MANAUS (AM) – Usuários da internet identificados com os atributos da extrema direita associaram, neste sábado, 8, por meio das redes sociais, o ciclone que atingiu o Estado do Paraná ao Partido dos Trabalhadores e à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre em Belém (PA) entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. A tempestade deixou pelo menos seis mortos e mais de 400 pessoas feridas no município de Rio Bonito do Iguaçu (PR).
Em uma das publicações, um perfil afirmou que a tempestade trata-se de uma “manipulação climática feita pela elite global” para, segundo o usuário, seguir “com interesses pervertidos para continuar com o discurso político de mudanças climáticas. Conforme a mensagem publicada no X (ex-Twitter), “eles precisam do caos para justificar a COP30”, evento climático que começa na próxima segunda-feira, 10. Veja publicação:

Outro internauta, identificado como “A Catraca”, também relacionou o fenômeno ao governo federal. Ele questionou os seguidores se “não era estranho que primeiro o clima destruiu o Rio Grande do Sul, onde o PT tenta dominar faz tempo, e depois começa a destruir o Paraná, Estado em que o partido também está se enraizando aos poucos”. A menção ao Estado gaúcho ocorre um ano após as enchentes que devastaram cidades inteiras em 2024. Veja publicação:

As publicações, sem base cientifica, vão de encontro com o posicionamento do pesquisador Bruno Brezenski. O especialista afirma que os fenômenos recentes indicam uma possível relação com as mudanças climáticas globais e que episódios como o ocorrido no Paraná tendem a se tornar mais frequentes e intensos com o aumento das temperaturas médias do planeta.
“As alterações no clima já estão demonstrando seu grau de destruição, isso com a Terra tendo +1,5ºC de elevação térmica. Para a maioria dos cientistas, no ritmo atual de emissões, iremos chegar em 2035 nos +2,0ºC, e nessa temperatura estamos falando de catástrofe generalizada. Está indo muito rápido [as mudanças climáticas], mais rápido do que todos os estudos de dez anos atrás. Os cientistas estão alarmados com a velocidade em que progride o colapso dos sistemas climáticos”, afirmou.
O pesquisador detalhou ainda que fenômenos como o registrado no Paraná não são incomuns no Brasil, mas que a intensidade observada em Rio Bonito do Iguaçu é atípica. Bruno Brezenski explicou, no entanto, que estudos científicos apontam a possibilidade de formação de um corredor de tornados de grande intensidade entre os Estados de Santa Catarina e Paraná.
“A ciência vem avisando sobre a possibilidade de o Brasil ter um corredor de tornados de grande intensidade entre Santa Catarina e Paraná. Com o aumento da temperatura média, há mais energia para acelerar e perturbar as tempestades, e como removeram a vegetação da região para colocar pasto e monoculturas, essas áreas ficaram com pista perfeita para tornados. Não só o Brasil como vários países estão em risco, isso porque alguns eventos podem deixar zonas gigantescas inabitáveis”, explicou.
Tornado

Nessa sexta-feira, 7, moradores do município de Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná, viveram um dia de terror, após fortes ventos devastarem a cidade deixando um rastro de destruição e mortes. De acordo com a Defesa Civil estadual, seis pessoas morreram e 432 ficaram feridas. Casas foram destelhadas, postes e árvores caíram, e boa parte da zona urbana ficou sem energia elétrica. A prefeitura decretou situação de emergência.
Equipes do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Defesa Civil e voluntários locais trabalharam durante toda a noite no resgate e atendimento das vítimas. A força dos ventos surpreendeu até mesmo meteorologistas, que ainda investigam se o fenômeno foi um ciclone extratropical, um microexplosão atmosférica ou um tornado de pequena escala, comum em situações de instabilidade severa.
Previsão do tempo
A previsão do tempo para os próximos dias ainda indica instabilidade na região Sul, e autoridades alertam para o risco de novos temporais. Em meio ao luto e à destruição, a tragédia no interior do Paraná deixa um alerta claro. Os eventos extremos já não são previsões distantes, mas uma realidade com a qual o Brasil precisa aprender a lidar com responsabilidade e ciência.
Revista Cenarium



