As instituições brasileiras atravessam seu momento mais desafiador. A sociedade não pode mais tolerar ou minimizar crimes de tamanha magnitude
As mensagens extraídas do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro pela Polícia Federal e reveladas nesta semana não são apenas reveladoras: constituem a materialização de um projeto deliberado de subversão da ordem democrática e de sabotagem aos interesses nacionais em benefício pessoal. As conversas, travadas com seu filho, o deputado foragido Eduardo Bolsonaro, e com o autoproclamado “pastor” Silas Malafaia — qualificado em vida por Ricardo Boechat como “paspalhão” e “explorador da fé alheia” — expõem de forma incontornável a existência de uma organização criminosa dedicada a objetivos espúrios, cuja linguagem pútrida e métodos de bastidores agora emergem da investigação criminal.
Os diálogos recuperados vão muito além de meras conversas entre pai e filho sobre estratégias de defesa ou articulação política. Eles detalham, com clareza perturbadora, uma operação coordenada para acionar o governo dos Estados Unidos contra as instituições brasileiras, transformando a economia nacional em refém. As mensagens mostram que Bolsonaro e Eduardo instigaram deliberadamente Donald Trump a impor sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a aplicar tarifas punitivas de 50% sobre exportações brasileiras — as mais altas do planeta.
A trama, narrada em tempo real, tinha dois objetivos centrais. O primeiro: coagir o STF com ameaças de sanções pessoais via Lei Magnitsky, distorcida em seu propósito original, numa tentativa escandalosa de interferir no processo que apura a tentativa de golpe de Estado. O segundo: usar o sofrimento econômico do Brasil — provocado pelas tarifas que eles mesmos articularam — como moeda de troca para obter anistia pessoal, numa chantagem explícita contra a nação.
O cinismo atinge o auge quando Eduardo Bolsonaro, dos Estados Unidos, orienta o pai a agradecer publicamente a Trump pelas medidas que prejudicam diretamente empresas e trabalhadores brasileiros, ao mesmo tempo em que, nos bastidores, defende o agravamento das sanções. Malafaia, por sua vez, surge como conselheiro de discurso, sugerindo transformar o ataque à economia nacional numa falsa “luta pela liberdade”.
As mensagens também revelam que Eduardo rejeitava qualquer anistia “light”, restrita a participantes secundários do golpe, defendendo proteção integral ao núcleo dirigente da conspiração. Outro dado explosivo é a menção a um novo plano de fuga pela Argentina, com pedido de asilo a Javier Milei.
O risco de evasão é evidente. Há indícios de reiterado descumprimento das medidas cautelares impostas pelo STF. Agora cabe ao ministro Alexandre de Moraes decidir sobre o pedido de prisão preventiva apresentado por Lindbergh Farias, líder do PT.
O que emerge dessas mensagens é a face mais crua de uma quadrilha que, após se apoderar do Estado, não hesitou em voltar-se contra seu próprio país para salvar a si mesma. A investigação da Polícia Federal desmontou peça por peça essa engrenagem criminosa. Resta ao sistema de Justiça responder à altura da gravidade dos fatos, impondo punição exemplar.
As instituições brasileiras atravessam seu momento mais desafiador. A sociedade não pode mais tolerar manobras que tentem normalizar ou minimizar crimes de tamanha magnitude. As mensagens são o retrato final da conspiração. A resposta do Estado precisa estar à altura da traição cometida contra a democracia e contra a economia do Brasil.