Sem nenhum trocadilho, diremos que é fato, realidade à vista, verdade eloquente, “prova provada”, que o senso comum carrega como seus o fatalismo, o dogmatismo e uma certa (bastante anunciada) irracionalidade.
Há uma expressão popular que serve como luva para exemplificar isso e nos diz assim – como recomendação magnânima, cheia de entusiasmo: “Vamos deixar como está, para ver como fica”. Desse modo, não há muita escapatória, pois “tudo será como antes, no quartel de Abrantes”.
Não há escapatória porque não há divergência, e quando é imóvel o Princípio do Contraditório (a liberdade de contradizer) não há possibilidades, rupturas. Tudo fica inerte frente à apatia e ao imobilismo.
Seria, portanto, o mais básico senso comum, o próprio “senso comum do senso comum”. O dogma (na forma da coação irresistível), neste caso, atende à convocação da total indiferença e aceitação acrítica e inerte de um estado de coisas, sempre se motivando pelo desprezo às alternativas.
Por outro lado, em um sentido reverso, contraditório, observamos o que as pessoas comuns chamam de “sabedoria popular”. É como se ocorresse um aprendizado em cascata, em virtude de não se duvidar (obviamente) da lógica que dirige a correspondência entre os fatos, as atitudes e as consequências (igualmente presumíveis e esperadas).
Nesta linha de observação do óbvio é por onde se modela a “sabedoria popular” ou, como dissemos no título, é o caminho por onde transita (e se comunica) o Bom Senso do senso comum. E há uma expressão popular poderosa, em clareza, para nos guiar neste trânsito, quando assegura que: “pau que bate em Chico, bate em Francisco”.
Essa “sabedoria popular” (Bom Senso do senso comum) não está reivindicando para si o dogma presente em alguma suposta Lei de Eterno Retorno (tipo: “aqui se faz, aqui se paga”), mas sim, está clamando a fim de que nossa consciência também transite, para ser irrigada pelo Princípio da Isonomia; afinal, Chico é tão humano quanto Francisco.
Em decorrência dessa pressuposição bastante óbvia, indubitável (Chico e Francisco são humanos), ainda podemos justapor outro baluarte da lógica humanista: o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Não há razão sustentável, suportável do “ponto de vista humano” para que Chico e Francisco sejam tratados como seres tão distintos a ponto de apenas um conhecer a igualdade e a dignidade.
Se Chico e Francisco são desiguais por motivação econômica, social, política, então, também recomenda a lógica do senso comum, que se aplique a equidade. Que se desentorte a balança da Justiça, que Chico e Francisco tenham as mesmas condições. De outro modo só haverá injustiça.
Indo um pouco mais além, ainda podemos encontrar dois princípios num só cursor: logo no início do caput, o começo do artigo 5º da Constituição Federal de 1988 assevera que “todos são iguais perante a lei…”. Pois bem, a sabedoria popular veria que temos aí um notável combo, “dois em um”, uma síntese em que estão perfeitamente alinhados os dois princípios essenciais à vida comum na seara pública. Vejamos que afirmar que “todos são iguais” implica na igualdade, na isonomia que ressaltamos (Chico e Francisco são iguais em humanidade); e, em complemento, conclui-se (“perante a lei”) com o Princípio da Legalidade.
Isso também nos conforta, porque o Bom Senso do senso comum é o que deveria nos guiar como pressuposto da lógica comum e da mais simples Ética de convivência. E o povo brasileiro é notável quando se trata de conviver e sobreviver mesmo aterrado nas piores dificuldades, obstáculos e contradições. No Brasil, em muitos momentos, sobreviver já era (é) símbolo e sintoma da mais forte resistência política e popular.