Ester Dias da Silva Batista – Licenciada em Biologia/UFSCar
O termo simbiose, na língua portuguesa, é um substantivo feminino. No aspecto conceitual, a palavra está associada à relação de coexistência e interdependência entre elementos distintos, sejam espécies, sujeitos ou processos, com associação, e não à dissolução de uma das partes. Diferentemente de processos de apropriação, a simbiose propõe permanência duradoura (MARGULIS, 1998)[1].
Essa relação atravessa para além da biologia, passando pelo pensamento patriarcal, sistematizado na hierarquia masculina, com dominação e apropriação. O patriarcalismo, por sua vez, baseia-se em modelos binários de relacionamento, nos quais um lado ocupa posição central e o outro é subordinado, dificultando a compreensão de relações baseadas na interdependência. A simbiose, de forma oposta, busca romper essa lógica, propondo uma coexistência na qual ambos se entrelaçam na relação. Nesse sentido, pensar relações simbióticas implica questionar formas “naturais” de dominação.
A associação simbólica entre a simbiose e o feminino, portanto, baseia-se em uma construção histórica. Em sociedades construídas na lógica do patriarcalismo, o feminino foi associado a ideias de cuidado, enquanto o masculino hegemônico se organizou em torno do controle. Nesse sentido, compreender que o termo simbiose não seria masculino não se refere somente à biologia ou à gramática, mas demonstra-se como uma crítica aos modelos de pensamento que desconsideram as relações baseadas na interdependência. Desse modo, tal conceito apresenta-se como um símbolo de grande relevância, por tensionar essas lógicas, propondo formas de relação que vão além das estruturas de domínio de um termo sobre o outro.
[1] MARGULIS, Lynn. Symbiotic Planet. New York: Basic Books, 1998.




