(Coach mirim)
Por Vinício Carrilho Martinez
Em primeiro lugar, é oportuno explicar que, por alucinação capitalista entendemos a monetização das barbáries a partir das redes antissociais: quanto maior a estultice maior a possibilidade de ser visto, rentabilizado e, logo, de enriquecer.
Dito isso, vemos que os atuais Tempos Modernos (diferentemente daqueles de Charles Chaplin) trazem o assombro dos “tempos sombrios” – fundeados no nazifascismo da Segunda Guerra Mundial. O avanço da extrema direita rumo ao poder, no Ocidente, é prova suficiente dessa combinação desastrosa neste quartel do século XXI.
O que há em comum com o lateralizado nazifascismo de meados do século XX, permanente e vivo hoje em dia, são as forças, crenças, “mitos” e ações propostas ou encaminhadas: o racismo, o elitismo supremacista, a misoginia, o descarte da classe trabalhadora, a “eleição de inimigos” a serem destruídos violentamente, são a força comprobatória dessa tese. O capitalismo de barbárie se pronunciaria já naqueles idos.
No entanto, exatamente um efeito explosivo, expansivo – destruidor em massa do meio ambiente –, conheceu seu apogeu. Nunca o capitalismo conheceu tamanha barbárie contra as mínimas condições de vida quanto agora. Some-se a isto o genocídio praticado pelo sionista Estado de Israel, em Gaza. A perda de propósito da vida humana, com dignidade, ganhou força e lastro.
No plano econômico, a uberização da vida civil é a tônica (no Brasil é a quintessência desde 2017 com Temer), e isto segue a esteira de rodagem da destruição da classe trabalhadora, acarreta um incremento acintoso do rentismo e da miséria humana e social.
A máquina capitalista de moer carne humana ainda se rentabiliza pela propagação da “descrença na racionalidade”, como visto na popularização (viralização) das coisas mais absurdas possíveis: quanto mais irracional, mais as redes antissociais se encarregam de motivar e bonificar seus “produtores de conteúdos”. Em que pese o máximo exagero em se atribuir às bizarrices alguma condição de conteúdo (a exemplo de se associar vermífugo no combate à COVID-19), esse efeito disruptivo da verdade, da realidade, distorcendo-se ou eclipsando os fatos, guarda em si (no propósito) muitas semelhanças com o Ministério da Propaganda Nazista (de Goebbels).
Se no nazifascismo o lema era (é) a “ação pela ação” – o franquismo espanhol foi lendário nesta modalidade –, hoje, a métrica poderia ser alternada para “views por views”, ou seja, o que importa (do ponto de vista do narcisismo capitalista) é a metrificação de visualizações dos tais “conteúdos” gerados: quanto mais expandir-se a dissolução da racionalidade, mais as massas consomem. E isso enriquece tanto as “plataformas de comunicação” (há comunicação?) quanto os indivíduos propagadores de Fake News e de atrocidades desumanizadoras.
Então, quando crianças e jovens se apresentam como “influenciadores” (coach mirim) o único propósito é enriquecer com a monetização. E a primeira ou mais grandiosa pérola que se produziu diz assim: “Estude para ficar pobre”[1]. Não seria preciso dizer mais claramente, entretanto, reforce-se que o com coach mirim almeja o descredenciamento da educação e o mergulho no enriquecimento com zero perspectivas de emancipação[2].
Neste modelo de Capitalismo de dados[3] (Metafascismo[4]), quanto mais se é visto maior a chance de enriquecer; lembrando a máxima das antigas “falem mal, mas falem de mim”, o coach mirim ainda nos lembra que a racionalidade, o Bom Senso, a prudência e a responsabilidade (pelos atos presentes) tem um alto custo: muitas vezes custam o sossego, o emprego, a estabilidade. E nos permite concluir que, sob essa regra do Capitalismo de dados (que ainda será turbinado pela Inteligência Artificial[5]), a consciência da emancipação é a vítima mais evidente. E que, sob a lógica capitalista atual (muito diferente daquela de Chaplin), a falta de consciência, o zero tirado na avaliação da inteligência social, são recursos inestimáveis – afinal, quanto mais alienado (retirado da Cosmovisão intuída desde o Iluminismo), maior a amplitude alcançada para fins de dominação econômica, opressão política e exploração ilegal e ilegítima da atividade humana.
Não é por acaso que, no Brasil, convivem placidamente as formas mais evoluídas do capitalismo de barbárie (rentismo e monetização da alucinação capitalista) e as formas sociais mais aterrorizadoras que nossa história produziu: racismo e exploração do trabalho análogo à escravidão (uberização em tempo integral).
Em palavras finais, podemos dizer que a regra hegemônica é fatal: “Enriquecer a qualquer custo”. Enriquece-se ao custo do Esclarecimento (do Bom Senso) e da capacidade de humanização: o enriquecimento individual é obtido às custas do embrutecimento e do enfraquecimento da própria noção do que é Humani
[1] https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2024/11/23/menores-desdenham-da-educacao-e-dizem-ganhar-mais-do-que-medico-vendendo-curso-para-ser-influencer.ghtml. Acesso em 17/01/2024.
[2] Lembremos que, para os mirins, inclusive a conta bancária é administrada pelos pais ou responsáveis.
[3] SHOSHANA, Zuboff. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In: Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.
[4] https://www.gentedeopiniao.com.br/politica/vinicio-carrilho/metafascismo. Acesso em 17/01/2024.
[5] Pode-se ter um uso equilibrado e criativo: https://www.youtube.com/@MusicalizAI.