Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS (AM) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou, neste sábado, 6, desinformação sobre a Amazônia durante discurso na Conferência de Política Ação e Conservadora (Cpac Brasil), que reúne apoiadores da extrema direita em Balneário Camboriú, cidade de Santa Catarina. Segundo o ex-mandatário, o Tratado de Tordesilhas, acordo entre Portugal e Espanha em 1492, foi assinado já por interesse na região.
Bolsonaro também errou a data da chegada dos portugueses no Brasil. “A Amazônia era cobiçada antes de 2500, basta ver o Tratado de Tordesilhas, de 1492“, alegou, referindo-se, erroneamente, à data indicada como a chegada dos portugueses ao Brasil, por volta de 1492.
Para o historiador Cleomar Lima, a fala de Bolsonaro dá a entender que o tratado foi assinado já visando a riqueza da biodiversidade da região, mas isso não é a realidade. O interesse da assinatura do Tratado de Tordesilhas eram as rotas marítimas. “Não foi pela Amazônia, foi pelas Índias. Era para se encontrar um novo caminho marítimo para as Índias e se encontrar as especiarias. Cravo, canela, pimenta, tecidos, perfumes, porcelanas“, explicou.
“Na verdade é 1492, quando a América é ‘descoberta’, é apossada pelo [Cristóvão] Colombo, e o Tratado de Tordesilhas é assinado em 1494. [O interesse] não é bem exatamente a Amazônia, é um mundo, são as conquistas marítimas. Portugal ficaria com um pedacinho do litoral do Brasil como rota para o Oriente, e com a África e a Ásia. A Espanha ficaria com cerca de 90% da América, América toda. A Amazônia está no meio, mas está também o México, o Chile, Honduras e Guatemala“, acrescentou.
Bolsonaro já referiu-se à “Amazônia cobiçada” anteriormente. Em março deste ano, ele criticou a vinda do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil sugerindo interesse pela região. Na ocasião, afirmou que esses encontros geralmente terminam em assinaturas de acordos, e citou a demarcação da Terra Indígena Yanomami.
“Em 1992 depois de um encontro desses, trocou-se o ministro da Justiça, e uma portaria foi assinada, iniciando-se a demarcação da extensa área Yanomami (equivalente ao estado de Pernambuco ou o dobro da Suíça), para aproximadamente 9 mil indígenas. Uma insensatez para não dizer um crime de lesa pátria“, declarou.
A Cpac Brasil acontece neste sábado, 6, e domingo, 7. O evento pretende reforçar a aliança do bolsonarismo com movimentos globais da extrema direita, e é inspirado na conferência anual realizada nos Estados Unidos desde os anos 1970. A agenda conta com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do atual presidente argentino, Javier Milei.
Desinformação
Segundo o professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci, em entrevista ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), a desinformação trata-se de um ambiente comunicacional hostil à informação. “A desinformação é o efeito geral da disseminação de fake news e de outros recursos para enganar ou manipular pessoas ou públicos com fins inescrupulosos”, afirma.
A desinformação também tem um sentido mais amplo, que abarca as diferentes formas de difusão de informações mentirosas pela internet. Em inglês, há três palavras para o fenômeno: disinformation, para informações falsas criadas com a intenção de causar dano; misinformation, para informações erradas divulgadas sem o objetivo de causar dano; e malinformation, para informações corretas, mas divulgadas de forma descontextualizada com o propósito de causar dano.
Fonte: Cenarium