terça-feira, setembro 9, 2025
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Ensaio ideológico da burocracia

Vinício Carrilho Martinez (Dr.)

Cientista Social e professor da UFSCar

Márlon Pessanha

Doutor em Ensino de Ciências

Docente da Universidade Federal de São Carlos

 

“Senhoras e senhores: reunidos, vamos nos reunir, para reunir!”

 

Não se preocupe, ao final você entenderá que diabos quer dizer essa sentença.

Tem um livro tipicamente anarquista, com críticas contundentes ao que se chama de Tecnoburocracia – uma burocracia que serve ao poder e a si mesma; melhor dizendo, que cria mais burocracia, a cada dia (pouco importa se há um discurso de “coletividade”), simplesmente para manter seus empregos. Diga-se, de passagem, que essas personagens ganham muito mais do que qualquer docente de universidade pública, e mesmo que seja professor titular. De algum modo, essas coisas se ligam ao Mito do Fausto, um ser diabólico que só queria arrancar o couro e a alma das pessoas. Por isso vamos a isso primeiro.

A história do Fausto deveria ser contada em todas as escolas, porque traz a história do capitalismo a partir do Renascimento, a fase que, logo depois da Rota da Seda, nos brindaria com a “descoberta do Brasil” pelo fogo das caravelas da chamada “expansão ultramarina” – uma prévia da colonização que ainda escravizaria a maioria do nosso povo.

Porém, como essa história original não é contada, nós ensaiamos aqui umas linhas: o povo teria contada a história apócrifa do Fausto, o diabo em pessoa, que arrancava o couro, a alma, os tostões dos mais pobres daquela época. O diabo, é claro, era o capitalista daqueles tempos, notoriamente os banqueiros – os agiotas autorizados pelo Estado. Depois, tivemos um Maquiavel contando as peripécias de um Arquidiabo na forma de flores, ou melhor, nas roupas de clérigos e Arcebispos.

O período clássico do capitalismo que nos tira o couro, a alma e a inteligência, viria com um autor alemão absolutamente genial, filósofo nas linhas e entrelinhas de um conto que levou 20 longos anos para concluir: esse gênio chamava-se Goethe e fez duas versões sobre o mito do diabo em pele de cordeiro – um Goethe mais novo e um Goethe mais velho. Parece a história da Chapeuzinho Vermelho, mas é mais brutal.

Pelo meio inicial da história, Goethe já avisava com quantos dissabores o capitalismo corroía as pessoas:

 

MEFISTÓFELES

Vamos, engole! Com despacho!

Num aí, delícia em ti derrama.

Como! És tão íntimo com o Diabo,

E te apavoras vendo a chama?

(Goethe, 1997, p. 122).

 

Ao longo da história do capitalismo, ele se reinventou para se manter. A essência é a mesma, mas os artifícios para maximizar os produtos, massacrando os processos e os sujeitos, se transformam nas mais diferentes roupagens. Fausto, o diabo em pessoa; o Arquidiabo; ou o diabo em pele de cordeiro: há uma essência em comum. As práticas, contudo, se diferenciam segundo o seu tempo histórico, ainda que nos tempos e espaços de cada história.

E qual seriam as práticas de nosso tempo histórico?

Retomemos, agora parafraseando, Goethe:

Vamos, engole essa joça, em burocracia monumental que acabamos de criar em nossas “instâncias coletivas” (e viciadas pelo não-fazer). Engole, sem pausa – deixe o refluxo para as suas belas noites não dormidas. E tome outro cadinho de sinais obscuros, nonsense, que vai e volta, que “atravanca” seu trabalho produtivo, criativo. Vai burro de carga, quem mandou não estudar direito e arrumar um emprego melhor, que produzisse pensamentos, conhecimentos, ao invés de encher o carrinho de supermercado de “nadas, vezes nadas burocráticos”. Tua sina é se aposentar, com o miolo meio mole, carregando as malas burocráticas, cheias, sem rodinhas, sem alça. Essa é a nossa relação contratual, empregatícia…

De acordo com esta relação contratual, de sedução eterna pelo consumo, não há que se distinguir entre Deus e Diabo: o sagrado foi profanado, diria a crítica materialista do século XIX.

Para nós, essa lógica está presente desde (ao menos) a criação do Estado Moderno e, no caso brasileiro, desde os mais longínquos rincões do Estado patriarcal, racista, expropriador.             É claro que muita coisa aconteceu no Brasil, desde essa forma-Estado que se mantinha no poder com mais corrupção. Hoje, o Estado brasileiro é enorme, tem burocracias infinitas – no passado recente tivemos um “ministério da desburocratização”. Não existe mais. Teria sucumbido à burocracia? Ironia à parte, o certo é que não conseguiu alcançar em seus objetivos. Não deu em nada, é lógico.

Parte volumosa dessa burocracia é paquidérmica, isto é, lenta, inútil e caríssima. Até há argumentos pró-burocracia, reconhecemos. Muitos deles, se remetem a uma suposta (inventada) segurança jurídica e a um controle da corrupção. Mas repitamos, quase como em um mantra, se isso nos ajudar a fixar: o sagrado foi profanado. A busca pela correção (o puro e o sagrado) foi submetida à lógica do capital que tem em nosso tempo histórico, na burocracia, meios de subsistência. Talvez nos valha um exemplo dos mais humanamente corriqueiros e não acadêmicos: como regra, em uma negociação de um imóvel, o vendedor não deve ser uma pessoa incapaz de suas próprias decisões. Segundo protocolos e respeitando hierarquias, uma pessoa ou órgão com fé pública poderá emitir uma certidão que comprove que não há interdições relacionadas com o vendedor. Contudo, os desdobramentos e as especificidades com que se gera a certidão seguem uma burocracia que se justifica somente por si mesma: os desentendimentos entre instâncias, unidades federativas, cartórios, selos para cá ou acolá…

Ficamos extenuados só em pensar! O diabo se aproveita de torres de babel. A busca pela santidade ética e moral é convertida na profana burocracia.

A burocracia está em tudo e perpassa todos. Até mesmo nos espaços em que, seria de se esperar, há uma liberdade de pensamento e de ação, ainda que sob delimitações, a burocracia está lá, à espreita, como monstros sugadores de alma ou, leia-se, de tempo, criatividade e energia. As universidades, oásis do pensamento de outrora, estão sendo tomadas por processos e dinâmicas extenuantes. Os trabalhos institucionais das universidades públicas – do MEC para baixo, estão mergulhados na burocracia.

Ainda defendemos a universidade pública! Ainda entendemos que ela é o principal espaço, em nosso país, de construção do conhecimento científico. Ainda entendemos que a universidade tem um potencial, não tão explorado, de diálogo com a sociedade em torno de suas demandas genuínas, não restritamente ligadas à lógica do capital. Apesar disso, vemos as universidades se desconstruindo, em seu papel, missão essencial, pelos sucateamentos financeiros e processuais, os quais, nos parecem, são indissociáveis.

Como lidamos e trabalhamos em universidades federais – públicas e pobres, sem reajustes, com planos de trabalho caquéticos – iremos destacar melhor nossas peripécias e labutas, dia sim, no outro também.

Há alguns poucos anos, a universidade pública tornou-se um alvo, primeiro velado e depois explícito, de ataques que se deram, principalmente, na forma cortes de verbas, “inovações” trabalhistas e ilações obtusas. Sob o pretexto de uma “austeridade”, que teima em recair quase sempre na educação, saúde e em outros serviços públicos, a universidade passou a ser carregada por um contingente menor de servidores, os quais se desdobram em atuações que vão além daquelas funções para as quais ingressarem no serviço público.

Algumas funções e cargos que existiam nas universidades federais foram extintos, sendo substituídos por empresas terceirizadas. Contudo, também foram feitos recorrentes cortes orçamentários que não permitem às universidades contratar os serviços terceirizados necessários. Pelos corredores, com certa frequência já ouvimos relatos de servidores que fazem uma ou outra coisa funcionar (ou existir) com o dinheiro que vem de seu bolso. Somado a isso, a universidade que, convenhamos, já tinha seus tradicionalismos e burocracias, se aprofundou em trâmites e processos.

Como uma entidade alvo de tantos ataques, a universidade passa a se defender com autorizações para autorizar, reuniões para validar o que já estaria validado, solicitações de soluções para questões do cotidiano que dançam, como em uma lenta música de compasso gravíssimo. Nesse cenário, decisões corriqueiras que poderiam ser tomadas por gestores, diretores, coordenadores, entre outros, em suas funções regulares, passaram a ser levadas para colegiados que conferem, na segurança da burocracia, a legalidade. Há ônus nisso: perde-se energia e, junto, a dedicação ao ensino, à pesquisa e à extensão.

Já temos, nas universidades, reuniões para decidir quando iremos decidir e, lógico, outras mais para dar sequência ao processo de decisão. Nossa crítica, ou angústia, não é em relação aos processos democráticos, participativos e dialógicos. Isso é necessário. O que preocupa é a remoção do tempo com tarefas banais que levam, inclusive, às reuniões rápidas para marcar outras reuniões.

Esse exemplo, claro, é muito específico e, eventualmente, não encontra lugar em todas as universidades. Não queremos, aqui, generalizar. Passemos a outros exemplos, então, que podem estar presentes em outras tantas universidades.

Falemos sobre a pós-graduação, o principal espaço em que se faz ciência em nosso país. Uma parcela significativa do conhecimento científico que é construído no Brasil, nas diferentes áreas de conhecimento, é feita por pós-graduandos sob a orientação de pesquisadores, docentes universitários. Contudo, estes mesmos docentes que encontram, na pós-graduação, um espaço para desenvolver suas pesquisas e contribuir com a formação de novos pesquisadores, recebe como funções o preenchimento de formulários, o fornecimento de informações que, quase sempre, são quantitativas, participam de algumas (por sorte não todas) reuniões que pautam somente questões administrativas, entre outras funções que vão muito além do ensino, da pesquisa ou da extensão universitária.

Se o docente pesquisador é coordenador de um curso de pós-graduação, dobre esse trabalho. Se o curso de pós-graduação foi alvo do sucateamento universitário, de tal modo que nem dispões de secretaria administrativa (leia-se, trabalhadores especializados em cuidar do trabalho administrativo), duplique o duplicado e ganhamos um exemplo cotidiano de uma progressão geométrica. A burocracia desnecessária concretizada em “prestações de conta”, na necessidade de quantitativos para receber notas, amplificada por sistemas de informática mantidos pelo governo que “não conversam” entre si, acentua o desgaste. Nos últimos anos, o desgaste na pós-graduação é tanto que já não tem sido incomum que pós-graduando bolsistas sejam convidados (sic) a auxiliar no trabalho administrativo.

Vamos além, ainda tratando da pós-graduação, para ilustrar como a burocracia corrói a universidade e, ao mesmo tempo, se torna prática cultural e é institucionalizada em decisões: há uma dinâmica de credenciamento de docentes orientadores nos programas de pós-graduação que, pautada em números e em regras que são aceitos como mais sagrados que o divino, mantêm, impedem ou dificultam a atuação de pesquisadores. É mais comum do que deveria ser, e por sorte não ocorre em todos os programas de pós-graduação, que pesquisadores tenham que esperar ciclos de 4 anos para tentar um credenciamento em um programa de seu interesse. A origem da regra, em geral, está em decisões de colegiados dos próprios programas que, com a validação da “coletividade”, sufocados pela burocracia, geram mais burocracias.

Precisamos não mais quantificar o que não é quantificável. Há uma necessidade, quase de sobrevivência da universidade, de reduzirmos essa máquina de recriação burocrática. Lógico que, para isso, as universidades deveriam deixar de ser alvo. Mas não só isso. A universidade precisa desinstitucionalizar a burocracia. Deveríamos, pois, termos uma espécie de “ministério da desburocratização” nas universidades?

Terminemos por aqui, pois é bem possível que alguém pense em criar regras para isso…

Desse modo, nesse conjunto de travamentos à inteligência, não é difícil entender a sentença inicial, afinal, uma vez que estamos reunidos, vamos nos reunir novamente, para nos reunir…

 

Referência

GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1997.

Tua pele

Minha pele
Tua pele
São nossas cores

O céu azul, olhamos ao infinito
Os mares verdes todos adoram

O pássaro colorido é premiado
A flor é multicores
– múltipla
E todo mundo aprecia

Até os insetos ou borboletas são festejados
– por suas cores, beleza, leveza

Apenas quando olham para nós
É que some a sutileza,
– e vira tristeza

Minha pele branca
Tua pele não-branca

Por que não nos veem como flores?
Por que nos enviam seus espinhos?
Suas dores

Eu quero nossas cores
Mas não vejo nossas cores

Tua pele e minha pele
– não importa a cor
Quero amor

Somos brancos e negros
Eu e você

E o que significa?
Nada

Significa que somos muito mais do que cores
Seres sem rancores
Somos amores,
– pela vida, por ti, por mim

Tua pele branca
Minha pele não-branca

Tua pele negra
– é minha pele negra
Porque vivo em ti

Vinício Carrilho Martinez

Fluxo de amor

Fluxo de amor

Por Vinício Carrilho Martinez

Chuva e orvalho
Nessas águas de nadar
– Profundidade de amar

Nessa água de amar
É só se ensopar

Amor não tem guarda-chuva

Amor não cabe em caixa
– desencaixa

Então vem
– encaixa

Mulher de águas
Amor intenso

Afrodite do mar
– revolta
– Revôlta

Envolta em mim
Uma caixa de Amor

Houve esse Amor
Ouve esse amor
– por favor

Foda é você ir embora
– fui pro exílio

Se você me adora
– te traga agora

Se eu fosse um Emílio
Me educaria pra amar

Mulher de sonhos
Mulher das águas
Mulher pra amar

Guilherme Boulos e o lugar da esquerda hoje

Por MONICA LOYOLA STIVAL*

Qual é o lugar de Guilherme Boulos no imaginário político brasileiro e em que medida ele traz consigo um horizonte de transformação?

Acredito que seja necessário refletir sobre o que singulariza Guilherme Boulos – e o projeto de esquerda que ele simboliza – diante da história recente da política nacional. Sem dúvida, ele se situa hoje na única continuidade possível ao lulismo, no seu melhor sentido, sem com isso se reduzir a uma simples “imitação”, como sugerem diversas análises apressadas ou interessadas.

Dois aspectos me parecem decisivos: a maneira como ele se distingue enquanto liderança (ou como pode se distinguir cada vez mais) e o lugar de uma política de esquerda renovada em meio à falácia da polarização.

Políticas públicas e representação

Guilherme Boulos tem sua trajetória marcada por políticas públicas como Minha Casa Minha Vida Entidades e Cozinhas Solidárias. Essas duas políticas têm em comum um modo muito específico de formulação e execução. Elas são políticas públicas de caráter associativo, o que significa que sua elaboração final e implantação ocorrem a partir da organização de movimentos sociais.

Os sujeitos do processo na ponta são as pessoas efetivamente contempladas pela orientação orçamentária disponibilizada pelo governo federal, diferentemente de políticas públicas em que o modo da execução passa apenas por diferentes órgãos dos entes federados e dependem da implantação, “na ponta”, pelo município. Neste caso, as pessoas beneficiadas, como no caso do Bolsa Família, são passivas no que diz respeito ao modo como o orçamento é executado.

Uma política pública de caráter associativo não é definida no modelo político da representação. Ela passa ao largo, portanto, da estrutura de participação social em que a interação entre governo e sociedade civil é informativa e, no melhor dos casos, o espaço de ajuste de formulação. Nas políticas associativas há mais atividade que representação – a representação em jogo diz respeito à organização interna do movimento social e não à relação das pessoas beneficiadas com o poder público que capta e/ou executa recursos. O interesse desse tipo de política, portanto, está na autonomia popular que ultrapassa os limites da representação, e não em uma forma de driblar alguma “crise da representação”.

A ideia de representação ruiu não porque está “em crise”, como se diz desde que ela nasceu. Rousseau já questionava o modelo de Estado hobbesiano, já que este postula uma distância entre a chamada vontade geral e o representante dessa vontade. O ideal da representação sempre foi a coincidência (impossível) entre representantes e representados. Ou seja, seu limite constitutivo foi por muito tempo escondido atrás dessa coincidência inalcançável, que, por sua vez, foi essencial para a compreensão equivocada de democracia como equalização moderada de interesses. A representação perfeita levaria à democracia plena.

Se a representação se tornou a maneira como a sociedade passou a fingir uma equalização social no modo da igualdade jurídica formal (não realizada), ela está no centro desse imaginário em que a democracia seria a resultante final – e justa – de um equilíbrio de forças reafirmado e reequilibrado a cada sufrágio.

Por consequência, o elemento-chave para recolocar o sentido essencial da democracia como conflito está na possibilidade de, em certo sentido, dispensar ao máximo a mediação representativa sem com isso destruir as bases formais do Estado, calcadas no horizonte ideal de igualdade. A disputa democrática não recusa o valor jurídico da igualdade, mas devolve a ela seu sentido político – ou seja, a disputa de projeto social que orienta e dá concretude às regras jurídicas que sustentam o Estado.

Acontece que a maior parte das pessoas não se reconhece em uma estrutura igualitária; justamente porque ela está muito longe de ser concreta. Na vida real, é a diferença que está sempre em jogo, é a disputa que orienta inclusive o direito (daí as atrocidades da justiça classista e racista, por exemplo), é o sentido político das ações de governo e de Estado que definem os contornos da vida social. A representação é o meio pelo qual um tipo específico de vida social – extremamente desigual – se realiza dia a dia provando que o mundo ideal igualitário custa a se realizar.

Em 2013, no Brasil, explodiu na vida pública um distanciamento individualmente marcado em relação à representação. “Fulano não me representa”, “isso me representa”, etc. viraram frases nas ruas e nas redes, para questões gerais ou assuntos banais do cotidiano. Em alguns anos, essa difusão se agrupa em uma representação que não pretende ser a disputa de hegemonia por uma unidade política ideologicamente organizada, mas em uma representação que seja acima de tudo a não-representação, o antissistema, a recusa pura e simples (desde que preservados os costumes conservadores que dão algum lastro imaginário, certa segurança, já que a ruptura geral abriria um abismo excessivamente desconhecido).

A identificação, por um lado, e a descrença total, por outro, são duas maneiras pelas quais as pessoas puderam se colocar no jogo político democrático.

Não quero abordar aqui a identificação com o personagem mais ou menos antissistema, já superado por novos candidatos ao posto. Nem da descrença há tempos popularizada na ideia de que “político é tudo igual”. Falarei deles adiante, de maneira tangencial, quando tratar da polarização. O assunto aqui, afinal, é prioritariamente o lugar da esquerda hoje.

A partir desses aspectos gerais do contexto brasileiro, qual alternativa se coloca para a já ineficiente aposta na representação e, com ela, em uma democracia equalizadora?

Guilherme Boulos não é Lula

Lula carrega a identificação de milhares de pessoas desfavorecidas que sonham com uma ascensão de seus interesses ao centro da política. Guilherme Boulos pretende representá-los, mas não traz consigo essa identificação imediata. Afinal, cada um veio de onde veio, isso não se altera. Não basta o endereço, a dedicação, a compreensão, a luta diária. As pessoas pobres não se identificam com Guilherme Boulos, embora muitos possam admirar suas escolhas e admiti-lo como quase “um de nós”, afinal, “é nós por nós”. Muitos, mas nem de longe todos, nem mesmo a maioria. Sem identificação (Lula), sobrou para tantos a mera descrença, “o deixa como está”, não muda mesmo, ninguém tá aí de verdade pra gente.

O desafio, na impossibilidade de forjar uma identificação artificial ou um reconhecimento que consente, é ultrapassar a desgastada ideia de representação e também a identificação relativamente traída. A representação, vimos, está em crise desde que nasceu e, por isso mesmo, já não move moinhos. A identificação não é questão de opção. A aceitação do estrangeiro como “um de nós” levou tempo e dependeu de uma proximidade que demoraria ainda mais para se estender a tantos outros. Sem as três, aparentemente resta apenas a indiferença.

Ora, daí a enorme diferença que aparece quando pessoas oprimidas pela história dessa democracia restrita – como diria Florestan Fernandes – podem ser sujeitos de processos políticos concretos. Guilherme Boulos, como liderança inquestionável, não é um “igual”, não vai representá-los, mas mostrou ao longo dos anos ser o elo indispensável para a conquista de políticas públicas que viabilizem essa presença ativa das pessoas na formulação e execução de projetos na ponta – políticas vitais como moradia e alimentação. Trata-se de presença, não de participação com palpites via conselhos restritos.

Guilherme Boulos é a liderança em sentido forte. É o elo entre o poder e o povo, sem tomar o lugar de seus interesses ou falar em seu nome – é o meio que dá vazão a sua voz. Ele não é um representante do povo, deslocado entre uma vontade popular e uma atuação interessada, nem uma projeção de possibilidades por identificação com quem saiu do mesmo barco e carregou essa experiência até o mais alto espaço da política nacional, como ainda é o caso de Lula. Com o tempo, é verdade que essa identificação arrefece, já que a identificação com a ascensão possível tem uma duração no tempo e o passado mais recente vai compondo a trajetória de maneira cada vez mais definitiva.

Há um deslocamento de Lula em relação à sua trajetória, sem dúvida, ainda que muitas teses e explicações possam justificar a imagem que aos poucos foi tomando corpo no tempo que atualiza e estende sua trajetória. Digamos, pensando em um gráfico de vida, que após a subida impressionante há um longo platô que começa a confundir e distanciar o personagem do ponto zero. Já se está há mais tempo no quadro da frente ampla, dos acordos e pacificações do que no tempo da conquista de um oprimido vencedor. Ainda é o que temos de melhor.

Mas o futuro se apresenta e exige novas posições – poderá a mesma trajetória deixar o platô atual? Não sabemos. Mas sabemos que a esquerda não pode aguardar sentada e que o futuro requer transformações – avanços na forma, sem recusar o extraordinário ganho de tantos anos dedicados à política por Lula, e avanços na maneira como se torna real o sonho de um mundo melhor.

Forma e conteúdo de um projeto de país atualizado pela esquerda do século XXI

Sabemos já o que pode ser ainda de um novo modo de atuação política, que não recuse a enorme conquista de “um de nós”, mas que seja capaz de realizar a continuidade dessa conquista, pois não se pode aguardar outra exceção – e mesmo a identificação já arrefece pelo desgaste do tempo, confundindo a imagem de Lula em um “nem tanto como nós”, já que nós mesmos não chegamos lá.

Não se cria um novo Lula. O modo como uma liderança pode reestabelecer a ideia de futuro está na possibilidade de responder às expectativas (já hesitantes e descrentes) por meio de uma atuação que se sabe distinta do lulismo e que ultrapassa os limites da representação. É essa a potência de Guilherme Boulos.

Ativar e multiplicar um modelo de atividade política real por parte das pessoas pobres, organizadas em movimentos e associações ou coletivos, é uma das linhas de uma nova política, a ser formulada para que a representação inevitável do modelo de democracia atual seja um modo auxiliar. As políticas públicas de caráter associativo são exemplos de um mecanismo renovado de interação entre governo e sociedade civil, em que as pessoas podem tomar para si a tarefa de formular e executar políticas de interesse social.

Não é por acaso que esses dois exemplos, Minha Casa Minha Vida Entidades e Cozinhas Solidárias, estão presentes na coerente trajetória de Guilherme Boulos. São exemplos pontuais, um projeto renovado de país exige muito mais que isso; mas são exemplos que podem nos dar uma ideia do modo como uma liderança de esquerda atua diante de questões existenciais como falta de moradia e fome: como um elo que não se desgarra das pessoas em uma representação abstrata e não lhes retira a autonomia enquanto sujeitos de direito e de interesse em conflito com a elite política e econômica do país.

Podemos assim encontrar na própria trajetória de Guilherme Boulos – uma trajetória própria, que não é a do Lula nem outra clássica passagem à representação – indícios de uma política de esquerda reformulada, que inspire nos descrentes não apenas a vontade política de atuar, mas a possibilidade real de atuar para mudar a vida sua e de tantos outros desse “nós” que escancara nossa desigualdade.

A polarização deve ser reafirmada

Por fim, uma observação a respeito desse conflito que aos poucos esgota parte da força popular – porque lutar, quando muito se perde, cansa. O cansaço é gêmeo da descrença na política e, por vezes, da raiva contra tudo e todos (o abstrato “sistema”).

Desde a democracia grega – mais precisamente, aristotélica – a questão do “caminho do meio” obscurece a disputa e cala as perspectivas necessariamente distintas. Os sofistas que o digam.

Como disputar um projeto de país quando se reafirma diariamente que a moderação é um ideal político e social, como se o inexistente “meio termo” (ou terceira via…) fosse o bom senso ao qual todos deveriam visar? Significa, obviamente, não permitir que qualquer projeto de país, e de futuro, esteja em jogo. Não há nem mesmo jogo. Não há argumentos, convencimento. Nada.

Nesse mundo ficcional ganha força a descrença e desesperança políticas, já que não há nisso nada que possa ser nomeado política, nem democracia: estes termos implicam necessariamente visões distintas. Não se trata de alternar uma e outra, como se a alternância fosse resultar em soma zero – esse insosso lugar ao centro, moderado, inerte – já que a história social é movimento e não pode ser freada no centro neutro e perfeito do ideal platônico.

Quer dizer, o discurso repetido por analistas e mídias diversas tem como efeito a despolitização absoluta. Curiosamente, ficam perplexos diante da abstenção crescente nos sufrágios, ou na aposta em qualquer coisa que seja contra tudo o que está dado – está dada uma vida difícil demais. Como se posicionar, ter um lado, quando tudo parece ou está efetivamente misturado em frentes tão amplas que já não parecem ter fronteiras? A eleição de Eduardo Paes, por exemplo, pode ser explicada pela necessidade de evitar o bolsonarista da vez, já que bolsonarismo é igual a golpismo. Porém, o mesmo Eduardo Paes enviou secretários para sacramentar o golpe contra Dilma Rousseff. Afinal, um golpismo soft aceitamos, mas sem exageros? O que está realmente em jogo, em termos de posições e projetos?

É evidente que sim, sempre há algo pior a ser evitado, e deve ser. A frente ampla de 2022 foi fundamental. Porém, pontual. Replicar o modelo indistintamente congela a disputa, inclusive a disputa por um modelo político que situe com clareza as divergências, abrindo espaço assim para convencimentos.

O incrível é que foi preciso essa acomodação clássica – versão atualizada das conciliações e golpes que marcam nossa República desde o nascimento – para assegurar alguma democracia, realizando historicamente o tão alardeado meio termo na forma de uma frente ampla, mas analistas insistem em ver justamente aí mais um exemplo da tal polarização.

Na mesma linha, em pleno 2024, em que o PT está com Eduardo Paes, em que o PSD se divide confortavelmente entre o governo federal e o estado de São Paulo, o discurso permanece o mesmo, sendo um dos grandes responsáveis pela impossibilidade de uma polarização real a ser estabelecida.

A mídia leu 2024, particularmente em relação à prefeitura de São Paulo, como “O Brasil está farto da polarização”. Não, falta polarização! É por isso que Ricardo Nunes conseguiu que lhe vestissem com o manto (invisível, já que o rei está nu, só não vê quem não quer) da moderação. Porque falta polarização, falta identificar posições, diferenças, porque a descrença se traduz nesse tempo morno da política, no “vai assim mesmo”, no “é tudo igual”. Para alguns, se não for pra deixar como está, que se arrebente o sistema de vez – já que o sistema é visto exatamente como esses analistas desejam ver, como um mesmo inerte confundido com bom senso.

O resultado dessa confusão é que só aparece como polo – como diferença, como opção – o que estiver pretensamente fora desse campo amorfo da política comum. Assim, o chamado bolsonarismo é arrastado para além das fronteiras do sistema, embora não esteja fora dele, e Ricardo Nunes ou Tarcísio de Freitas são reconfortados no centro desse mesmo sem volume, isentados, portanto de um posicionamento preciso no campo das posições em disputa – evidentemente, bastante à direita do eixo central (sublinho, eixo em que não cabe ninguém, é apenas uma linha, não uma posição possível, como Emmanuel Macron provou). Por isso, aliás, o termo “bolsonarismo” é ruim; ele personaliza a tal ponto que protege os demais personagens da extrema direita.

Uma vez construído esse ornitorrinco, em que a polarização virou o fantasma da vez, como situar Guilherme Boulos? Ele está longe, felizmente, de ser um Eduardo Paes. Coligação, mas à esquerda. Mas como a capa do centro foi emprestada para Nunes-Tarcísio-Kassab e como não se permite distribuir ninguém em uma área real, forjando uma moderação como bloco único do que inventam ser a democracia, então só restaria uma estranha frente ampla ou o lugar de fora, de modo que os discursos empurram Guilherme Boulos para fora, acusando-o de radical (nesse caso, antidemocrático).

Contudo, assim como Jair Bolsonaro não está fora do sistema, embora queira parecer, Guilherme Boulos também não está fora, e sabe disso muito bem. Não quer estar fora, sabe que o fora não existe (pelo menos nessa quadra da história). Ele está localizado, consciente, na esquerda do eixo central, linha fina que muitos tentam insistentemente apagar.

É preciso grifá-la, em vez de apagá-la. A democracia depende de que se possa reconhecer e disputar projetos. Ela depende de polarização para que as pessoas vejam com clareza as diferenças, as possibilidades, e situem seus interesses e sonhos.

Apagar a linha da qual depende o espaço em que se organizam os elementos é o verdadeiro “fora” do sistema democrático: totalitarismo. É a indistinção, aquilo que totaliza por não conter diferença.

A polarização politiza e modifica o lugar do “centro”. A atração de eleitores de “centro” amanhã aumentará quando o meio da agenda política passar a naturalizar pautas que estão à esquerda do “centro” hoje. Isso não se faz sem disputa polarizada de ideias e sonhos. Como a história do neoliberalismo demonstra, minorias não estão fadadas a continuar sendo minorias, já que sua pauta passou de impossível a inevitável ao longo da segunda metade do século XX. Ou seja, a polarização forçou o alargamento da agenda política. Nem por isso essa nova maioria precisa permanecer como tal.

Se aquilo que pode lançar luz a esse lugar contra o qual lutamos e no qual a maioria da população não cabe é nomeá-los extremistas, como são, então o “radicalismo” poderá finalmente se apresentar como opção democrática ao que está dado e, quem sabe, acabar com a descrença que acomete a vida política.

Guilherme Boulos dá rosto à nova esquerda

Se é verdade que a nova esquerda não é uma ruptura com a esquerda que se construiu desde os anos 1980 a duras penas, é verdade também que há uma renovação se desenhando. Essa renovação significa ao mesmo tempo uma espécie de retomada, já que a própria esquerda hegemonizada historicamente pelo PT passou por suas transformações.

Ainda que com tensões, não há como negar que as conciliações, por vezes necessárias, tornaram-se armadilhas difíceis de desembaraçar. Um título reivindicado por quem assume esse novo aspecto dentro e fora do Partido dos Trabalhadores é o de progressista. O campo progressista, ou a frente ampla, como queiram, é a versão à esquerda de uma despolitização que busca ocupar todo espaço da arena democrática. O título que a direita mobiliza para essa mesma tentativa de totalização é centrão. Assim, nivela-se de um modo ou de outro uma gama de possibilidades de um espectro complexo, subvertendo suas diferenças.

A frente ampla não pode se tornar um modelo político a ser replicado indistintamente. Coligar e acordar será sempre importante, mas sem que com isso novas teias imobilizem a esquerda. Um desafio complexo, certamente, que exige uma liderança segura de seu lugar histórico, e Guilherme Boulos tem apresentado suas credenciais. Jamais recusou a posição, a polarização, e por isso a carta para o povo de São Paulo lida na última semana de campanha difere por natureza da carta ao povo brasileiro de 2002 (sem prejuízo de valor a esta última).

Os interlocutores são outros, o momento histórico é outro, e o erro de insistir em aprofundar o pedido de legitimidade na direção oposta ao povo não foi cometido. Guilherme Boulos não se dirigiu ao mercado nem à generalidade que o termo “brasileiros” sugere, embora saiba sua importância e não recuse uma política que os contemple. Afinal, nessa generalidade há uma população que é prioridade e que precisa ser alçada a sujeito de políticas concretas.

A trajetória pessoal de Guilherme Boulos, que se vincula às políticas mais concretas e nas quais o povo tem um papel ativo, e sua trajetória política, que se diferencia e se posiciona, prometem um novo patamar não apenas à esquerda, mas à própria democracia, que pode finalmente voltar a ser o campo aberto de poder em que projetos de futuro são formulados e avalizados ou não pela maior parte da população.[1]

*Monica Loyola Stival é professora de filosofia na UFSCar. Autora, entre outros livros, de Política e moral em Foucault (Edições Loyola).

Lições amargas: três explicações erradas para a derrota de Guilherme Boulos

Por VALERIO ARCARY (*)

“Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho”
(Provérbio popular chinês).

A derrota eleitoral de Guilherme Boulos em São Paulo foi a maior que a esquerda sofreu neste segundo turno. Não é fácil refletir sobre derrotas. Derrotas são tristes e dolorosas. Estamos sob o impacto emocional da amargura. Ninguém está imune, subjetivamente, da decepção e frustração. Manter a lucidez não é simples.

A derrota política foi muito dura, mas parcial. Não foi nem estratégica, nem histórica. Se enganam aqueles que sempre lhe foram hostis, tanto na esquerda mais moderada, quanto na mais radical, e já profetizam que Guilherme Boulos teria saído diminuído. Guilherme Boulos consolidou a posição de maior liderança popular e da esquerda brasileira, depois de Lula. Esta conquista desperta rancores, rivalidades e despeitos.

Guilherme Boulos liderou a campanha unificada da esquerda com uma indomável coragem, perseverança e dedicação. Foi hábil nas entrevistas agressivas, incansável nas caminhadas pela periferia, brilhante nos debates e inspirador nos comícios. Durante meses foi caluniado, pessoalmente, e difamado, politicamente. Drogado, invasor, comunista, extremista, incendiário.

Nas vésperas do primeiro e segundo turno foi vítima de crimes eleitorais sem precedentes, desde a campanha de Fernando Collor contra Lula em 1989, há trinta e cinco anos: cocainômano e apoiado PCC. Enfrentou a luta política-ideológica dificílima de cabeça erguida. Denunciou que Pablo Marçal e Ricardo Nunes eram duas faces do bolsonarismo, a corrupção no escândalo das creches e das obras sem licitação, a cumplicidade com o PCC, se posicionou contra a guerra às drogas diferenciando traficante de usuário, acusou Nunes pela privatização da Sabesp, defendeu a anulação da concessão feita à ENEL, e muito mais. A campanha cometeu erros, também, como seria inevitável, mas não é responsável fazer este debate em público no dia seguinte da apuração. Ele deve ser feito, em primeiro lugar no interior de nossas organizações.

Perdemos por uma diferença de um milhão de votos. Foi um tsunami. A questão é: por quê? Estão sendo divulgadas três explicações erradas.  A primeira é que Guilherme Boulos não devia ter sido o candidato da esquerda porque o seu perfil seria, excessivamente, radical. Foi vocalizada pelo prefeito eleito de Maricá: Quaquá é também, um dos vice-presidentes nacionais do PT.

A segunda é que a campanha teria feito um giro ao centro para reduzir a rejeição de Guilherme Boulos, e esse erro transformou a derrota eleitoral em derrota política. Foi vocalizada por Vladimir Safatle e Luís Felipe Miguel, professores universitários da USP e UNB, mas tem apoio em uma parcela da esquerda radical.

A terceira é que teria sido contaminada pela pressão do “identitarismo”, uma fórmula popularizada pelo liberalismo, uma corrente ideológica estranha à esquerda, para fazer referência às lutas dos oprimidos, em especial, as mulheres e a luta feminista, os negros e o antirracismo, e os LGBT’s e a luta anti-homofóbica, e foi vocalizada por Jesse Sousa, ex-presidente do IPEA.

Estas três explicações são falsas porque desconhecem o resultado da apuração. Um milhão de votos não são dez mil votos. Quando se perde por uma pequena diferença é razoável considerar a hipótese de que, se a representação da esquerda tivesse sido feita por outra candidatura, talvez tivesse sido possível vencer. Quando se perde por uma pequena diferença é incontornável fazer o balanço da tática eleitoral, se deveria ter sido mais radical ou mais moderada. Mas não foi o que aconteceu em São Paulo.

A desvalorização da diferença colossal não é, intelectualmente, honesta. Um milhão de votos não se anulam com táticas eleitorais. O balanço deve ser, portanto, desapaixonado. Nesta escala não importa se os programas de rádio e televisão deveriam ter sido “assim ou assado”, se o programa para saúde, educação, transportes, habitação deveriam ter sido outros. Nesta dimensão não tem palavra de ordem mágica. Não há “abracadabra”.

Marxismo não é fatalismo objetivista. Mas não é verdade que “tudo pode acontecer”. As margens do que pode ocorrer são estreita. Por isso, fazemos cálculos, às vezes acertamos, outras erramos. Desta vez erramos feio, porque subestimamos, mais uma vez, a extrema-direita. As análises que defendiam que era possível vencer repousavam em uma premissa fundamental: o fato de que em 2022, tanto Fernando Haddad quanto Lula tinham derrotado Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro na capital.

Esta análise, que quem escreve estas linhas defendeu, também, estava errada. Estas linhas são autocríticas. Não é difícil concluir que a situação evoluiu, desde 2022, para pior. Ocorreu uma mudança desfavorável na relação social e política de forças. As votações somadas de Ricardo Nunes e Pabro Marçal, no primeiro turno, foram o dobro da de Guilherme Boulos. E foi por uma estreitíssima margem que não aconteceu um segundo turno sem a presença da esquerda, pela primeira vez. Marxismo não é tampouco voluntarismo subjetivista. Há uma beleza “poética” na aposta de que nossa militância pode reverter situações adversas. Mas voluntarismo tem limites.

Na verdade, o que o desenlace da apuração revelou foi que não era possível vencer, em função da dura relação social e política de forças. Esta avaliação não interdita, evidentemente, o debate das táticas eleitorais. Mas desaconselha quem quiser insistir que foi o candidato ou a linha de campanha que explicam a derrota.  Quem defende que a esquerda deveria ter apoiado Tabata Amaral está repetindo a hipótese imaginária de que Ciro Gomes poderia ter derrotado Jair Bolsonaro em 2018, se o PT não tivesse lançado Fernando Haddad e o PSol apoiado Guilherme Boulos, um contra factual absurdo.

Quem se alinha com as posições mais esquerdistas tem todo o direito de criticar que a campanha teria sido lulista demais, ou seja, alinhada com uma defesa do governo federal. Mas essa crítica não autoriza concluir que, se Boulos tivesse sido candidato sem a coligação com o PT, repetindo 2020, teria tido mais votos. Ao contrário, o que o desfecho eleitoral provou é que teria menos votos. Quem denuncia o “identitarismo” desconsidera que sem o apoio das mulheres, negros e LGBT’s teríamos tido muito menos votos. É verdade que a campanha teve muito mais recursos do que em 2020, e obteve uma votação semelhante. Sim, mas este argumento só reforça que a situação objetiva é muito pior.

A derrota da esquerda se explica por muitos fatores, mas repousa, essencialmente, em fatores objetivos e subjetivos. Os dois principais fatores objetivos são: (a) que a vida não melhorou depois de um ano e meio de governo Lula, apesar do crescimento, redução do desemprego, aumento do consumo e controle da inflação, porque foram melhorias insuficientes; (b) que a maioria dos mais pobres mantém algum grau, embora menor, de lealdade política ao lulismo, mas uma parcela da classe trabalhadora rompeu com a esquerda. É entre os remediados que o bolsonarismo criou raízes.

O que nos remete ao principal fator subjetivo. O governo Lula não faz a luta política-ideológica no patamar que a conjuntura exige. A extrema direita é o movimento mais dinâmico, mais ativista, mais ideológico na sociedade. Pablo Marçal é mais uma demonstração desta implantação. Sua influência vai além do um terço da população que lhes entrega o voto, porque conquistou hegemonia política. Entre os trabalhadores de renda média e esta pequena burguesia em formação está a audiência da extrema-direita. Têm escolaridade baixa ou, na melhor das hipóteses, média, e são remediados que estão em luta implacável pela ascensão social e respondem à agitação do bolsonarismo pela militarização da segurança e pela redução dos impostos.

As igrejas pentecostais ocupam um lugar insubstituível na organização deste movimento. São hostis ao feminismo, à luta antirracista, são homofóbicos e anti-ambientalistas. Estamos diante de um anticomunismo “popular”. Esta derrota não selou o destino do governo Lula. Ainda há tempo para reverter os danos, mas somente se houver lucidez de que a situação é de alerta vermelho. O alerta amarelo ficou para trás, é muito sério.

(*) Valerio Arcary é professor de história aposentado do IFSP. Autor, entre outros livros, de Ninguém disse que seria fácil (Boitempo). [https://amzn.to/3OWSRAc]

Participe do Sarau do PPGCTS

O Sarau do PPGCTS – Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos/UFSCar – é uma iniciativa coletiva, docente e discente, além de contar com estudantes que almejam ingressar no programa de ensino, pesquisa e difusão científica.

SARAU DO PPGCTS

Vinício Carrilho Martinez (Dr.) – PPGCTS/UFSCar

Avaetê de Lunetta e Rodrigues Guerra – Aluno especial PPGCTS/UFSCar

 

            O Sarau do PPGCTS – Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos/UFSCar – é uma iniciativa coletiva, docente e discente, além de contar com estudantes que almejam ingressar no programa de ensino, pesquisa e difusão científica.

A iniciativa é de um grupo de pessoas que participam de uma disciplina do referido programa, agora também vinculados num grupo de WhatsApp. Motivadas por um edital da UFSCar – “Extensão na Pós-graduação” – as pessoas construíram um projeto a ser articulado com outros programas da universidade e, em seguida, surgiu a ideia de que seria possível já iniciarem algumas atividades de extensão: o Sarau é uma delas. Publicações científicas com linguagem acessível seria outra.

O Sarau tem como objetivo proporcionar um espaço para que os participantes compartilhem suas pesquisas, recebam feedbacks e sugestões de melhorias, além de estabelecerem contatos e parcerias com outros colegas e pesquisadores. Dessa forma, contribui para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes do programa. Além disso, o Sarau do PPGCTS também promove a integração entre os membros da comunidade acadêmica, estimulando a troca de experiências e o debate de ideias. Através das apresentações e discussões realizadas durante o projeto, os participantes têm a oportunidade de ampliar seus conhecimentos, aprimorar suas habilidades de comunicação e fortalecer sua rede de contatos no meio acadêmico.

A realização do Sarau do PPGCTS demonstra o comprometimento dos envolvidos com a formação acadêmica e intelectual, bem como com a promoção de um ambiente colaborativo e estimulante para o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área de ciência, tecnologia e sociedade.

Ao realizar projetos de pesquisa como este, os discentes têm a oportunidade de aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo de sua formação acadêmica. Além disso, a realização de projetos permite que os pesquisadores desenvolvam habilidades de análise crítica, interpretação de dados e elaboração de relatórios científicos, competências essenciais para atuarem no mercado de trabalho acadêmico e científico.

Os projetos de pesquisa no PPGCTS contribuem para a difusão do conhecimento científico. Com a elaboração de artigos científicos, apresentações em congressos e seminários, os estudantes têm a oportunidade de compartilhar suas descobertas e contribuições para a comunidade acadêmica. A realização do Sarau também é importante para fomentar a interdisciplinaridade e a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento, ao trabalhar em projetos multidisciplinares, os estudantes têm a oportunidade de ampliar sua visão sobre determinado tema e enriquecer suas pesquisas com diferentes perspectivas e abordagens.

É mais uma iniciativa do PPGCTS que visa a inclusão, a divulgação, a popularização da Ciência, do conhecimento, do “saber-fazer” – como vemos desde a Grécia antiga, sob a unificação de saberes que se traduzem em práticas inovadoras, inquietantes, transformadoras da sociedade e das pessoas. Pensando-se ainda que, conceitualmente, define-se enquanto práxis, numa relação estável, organizada e orgânica entre reflexão e ação.

Dessa perspectiva da Ciência, não há muitas dúvidas em relação ao objetivo do Sarau do PPGCTS, uma vez que serão apresentados pensamentos, temas, intersecções problematizadoras, atuais e, acima de tudo críticas, pois, parte-se da premissa de que “sem crítica, não há Ciência”.

Pedagogicamente, podemos nos valer de uma das mais notáveis prescrições de Paulo Freire, o Patrono da Educação Brasileira, quando nos avisa que: “Ensinar exige rigorosidade metódica”.

VÍDEO – Bolsonaro especula morte de Nunes para “seu candidato” assumir em SP

Em apoio contrariado a Ricardo Nunes (MDB) para a Prefeitura de São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já especula sobre sua morte para que o cargo seja herdado pelo coronel Ricardo Mello Araújo (PL), que ingressou na chapa do prefeito como exigência do Partido Liberal para declarar apoio à campanha pela reeleição.

“Em São Paulo tem o nosso candidato a prefeito. Tem o meu vice”, iniciou Bolsonaro em uma live, reforçando que Mello Araújo é o nome em que ele confia “100%”. “Lembro que o Nunes era vice, mas teve aquela tragédia com o prefeito na época, o Bruno Covas (PSDB), e o Nunes assumiu”, relembrou a a chegada ao poder do vice-prefeito após a morte de Covas em maio de 2021, com apenas 5 meses no segundo mandato.

“Ninguém quer que o Nunes seja eleito, para ir para outra lá [em referência a morte] e deixar para o Mello Araújo. Agora o Mello Araújo não vai ser o vice que vai atrapalhar o prefeito”, disse em argumento de que o coronel não exerça um mandato decorativo, como o emedebista foi acusado de exercer até o fim de 2023.

Por fim, Bolsonaro defendeu que o voto na chapa de extrema-direita seja um meio para “evitar que o PT chegue ao poder” na capital Paulista. Veja o trecho exibido na live do programa de Reinaldo Azevedo, na BandNews.

Com um histórico criminoso na Polícia Militar, e investigado oito vezes por homicídio, o bolsonarista indicado para a chapa de Nunes disse, em entrevista à Folha, que nunca se preocupou em contar o número de mortes causadas durante sua carreira. Segundo o candidato a vice-prefeito, ele perdeu as contas de quantas “baixas” executou durante os 32 anos na PM.

Em um dos casos, ocorrido no ABC Paulista, Mello Araújo relatou que perseguiu um suspeito que havia estuprado uma mulher e se escondido em um esgoto. Após uma troca de tiros, o suspeito morreu. Ele destacou que a troca de tiros foi inevitável e que seguiu todos os procedimentos previstos em situações de confronto. O caso foi arquivado.

Apesar das mortes, a polêmica famosa do militar é a defesa de que a PM tenha duas formas de agir dentro da capital. Em entrevista à Rede TVT, em 2017, ele argumentou que é certo que as abordagens dos PMs sejam diferentes nas regiões mais nobres da cidade em relação aos procedimentos nas periferias.

“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, disse.

Bom lembrar que. nos seus tempos de deputado, Bolsonaro disse que, como militar, sua especialidade era matar. Também convém ressaltar a presença, em seu ambiente íntimo, de gente que defende e pratica crimes, como ex-policiais e até detentores de mandados populares como é o caso dos que celebram até hoje o assassinato de Marielle.

No debate entre Nunes e Guilherme Boulos (PSOL), realizado pela Record e Estadão no último sábado (19), o deputado federal questionou o prefeito se ele concorda com essa declaração de Mello Araújo. Embora não tenha fugido do debate, o candidato bolsonarista fugiu da resposta e não expôs o que pensa a respeito da postura da PM em diferentes bairros de São Paulo.

Fonte DCM

A VIDA TEM LINDEZAS

 

Até numa música de uma letra só.

Eu estava em paz,
– quando você chegou

Amou

Deixou em mim
Deixou-se em mim

Se eu tocasse,
– tocaria você agora

Se eu cantasse,
– encantaria o futuro

Fiz cara de sonho
– nem dormi
– dormi só pra acordar

Fiz muita cara de sonho

Queria te acordar
– todo dia

Eu estava em paz
Você chegou
– trouxe você como sonho
– nunca mais acordei

Foi cruel
Só sonhei que beijava
– mas eu só amava

Você era foda
Não precisava dizer
– “me adora”

“Será que preciso enlouquecer”?

Ou só dizer ao universo:
….” devo sorrir” …

Ou sumir, toda vez que sonhar

Todo mundo tem que ir
Pra poder voltar

Vinício Carrilho Martinez

Bozo não é um mito

Por Vinício Carrilho Martinez

Lucas Gama

Definitivamente, Bozo não é um mito!!!

Na mais inofensiva das possibilidades, Bozo é apenas sinônimo de anticlímax.

Bozo já foi um personagem circense; porém, coitado do personagem, nada tem a ver com esse mito caído que a extrema direta inventou (fazendo uso extensivo do chapéu de alumínio).

Pois bem, comecemos nosso argumento pelo resumo, e que também é a nossa conclusão:

  • Fábula[1] é mentira (invenção) ou imaginação prolongada, mesmo que termine com uma mensagem moral.
  • Mito é a busca de uma explicação racional para a sobrevivência coletiva.

 

Portanto, Bozo não é um mito. É a negação da ideia de mito.

Ao que seguimos com uma tentativa de explicação do porquê Bozo não ser mito nenhum, apenas uma mentira da “familícia brasileira”: que é próspera com o fanatismo e o oportunismo (sempre corrupto).

Vejamos um argumento racional contra a falácia:

  • Nesse caso, no caso do mito, a origem de tudo é a racionalidade – de qualquer mito que preze seu pseudônimo.

 

Por exemplo, o mito (Mito do rio Estige, contado por Bacon)[2] figura como busca racional pela sobrevivência, sem que se utilize de demonstrações claramente racionais (caso da alegoria da caverna) e com apelo ao fantástico, uma unidade que pode estar forjada na mentira (o nazismo se apropriando do “Mito de Arminio”) ou no suposto mito do Bozo no Brasil: o mito caído do Bozo se locupleta não com o fantástico, mas sim com o fanático-fantasmagórico[3].

Além disso, o mito construído (coletivamente) sob uma realidade (a sobrevivência) nos permite concluir que “apenas sob efeito de alguma fábula grotesca” – desconexa do mundo real – alguém poderia pensar que “a extrema direita politizou as massas”.

Para sermos mais justos conceitualmente, a extrema direita não alimentou um mito, muito menos uma alegoria (sair da caverna em busca de conhecimentos – como é o caso do fundador Mito de Prometeu):

PROMETEU

Ouvi, porém, as desgraças dos mortais e como eles eram pueris antes de eu os tornar inteligentes e senhores da razão […] A princípio, quando viam, viam falsidades; quando ouviam, não entendiam; e, como as formas dos sonhos, misturavam tudo ao acaso, durante a longa existência; e não sabiam construir casas soalheiras de tijolo, nem sabiam trabalhar a madeira; viviam em antros subterrâneos, como as formigas ligeiras, nas profundidades sem sol das cavernas. E não tinham indício seguro do Inverno, nem da florida Primavera, nem do fecundo Verão; mas faziam tudo sem discernimento, até eu lhes ensinar o enigmático nascer e ocaso dos astros. Também descobri por eles os números, a principal das invenções engenhosas, e a combinação das letras, memória de tudo quanto existe, obreira mãe das musas. E fui o primeiro a por sob jugo os animais[4], submetendo-os ao cabresto ou aos corpos dos homens, para que sucedessem aos mortais nos trabalhos mais pesados, e atrelei aos carros cavalos dóceis, ordenamento de luxo excessivo. E nenhum outro senão eu inventou para os marinheiros os navios de asas de linho[5], que vogam pelo mar. E eu, que descobri tudo isto para os mortais — infeliz — não tenho maneira de me libertar do sofrimento presente

(Ésquilo, 2001, p. 54).

 

Prometeu nos deu a chave da compreensão do mundo, o conhecimento de tudo que era essencial à sobrevivência[6]. Todavia, em efetivo antagonismo ao Mito de Prometeu (em total exclusão epistemológica), a nossa extrema direita contou só uma historinha (conto de fábulas para crianças bem miúdas) em que o Banquete dos Deuses (a Política) não significa nada, zero à esquerda – literalmente.

Ou seja, a extrema direita contou uma historinha e o guru dormiu com ela, como um gurí animado.

O que ainda permite concluir: na vida adulta, séria, não acredite em fábulas, gurus, guris lacradores.

Pense nos bons mitos, deixe a letargia das mentiras – à esquerda e à direita.

Por isso, tanto a apropriação do Mito de Ermínio pelos nazistas (unidade e espaço vital) ou o “mito” criado pela extrema direita para o Bozo, sequer são fábulas (não tem cunho moral, só imoral). São falácias, mentiras grosserias.

 

Referências

 

BACON, Francis. A sabedoria dos antigos. São Paulo : Editora da UNESP, 2002.

 

CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro, Lexikon, 2010.

 

ÉSQUILO. Prometeu Agrilhoado. Lisboa: Edições 70, 2001.

 

KAFKA, Franz. Narrativas do Espólio. São Paulo: Companhia das Letras, 2002b.

 

[1] “tipo de narração alegórica […] confabulação […] fabulista” (Cunha, 2010, p. 283 – grifo nosso). Como se vê em nossa história muito recente, é por demais óbvio que, Bozo não é fabuloso, é um fabulista, encantador de incautos e reféns da história da carochinha que os aprisiona em sua estultice.

[2] Assim nos relatava um dos mais brilhantes pensadores do Renascimento, Francis Bacon (1561-1626), citando Ifícrates quando este sintetizou os principais requisitos da independência e do equilíbrio de poder essenciais às relações entre o Poder Central e os Estados soberanos: “Uma só garantia entre nós, um só compromisso: provai que pusestes tanto em nossas mãos que não podereis prejudicar-nos ainda que o quiserdes”. De fato, quando os meios de lesar são removidos ou quando uma ruptura de tratado poria em risco a existência e a integridade do Estado e dos recursos, o pacto pode ser considerado ratificado, sancionado e confirmado como que pelo juramento do Estige: há então perigo de ser-se expelido dos banquetes dos deuses. Com esse nome os antigos significavam os direitos, prerrogativas, riqueza e felicidade do Estado” (Bacon, 2002, p. 30-31 – grifo nosso). Como se sabe, de cor e salteado, tudo o que Bozo não fez foi zelar pelo Poder Público.

[3] Em Kafka (2002) há uma metamorfose como sinal de fantasmagoria, como desfiguração da normalidade diante do entorno que o autor vivia (e de sua psique), como prenúncio do proto-fascismo, a marca clássica da Modernidade Tardia (o símbolo é Auschwitz). O mito caído do bozo nada fez, além de quebrar as instituições formais do Estado de Direito, como ausência de representação  regular.

[4] A primeira indicação de animais domesticados foi encontrada em Jericó, na Palestina: cães, cabras e grandes felinos eram mantidos como animais de estimação. É até comum encontrar leopardos domésticos em pinturas egípcias antigas, mas o mais famoso era o gato.

[5] Devem ser as velas.

[6] Neste sentido, Prometeu aqui será considerado como a simbologia do Homo faber.

Coluna Zona Franca Especial

Por Roberto Kuppê (*)

Lula recebe banqueiros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá hoje, quarta-feira (16), às 11h30, no Palácio do Planalto, com os principais líderes do setor financeiro brasileiro. Entre os presentes estarão Luiz Carlos Trabucco, chairman do Bradesco e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, presidente-executivo da Febraban, Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, André Esteves, chairman do BTG Pactual, Mario Leão, presidente do Santander, e Alberto Monteiro, presidente do Safra. A equipe econômica do governo também participará, com destaque para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central.

Lula recebe banqueiros 2

Esse encontro marcará uma importante demonstração de apoio do setor financeiro ao governo Lula 3, num momento em que o país atravessa uma recuperação econômica acima da média. Os banqueiros deverão elogiar a gestão econômica do governo, especialmente o desempenho da equipe de Haddad, que tem sido fundamental para a promoção de um crescimento sustentável, com uma taxa acima de 3%, além das expectativas iniciais do mercado financeiro.

Perigo

O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS Saleme), responsável por erros em testes de HIV,  foi contratado para fazer 1,7 milhão de exames em 18 unidades da rede pública ao longo de quase dois anos, conforme levantamento do Globo. A empresa foi fechada após seis pacientes transplantados terem sido infectados com HIV devido a erros na sorologia.

Debates  SP

Primeiro debate do 2º turno de SP tem foco no apagão, além de ataques, exposição de biografias dos candidatos e vices e até abraço | Eleições 2024 em São Paulo | G1O jornal Folha de S. Folha, o portal UOL e a emissora RedeTV! realizam nesta quinta-feira, 17, às 10h20, o segundo debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Tanto o atual prefeito, como o deputado federal, confirmaram presença no evento que terá transmissão ao vivo no sites, no canal do Youtube e redes sociais do pool de veículos e no canal aberto na televisão da RedeTV!.

Debates  SP 2

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e textoHá ainda mais três encontros previstos além do debate nesta quinta. O SBT, inicialmente, faria um debate no dia seguinte, na sexta, 18, mas a emissora ainda não confirmou. Se confirmado, deverá ocorrer às 11h30. Para o sábado, a Record TV e o jornal O Estado de S. Paulo também organizam um debate entre os candidatos. A TV Globo encerra o ciclo de debates na sexta, 25, na antevéspera do segundo turno. Nunes e Boulos já confirmaram presença no encontro da emissora carioca que, tradicionalmente, é o último antes da votação e visto como muito importante para as campanhas.

Debates  SP 3

Calendário de debates do segundo turno:
Folha/UOL/RedeTV!: 17 de outubro, às 9h30
SBT: 18 de outubro, às 11h30
Record TV/Estadão: 19 de outubro, às 21h
TV Globo: 25 de outubro, às 22h

Contagem regressiva

Faltando 11 dias para o segundo turno das eleições para prefeito de Porto Velho, os candidatos Mariana Carvalho (UB) e Léo Moraes (Podemos) se enfrentarão em três debates. Amanhã, quinta-feira, 17, às 18h30, a TV Norte (SBT) realizará o primeiro debate do segundo turno. No sábado, 19, o debate será na SICTV, às 19h40. No dia 25, acontece o último e decisivo debate, na Rede Amazônica/Globo, às 21h.

Cremero

O Cremero realizará um bate-papo com os candidatos à prefeitura de Porto Velho sobre as propostas para o setor da saúde na capital, com a presença de os médicos. O encontro acontecerá de forma presencial.  Leo Moraes (Podemos), hoje, 16/10, às 19h; Mariana Carvalho (União Brasil), dia 21/10 às 19h. Local: Auditório do Cremero, na avenida dos Imigrantes, 3414. Além do Cremero, Mariana participa também neste dia de palestra no Sindur às 15 horas.

Jovem eleitor

O número de jovens eleitoras e eleitores cresceu significativamente em 2024. Com um aumento de 78% no alistamento eleitoral desse público em comparação a 2020, mais de 1,8 milhão de pessoas de 16 e 17 anos estarão aptas a votar facultativamente no pleito de outubro em todo o Brasil. A faixa etária de 18 a 24 anos soma 18,3 milhões de votantes, reforçando a possibilidade de uma grande participação do público jovem nas eleições deste ano.

Pesquisas

Nesta reta final de campanha, olho vivo nas pesquisas. Algumas são sérias, outras nem tanto. Lembrando que as pesquisas podem refletir a realidade ou não. Algumas acertam, outras erram feio. Em Porto Velho, desde ontem novas sondagens estão sendo divulgadas. Uma delas, mostra o candidato Léo Moraes à frente. Em outra pesquisa, Mariana Carvalho liderando o segundo turno. Haja coração.

Pesquisas 2

O fato é que segundo turno é outra eleição. A coluna reserva o direito de dizer que o jogo sucessório em Porto Velho está rigorosamente empatado. O vencedor o será por uma margem apertada. Ambos os candidatos estão desenvolvendo um ritmo forte nas respectivas campanhas. O eleitor indeciso deverá assistir aos debates e tirar suas conclusões. É salutar um segundo turno com dois candidatos competitivos.

Olavo Pires

Assassinato de Olavo Pires completa hoje 33 anos sem se saber quem mandou matar | Mais ROHá 34 anos morria o senador Olavo Pires (PTB-RO). Ele foi brutalmente metralhado quando se preparava para disputar o segundo turno para o governo de Rondônia, em 16 de outubro de 1990. Todos os anos este articulista lembra a data porque trabalhou na campanha do senador. Foi uma terça-feira muito triste para a democracia que acabava de voltar ao Brasil. Seria o segundo governador eleito por via direta. O primeiro foi Jerônimo Santana.

Inelegível até 2034

O ex-governador de Rondônia, Ivo Cassol (PP-RO), teve recurso negado pelo pleno do Tribunal de Justiça de Rondônia, em agravo movido contra o Ministério Público do Estado e o Município de Rolim de Moura. Por unanimidade foi mantida a sentença que condenou Cassol à perda dos direitos políticos, pagamento de multa, proibição de contratar com o Poder Público e receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.  O acórdão foi publicado no Diário Eletrônico do Tribunal de Justiça de Rondônia da última sexta-feira (11), mas nos meios jurídicos já se sabia há algum tempo que o ex-governador tinha sido condenado e que não poderá ser candidato até 2034.

Marcos Rocha

Pode ser uma imagem de 2 pessoasPor outro lado, nesta terça-feira, 15, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu, por unanimidade, manter os mandatos do governador de Rondônia, Marcos Rocha (UB), e seu vice, Sérgio Gonçalves (UB). O julgamento analisou o recurso do Partido Liberal (PL), que contestava a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RO) que já havia descartado a acusação feita pelo PL.

Marcos Rocha 2

O partido liderado pelo senador Marcos Rogério, candidato ao governo derrotado nas urnas em 2022, acusava Rocha e Gonçalves de abuso de poder político, citando a extinção da Estação Ecológica Soldado da Borracha e a redução do ICMS sobre a energia elétrica, além do suposto uso de servidores públicos em campanha. No entanto, o TSE considerou que as provas apresentadas não eram suficientemente fortes para comprovar as alegações, tampouco demonstravam gravidade que justificasse a cassação. A decisão representa uma vitória significativa para o governador Marcos Rocha, que segue no comando do estado de Rondônia, amparado pela validação de sua conduta durante o período eleitoral.

Licitação suspensa

Imagem de CapaO processo licitatório para a construção da Ponte Internacional Rio Mamoré, que conectará Guajará-Mirim (RO) ao território boliviano de Guayaramerín, foi temporariamente suspenso pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A decisão, publicada no Diário Oficial da União em 11 de outubro de 2024, interrompe o andamento de um edital lançado em 16 de novembro de 2023.  A obra, estimada em R$ 430 milhões, está inserida no Regime Diferenciado de Contratações (RDC) e envolve a elaboração dos projetos básico e executivo, além da execução de todas as operações necessárias para a construção da ponte, que faz parte da BR-425/RO. O projeto visa melhorar a infraestrutura local, com a construção de acessos e um complexo de fronteira, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região.

Licitação suspensa 2

A interrupção temporária ocorre enquanto o Tribunal de Contas da União (TCU) analisa um pedido de embargo feito por uma empresa desclassificada do processo licitatório. De acordo com o DNIT, a empresa foi eliminada por não comprovar a execução de pelo menos uma obra de ponte em seu portfólio. No entanto, a empresa recorreu, argumentando que possui a experiência exigida e que o DNIT extrapolou os requisitos estabelecidos no edital.

Breakfast

Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política em Rondônia e do Brasil.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político

Informações para a coluna:  rk@maisro.com.br

Polícia mata dois sem-terra e movimentos denunciam execuções e tortura contra acampamento no Pará

Após ação, acampados na Fazenda Mutamba, em Marabá, estão em barracão coletivo, sob rasante de helicóptero da polícia

Policiais civis da Delegacia de Conflitos Agrários (Deca) de Marabá assassinaram dois trabalhadores sem terra no acampamento da Associação Rural Terra Prometida, na última sexta-feira (11), no Pará. Outros quatro foram presos e, segundo os acampados, torturados por horas.

Desde então, as cerca de 200 pessoas que ocupam a área em disputa – localizada na Fazenda Mutamba, da família Mutran – estão agrupadas em um barracão coletivo. Afirmam que um helicóptero da polícia sobrevoa e dá rasantes, todos os dias, no local.

Os sem-terra denunciam que a operação policial Fortis Status (Estado forte, em latim), comandada pelo delegado Antônio Mororó, deixou feridos. Há pessoas com tiro na mão, na perna e com a costela quebrada.

A Polícia Civil do Pará informa que a operação tinha o objetivo de cumprir três mandados de prisão e 18 de busca e apreensão por denúncias de furto, extração de madeira, associação criminosa, tentativa de homicídio, porte ilegal de armas e queimadas irregulares. Nenhum dos presos ou dos mortos, no entanto, era alvo dos mandados.

Os assassinados são Edson Silva e Silva e Adão Rodrigues de Sousa. Este último deixou cinco filhos e, de acordo testemunhas, foi executado enquanto dormia na rede. A polícia alega que houve confronto.

O acampamento tem organização independente, mas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Pará é uma das entidades que vem dando suporte ao coletivo. Polly Soares, da direção estadual do MST, esteve no território no sábado (12), horas depois do ataque. “As famílias estão lá, sofrendo violência e intimidação todos os dias”, descreve. “A gente presenciou o voo rasante do helicóptero, com policiais dentro apontando armas”, conta Soares.


Sem-terra registram estar sendo rodeados por helicóptero em voo baixo / Acampamento Terra Prometida

O que aconteceu, segundo movimentos

Nesta segunda-feira (14), o MST, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), e o Instituto José Cláudio e Maria (IZM) e outras entidades soltaram uma nota em que, a partir dos relatos dos acampados, reconstituem o episódio.

Segundo o documento, cerca de 16 trabalhadores dormiam e dois preparavam o café em um barracão coletivo quando, por volta das 4h da manhã de sexta (11), foram surpreendidos por policiais gritando “perdeu, perdeu” e atirando. “No desespero e na escuridão cada um tentou escapar como pôde dos tiros. O resultado foram dois mortos, vários feridos a bala e quatro presos”, diz a nota.

“O discurso divulgado pelo delegado Mororó e incorporado pelo Secretário de Segurança Pública do Estado”, diz o texto, se referindo a Ualame Machado, do governo de Helder Barbalho (MDB), “é que se tratava de uma organização criminosa fortemente armada, envolvida em venda ilegal de madeira, roubo de gado e outros crimes”.

“O resultado da operação que envolveu dezenas de policiais, várias viaturas, dois helicópteros, foi a apreensão apenas de 7 espingardas cartucheiras e algumas munições. Nenhuma arma pesada, nenhuma motosserra, nenhum caminhão de madeira, nenhum gado roubado, nada mais”, segue o texto, assinado também pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. “A operação, nessa perspectiva, foi uma farsa”, concluem as entidades.

“Os trabalhadores não morreram em confronto, essa versão é inventada”, salienta Polly Soares. “Não existe confronto quando a pessoa está dormindo e é surpreendida por rajada de bala. A tese do confronto é mentirosa, é para criminalizar os trabalhadores”, diz a dirigente do MST.

“O delegado titular da Deca, Antônio Mororó, esteve presente nas torturas e nos assassinatos. A gente pede que ele seja afastado. Este homem não tem condição nenhuma de permanecer à frente da delegacia. E a gente acredita que a permanência dele vai prejudicar as investigações. Como é que a polícia vai investigar a polícia?”, questiona Polly.

Brasil de Fato pediu um posicionamento da Polícia Civil do Pará sobre as denúncias, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria. Caso haja retorno, o texto será atualizado.

Despejo suspenso temporariamente

A área de 12.229 hectares da Fazenda Mutamba, localizada na área rural da cidade de Marabá, tem três ocupações de famílias sem terra. O núcleo alvo da operação policial está a cerca de 500 metros da sede da propriedade da família Mutran e não foram despejadas por pouco.

Em março, a reintegração de posse foi decretada pelo juiz Amarildo José Mazutti, da Vara Agrária de Marabá. Em maio, no entanto, foi suspensa temporariamente em maio pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin.

Em sua decisão, Zanin reforça a obrigatoriedade de serem cumpridas as medidas que, segundo a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828, devem anteceder remoções forçadas. Entre elas, inspeções judiciais no território e que o caso seja debatido em uma comissão de conflito fundiário no Tribunal de Justiça.

Fazenda com histórico de trabalho escravo

Situada no sudeste do Pará, a fazenda Mutamba integra uma “região de histórico de conflito agrário e trabalho forçado”, contextualiza a deputada estadual paraense Lívia Duarte (Psol), que acompanha o episódio. A parlamentar encaminhou as denúncias de execução e tortura às secretarias de Segurança e de Direitos Humanos do Pará.

“A área não fica longe da curva do S”, ilustra, se referindo ao palco do Massacre de Eldorado do Carajás. “É uma região, por exemplo, onde a minha família, meu avô, meu pai, foram submetidos a trabalho escravo por toda a vida”, conta Duarte.

A Fazenda Mutamba, assentada sobre um antigo castanhal desmatado para dar lugar à pastagem, foi flagrada com trabalho escravo em agosto de 2002. Na ocasião, 25 trabalhadores foram resgatados. Dois anos depois, a empresa Jorge Mutran Exportação e Importação Ltda entrou na “lista suja” do trabalho escravo e teve de pagar uma multa de R$ 1,3 milhão ao Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Brasil de Fato

Lula recebe nesta quarta-feira os maiores banqueiros do País

Setor financeiro irá reconhecer méritos do governo Lula 3 e apontar os caminhos para a volta do grau de investimento com um Pacto pela Estabilidade Fiscal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá nesta quarta-feira (16), às 11h30, no Palácio do Planalto, com os principais líderes do setor financeiro brasileiro. Entre os presentes estarão Luiz Carlos Trabucco, chairman do Bradesco e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, presidente-executivo da Febraban, Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, Marcelo Noronha, presidente do Bradesco, André Esteves, chairman do BTG Pactual, Mario Leão, presidente do Santander, e Alberto Monteiro, presidente do Safra. A equipe econômica do governo também participará, com destaque para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central.

Esse encontro marcará uma importante demonstração de apoio do setor financeiro ao governo Lula 3, num momento em que o país atravessa uma recuperação econômica acima da média. Os banqueiros deverão elogiar a gestão econômica do governo, especialmente o desempenho da equipe de Haddad, que tem sido fundamental para a promoção de um crescimento sustentável, com uma taxa acima de 3%, além das expectativas iniciais do mercado financeiro.

Reconhecimento ao governo Lula e pacto pela estabilidade fiscal – Durante a reunião, os banqueiros irão destacar o mérito do governo Lula 3 em promover um crescimento econômico robusto, mesmo em um cenário global de incertezas. O setor financeiro também deve expressar confiança no trabalho de Fernando Haddad, que tem demonstrado habilidade em lidar com os desafios fiscais e em articular soluções que preservem o equilíbrio das contas públicas sem comprometer o desenvolvimento econômico.

Outro ponto alto do encontro será a manifestação de apoio dos banqueiros à presidência de Gabriel Galípolo no Banco Central, sucessor de Roberto Campos Neto. Galípolo, que traz consigo a confiança do mercado, será visto como um nome capaz de manter o diálogo entre governo e setor financeiro em harmonia, com foco na estabilidade monetária e fiscal.

Além dos elogios, os banqueiros irão propor um “Pacto pela Estabilidade Fiscal”, que visa consolidar as diretrizes de controle fiscal em linha com as ideias defendidas por Haddad com seu “arcabouço fiscal”. O pacto, sugerido como uma forma de garantir o retorno do grau de investimento ao Brasil, envolve compromissos com a sustentabilidade das contas públicas e medidas para reequilibrar receitas e despesas governamentais.

Esse caminho é considerado crucial pelo setor financeiro para que o Brasil recupere o grau de investimento, perdido em governos anteriores, mas que foi uma conquista marcante durante o segundo mandato de Lula. O pacto também visa fortalecer o arcabouço fiscal recém-aprovado, impedindo que as despesas cresçam descontroladamente e comprometam o desempenho econômico do país.

Desafios fiscais e o papel do governo – Em entrevista recente à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o ministro Fernando Haddad destacou os desafios que o governo Lula enfrenta no controle dos gastos públicos. Segundo ele, há uma necessidade urgente de enfrentar as despesas estruturais que têm pressionado a dívida pública. Embora as receitas do governo tenham aumentado, os gastos cresceram de forma desproporcional, especialmente desde 2015.

Haddad explicou que o governo já tomou medidas importantes para reduzir o déficit fiscal, como o estabelecimento de um teto para o crescimento das despesas e a eliminação de isenções fiscais injustificadas. No entanto, ele alerta que ainda há muito a ser feito para garantir que a dívida pública não se torne insustentável a médio e longo prazo.

O ministro também sublinhou que o ajuste fiscal proposto pelo governo visa evitar o agravamento da pobreza, como ocorreu na Argentina, ao adotar políticas de cortes abruptos. Para Haddad, o crescimento econômico aliado a um controle responsável da inflação é o caminho mais seguro para proteger os mais pobres e garantir a estabilidade.

Brasil 247

Debate Band: Boulos massacra Nunes no X (ex-Twitter): 62,8% a 28,6%, segundo o DataFórum

Publicações sobre Boulos tiveram muito mais engajamento que as relacionadas a Nunes, mostrando que a extrema direita, assim como o prefeito, ficou acuada; confira a análise

Estudo do DataFórum, plataforma de análise de dados da Revista Fórum, revela que Guilherme Boulos (PSOL) superou amplamente o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), em engajamento no X (antigo Twitter) durante o primeiro debate do segundo turno das eleições, promovido pela Band na noite desta segunda-feira (14).

A análise mostra que o compartilhamento de postagens favoráveis a Boulos, impulsionado por apoiadores da esquerda, foi significativamente superior ao de conteúdos relacionados a Nunes, promovidos pela direita e extrema-direita.

Entre 22h de segunda-feira e 00h30 de terça-feira, período que compreendeu a exibição do debate, as republicações da esquerda envolvendo o nome de Boulos representaram 62,81% do total analisado, enquanto o compartilhamento de postagens da direita relacionadas a Nunes somou apenas 28,66% do fluxo monitorado pelo DataFórum.

Boulos lidera em engajamento no X (antigo Twitter) durante debate com Nunes na Band (Fonte: DataFórum)

Isso indica que, nas redes sociais, Boulos saiu vitorioso. A análise também destaca que a postura acuada de Nunes no debate refletiu-se no X, uma vez que a direita, que dominou a plataforma no primeiro turno, viu sua presença ser ofuscada pelos apoiadores do candidato do PSOL.

Edgard Piccino, ouvidor e analista de dados da Revista Fórum, explica o fenômeno observado pelo DataFórum.

“O bom desempenho do Boulos no debate foi confirmado no Twitter, que repercutiu as publicações do candidato e de outros influenciadores do campo progressista. Repetindo a postura do Nunes no debate, a extrema direita ficou acuada, sem conseguir gerar seu costumeiro engajamento, mesmo após ter dominado a plataforma durante o tempo em que ela ficou bloqueada no Brasil”, pontua Piccino.

“Isso também confirma que o Nunes não é capaz de engajar o campo do bolsonarismo tradicional, pois tenta disfarçar seu posicionamento ideológico e não contenta o público mais radicalizado. Esta falta de engajamento nas redes pode prejudicar o Nunes nesta reta final de campanha, pois ele não tem mais a vantagem do tempo superior de televisão”, prossegue.

Como foi o engajamento da esquerda

Com 62,81% das republicações sobre o debate no X, os principais temas levantados pela esquerda foram:

  • Críticas à gestão de Ricardo Nunes, com ênfase no apagão em São Paulo e questões de transparência;
  • Apoio a Guilherme Boulos, enaltecendo sua postura no debate e o desafio feito a Nunes para abrir seu sigilo bancário;
  • Denúncias contra a prefeitura, especialmente sobre poda de árvores e falta de ação em serviços públicos.

Como foi o engajamento da direita

Por outro lado, os principais temas levantados pela direita no X, que renderam a Nunes um engajamento de apenas 28,66%, foram:

  • Defesa de Ricardo Nunes, com ataques diretos a Boulos, focando em sua experiência e questões de segurança pública;
  • Críticas à Enel e menções de apoio do governo federal devido ao apagão;
  • Apelos ao eleitorado para evitar votar em Boulos, com ênfase em acusações de apropriação de recursos.

Revista Fórum

Nunes foge de mais um debate contra Boulos; entenda

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, recusou o convite da TV Cultura para participar de uma edição especial do Roda Viva, que ocorre na próxima segunda (21). A atração teria um formato similar ao de um debate e Guilherme Boulos (PSOL), seu rival no segundo turno, confirmou que pretende comparecer.

Segundo a coluna Painel na Folha de S.Paulo, a campanha de Nunes afirmou que ele irá a três debates no segundo turno e não se dispôs a participar de eventos do tipo. A ideia seria intercalar o prefeito e o psolista em blocos com entrevistas de jornalistas.

Um embate similar ocorreu em 2020, quando Boulos enfrentou Bruno Covas (PSDB). Com a ausência de Nunes, o programa especial deve ser cancelado e outra entrevista deve ser exibida no horário agendado para a atração.

A TV Cultura alega que não faria sentido realizar uma entrevista somente com um dos candidatos agora porque ambos já participaram de programas no primeiro turno. A emissora ainda alega que a proposta do programa especial foi feita a todas as candidaturas no início da campanha e que uma atração com apenas um candidato não estava prevista.

Ricardo Nunes (MDB) em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, durante o primeiro turno das eleições. Foto: Reprodução

Essa é a segunda fuga de Nunes em programas para discutir propostas no segundo turno. Na última quinta (10), ele rejeitou o convite para um debate promovido por CBN, jornal O Globo e Valor Econômico, e seu adversário teve que fazer perguntas a uma cadeira vazia.

O embate ocorreria uma semana depois do debate da TV Bandeirantes, realizado nesta segunda (14). O evento de ontem ocorreu em meio ao apagão em São Paulo, que foi o principal assunto discutido pelos candidatos.

DCM