Em visita a Pequim, no dia seguinte ao imponente desfile militar que celebrou os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, manifestou o interesse do Brasil em aprofundar a cooperação com a China, incluindo a área militar. O comentário foi feito após a decisão inédita de enviar generais para servirem como adidos militares na embaixada brasileira em Pequim, uma ação que marca uma mudança significativa nas relações bilaterais. As informações são do jornal O Globo.
Amorim, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua agenda diplomática, explicou que a cooperação entre os dois países já existe em áreas como a espacial, mas com o envio de oficiais-generais para a embaixada na China, a parceria poderá se expandir para novos horizontes. “Quando o Exército resolve mandar um oficial-general como adido para cá, é porque tem uma disposição de intensificar a cooperação”, afirmou Amorim, destacando o simbolismo dessa ação como um passo importante na ampliação da relação entre as duas nações.
Essa movimentação ocorre em um contexto de estreitamento dos laços entre Brasil e China nos últimos anos, especialmente após o agravamento da guerra comercial iniciada pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para Amorim, o enfraquecimento do sistema multilateral global, promovido pelos Estados Unidos, tem levado os países a buscar alternativas para fortalecer a cooperação, e a China, como principal parceiro comercial do Brasil, torna-se essencial nesse processo. “É uma economia enorme, nosso principal parceiro comercial, essa cooperação se tornou mais importante”, afirmou o assessor.
Além disso, Amorim sublinhou que a cooperação não se limita ao comércio, mas inclui também investimentos e transferências de produção para o Brasil. “Comércio é importante, mas não é só comércio. É investimento com transferência de produção para o Brasil. E cooperação financeira também, que está sendo desenvolvida para enfrentar qualquer instabilidade”, declarou. Ele também destacou que o fortalecimento das relações com a China é visto com bons olhos por Pequim, que, segundo Amorim, compreende a importância dessa parceria.
Durante sua estada em Pequim, Amorim participou do jantar de gala oferecido pelo governo chinês, onde teve a oportunidade de conversar com o presidente Xi Jinping. Em sua conversa, Xi confirmou que participará da reunião do Brics, marcada para segunda-feira (8), por videoconferência, a fim de discutir maneiras de lidar com o aumento das tarifas comerciais impostas pelos EUA. Amorim também ressaltou a impossibilidade de um acordo comercial com os Estados Unidos, após um encontro em Washington, onde representantes da diplomacia americana confirmaram que as tarifas aplicadas ao Brasil têm motivação política. “É possível negociar, mas não é uma negociação econômica, é uma negociação política. Gente, é uma coisa muito assustadora”, disse Amorim, expressando sua preocupação com o rumo das negociações.
O assessor de Lula também alertou sobre os riscos de uma política de reciprocidade, que tem sido promovida pelos Estados Unidos. Para ele, esse modelo, semelhante ao sistema vigente entre as duas guerras mundiais, pode ter consequências devastadoras, como a depressão econômica e a escalada de tensões geopolíticas que culminaram no início da Segunda Guerra Mundial. “Essa ideia de reciprocidade era o regime que vigia no período entre guerras, e que, segundo muitos historiadores, contribuiu para o aprofundamento da depressão e, diretamente, também para o clima que levou à Segunda Guerra Mundial”, disse Amorim, ressaltando o perigo de uma repetição dessa dinâmica.
Amorim também se reuniu com o chanceler chinês Wang Yi, onde entregou uma carta do presidente Lula a Xi Jinping. Durante o encontro, discutiu temas como as guerras na Ucrânia e Gaza, o impacto do tarifaço e a nova Iniciativa de Governança Global proposta por Xi durante a última cúpula da Organização de Cooperação de Shanghai. Embora ainda não tenha se aprofundado nos detalhes da proposta, Amorim expressou apoio à ideia de reformar a governança global: “Falar em uma iniciativa de reforma da governança global é música para os nossos ouvidos, porque é o que nós temos defendido”, afirmou.
Ao ser questionado sobre o envio de navios de guerra dos Estados Unidos à costa da Venezuela, Amorim se mostrou cauteloso e não quis especular sobre possíveis ações do Brasil. No entanto, expressou sua preocupação com o impacto da presença militar americana na região. “O deslocamento de navios de guerra, inclusive de submarinos com capacidade nuclear, é preocupante. Muito preocupante. Não ajuda na boa relação entre a América Latina e os Estados Unidos, que é muito importante”, concluiu Amorim, reafirmando a importância de respeitar a América Latina e, em particular, a América do Sul, como uma região autônoma com suas próprias decisões.
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