Estudo prevê que a mudança pode acontecer no período de 75 anos
A elevação do nível do mar pode cobrir de 70 até 100 metros das praias do Copacabana, Ipanema, Leme e Leblon, nos próximos 75 anos. A mudança poderia deixar algumas praias com pequenos “filetes de areia”.
Essa projeção é de um levantamento do Laboratório de Métodos Computacionais da Universo Federal do Rio de Janeiro (Lamce) da UFRJ.
O estudo analisou o impacto da elevação do nível do mar entre o Porto do Rio e o Leblon, incluindo a Baía de Guanabara, a lagoa Rodrigo de Freitas e áreas vulneráveis como os manguezais de Guapimirim.
Os resultados apontam que o mar deve subir cerca de 75 centímetros, o suficiente para transformar inundações temporárias em alagamentos permanentes, nos pontos baixos da cidade.
Monitoramento e prevenção: uma corrida contra o tempo
A gravidade da situação motivou uma parceria entre a prefeitura do Rio de Janeiro e o Instituto Nacional de Pesquisa do Oceano (Inpo) para a criação de um sistema de monitoramento contínuo do nível do mar e das condições oceânicas da cidade. Um acordo de intenções já foi assinado e, segundo a gestão municipal, a formalização do convênio técnico deve ocorrer ainda neste semestre.
— Todos esses dados serão fundamentais para que possamos nos preparar e evitar os efeitos das piores consequências. O monitoramento no Rio é pioneiro e será piloto para o restante do Brasil — explica Segen Estefen, diretor do Inpo.
A ideia é implantar boias oceânicas para prever grandes ressacas com antecedência e criar sistemas de alerta para identificar elevações súbitas do nível do mar e ondas de calor oceânicas.
— A onda de calor no oceano implica uma evaporação maior e formação de nuvens mais intensas que, ao encontrarem o continente, desabam num grande temporal. Tudo está interligado. Ter estes números bem aferidos vai possibilitar modelos de previsão confiáveis para definir ações de prevenção — afirma Janice Trotte Duhá, diretora de Infraestrutura e Operações do Inpo.
Ela destaca, no entanto, que o sucesso do sistema depende de investimentos robustos em equipamentos como marégrafos e boias bem calibradas, além de infraestrutura de análise de dados.
Soluções para conter o mar
Algumas cidades brasileiras já adotaram medidas de contenção. Em Santos (SP), por exemplo, foram usados sacos de areia para proteger trechos mais expostos da orla. Outras regiões apostam em soluções baseadas na natureza, como a recuperação de recifes de coral, que atuam como barreiras naturais contra o avanço do mar.
— Depende do que a configuração do lugar pede. Regiões que têm recifes de corais, por exemplo, podem ser recuperadas e melhoradas, porque eles são eficientes para reduzir o impacto das ondas — afirma Ronaldo Christofoletti, pesquisador do Inpo e professor da Unifesp.
Quem vai ajudar a compreender melhor essa projeção é o Luiz Assad, professor e pesquisador do Laboratório de Métodos Computacionais da UFRJ.
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