sábado, outubro 18, 2025
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O senso comum do bom senso

 

Vinício Carrilho Martinez

Inicialmente, digamos que o Bom Senso é o senso comum em um bom andamento, num rumo lógico, presumível e deduzível.

O senso comum também nos diz que é possível fazer do limão (um problema azedo), uma bela limonada. De fato, é verdade. Esse texto é uma demonstração desse acerto.

Mas, então, seria possível reunir na mesma frase o senso comum e o Bom Senso, sem separá-los? Seria possível essa junção, sem que haja uma distinção entre os termos, ou melhor, a fim de que se complementem e construam um “novo” sentido, com outro significado complementar e que dependa (esse significado “novo”), exatamente, dessa junção em uma nova formulação?

Vejamos o que já sabemos:

  • Por senso comum, comumente, entendemos algo superficial, “comum” às primeiras impressões, comum às ponderações imediatas, sem agregar reflexões ou valores substantivos. Algo semelhante aos ditados populares (não todos), aos dizeres costumeiros do dia-a-dia e sem profundidade.
  • Já o Bom Senso, é o que pensamos ou queremos, deveria ser um pensamento – ou conjunto de pensamentos – para além do imediatismo, que não fosse um moto-contínuo, um simples reflexo ou reprodução sistemática daquilo que fazemos e, sequer, pensamos ao fazer.

 

Assim, o senso comum seria algo parecido com respostas prontas, automatizadas, e o Bom Senso nos remete a um pensamento mais investigativo, alinhado com nossos próprios pensamentos mais introspectivos (reflexões) e ações. Portanto, seria uma forma posterior (superior) daquele pensamento inicial, meio autônomo, obediente às necessidades ou de acordo com a prontidão do dia-a-dia – o Bom Senso seria mais analítico, reflexivo, investigativo. Mais ou menos comum a quem prefere colher provas e não somente evidências.

Então, se se parecem com expressões que não podem ser associadas, se (aparentemente) são bastante repelentes – e antes disso, se são expressões que nos impelem a pensar que o Bom Senso seria uma superação, transformação do senso comum –, como associar ambas num só contexto, num outro sentido um tanto inusual, não tão comum assim?

Este outro sentido – e veremos que é apenas a partir dele que o Bom Senso pode ser analisado – nos diz, precisamente, que, antes de tudo, de qualquer pretensão analítica, crítica, propositiva, é preciso, necessário (como uma fase obrigatória do pensamento lógico-dedutivo) vermos, pensarmos e retermos o que é óbvio.

No nosso caso, esse óbvio – antes de qualquer criticidade pretendida – nos diz (com toda a força pretendida pelo Bom Senso) que devemos observar com a máxima atenção “o senso comum do Bom Senso”. E qual seria esse “senso comum do Bom Senso”?

É aquele imperativo lógico (racional) que nos orienta a não cometer tantos erros, a não “resolver” um malfeito com o Mal Maior, a prestarmos atenção redobrada aos detalhes efetivamente significativos.

Num português claro, o “senso comum do Bom Senso” nos recomenda pensar duas vezes antes de agir, a preferir se calar e a não se pronunciar ou opinar sobre fatos acerca dos quais não temos domínio das informações relevantes.

Em suma, o “senso comum do Bom Senso” nos recomenda a não propor ou fazer besteiras.

Porém, neste momento, curiosamente, já teríamos uma reviravolta, um salto qualitativo no andar das coisas, pois, já não se falaria mais em “senso comum do Bom Senso”, mas sim de um “Bom Senso do senso crítico”: o Bom Senso que é o senso comum (a atenção ao óbvio) aplicado de modo crítico.

A partir desse prisma da ultrapassagem ou transformação do senso comum, em uma reflexão que não se desvincula dos fatos, das obviedades e da lógica aplicada a tudo, estaríamos pensando, refletindo, que as diferenças (sempre salutares) não podem ser confundidas com as desigualdades – sendo essas as condicionantes da realidade brasileira que necessitam com urgência de profunda transformação, com a melhor resolução possível.

Isto demonstraria, traria, o resultado de um pensamento crítico já posto em ação e sempre observado, reavaliado, pelo Bom Senso. Por sua vez, todo esse percurso, movimento de transformação, e não deixa de ser bastante óbvio, pertence ao mundo do senso comum.

Num princípio técnico, teórico, corresponderia a dizermos que “quem pode o mais, pode o menos”. Ou é obrigado, pela lógica, a isso.

O exemplo concreto é o da pessoa adulta, emancipada, capaz de trabalhar e de produzir, e que, em sendo assim, apta a cuidar de si, “pode o mais”; dessa forma, portanto, é essa pessoa obrigada a “cuidar do menos” (entre aspas), isto é, a zelar e cuidar de idosos ou crianças que estejam sob os seus cuidados.

Num último exercício concreto, podemos ver o senso comum dizer assim: tudo deve ser presumível e deduzível, ou seja, se a pessoa diz que vai para o Norte, presume-se que se alinhe corretamente em direção ao Norte e, logo, deduz-se, coerentemente, que tomou a direção oposta de quem vai para o Sul. Enquanto o Bom Senso nos alerta para não tomarmos “o dito pelo não dito”; afinal, ali na frente, esta mesma pessoa pode dar meia-volta e, sem que você veja, rumar para o Sul. Por fim, o senso crítico irá cravar que as situações, as ocorrências, as próprias pessoas e seus comportamentos não são uma via reta, sempre há idas e vindas nesse “caminho tortuoso” que é a Vida Comum do Homem Médio. De tudo o que vemos ou supomos saber, pouco ou quase nada, é preto e branco.

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