domingo, novembro 2, 2025
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Jamil Chade-Entidade denuncia ‘graves falhas’ na investigação da operação no Rio

Por Jamil Chade, Colunista do UOL, em Genebra

A entidade Human Right Watch denuncia “graves falhas na investigação da operação policial mais letal do Rio de Janeiro”. Num comunicado, os especialistas de uma das entidades de maior prestígio internacional no setor de direitos humanos apontam que a polícia do Rio de Janeiro não adotou medidas investigatórias cruciais para determinar as circunstâncias da morte das pelo menos 121 pessoas, incluindo quatro policiais.

“A polícia não preservou o local dos tiroteios para análise, uma medida muito importante para determinar as circunstâncias das mortes”, afirmou a entidade.

Um perito do Rio de Janeiro disse à Human Rights Watch que, pelo que sabe, não houve perícia em nenhuma das mortes. Um promotor disse que o Ministério Público está aguardando a confirmação disso, mas que também é esse o seu entendimento.

“As famílias das pessoas mortas na operação de 28 de outubro, incluindo as dos policiais, merecem saber as circunstâncias da morte de seus entes queridos”, disse César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil. “Estamos muito preocupados com o fato de que etapas cruciais da investigação não foram realizadas e que provas importantes podem já ter sido perdidas.”

O secretário da polícia militar disse em uma coletiva de imprensa que a polícia havia empurrado os membros do grupo criminoso em direção à área de mata, que a polícia sabia que eles usavam como rota de fuga. No topo dos morros, a unidade de elite da polícia militar, o BOPE, havia estabelecido o que o secretário descreveu como um “muro”, com agentes esperando pelos supostos membros da facção em fuga… – Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/11/01/entidade-denuncia-graves-falhas-na-investigacao-da-operacao-no-rio.htm?fbclid=PAQ0xDSwNy-29leHRuA2FlbQIxMQABp-GDlqC7USK41zh3cAij5VHRD7hVxB3tbAZeaP5-ak1pErOAAaTN0040FnIR_aem_eM81XyBs6PBKq-WBNtAOpQ&cmpid=copiaecola

A entidade questiona a versão do governo do estado. “Uma moradora disse à imprensa que seu filho lhe enviou sua localização e disse que queria se entregar, mas tinha medo de que a polícia o matasse. Seu corpo foi encontrado mais tarde na área de mata”, afirmou.

O perito disse acreditar que os policiais recuperaram as armas que estavam nas mãos das pessoas mortas no local e foram embora.

O alerta da entidade é de que foram encontradas na área de mata importantes evidências sem proteção, incluindo manchas de sangue, cápsulas de balas e roupas.

“Reconhecemos as dificuldades inerentes a uma área de mata, mas causa estranheza a ausência de controle sobre o isolamento do local”, disse o procurador-geral do estado do Rio de Janeiro.

O secretário de polícia civil, chefe da força estadual encarregada de investigar crime, disse que abriu uma investigação sobre os moradores que removeram os corpos por possível adulteração de provas e os acusou de tirar as roupas dos mortos.

“No entanto, os moradores só conseguiram chegar aos corpos porque a polícia não protegeu o local do tiroteio”, disse a Human Rights Watch.

Segundo o comunicado, o perito consultado pela Human Rights Watch constatou que os delegados não enviaram os peritos criminais, que no Rio de Janeiro são parte da polícia civil, para realizar a análise do local. “A análise da cena do crime deve ser realizada mesmo que um corpo tenha sido removido, pois pode haver provas adicionais no local”, explicou.

Além disso, os peritos criminais não foram enviados à praça para onde os moradores haviam removido dezenas de corpos, disse o perito. “Essa foi uma importante falha adicional da investigação”, afirmou a Human Rights Watch.

A entidade defende que peritos criminais deveriam ter ido na praça para tirar fotos e coletar provas, incluindo amostras de resíduos de pólvora, que podem revelar se a pessoa disparou uma arma. Esses resíduos se perdem com o manuseio do corpo, por exemplo, durante o transporte.

A entidade aponta que peritos legistas estão realizando necropsias, mas há preocupações com a limitação de pessoal e infraestrutura, além do subinvestimento crônico na perícia do estado.

A organização, que é uma das maiores referências no mundo em termos de defesa de direitos humanos, destacou como a Defensoria Pública afirmou que a polícia civil não permitiu que defensores estivessem presentes durante as necropsias.

“Algumas organizações da sociedade civil, incluindo a Human Rights Watch, solicitaram ao procurador-geral do Rio de Janeiro, em 30 de outubro, que garantisse a presença de um representante das vítimas nas autópsias. Isso não foi feito”, lamentou.

Armas sem controle

Outro problema, segunda a entidade, se refere ao armazenamento das armas apreendidas, cerca de 118 delas.

“As armas deveriam ter sido mantidas em uma cadeia de custódia rigorosa, em sacos lacrados, e enviadas para a perícia para análise de impressões digitais e balística. No entanto, a polícia civil apresentou as armas à imprensa. E reportagens de televisão mostram policiais e até mesmo repórteres manuseando armas e outros equipamentos apreendidos sem luvas”, alertou.

Investigação independente

A entidade defende que órgãos independentes investiguem a atuação das forças de ordem. Em uma sentença de 2017 sobre um caso no Rio de Janeiro, a Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenou que o Brasil garantisse que os abusos policiais fossem investigados por “um órgão independente e diferente da força pública envolvida no incidente… assistido por pessoal policial, técnico criminalístico e administrativo alheio ao órgão de segurança à qual pertença o possível acusado ou acusados”.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o Ministério Público deve conduzir as investigações sempre que houver “suspeita” do envolvimento de agentes dos órgãos de segurança pública na prática de crime doloso contra a vida.

O STF também ordenou que a polícia do Rio de Janeiro utilizasse câmeras corporais. Mas o secretário da polícia militar disse aos repórteres que as baterias podem ter acabado durante a operação e que “as imagens podem ter sido perdidas”.

“As autoridades brasileiras devem garantir uma investigação rápida, completa e independente de cada uma das mortes, bem como das decisões e do planejamento que levaram a uma operação tão desastrosa”, disse Muñoz. “O caso também mostra a necessidade urgente de o governador do Rio de Janeiro apresentar um projeto de lei para separar a perícia da polícia civil e investir em análises forenses independentes e de alta qualidade, que são uma parte fundamental de qualquer investigação criminal, não apenas em casos de mortes causadas pela polícia”, completou.

Fonte: Noticias.uol

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