@viniciocarrilhomartinez
Esse conceito não se fecha, é dinâmico, assim como está em permanente transformação a realidade contemporânea – entre o passado e o presente[1]. No entanto, resumidamente, devemos entender o Capitalismo digital a partir do sistema produtivo do capital que aprimora formas de extrema precarização e exploração da força de trabalho (uberização, pejotização, terceirização) em conjunto ativo com formações econômicas pré-capitalistas[2]: exploração do trabalho análoga à escravidão.
No caso brasileiro, some-se o racismo recalcitrante e, então, teremos a vigência de um Pensamento Escravista: “modernidade colonial” que coleciona o racismo e a exploração do trabalho escravo. Desde 1930[3], o Brasil conhece(u) a industrialização, o processo de substituição de importações, o Plano de Metas e a subsequente modernização tardia: hoje, a robotização é presente nas maiores indústrias instaladas no país. Porém, os níveis de desindustrialização são crescentes e alarmantes.
O que nos traz à atualidade do dominante rentismo (sistema financeiro especulativo e improdutivo de valor agregado, marcante nos trading das Bolsas de Valores[4]) e ao denominado Capitalismo de dados[5]: a platamorfização da vida social e sua intensa monetização também se desdobra na exploração digital do trabalho infantil (preconizando-se uma forçosa “adultização”).
Na ordem da manifestação política, instaladas e representadas, as Bets, as Big Techs, as Big Datas/Data centers se alinham aos Bancos (e Fintechs) e às tradicionais bancadas da bala, do boi e da bíblia. Como frações de classe, nem sempre esses interesses estão alinhados; porém, quando estão, perfilam politicamente os Grupos Hegemônicos de Poder[6].
Neste cenário, o que ainda guardamos do passado tinhoso (patrimonialismo, patriarcalismo) é a Revolução Burguesa vinda do alto (autocracia), com a vigência renovada e plenificada do racismo institucional e do capacitismo, sem a eficácia do Estado de Direito e da isonomia[7].
Em 2026, 10 anos após o Golpe de Estado de 2016[8] e depois de Pablo Marçal regurgitar o pior Tecnofascismo germinado nas redes antissociais, deveremos ter a primeira eleição comandada por IA (Inteligência Artificial), sem que se saiba o que é real ou Fake News. Como diria Mészáros[9], esse é, mais ou menos, o pico do Evereste que devemos transpor – longe da emancipação[10] e da equidade (com sobras de exceção[11]), cotidianamente, nos deleitamos cada vez mais com a subalternidade[12].
As lutas políticas do povo pobre, negro e oprimido em prol da emancipação do próprio Direito, em meio à fervorosa luta de classes racista, ainda não demonstraram poder social efetivo, mormente em termos, sobretudo, da inclusão, acessibilidade e permanência, e da edificação de um mínimo de sociabilidade e empatia: o que performaria a Sociologia essencial à Interação Social, em que as desigualdades possam ser convertidas em diferenças individuais, culturais.
Portanto, somos pardos, mas, sem fundamentação em valores socialmente dignificantes, no Princípio da Dignidade e nos direitos humanos, vemos e veremos prosperar o machismo, o assédio, a misoginia, o feminicídio.
O Brasil é pardo, sim, mas é por tudo isso que segue sendo descolorido pela branquitude do poder.
[1] GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991.
[2] MARX, Karl. Formações Econômicas Pré-capitalistas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
[3] IANNI, Octávio. A ideia de Brasil moderno. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
[4] É ilustrativo dessa fase do capital, com as subjetividades mergulhadas no desenraizamento e no estranhamento, a ocorrência de uma carteira denominada “Diarista investidora”: https://www.youtube.com/watch?v=jzpY_MmOaIk.
[5] SHOSHANA, Zuboff. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In: Bruno, Fernanda et.al. Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.
[6] Nos estratos elevados do Poder Político, nos três poderes, abundam as trocas de favores, o apoio transversal aos interesses de grupos ou individuais, o nepotismo, o personalismo e a cessão de votos, numa busca infinita de benefícios e de ações transviadas, que, obviamente, maculam toda expectativa republicana quanto à gestão do poder e assim também manipulam as políticas públicas em demérito aos reais beneficiários.
[7] MARTINEZ, Vinício Carrilho. *Ensaio sobre o estado democrático de direito social*: concepção jurídica burguesa ou socialismo na modernidade tardia? São Carlos: Pedro & João Editores, 2024b. Disponível em: https://pedroejoaoeditores.com.br/produto/ensaio-sobre-o-estado-democratico-de-direito-social-concepcao-juridica-burguesa-ou-socialismo-na-modernidade-tardia/.
[8] MARTINEZ, Vinício Carrilho. Teorias do Estado – Ditadura Inconstitucional: golpe de Estado de 2016, forma-Estado, Tipologias do Estado de Exceção, nomologia da ditadura inconstitucional. Curitiba-PR : Editora CRV, 2019.
[9] MÉSZÁROS, István. A Montanha que devemos conquistar: reflexões acerca do Estado. São Paulo: Boitempo, 2015.
[10] FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
[11] MARTINEZ, Vinício Carrilho. *Educação para além da exceção*: Educação para além do capital, Educação após Auschwitz, e depois de Gaza, Educação Política, Educação em direitos humanos, Educação Constitucional. KDP: São Carlos, 2025. Acesso: https://a.co/d/3upl65K.
[12] DELROIO, Marcos. Gramsci e a emancipação do subalterno. São Paulo: Editora da Unesp, 2018.




