Malu Gaspar não apresentou uma única prova contra Alexandre de Moraes. O que existe são seis relatos em off e um contrato firmado entre o Banco Master e o escritório da mulher do ministro do STF. Diante da expectativa por evidências, o que veio foi um artigo pedestre sobre democracias não precisarem de heróis. Isso só vale se os heróis forem Joaquim Barbosa e Sergio Moro.
O que tem sobrado, por outro lado, é uma defesa corporativa constrangedora. No UOL, Milly Lacombe atribui as críticas à jornalista a um machismo da esquerda, ignorando que discordâncias sobre método e prova não se resolvem por enquadramento identitário (há um ensaio clássico de Susan Sontag sobre o fascismo, que fala do modo como feministas novaiorquinas acolheram a nazista Leni Riefenstahl nos anos 1970).
Pedro Doria também entrou no debate com um argumento frágil, divulgado no Instagram. Disse que prova é exigência para condenação judicial, não para o jornalismo, e que há conversas entre parlamentares, juízes e procuradores que nunca chegam ao público, embora sejam de interesse coletivo.
Em seguida, recorreu ao caso Watergate para sustentar que, se fosse exigida prova desde o início, Nixon teria terminado o mandato e a investigação mais famosa do jornalismo não existiria.
Doria ressalva que isso não autoriza a publicação de qualquer coisa e lembra que o jornalismo depende de credibilidade. Sinto informar, mas autoriza, sim. Ainda assim, sugere que há seletividade ideológica quando denúncias contra “o outro lado” são aceitas com facilidade e notícias desfavoráveis ao próprio campo são tratadas como mau jornalismo.
Esse raciocínio combina má-fé com desconhecimento histórico. No escândalo Watergate, Carl Bernstein e Bob Woodward, do Washington Post, trabalharam com muito mais do que relatos de uma fonte anônima como o “Garganta Profunda”. Desde o início havia material verificável, obtido por meio de documentos públicos, registros financeiros e confirmações independentes.

Os repórteres analisaram autos judiciais e registros policiais do processo contra os cinco presos no edifício Watergate, que traziam nomes, endereços, valores apreendidos e vínculos com o Comitê para a Reeleição do Presidente (CREEP).
Rastrearam cheques da campanha de Nixon depositados em contas usadas pelos invasores, com base em documentos bancários e depoimentos prestados em tribunal. Examinaram livros contábeis e recibos do CREEP que comprovavam pagamentos irregulares destinados a operações de espionagem e à compra de silêncio.
Diversas informações foram confirmadas por fontes identificadas — advogados, funcionários do comitê, ex-integrantes da campanha — e por registros oficiais, o que reduzia a dependência de um único informante. Declarações públicas da Casa Branca eram confrontadas com dados objetivos já levantados, expondo contradições de forma documentada.
As fitas da Casa Branca surgiram depois, a partir das investigações do Congresso e da Justiça. Elas reforçaram um quadro que já estava sustentado por provas documentais e financeiras reveladas pela imprensa. O trabalho inicial do Washington Post não se apoiou em boatos ou em relatos soltos, mas em fatos checáveis que, aos poucos, formaram um conjunto consistente de evidências.
Comparar esse padrão ao que foi apresentado por Malu Gaspar não é erro de avaliação: é distorção deliberada, ignorância — ou os dois juntos




