dia 18 de junho, também foi espaço para lançamento do livro de Altman: “Contra o Sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista”. Cerca de 200 participantes, reunidos na UNIR Centro (prédio central da Universidade Federal de Rondônia, no centro de Porto Velho), lotaram o auditório, abarrotaram os corredores e o hall de entrada e uma área externa com telão para acompanhar atentamente as conferências proferidas pelos palestrantes.

Com pontualidade revolucionária, o evento iniciou com credenciamento e venda de livros a partir das 18h. As 19:15 iniciou-se a abertura do Seminário com a intervenção da Professora Marilsa Miranda de Souza, representando a ADUNIR, CEBRASPO e o HISTEDBR/UNIR. Em sua fala, a coordenadora do evento saudou de forma calorosa os palestrantes e os presentes e destacou que “a  ofensiva militar e política iniciada em 7 de outubro de 2023 pela Resistência Nacional da Palestina é um fato que marca uma nova fase na luta longa e heroica do povo palestino que, como nenhum outro, durante todas as décadas que se passaram desde a Nakba, tem demonstrado perante o mundo que as forças progressistas da história que enquanto confiarem em sua própria força e nas massas, não podem ser derrotadas, não importa que o inimigo reacionário esteja armado da cabeça aos pés com as armas e máquinas mais monstruosas de destruição e morte”. Destacou ainda que “O imperialismo, principalmente o norte-americano e o sionista Israel, diante do avanço da heroica Resistência Nacional Palestina, covardemente cometem os mais bárbaros crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes que as novas gerações não tinham visto e nem vivenciado, mas que não são, de forma nenhuma, novidade para a superpotência imperialista hegemônica ianque (EUA) e seus cães e capachos reacionários. O imperialismo é um tigre de papel”.

Em seguida, a coordenadora do seminário convidou o professor da UNIR e médico emergencista, Vinícius Ortigosa Nogueira, que integra Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia a mediar o debate. Este destacou a importância do evento, agradeceu a presença de todos os ativistas que atenderam ao chamado para participar do seminário, como forma de expressar de forma concreta seu apoio inconteste à resistência Palestina. O mediador, ainda, defendeu de forma contundente a necessidade de intensificar as ações de solidariedade ao povo palestino e aos povos do mundo que lutam contra a besta imperialista. Convidando à mesa os palestrantes, o mediador concedeu a palavra a um representante da comunidade árabe de Rondônia, o biólogo Nasser Hijazi que de forma entusiástica manifestou a honra de representar a comunidade árabe palestina de Porto Velho no Seminário, que a defesa da questão palestina é acima de tudo uma questão de humanidade, que “desde 1948 o povo palestino tem enfrentado uma série de adversidades que incluem a perda de terras, a destruição de suas casas, restrições severas à liberdade de movimento, humilhações e, infelizmente, a violência contínua”. Hijazi também evocou o princípio da Autodeterminação dos povos, enquanto direito inalienável, defendeu “um estado palestino independente e viável, onde coexistam todas as etnias”, denunciou as violações dos direitos humanos contra o povo palestino e o genocídio praticado pelos sionistas. Após esta intervenção, passaram-se às exposições dos palestrantes.

O primeiro palestrante, Ualid Rabah, representando a FEPAL, destacou que “já são – considerando desaparecidos sob os escombros – mais de 46 mil civis palestinos exterminados em 256 dias de conflito, mais de 2% da população de Gaza. Seriam mais de 4 milhões no Brasil e mais de 15 milhões na Europa, no espaço da segunda guerra mundial. As crianças assassinadas já passam de 20 mil, 45% do total de assassinados. São mais de 9 mil por milhão, superando as 2.800 por milhão mortas no período nazista, em 6 anos. As mulheres assassinadas já passam de 11 mil, 25% do total de exterminados, com pelo mil mortas grávidas. Denunciou que são as maiores matanças de crianças e mulheres da história! A destruição de Gaza já passa dos 80%, superando a das cidades mais arrasadas na segunda Guerra Mundial. Detalhe: em Gaza em 256 dias, contra 6 anos no período nazista”. Para Ualid, o sionismo é uma ideologia supremacista idêntica ao nazismo e demais supremacismos coloniais, e devem ser parados pela força das armas, como foi parada a Alemanha nazista.

Para Breno Altman, o sionismo é um braço do imperialismo e nasceu como doutrina antissemita. Altman contextualizou: “Ao contrário de enfrentar tal tipo de racismo, propunha um acordo a seus patrocinadores: as elites europeias se livrariam dos judeus caso apoiassem um Estado supremacista judaico a ser construído pela colonização sionista da Palestina”. Altman destacou, ainda que “A questão da Palestina é decisiva para o destino da humanidade e, atualmente, a questão palestina é a régua moral do mundo.

Após as exposições, foram abertas as inscrições para os presentes. Entre os diversos inscritos, a comunidade árabe palestina presente pode relatar suas inúmeras interpretações acerca da atual agressão israelense contra o povo palestino. Além dos membros da comunidade, estudantes, advogados, professores e organizações também puderam se manifestar, como a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), que através de seu representante enfatizou a solidariedade inconteste deste movimento que sempre hasteou bem alto a bandeira palestina e comparou a criminalização dos monopólios à resistência palestina com a criminalização aos camponeses em luta pela terra no Brasil. O clima de entusiasmo em defender a resistência palestina ecoou pelo auditório e corredores com palavras de ordem combativas: “Fora Israel das terras palestinas, fora ianques da América Latina!”, “A luta palestina por libertação, é parte integrante da revolução!”; “Palestina resiste! Palestina Triunfará!”; “Estado de Israel, Estado assassino; E viva a luta do povo palestino!” entre outras.

Após as intervenções dos presentes, os palestrantes responderam às dúvidas, destacaram a necessidade de seguir ampliando os espaços organizativos e de defesa dos povos em luta e a solidariedade ativa e orgânica para denunciar os crimes de guerra do imperialismo e do sionismo. Por fim, os organizadores e mediadores realizaram o encerramento do debate convidando os presentes para sessão de autógrafos com Breno Altman e uma mobilização para ato nas escadarias da UNIR.

Nas escadarias da UNIR um grupo de ativistas conclamou os presentes a agitarem suas bandeiras palestinas, no momento em que queimavam as bandeiras da superpotência imperialista ianque e o estado colonial e racista de israel.

Preparação, organização e divulgação

O evento, organizado a pouco mais de um mês pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (CEBRASPO), a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Rondônia UNIR (ADUNIR-SSIND) Seção Sindical do ANDES-Sindicato Nacional, o Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia e o Grupo de Pesquisa “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR/UNIR) em sua etapa preparatória conseguiu mobilizar ativistas de diversas organizações classistas e a comunidade árabe/palestina de Rondônia. Membros dessa comunidade financiaram diversos outdoors de anúncios espalhados pela capital rondoniense. O custo do evento, incluídas as despesas com passagens, hospedagem, alimentação, cartazes, faixas, aluguel de cadeiras, banners e outros materiais, foram totalmente custeados por arrecadações entre apoiadores da causa palestina de diversos setores da sociedade: docentes, médicos, advogados, comunidade árabe, entre outros. As entidades que organizaram o ato, também garantiram a divulgação do evento por meio de colagens de cartazes, panfletos, matérias produzidas para a imprensa local e nacional, sobretudo, a imprensa popular e democrática.

Participação da comunidade árabe/palestina e entidades classistas

Um público de mais de 30 pessoas entre os presentes era de famílias árabes/palestinas que residem há décadas em Porto Velho, dentre estes, vários que puderam ver de perto a Nakba e as agressões do Estado sionista de Israel ao Líbano e outros territórios árabes. Várias gerações dessas famílias puderam estar presentes, se manifestar e também se reencontrar em um evento que marcou a resistência desses povos, que carregam consigo na memória o sonho de ver uma Palestina livre. Além de professores, advogados, jornalistas e outros intelectuais honestos e comprometidos com a causa palestina,  diversas Organizações estavam presentes: a ⁠Associação Nacional de Juristas Islâmicos (ANAJI), Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (MOCLATE), Centro Acadêmico de Medicina da UNIR (CAMUFRO), Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO/UNIR), camponesas do Movimento Feminino Popular (MFP), Diretório Central dos Estudantes (DCE/UNIR), Centro Acadêmico de Ciências Sociais, Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP), Executiva de Pedagogia e Juventudes de partidos políticos. O Comitê do Jornal A Nova Democracia também esteve presente, realizando a venda de edições e materiais de propaganda, da mesma forma que outros movimentos e indígenas.

Lutas futuras

Os organizadores do Seminário, através do CEBRASPO e do Comitê de Solidariedade à Resistência Palestina – Rondônia se colocaram a construir outras ações de propaganda, denúncia e formação em relação a luta do povo palestino. Atendendo ao chamado, os estudantes organizados pelo DCE/UNIR iniciaram outras ações no campus da Universidade Federal de Rondônia, buscando levantar mais alto a bandeira da causa palestina naquela universidade.