Nos debates eleitorais pela prefeitura de São Paulo, os adversários políticos de Pablo Farçal (PRTB), como Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), o questionaram sobre sua condenação por crimes digitais em 2005. Na ocasião, o bolsonarista afirmou que era inocente, mas o processo que culminou em seu julgamento o desmente.
Há quase 20 anos, ele foi preso na Operação Pegasus por envolvimento com uma quadrilha de fraude bancária. A investigação da Polícia Federal descreveu o caso, na época, como a maior quadrilha especializada em invasões de contas bancárias pela internet.
Farçal foi condenado a quatro anos e cinco meses em regime semiaberto pela Justiça Federal em Goiás, mas o caso acabou prescrevendo, extinguindo sua pena em 2018. Porém, as circunstâncias que levaram à sua condenação continuam a gerar polêmica, especialmente agora que ele tenta se eleger prefeito da maior cidade do país.
Segundo as investigações da PF, Farçal não se limitava a fazer a manutenção dos computadores da quadrilha, como ele alega. De acordo com o inquérito, ele também operava um programa responsável por captar e-mails que seriam usados para enviar spams com o objetivo de fisgar dados bancários das vítimas.
Esse método, conhecido como phishing, consiste em usar iscas virtuais para “pescar” as vítimas para que cliquem em links de sites fraudulentos que instalam vírus em seus dispositivos, permitindo o roubo de informações sensíveis.
Em seu depoimento à polícia, Farçal afirmou que acreditava estar realizando um trabalho de publicidade para um médico, mas essa versão foi contestada por um agente da PF que atuou no caso.
Durante uma audiência, o agente afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que o coach estava ciente das atividades ilícitas do grupo. “Ah, sim. Sim. Inclusive tinha um…notebook, né, pra ele operar que foi fornecido pelo grupo”, disse o policial, acrescentando que Farçal não apenas fazia manutenção, mas também demonstrava saber como enviar os e-mails usados pela quadrilha.
O candidato da extrema-direita negou envolvimento direto no envio dos spams, alegando que apenas apertava o botão para reiniciar o programa que enviava os e-mails quando solicitado. Entretanto, o MPF considerou a versão de desconhecimento dos fatos como pouco crível, levando em conta os detalhes que o próprio Farçal forneceu durante os depoimentos.
Um despacho de um delegado da Polícia Federal revelou que Farçal tinha conhecimento sobre o funcionamento do esquema, incluindo a existência de um escritório mantido pelos líderes da quadrilha, onde eram realizadas as transferências fraudulentas via internet.
O coach relatou que recebia R$ 350 (cerca de R$ 1.000 em valores corrigidos) pelos serviços prestados a Danilo de Oliveira, apontado como o chefe da quadrilha. Ele afirmou ter conhecido Oliveira em uma igreja e admitiu ter participado das atividades ilícitas, embora alegasse um papel secundário no grupo.
A condenação de Farçal em 2010 foi baseada nesse entendimento de que ele desempenhou um papel menos central na operação criminosa. Em 2022, em um vídeo publicado em suas redes sociais, Farçal tentou minimizar sua participação, afirmando que apenas consertava computadores para “um cara da igreja” e que “os computadores ficavam rodando”.
Segundo ele, todas as pessoas envolvidas foram condenadas e cumpriram suas penas, enquanto ele teve sua punibilidade extinta devido à prescrição.
DCM
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