Maior jornal dos Estados Unidos reconhece a vitória do presidente Lula na guerra tarifária e na resistência às pressões após a prisão de Jair Bolsonaro
A prisão de Jair Bolsonaro marcou um ponto de virada na relação entre Brasília e Washington. O episódio escancarou a limitação da influência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou, sem sucesso, intervir no processo judicial do ex-mandatário brasileiro. A análise, publicada nesta segunda-feira (24) pelo jornal estadunidense The New York Times, avalia que o Brasil conseguiu “enfrentar Donald Trump e vencer” ao não ceder às pressões do presidente dos Estados Unidos sobre a prisão de Jair Bolsonaro (PL).
No texto, o jornalista Jack Nicas, ex-correspondente do veículo no país, destaca como Trump utilizou tarifas comerciais e sanções diplomáticas para tentar impedir o avanço das acusações contra Bolsonaro. A ofensiva, porém, não alterou o rumo das instituições brasileiras, que seguiram adiante até a condenação e detenção do ex-mandatário brasieliro.
A reação de Trump no sábado (22), ao ser informado da prisão de Bolsonaro, resumiu o desgaste de sua atuação. “Que pena”, disse. Questionado se teria sido avisado previamente, respondeu: “Não. Acho uma pena”. A frieza contrastou com o tom agressivo adotado meses antes, quando enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exigindo a retirada das acusações de tentativa de golpe atribuídas a Bolsonaro. Naquele momento, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, numa escalada diplomática sem precedentes.
Mudança de cenário
A anaálise destaca que, cinco meses depois, o cenário mudou completamente. Bolsonaro, de 70 anos, foi condenado a uma pena de 27 anos etrês meses de prisão, e Trump retirou parte das tarifas aplicadas ao Brasil após uma reunião cordial com Lula. Analistas citados pela reportagem observam que a pressão da Casa Branca pode ter tido efeito inverso, endurecendo a posição das autoridades brasileiras e ampliando a punição ao ex-mandatário.
A ofensiva comercial de Washington também provocou impactos internos nos Estados Unidos, elevando o preço de itens como carne bovina e café em um momento de forte cobrança por redução do custo de vida. Enquanto isso, Lula emergiu politicamente fortalecido, tendo enfrentado e superado o confronto diplomático com a principal potência global.
Outro desdobramento citado pelo jornal envolve Eduardo Bolsonaro, que agora enfrenta acusações criminais por tentar influenciar a Casa Branca em defesa do pai. Segundo especialistas, o episódio ampliou a percepção de interferência externa e acirrou a resposta das instituições brasileiras.
Prisão de Bolsonaro
Bolsonaro foi preso após autoridades detectarem que ele havia violado a tornozeleira eletrônica instalada durante o regime de prisão domiciliar. À polícia, afirmou ter tentado queimar o equipamento com um ferro de solda e, mais tarde, responsabilizou medicamentos que estaria tomando por supostas alucinações. Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e responsável pelo caso, determinou a prisão ao considerá-lo risco de fuga, destacando sua proximidade com a embaixada dos Estados Unidos — local onde poderia solicitar asilo. Reportagem do NYT revelou ainda que, no ano anterior, Bolsonaro chegou a dormir na Embaixada da Hungria em Brasília com o mesmo objetivo.
Apesar das ameaças iniciais de retaliação, a Casa Branca não avançou contra o Brasil após a condenação. Ao contrário: Trump aproximou-se politicamente de Lula. No discurso que fez na ONU, em setembro, ele improvisou elogios ao encontro que teve com o presidente brasileiro, afirmando que ambos tiveram “grande química”.
Já em outubro, antes de nova reunião bilateral, Trump foi questionado sobre Bolsonaro. “Eu sempre achei que ele era direto, mas…”, respondeu, interrompendo a frase. “Ele passou por muita coisa.” Após o encontro, centrou seus elogios apenas em Lula: “Ele é um cara muito vigoroso. Fiquei muito impressionado”, afirmou, desejando-lhe feliz aniversário pelos 80 anos completados naquele dia.
País soberano
Em seguida, Trump assinou a ordem executiva que retirou as tarifas mais pesadas sobre carne e café brasileiros, justificando a decisão pelo “progresso nas negociações” com o governo Lula. O gesto abriu espaço para novas tratativas, inclusive sobre acesso a reservas estratégicas de minerais críticos, algo que Washington tem buscado em países latino-americanos.
Apesar da distensão diplomática, os Estados Unidos mantiveram as sanções contra Alexandre de Moraes. A postura do ministro — que ordenou o bloqueio de contas em redes sociais de aliados de Bolsonaro e conduziu parte das investigações — é alvo de debates sobre os limites de sua atuação.Ao ser questionado, no domingo, sobre os comentários de Trump a respeito da prisão, Lula respondeu de forma contundente: “Trump precisa entender que somos um país soberano”.
Do Brasil 247




