Roberto Kuppê (*)
“Sem anistia” no palco do The Town
O festival The Town, realizado neste 7 de Setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, ganhou contornos políticos em meio às comemorações do Dia da Independência do Brasil. De acordo com reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, bandas nacionais e internacionais aproveitaram suas apresentações para criticar governos, parlamentares e defender pautas sociais, arrancando aplausos e gritos do público. O Green Day, atração principal da noite, foi um dos grupos mais incisivos. Billie Joe Armstrong, vocalista da banda, discursou diante da multidão: “Nós já estamos cheios desses políticos, desses bastardos fascistas. Então não queremos saber mais deles, não nesta noite, não no Dia da Independência”. Em outro momento, celebrou a data ao gritar repetidas vezes: “feliz Dia da Independência, Brasil”.
“Sem anistia” no palco do The Town 2
Mais cedo, foi a vez de Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, usar o palco como espaço de manifestação. Antes de cantar Que País É Este, ele ressaltou: “Essa música aqui é sobre a violência, a pobreza, a desigualdade brasileira. Música sobre a PEC da Impunidade que eles estão querendo aprovar no Congresso… Os nobres deputados, engravatados, falou?”. A fala faz referência à proposta de emenda à Constituição apresentada em 2021, conhecida como PEC da imunidade ou “PEC da blindagem”, que busca ampliar os limites da imunidade parlamentar. O tema voltou ao debate recentemente após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), designar relatoria para analisar medidas de proteção aos deputados contra o que consideram interferência do Judiciário. (Do Brasil 247)
7 de Setembro ou 4 de Julho?
Ontem o Brasil ficou estupefato com imagens de uma bandeira americana gigante em pleno dia de 7 de setembro, data em que se comemora a independência do Brasil. Um verdadeiro acinte, uma agressão à soberania brasileira. Imagina uma bandeira brasileira se inserir na festa do 4 de julho, dia da independência dos Estados Unidos? Seria queimada. Mas, no Brasil, ostentar acintosamente a bandeira norte-americana é motivo de orgulho para patriotarios. Esse ato antipatriotico é um recado à Donald Trump: “Pode invadir o Brasil e tomar posse”.
Soberania
Já, em Brasília, o tema foi soberania. Às vésperas da provável condenação de Jair Bolsonaro (PL) pela trama golpista, o presidente Lula (PT) participou neste domingo, 7, ao desfile do 7 de setembro, na Esplanada dos Ministérios. Ao lado de ministros, o governo explorou o mote “Brasil Soberano”. O governo estabeleceu três eixos para a celebração deste domingo, as temáticas “Brasil dos Brasileiros“, “Brasil do Futuro” e a COP30, conferência climática da ONU que será realizada em novembro, em Belém. No evento, antes do começo dos desfiles, foram distribuídos bonés com o tema Brasil Soberano, ao som de uma música gravada para o 7 de Setembro pela ministra Margareth Menezes (Cultura).
Soberania 2
O contraste com o pronunciamento oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no 7 de setembro é evidente. Em rede nacional, Lula destacou a importância da soberania nacional e afirmou: “Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da no dssa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”. O presidente também criticou políticos que estimulam ataques contra o Brasil, como o deputado Eduardo Bolsonaro, qualificando-os como “traidores da pátria” que não serão perdoados pela História.
Tarcísio radicaliza ataque
Com o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) pela metade, seus apoiadores procuraram dar uma demonstração de força no 7 de Setembro com manifestações pela anistia em diversas cidades do país. De olho no espólio político do ex-presidente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), deixou a moderação de lado e elevou o tom contra o Supremo, em particular contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Na Avenida Paulista, em ato convocado pelo pastor Silas Malafaia, Tarcísio disse que “ninguém aguenta mais a tirania de Moraes”, chamou de “mentirosa” delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e afirmou que a “anistia tem que ser ampla”. Embora a data celebrasse a independência do Brasil, chamou a atenção uma enorme bandeira dos Estados Unidos estendida pelos manifestantes. De acordo com o Monitor do Debate Político do Cebrap, o ato na Paulista reuniu 42,7 mil manifestantes, 5 mil a mais que o protesto anterior da direita. (g1)
Tarcísio ignorado
Apesar da retórica inflamada, Tarcísio foi ignorado nos demais protestos bolsonaristas, em especial no Rio, onde a manifestação foi comandada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL), filho mais velho do ex-presidente. Em seu discurso, ele cobrou dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), um perdão amplo para os acusados de golpe. “Não existe meia anistia. Não dá para anistiar a Débora do Batom sem anistiar também o presidente Bolsonaro”, disse. (UOL)
Tarcísio ignorado 2
“Tarcísio sabe que só será um candidato viável caso se mostre fiel ao bolsonarismo. Se em algum momento for colado na sua testa o rótulo de traidor, pode perder o apoio da chamada base dura do bolsonarismo. Quem gritou hoje ‘fora Moraes’ pode gritar ‘fora Tarcísio’ se for habilmente manipulado.” (Fabiano Lana-Estadão)
Gilmar Mendes
“Lamentável.” Essa foi a forma como o decano do STF, Gilmar Mendes, classificou as afirmações de Tarcísio na Paulista, conta Igor Gadelha. “Não há no Brasil ‘ditadura da toga’, tampouco ministros agindo como tiranos”, disse Gilmar. “O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo”, completou. (Metrópoles)
Gleisi Hoffmann
Longe do burburinho das ruas, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, convocou para a manhã de hoje uma reunião com os ministros de partidos de centro-direita e direita para discutir estratégias contra o movimento pela anistia no Congresso. (Folha)
O julgamento do século
A pedido de Alexandre de Moraes, o ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF, marcou duas sessões extras para o julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado. Como ambas acontecerão no dia 11, está mantida a previsão de que o veredito seja anunciado na próxima sexta-feira, dia 12. (CNN Brasil)
O julgamento do século 2
O julgamento será retomado amanhã com o voto de Moraes, relator do processo, e a previsão é que ele se estenda por todo o dia, com ênfase na defesa da democracia e das instituições. Ao longo dos últimos meses, os ministros da Primeira Turma têm dado indicações de como devem votar. A grande incógnita — e esperança dos advogados — é Luiz Fux, o terceiro a se manifestar. Embora tenha acompanhado Moraes nas condenações anteriores, ele tem divergido quanto às penas impostas e já questionou a delação do tenente-coronel Mauro Cid. (Globo)
Cenas de um julgamento-Spacca
Milei derrotado
O presidente argentino Javier Milei sofreu um sério revés neste domingo com a vitória da oposição nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, a mais populosa do país. O Partido Justicialista (peronista) obteve 46,93%, qualificando o governador da província, Axel Kicillof, como possível candidato presidencial em 2027. Já o La Libertada Avanza (LLA) de Milei ficou em segundo, com 33,83% dos votos. Apesar da derrota, o presidente afirmou que vai seguir com as reformas liberais na economia. (La Nación)
Breakfast
Por hoje é só. Este é o breakfast, o seu primeiro gole de notícias. Uma seleção com os temas de destaque da política do Brasil e do mundo.
(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político, com informações do Canal Meio
Informações para a coluna: rk@ademocracia.com.br