Se a dialética coubesse numa imagem, haveria uma moça na capa de um livro com um vestido dourado e com fitas vermelhas. A moça emprestaria à gravura toda a sua miscigenação de cores.
Se a dialética coubesse numa visão urbana seria uma via de mão dupla, num ponto teríamos uma avenida, no outro, mal caberia uma rua estreita. Sinalizada, a via urbana deveria ser arborizada, mas, parecia apenas dirigida por sinais de pare e avance, vire à esquerda ou à direita. De um lado haveria arranha-céus ou até palácios e, na outra margem, veríamos o contraste de casas simples ou barracas nas esquinas. Bem iluminada, logo se veria um estoque de lombadas, cruzamentos e encruzilhadas escuras e silenciadas. Com amplo fluxo de dia ou de noite, não seria difícil imaginar que, numa extremidade, desembocaria num aeroporto em que decola a riqueza e, na outra ponta, pode-se dizer que nascia ali, tinha uma quebrada, palafitas, espigões de pobreza aguda.
Correndo em paralelo ou entrecruzada por pontes e viadutos, a via urbana também poderia ser vista do alto da passarela. Mas aí seria uma visão passiva.
Se a dialética fosse uma música, seria uma valsa ou um tango com inclinações de um lado ou de outro, com saltos, giros e rodopios, gestos breves, curtos e contidos, cortados por movimentos largos, espraiados e amplos.
Vinício Carrilho Martinez




