O filme Geni e o Zepelim, dirigido por Anna Muylaert, encerrou suas gravações em 18 de junho de 2025, em Cruzeiro do Sul, Acre. Produzido pela Migdal Filmes, em parceria com Paris Entretenimento e Globo Filmes, e distribuído pela Paris Filmes, a produção ainda não tem uma data oficial de estreia, mas as expectativas apontam para 2026.
Inspirado na canção de Chico Buarque, lançada em 1978, e no conto Bola de Sebo, de Guy de Maupassant, o longa-metragem marca a primeira adaptação ficcional dessa narrativa para os cinemas. Assim, ele se insere no gênero drama social, subvertendo elementos tradicionais ao ambientar o confronto entre a opressão e a luta de uma personagem marginalizada: Geni.
Ambientado na Amazônia, o filme reflete conflitos reais, como a exploração de terras, a violência institucional e a marginalização das vozes trans. Anna Muylaert compartilhou que seu objetivo foi “falar da Amazônia através do olhar feminino, trazendo as questões de gênero para a discussão sobre a violência contra a floresta”. Como resultado, o filme vai além de uma simples adaptação; ele oferece uma visão perspicaz sobre a intersecção entre poder, identidade e território.
Obras como Que Horas Ela Volta? (2015), também de Muylaert, e Pássaro Memória (2023), com a nova Geni, Ayla Gabriela, compartilham esse compromisso pela representação do Brasil moderno.
Dessa forma, o longa convida o público a se engajar em discussões sobre identidade, poder, território, diversidade e resistência, sem entregar todos os detalhes e, ao mesmo tempo, aguçando a curiosidade.

Sinopse
Em uma comunidade ribeirinha na Amazônia (Cruzeiro do Sul, Acre), vive Geni (Ayla Gabriela), uma travesti e prostituta, constantemente alvo de humilhação. Quando o Comandante (Seu Jorge) invade a área em seu zepelim, acompanhado por tropas e com planos de expulsar os moradores para explorar o território, ele encontra resistência. No entanto, a reviravolta acontece quando o comandante propõe que, se Geni passar uma única noite com ele, retirará seu exército, deixando a comunidade em paz. Assim, a protagonista se torna uma figura central na luta coletiva. A tensão aumenta, e até o momento, não se sabe como essa batalha será vencida. Referências literárias e políticas se entrelaçam, gerando mistério e relevância narrativa.
Direção e roteiro
Muylaert, que conquistou o Grand Jury Prize no Festival de Sundance com Que Horas Ela Volta?, também assume a direção e o roteiro deste longa. Sua marca é evidente em retratos realistas das tensões sociais e identitárias. Aqui, ela desloca o foco urbano para o interior da Amazônia e entrelaça disputas territoriais com questões de gênero, mantendo sempre um olhar atento às dimensões íntimas e coletivas.
O texto dialoga com a canção, preservando referências à transfobia, à moralidade hipócrita e à exploração, mas atualiza essas tensões, abordando o embate por terras amazônicas.
Produção e elenco
As filmagens ocorreram ao longo de cerca de dois meses, entre abril e junho de 2025, em Cruzeiro do Sul. A equipe utilizou uma extensa infraestrutura fluvial: foram sete barcos para as cenas principais, além de nove embarcações de apoio, como voadeiras, balsas e canoas, para diferentes etapas da captação. Esse esforço reforça o compromisso com a autenticidade e uma representação fiel da região amazônica.
Inicialmente, Thainá Duarte, uma atriz cisgênero, foi confirmada como Geni. Essa escolha gerou críticas por não respeitar a identidade trans. Após um intenso debate e diálogo com a comunidade trans, a produção reconsiderou e escalou Ayla Gabriela, uma atriz trans reconhecida por seu trabalho em Pássaro Memória (2023). Essa mudança alinha-se com a caracterização dos personagens e fortalece a mensagem política do filme.

Além dos protagonistas, Ayla Gabriela e Seu Jorge, o elenco conta com Suzy Lopes, Gero Camilo, Ênio Cavalcante e centenas de figurantes acreanos. Essa diversidade geográfica enriquece a ambientação e valoriza as vozes locais.
Com o término das filmagens, Geni e o Zepelim se estabelece como um dos lançamentos nacionais mais esperados para 2026. A adaptação sensível de uma canção clássica, a forte representatividade trans e a ambientação amazônica unem imagens a uma coragem política. Enquanto propõe uma tensão narrativa instigante, a obra também pode gerar debates sobre pertencimento, direitos humanos e a memória cultural brasileira.